Índice
1) A graça da Palavra
2) O Deus da Revelação
3) O homem no plano de Deus
4) O plano de Deus para o homem
5) O Jesus da Revelação (I)
6) O Jesus da Revelação (II)
7) O Espírito Santo nas Escrituras
8) Ssma. Trindade
9) Escatologia
10) O Reino (I)
1) A graça da Palavra
Quando empreendemos a leitura de Gn 3, entramos na problemática da relação entre Deus e o homem que, pela rebeldia, rompe com o seu Criador. A narrativa catequética deste capítulo da Escritura nos permite dizer que esta pode ser definida uma ‘Antropologia revelada’. Não fosse pela ação decisiva com que Deus realiza o seu Plano, poderíamos até pensar que o homem é o protagonista principal da História da salvação que a Bíblia nos apresenta. O “Homem Cristo Jesus que se deu em redenção para todos” (1Tm 2,5) é o elemento que estabelece, quanto à importância dos protagonistas, a forma correta para definir a natureza da relação entre Deus e o homem. Deus é importante porque é aquele que salva, o homem é importante porque é a criatura que deve ser salva.
3) O homem no plano de Deus
O autor de Gen 1 lembra, também, que Deus, na sua bondade, se preocupa em ditar ao homem o caminho da sua realização, convidando-o a sempre reconhecer a sua condição de dependência do seu Criador através da observância dos seus mandamentos. Mas, enquanto Deus se preocupa com a felicidade do homem pela instituição do matrimônio, estabelecendo uma relação de companheirismo entre o homem e a mulher, para serem, um para o outro, consolo, ao longo das suas vidas sobre a terra, o homem, logo, na sua insensatez, envereda o caminho da idolatria. Ele se exalta a ponto de pensar que pode ignorar a sua condição de dependência de Deus e ditar para si as regras da sua realização. Esta é a causa da situação desastrosa em que se encontra a humanidade: uma situação de desgraça da qual o homem não consegue sair, até porque, não fosse por revelação divina, ele nunca saberia, em qual condição, de fato, se encontra, uma vez que “foi concebido em pecado”, isto é, pertence a uma estirpe de mente frágil, sujeita ao erro: “Tímidos são os pensamentos dos mortais, e incertas as nossas concepções” (Sb 9,14). A ira de Deus está sobre a sua cabeça como uma espada pronta a transfixá-lo porque retém a verdade prisioneira da injustiça (Rm 1,18). Tendo-se afastado do seu Criador, tendo-se tornado incapaz até de reconhecer os sinais da sua presença na criação, não sabe nem sequer reconhecer que tudo tem a sua origem nele e por ele. Tão pouco sabe o porquê da desordem moral que está nele, tendo dela uma percepção mínima da sua gravidade. Dominam-no e o embrutecem a estupidez da idolatria, o ateísmo, a cupidez do ouro, a desordem das concupiscências da carne, a violência, a ambição, a malícia, a maldade, a falsidade, o egoísmo, etc.
Nada como a Revelação, portanto, nos permite chegar ao conhecimento do homem. Também, nada melhor do que a Revelação para entendermos quanto o homem é incapaz de se conhecer. É a Revelação que o informa sobre a sua origem, lhe explica as condições de deterioração em que se encontra e, quanto a isso, lhe apresenta os meios para dela sair e o caminho para se realizar. O homem, em Deus, tem um Pai que o criou, uma Mãe que o gerou, alguém que o teceu em cada fibra do seu ser (Sl 139,13) e o plasmou com dedos de artista.
A Escritura, após ter apresentado em Gn 1-2 as condições ideais de realização do homem, com Gn 3 logo explica de que maneira ele chegou à condição desastrada, que a sua história registra. Esquecido do seu Deus e dos benefícios dele recebidos, enveredou o caminho dos seus vãos arrazoados. Longe do seu Deus, a quem já não presta o culto dos seus lábios motivado pela contemplação das obras da criação, acaba presa dos vícios que o levam à prática do mal. Dominado pela perversão e tendo-se tornado iníquo, diz Paulo, pratica a injustiça e, até, aplaude os que fazem o mesmo (Rm 1,28-32).
