Tt
Estamos
diante de uma Carta de Paulo escrita no ano 58, que entrelaça conceitos
doutrinais com orientações específicas aos dirigentes e aos fiéis.
A
doutrina. Deus, a Bondade que sempre age no amor, movido pela sua
misericórdia diante dos homens pecadores, envia o seu Filho que se imola. Pela
efusão do seu sangue nos merece o Espírito Santo, que é ricamente difundido. Na
condição de povo conquistado devemos nos purificar de toda iniquidade até
produzir frutos de justiça e nos abrirmos a uma esperança que não será
confundida.
Orientações
pastorais. Os dirigentes devem cultivar a fé, para levar os fiéis ao pleno
conhecimento de Deus, e viver na piedade. Devem ser homens virtuosos, não
presunçosos, irascíveis, beberrões, violentos, ávidos de lucro, e sim, justos,
piedosos, disciplinados. Fiéis na exposição da palavra.
Os
fiéis ensinados pelos dirigentes sejam fortes na fé, na caridade e na perseverança.
As mulheres capazes de bons conselhos: amem seus maridos. Os jovens
sejam criteriosos.
A
doutrina aparece em três momentos, sempre seguidos por exortações a Tito.
1,1-4. O Apóstolo, por
ordem de Deus, tem a tarefa de proclamar Cristo Jesus, realizador do Plano do
Pai, de conduzir os eleitos de Deus no caminho da fé e levá-los a experimentar
o pleno conhecimento do Verdadeiro, na piedade, até se abrirem à esperança da
vida eterna.
Esses
conceitos fundamentam as orientações sobre os dirigentes.
2,11-14. Jesus
é a revelação da graça que a Trindade concede aos homens. É toda a graça, seja
enquanto é Deus que é dado aos homens, seja enquanto os homens têm nele tudo o
que precisam para a sua salvação. Em virtude da Redenção atuada pela sua
imolação, Deus nos tornou sua conquista, libertando-nos do domínio do Mal.
Temos, então, em Jesus Cristo o Princípio de força para abandonar a “impiedade
e as paixões mundanas” e o Caminho “para viver na justiça e piedade”. O nosso
termo último é estar com Cristo que entrou na Glória: “sentou-se à direita da
Majestade de Deus nas alturas” (Hb 1,3). Nós o merecemos enquanto nos dedicamos
às boas obras: amor aos irmãos pela observância dos mandamentos e o serviço.
Esses
conceitos devem motivar os fiéis na sua santificação.
Exegese
Para
Paulo, em primeiro lugar está o Deus de Israel. Cristo Jesus é o realizador do
Plano do “grande Deus e Salvador” e é por ele que acontece a manifestação
(teofania) da “graça de Deus, para a salvação de todos os homens” (2,11).
Cristo Jesus realiza a salvação pela “entrega de si mesmo” (2,14). Por graça,
recebemos “a remissão de toda iniquidade”, isto é da condição de injustiça e
perversão em que possam nos ter induzido os nossos pecados. Marcados pelo
Espírito com o caráter, configuração a Cristo Jesus que indica a nossa pertença
a Cristo, somos chamados a viver a purificação dos pecados, “abandonando a
impiedade e as paixões mundanas” (2,12), para chegarmos a realizar as belas
obras, para as quais Deus nos destinou (Fl ), enquanto vivemos “neste mundo,
com autodomínio, justiça e piedade, aguardando a nossa bendita esperança, a
manifestação da Glória”. Esta vai ocorrer quando da segunda vinda de Jesus
Cristo.
A
escatologia norteia a vida do cristão. O motiva a “bendita esperança” do seu
encontro com aquele em quem acreditou e pelo qual perseverou no testemunho até
a morte. Cristo Jesus morreu por ele. Por isto, por sua vez, “dá a sua vida
pelos irmãos” (1Jo ), isto é procura realizar as belas obras, “andando como
Cristo andou” (2,6), observando os seus mandamentos e vivendo, constantemente,
a purificação dos pecados
Jesus,
na condição de Resplendor da Glória de Deus e Imagem do seu Ser, para realizar
o Plano de Deus, se manifesta um primeira vez. Realiza a remissão dos pecados e
torna possível a purificação para todos os que lhe dão as sua adesão de fé. A
sua segunda manifestação, sempre como teofania benfaseja, dar-se-á para os seus
servos, quando da sua vinda sobre as nuvens dos céus, com todo Poder e Glória.
Então, vencida definitivamente a Morte, entregará o Reino ao Pai, “o nosso
Grande Deus e Salvador”.