A Escritura revela que, por ser o Deus criador a própria Bondade, ele não abandona o homem ao seu destino de autodestruição. No seu amor, vem em seu socorro. Pedro fala de um Cordeiro imolado que Deus contempla desde antes a criação do mundo (1Pd 1,19-20). É a Descendência da Mulher, da qual fala Gn 3,15, o próprio Cristo, que se apresenta na história do homem “chegada a plenitude dos tempos” (Gl 4,4): o Filho que o Pai “consagrou e enviou ao mundo” (Jo 10,36) para salvar o homem. A regeneração do homem acontece por graça, em virtude de uma clara intervenção divina. A história de Israel mostra como Deus prepara a manifestação do seu poder e da sua glória em Jesus de Nazaré, o filho de Maria, para que fique claro que, se dependesse do homem, nunca seria possível uma redenção. Paulo disto fala claramente na Carta aos Romanos. A prova cabal de tudo isso é a própria rejeição do Cristo do Senhor por parte do povo judaico, quando ele deveria ter sido o primeiro a lhe dar a sua adesão de fé. A Igreja Apostólica, nos seus escritos, não se cansa de repetir esta verdade. Paulo, em Rm 11-13, a explica, exatamente dizendo que a rejeição de Israel é fruto da incapacidade do homem. Deus permite que o povo da revelação, da Glória, da Lei, do culto e dos Patriarcas, ao qual pertence, segundo a carne, o próprio Cristo, renegue Jesus, não obstante o fato de que a ele, por primeiro, fosse dirigida a pregação dos Apóstolos, para que o anúncio da salvação chegue, por meio dele, aos gentios. Dessa forma, fica provado que todos estão sob o jugo do pecado e precisam da graça de Deus (Rm 11,32).
Os fiéis chegam a reconhecer totalmente o dom divino quando tomam conhecimento da realidade divina que se manifestou na história de Israel que, como lembra Dt...., era o único destinatário do verdadeiro Deus do qual recebeu leis sábias e escutou a voz dos seus profetas. É, sobretudo, a Pessoa divina de Jesus que prova como o homem somente conhece o caminho da sua realização quando é a Divindade que, por ele, o conduz. O autor da Carta aos Hebreus é muito claro a esse respeito quando afirma: “Aprouve a Deus esmagar o Filho no sofrimento para que entrasse na Glória e, dessa forma, se tornasse causa de salvação para os seus irmãos” (cf. Hb 2,10).
Na Carta aos Romanos, Paulo afirma veementemente a gratuidade da salvação e da regeneração do homem. Para isso chega até a descrever a situação deprimente em que se encontra o homem, incluído o judeu (Rm 1,18-2,1). Apresenta, então, em seguida, a figura de Abraão, para mostrar qual é a maneira verdadeira de agradar a Deus que, em Jesus Cristo, manifesta toda a sua benevolência (Rm 4). De Rm 5 até Rm 8, apresenta, então, qual deve ser a resposta do homem à iniciativa de Deus. Grandiosa é a ação de Deus que nos justifica. O fiel, contudo, deve corresponder com o testemunho, perseverando nas tribulações até fazer desabrochar, pela constância, a virtude da esperança que, nele, coroe a sua caridade. Para isto, deve encontrar a sua motivação considerando Jesus que, pela sua imolação, em virtude da sua condição divina, mereceu a efusão da graça sobre todos os homens. Com o Batismo, somos sepultados na sua morte para ressurgirmos para uma vida nova. Se o judeu, não obstante a santidade da Lei, constatou que, por causa dessa mesma Lei, suas culpas somente se multiplicaram, agora, juntamente com o gentios, pode se realegrar porque, pelo Espírito, pode se libertar do “corpo de morte”. O jugo da Lei mosaica multiplicava as culpas. Agora, sob o jugo da lei do Espírito, o homem encontra a liberdade dos filhos de Deus (Rm 8).
Se seguimos passo a passo os ensinamentos de Paulo nas suas cartas, a partir da 1Ts, é possível traçar o código de leis do fiel. Abandonando o culto prestado aos ídolos, ele deve praticar a adoração do verdadeiro Deus, vivendo na esperança de estar definitivamente com o Senhor (conceito relembrado em Cl 1,11-12). Deve alimentar a sua fé pelo Evangelho para se encher da ciência do Cristo crucificado “Poder de Deus e Sabedoria de Deus” (1Cor 1,24). Não entristece o Espírito que leva o homem perfeito à compreensão das profundidades de Deus (2,10). Vive neste mundo sem ser deste mundo (7,31). O elemento propulsor da sua vida é a celebração da Eucaristia, pela qual alimenta-se do Corpo e do Sangue de Cristo (10,16). A vida de caridade é a coisa principal na vida do fiel (13,13). Por isso, todos os outros dons devem ser considerados condições para promovê-la. O termo último da ascética cristã é chegar a estar com Cristo que nos anuncia a nossa condição definitiva com a sua ressurreição dos mortos.
Em 2Cor, em relação à vida do fiel, Paulo ressalta a ação do Espírito com uma colocação singular e preciosa quando em 3,18 afirma que somos santificados pelo “Senhor que é Espírito”. É algo que acaba altamente valorizado quando lemos, na Carta aos Efésios, que Deus, por Cristo fez de dois povos um só povo que é a Igreja que, tendo o Senhor como Pedra angular “se edifica, no Espírito, em templo de Deus” (Ef 2,22).
Em Cl 1,11, a ação do Espírito é descrita como Poder que permite realizar, em tudo, as boas obras às quais os fiéis são chamados. É um conceito que Paulo já expressa, também, em Fl 2,13.
Se tomarmos como lema da vida cristã aquilo que Paulo escreve aos Gálatas: “Já não sou mais eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. Minha vida na carne eu a vivo na fé do Filho de Deus que me amou e se entregou por mim” (Gl 2,20), temos toda a motivação para viver o programa ascético de 2Pd 1,3-10, vendo nele o caminho ideal para levar à perfeição a nossa configuração a Cristo Sacerdote, Profeta e Rei, atuada em nós no momento do nosso Batismo pelo sinal indelével com o qual o Espírito nos marcou (Ef 1,13).
Todos estes valores que a Catequese Apostólica nos apresenta são a motivação para vivermos os compromissos morais que a mesma nos lembra, segundo a mensagem que o Senhor nos deixou (1Jo 2,3b), vendo neles não mais uma odiosa imposição, mas uma condição de plena realização. Eles se resumem em dois compromissos: 1º) o da purificação, como quando a Carta aos Colossenses diz: “Se ressuscitastes com Cristo, procurai as coisas do alto.... Vós vos desvestistes do homem velho... e vos revestistes do novo, que se renova” (Cl 3,1.9.10). 2º) o da caridade, como exorta Ef 6,14-17 : “Cingi vossos rins com a justiça, revesti-vos com a couraça da fé, calçai a sandálias do Evangelho de Deus. Abraçai o escudo da verdade contra os dardos inflamados do maligno, colocai o capacete e empunhai a Espada do Espírito que é a Palavra de Deus”.
O homem novo é o homem que Deus é capaz de levar à perfeição. Embora a sua criatura esteja a tal ponto destroçada pelas concupiscências, pela maldade e pela injustiça que chega a se tornar iníqua e perversa, Deus nos mostra que está agindo com sabedoria, quando quer levá-la a termo através do Filho, que esmaga no sofrimento.
O que dificulta, por parte do homem, o reconhecimento do Desígnio de Deus, como é apresentado de forma grandiosa pela Revelação é a forma narcisista com que ele se contempla. Interagindo com a sua história ele se encanta com as manifestações das suas habilidades que as civilizações apresentam. A elegia que nos é apresentada por Ap 18 lamenta a destruição, “numa hora”, dos esplendores da Cidade a Grande. O pensamento filosófico, contudo, nos prova que a admiração que o homem sente por tudo aquilo que realiza, é um equívoco, fruto da sua ingenuidade. O homem constrói a compreensão do mundo através de conceitos que são fruto de uma interação aleatória com o mesmo. Ainda não entende que está longe de dominar as leis do universo, da física, da biologia e de compreender a natureza de sua vida e, sobretudo da vida do Criador.
4) O Plano de Deus para o homem
Indescritível o grandioso Plano de Deus sobre o homem! No momento em que é chamado à existência não dá para suspeitar qual é o termo último da ação do seu Criador. Somente quando, afinal, lhe é revelada a sua condição gloriosa, aquela de filho de Deus em Jesus Cristo, é-lhe dado compreender a natureza da ação daquele que, por essência, é a Bondade. Uma vez que esta, em Deus, é perfeita, na sua onipotência realiza um gesto de amor impensável, que é o de recuperar a criatura da condição de pecado em que cai, através de uma obra de redenção que tem lugar pela Encarnação.