3,4-7. O que Paulo expôs em Tt 2,11-14, tem o
seu comentário nessa outra perícope que pode ser assim parafraseada: “ Mas
quando a Bondade e o Amor de Deus se manifestaram por meio de Jesus Cristo
nosso salvador, a fim de que fôssemos justificados pela sua graça e nos
tornássemos herdeiros, na esperança, da vida eterna, não por causa dos atos
justos que houvéssemos praticado, por sua Misericórdia, nos lavou pelo poder
regenerador e renovador do Espírito Santo que ele ricamente derramou sobre nós,
por meio de Jesus Cristo”. Os elementos são explicitados: Deus, que é Bondade
que age no Amor; os homens destinados a serem co-herdeiros com o Filho, mas que
precisam de purificação e da comunicação da própria vida divina; Jesus Cristo
que salva pelo lavacro do seu sangue; o Espírito Santo que nos
regenera.
Esses
conceitos motivam a Liturgia que exalta, agradece, suplica e pede.
A doutrina é exposta por Paulo dentro de um
escrito de cunho pastoral. Começa, portanto lembrando de que forma deve agir o
apóstolo para fazer crescer a fé nos fiéis, sempre mantendo viva a vigilância
na expectativa do Dia do Senhor. Em segundo lugar, lembra quais são as
obrigações morais diante da Graça que se manifestou. Enfim, expõe os temas a
serem celebrados na Liturgia para que os fiéis renovem o seu empenho de
santificação.
A ordem teológica é
diferente. O primeiro ponto é o Plano de Deus. O segundo ponto é o empenho
moral diante do fiel que contempla a graça que se manifestou. O terceiro ponto
é a atividade entrelaçada do apóstolo e dos fiéis no cultivo da fé.
Exegese
1,1 Paulo O Apóstolo se
apresenta. É o autor da Carta
1,1 Servo de Deus Ser servo
de Deus é uma condição nobre, porque é fruto de uma escolha para uma
missão à qual Deus destina (Rm 1,1; 2Cor 4,5.
1,1 Apóstolo de Jesus
Cristo Paulo foi chamado para ser apóstolo de Jesus
Cristo (Rm 1,1) o Mistério de Deus: “riqueza da Glória, esperança da
Glória” (Cl 1,27; 2,9)
1,1 para levar os eleitos de Deus à fé
e ao conhecimento da Verdade. O apóstolo tem a dupla missão, a
de anunciar o evangelho para a conversão e a de cultivar a fé pela compreensão
do Mistério, para que os fiéis que acolheram a pregação cresçam no conhecimento
do Filho de Deus, até a sua estatura plena (Ef 4,13).
1,1 para favorecer a piedade,
vida divina amadurecida pela qual a criatura se relaciona, no Espírito, com
Deus, no seu serviço de culto. É o quinto estágio da purificação (2Pd 1,3-10)
1,2 na esperança A
manifestação última do conhecimento é a esperança
1,2 da vida eterna Objeto da
esperança do fiel e da promessa de Deus.
1,2 prometida antes dos tempos eternos
pelo Deus que não mente. É o Desígnio celebrado em Ef 1, 3-14.
1,3 e que, no tempo próprio Gl
4,4; Hb 1,2 são a explicação desse tempo
1,3 manifestou a sua Palavra. Deus
Pai entrega a Jesus a mensagem que, recebida, no-la entrega.
1,3 por meio da proclamação de que fui
encarregado por ordem de Deus Recebida, os apóstolos, segundo o
ministério recebido de Deus, em virtude do mandato de Cristo, no-la transmitem.
1,3 nosso Salvador A
salvação vem do Deus de Israel. O Deus Salvador, segundo a sua determinação,
confiou a Paulo o anúncio do seu Plano realizado, aquele que se manifestou em
Jesus Cristo, nosso Salvador.
1,4 a Tito, meu verdadeiro filho na fé
comum É o destinatário da carta. Todavia, somos todos, para Paulo,
seus filhos, isto é nos ama com ternura de mãe (1Ts 2, ), em virtude da fé que
temos em comum)
1,4 graça e paz São,
respectivamente, o dom e o compromisso, dos que foram chamados à santidade.
1,4 da parte de Deus Pai e de Cristo
Jesus Por Cristo Jesus, recebemos a salvação de Deus que nos torna
“seus filhos adotivos em Jesus Cristo” (Ef 1,5).
1,4 nosso Salvador. Há uma
identidade de vontade na Vida Trinitária. A sua específica realização ocorre
pela ação do Filho.
1,5 A Igreja local está ligada aos Apóstolos
que por meio dos seus representantes, constituem os presbíteros com a função
precípua “de ensinar a sã doutrina, fiéis na exposição da palavra e capazes de
refutar os que a contradizem” (v.9).
1,6 O presbítero deve ser irrepreensível e ter
uma família exemplar. Deve ser hospitaleiro, bondoso, ponderado,
justo, piedoso, disciplinado. Não deve ser presunçoso, iracundo,
beberrão, violento, ávido de lucro e desonesto.