(5) O Jesus da revelação (I)
7) O Espírito Santo nas Escrituras
(9) Escatologia
Mateus 13 intitula-se como “O discurso em parábolas”, cujo tema é o Reino que Jesus atua e explica, enquanto o anuncia. Podemos dizer que, com as sete parábolas de Mt 13, Jesus sintetiza o seu ensinamento, do qual encontramos comprovações ao longo da sua atividade messiânica. A diversificação dos quadros que ilustram o Reino especifica os seus diferentes aspectos. Na primeira parábola vemos apresentado aquele que semeia, a semente e o terreno. Na segunda parábola nos é apresentada a condição adversa em que o reino cresce no mundo. A terceira nos apresenta qual é a convicção de Jesus acerca da natureza do reino enquanto este se apresenta numa condição insignificante em relação ao mundo que, todavia, é a condição que Deus quer para confundir o mundo. A virtualidade da insignificância apresentada por um grão de mostarda é aquela que o fermento da quarta parábola mostra em relação à massa que ele faz crescer. Com a quinta parábola, Jesus define tudo aquilo que é a riqueza do Reino com o termo ‘tesouro’. É a partir deste termo que devemos começar a explicar o que é o reino sem, todavia, esquecer as facetas que a sexta parábola apresenta quando inverte os termos ‘tesouro’ e ‘aquele que o encontra’, quando diz que “o reino dos Céus assemelha-se a um ‘comerciante que encontra’ uma ‘pedra preciosa’”. Neste caso a acentuação é posta sobre a pessoa “que encontra” que se torna, dessa forma, o sujeito principal do reino que quer ser apresentado. Tendo presentes os termos da quinta e da sexta parábola, compreendemos porque a primeira parábola não começa a ser apresentada da mesma forma segundo a qual as outras todas são apresentadas. É porque nela estão reunidos três termos que potencialmente poderiam ser os termos não de uma, e sim, de três parábolas relativas ao reino dos céus: semeador, semente e campo.
O semeador, que compreendemos ser Jesus, devido o recurso literário de Mateus que utiliza o mesmo verbo ‘sair’ formulado no mesmo tempo verbal ‘saiu’, seja quando descreve Jesus que ‘saiu’ de casa, como quando descreve o semeador que ‘saiu’ para semear, é por excelência, o reino, que Tommaso Frederici assim definia: “Cristo com o Espírito condição gratuita e universal de salvação”. De fato, em virtude da complementaridade que o termo utilizado na parábola e a presentação que Jesus faz de si, nos dão a entender porque Jesus se apresenta no exórdio da sua atividade messiânica dizendo: “Completou-se o tempo, o reino de Deus está perto, convertei-vos e crede no evangelho”. Compreendemos também o significado da sua declaração dirigida aos fariseus, que o insultavam dizendo que expulsava os demônios em nome de Belzebu: “Se eu expulso os demônios em virtude do Espírito de Deus, certamente chegou entre vós o reino de Deus” (Mt 12, 28). Entendemos, enfim, Lc 17,21: “O reino de Deus não vem a ponto de atrair a atenção, e ninguém dirá: Ei-lo aqui, ou: Ei-lo là. Porque o reino de Deus está no vosso meio!”.
A semente não é a simples ‘palavra’, o anúncio da Boa Nova, mas é tudo aquilo que o anúncio traz consigo. Trata-se da “Graça e da Verdade” que nos foram comunicadas por Jesus (Jo 1,17). Este é o conteúdo do Tesouro que implica o plano de Deus que leva a criação à sua condição última de glorificação; que implica, também, o gesto, o mais nobre, que a Bondade possa realizar no intuito de resgatar a criatura da sua condição de degeneração, provocada pela sua persistente atitude rebelde. Aquele que “O Pai consagrou e enviou ao mundo” (Jo 10,36) é, de Deus, a manifestação misericordiosa. As condições que se manifestam na semente que brota, que se torna uma plantinha e que, enfim, produz o fruto da espiga, sugere a presença do Espírito de Deus que, no momento da criação, manifestou a sua condição de poder dar a vida a todas as coisas.
Sentido peculiar de cada parábola em relação ao reino
O terreno, à luz daquilo que temos lembrado ao apresentar a sexta parábola de Mt 13, enquanto representa as pessoas às quais se destina a semente lançada pelo Semeador aponta para a responsabilidade que nasce exatamente da nossa adesão a Cristo. Desta São Paulo nos explica as implicações quando escreve pensando no seu batismo, segundo aquilo que afirma em Rm 6,4: “Fui crucificado com Cristo, não sou mais eu que vivo mas é Cristo que vive em mim, Esta vida na carne e o a vivo na fé do Filho de Deus que me amou e entregou sim por mim” (Gl 2,20). Disto brotam as responsabilidades para aquele que, marcado pelo Espírito com o caráter, foi configurado a Cristo sacerdote, profeta e rei. Nele está a responsabilidade de tornar a sua vida um sacrifício espiritual (Rm 12,1), de ser a luz do mundo (Mt 5,14), de vencer o mundo (1Jo 5,4). Por isto, deve assumir o compromisso de percorrer as etapas ascéticas ditadas por Pedro: “Por isto, empenhai-vos em tudo para juntar à sua fé a virtude, à virtude o conhecimento, ao conhecimento a temperança, à temperança a paciência, à paciência a piedade, à piedade o amor fraterno, ao amor fraterno a caridade” (2Pd 1,5-7).
A segunda parábola apresenta a situação antagônica entre o reino que Cristo inaugura com a sua vinda e o reino que o mundo quer perpetuar. O Apocalipse é livro que desenvolverá este tema apelando a Daniel do qual assumirá as figuras do Dragão e da besta à qual o dragão transmite o poder de dominar com a finalidade de perseguir o povo dos santos. Jesus, em Jo 16, comenta de forma extensiva, enquanto a profetiza, a dolorosa situação, refletindo aquilo que o evangelista Mateus relata: “Cuidado com os homens, porque vos entregarão aos seus tribunais e vos flagelarão nas sinagogas e sereis conduzidos diante de governadores e de reis por minha causa, para dar testemunho a eles e aos pagãos (Mt 10,17-18). O embate escatológico ao qual faz alusão a narrativa midrashica da visita dos magos que chegaram a Jerusalém para adorar recém-nascido rei dos Judeus (Mt 2,2) e que deixa perturbado o rei Herodes juntamente com a inteira Jerusalém (v. 3) a ponto de querer ambos, rei e cidade, matar o menino (v.20).
Sabemos que não poderá ser evitado que alguns sejam destinados a morrer derramando o seu sangue para dar testemunho da Palavra e de Jesus Cristo. Todos, todavia, porque chamados a lutar contra o mundo, devemos “cingir os, flancos com a verdade, revestir a couraça da justiça e tendo como calçados aos pés o zelo de propalar o evangelho da paz, sempre segurando o escudo da fé com o qual neutralizar os dardos inflamados do maligno, pondo na cabeça o elmo da salvação e empunhando a espada do Espírito, que é a palavra de Deus” (Ef 6,14-17).
A parábola do grão de mostarda quer ressaltar o dinamismo do reino, que escapa à compreensão dos sábios deste mundo, mas que se manifesta “poder de Deus e sabedoria de Deus” ( 1 Cor 1,23) no crucificado, que os judeus consideram escândalo e os pagãos insensatez.
A parábola do fermento que fermenta toda a massa quer ressaltar a eficácia própria do reino que é Cristo com o Espírito, a Palavra da Vida que se fez carne, a Luz do mundo, o Bom pastor que oferece a sua vida para as suas ovelhas, a Sabedoria que convida ao seu banquete.
Temos uma última parábola a respeito do reino dos céus que é aquela que o descreve no seu aspecto final: “O reino dos Céus assemelha-se, também, a uma grande rede lançada ao mar que recolhe toda categoria de peixes” ( Mt 13,47). Seu digno comentário é o quadro do julgamento final de Mt 13: Jesus que, na sua condição de Filho do Homem transformado de servo que “ ofereceu-se em sacrifício de expiação” (Is 53,10), se apresentará com todo poder e glória para julgar vivos e mortos”, e chamar aqueles que tiverem produzido frutos de vida eterna para resplandecer “ como o sol do reino do seu Pai” ( Mt 13,43).
A última admoestação é dirigida aos apóstolos aos quais Jesus fez questão de explicar o sentido das parábolas. Eles terão a missão de dar continuidade ao seu ministério messiânico. Deles dependerá a aplicação da força que está na Palavra, termo insistentemente lembrado quando “o Semeador (Jesus) saiu da sua casa para semear”. A revelação com todos os seus mistérios, primeiro dos quais é Cristo, é o tesouro que deve ser explorado, a “pérola de grande valor” (v. 43) que tem que ser admirada. É a “Palavra da vida” que é “Vida, Vida eterna” (1Jo 1,1-2).
Consequentemente, por sua vez, aqueles que escutam o anúncio da Boa Nova, realizado pelos ministros que o próprio Deus constituiu, e dão a sua adesão de fé, são chamados a se familiarizar com a Palavra, entendida no seu sentido mais amplo, que acabamos de considerar; para que, como afirma São Paulo, possa ser fonte de salvação para todos os que creem, do judeu em primeiro lugar e, depois, do grego (Rm 1,16). Disto resulta um ensinamento fundamental que Paulo sintetiza em poucas palavras: “A Palavra habite em vós abundantemente” (Cl 3,16). O dinamismo que provoca esta condição depende do esforço contínuo do mistagogo em aperfeiçoar a compreensão da Revelação, pela sua familiarização com as Escrituras, que terá a sua resposta no afinco com qual os membros da assembleia dominical terão que escutar a profecia e por em prática as coisas que foram escritas (Ap 1,3).