Paráfrase - Deus, nosso Salvador, me chamou ao
seu serviço para proclamar o Plano que desde sempre determinou e que no tempo
fixado se manifestou em Jesus Cristo. É minha função levar à plenitude da fé os
que se revelaram os eleitos, e ao conhecimento do Verdadeiro para que vivam na
piedade até se abrirem à esperança da vida eterna.
Teologia - Os Apóstolos são os mensageiros de
Deus Salvador que de antemão determinou que participássemos da sua vida
mediante a obra de Jesus Cristo. Também, levam os que dão a sua adesão de fé ao
seu anúncio à plenitude do entendimento e ao conhecimento sempre mais perfeito
do Verdadeiro, para que, na piedade, se abram a uma esperança de vida eterna que
não será confundida.
2ª feira 32 semana TC ano par
Reflexão
(Tt 1,1-9)
Paulo
quer fundamentar teologicamente o ministério de Tito em Creta que vemos agir na
pessoa do apóstolo. É apresentado o Plano de Deus visto como uma teofania,
anunciado ao som da trombeta. O seu Desígnio teve a sua atuação na plenitude
dos tempos e o seu anúncio foi consignado aos Apóstolos que agiram por ordem de
Deus.
Enquanto
Paulo vai expondo o que deve ser feito para que a Igreja apresente uma
estrutura bem ordenada, complementa a exposição através de mais detalhes. Isto
ocorre seja em Tt 2,11-14 com, também em Tt 3,4-7.
3ª feira 32 semana TC ano par
O
Pano grandioso de Deus apela por um engajamento dos fiéis. Tem que reconhecer ser
eles o povo que Deus conquistou através da obra do Filho: “nos arrancou do
poder das trevas e nos transportou no Reino do seu Filho, no qual nós temos o
perdão, a remissão dos pecados” (Cl 1,12-14). Os fiéis são chamados a cultivar
a fé para promover a caridade e, através da constância, coroá-la com a
esperança. É dessa forma que a nossa vida se torna”um culto espiritual
agradável a Deus”.
Exegese
3,1 Os fiéis cristãos tem a obrigação de
cumprir com todas as obrigações morais porque devem viver segundo a virtude.
Devem estar “prontos para qualquer boa obra”.
3,2 Devem dar prova de mansidão, “guardando o
vínculo da paz” (Ef 4,3), para que neles viva “a unidade do Espírito” (ibid.),
isto é, a plenitude da caridade, que é a natureza de Deus Amor (1Jo 4)
3,3 A vida virtuosa debela e mantém sob
controle a maldade que se manifesta nos que vivem escravizados pelas paixões.
3,4 A motivação para viver o compromisso
ascético da “purificação dos pecados” é a grandiosidade da sabedoria daquele
que é a “Bondade que sempre age no amor”, que se manifesta na realização do seu
Desígnio pensado desde “os tempos eternos”
3,5-6 Realizou a nossa salvação pela imolação
de Cruz de Jesus Cristo, gesto supremo do seu amor misericordioso. Pelo nosso
batismo opera-se a nossa regeneração em virtude da ação irresistível do
Espírito criador, capaz de tudo renovar.
3,7 Justificados, configurados a Cristo,
sacerdote, profeta e rei, dotados com as virtudes teologais da fé, caridade e
esperança, correspondendo à ação do Espírito, enquanto desenvolvemos os seus
dons, ganhamos as condições de nos tornarmos, com Cristo, herdeiros da vida
eterna.
4ª feira 32ª semana TC ano par
Reflexão
(3,1-7)
A
segunda parte desta perícope constitui-se no texto da 2ª leitura da Liturgia da
Missa da Aurora, no dia do Natal. Com a primeira parte, hoje estamos em
condição de entender a grandiosidade do benefício que nos trouxe o Filho
quando, “ao entrar no mundo diz ao Pai: ‘Não te foram aceitos os sacrifícios e
os holocaustos, eis me aqui, para faze a tua vontade’”. Entendemos, também, ao
somarmos os ensinamentos espalhados nos três capítulos da carta, como a ação
salvadora, pensada por Deus desde toda a eternidade e por ele realizada na
plenitude dos tempos, é obra da Vida Trinitária: Deus nos salva pela ação
salvadora de Jesus Cristo, o Filho, por quem o Espírito Santo é abundantemente
derramado. Podemos ponderar tudo isso ao considerarmos de que forma se articula
em nós a vida divina: justificação, santificação em virtude da nossa
configuração a Cristo Jesus, virtudes teologais que o Espírito desenvolve em
nós pelos seus dons. Na sua misericórdia Deus nos comunica a vida divina que,
quando devidamente desenvolvida pela prática da purificação dos pecados (2Pd
1,3-11), nos torna co-herdeiros com Cristo Jesus da Vida eterna.
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