1ª Carta aos Tessalonicenses

1, 1-10   A dinâmica da vida cristã

Conteúdo
      A saudação inicial (1,1) define os destinatários da carta com o termo “igreja” cujo sentido vem do termo hebraico “qahal”a comunidade de Israel, o povo que Deus quis para si. Cada igreja local, como realização daquilo que antes era figura, é o Israel novo, que, em Cristo Jesus,  seu Senhor, tem  Deus como Pai. Paulo, Silvano e Timóteo estão em comunhão com os fiéis de Tessalônica em virtude da mesma fé e da mesma caridade (1Jo 1,3). Seu sincero desejo é que os fiéis da Igreja de Tessalônica cresçam na graça da caridade até chegar à plena comunhão de vida com Deus Pai(Tema 1) por Jesus Cristo, Senhor(Tema 2) da Igreja.
      A ação de graças (1,2-10) que Paulo eleva a Deus é motivada  seja pelas obras que os tessalonicenses estão realizando na sua fé, como, também, pelo trabalho que é fruto da sua caridade e pela constância que os faz viver na esperança de Jesus Cristo, o Senhor da Igreja. Por causa
disso, está convencido da sua eleição, em primeiro lugar porque o seu Evangelho não representa palavras caídas no vazio, antes palavras que manifestaram a eficácia do Espírito Santo agindo em profundidade, como puderam constatar os próprios tessalonicenses quando esteve entre eles; em segundo, porque se tornaram seus imitadores, como ele o é de Cristo, suportando muitas tribulações por causa da Palavra, a ponto de experimentar em si os frutos do Espírito Santo; por fim, porque  se tornaram modelo para todos, na Macedônia e na Acaia, aos quais chegou a fama da sua fé em Deus, Aquele que, agora, servem, tendo abandonado o culto aos ídolos, e vigilantes esperam pela vinda do seu Filho, Aquele que nos liberta da ira que se manifestará por causa da impiedade (Rm 1,18).

Temas
1) Deus Pai  (1Ts 1,1)
Em que Paulo pensava quando ele juntava o termo “Pai” ao termo com que as Escrituras falavam de Deus? Certamente, em Jesus, o Cristo “constituído em Poder pela sua ressurreição dos mortos, em Espírito de Santidade” (Rm 1,4). Dizia, portanto, respeito ao homem Cristo Jesus, a Descendência de Davi que, ao participar plenamente da glória que era sua desde antes da criação do mundo, elevava a sua humanidade à participação da Vida Trinitária. Quando, porém, lemos, em Ef 1,6 que sempre foi vontade de Deus que “nos tornássemos seus filhos adotivos em Jesus Cristo”, entendemos que Paulo pensava no fiel como aquele que “em Cristo” estava associado à vida de Deus. A comunhão com Deus se dá enquanto o Espírito Santo é dado aos seus, através de Jesus Cristo. Portanto, à semelhança do homem Cristo Jesus, consubstancial ao Pai, porque Pessoa divina, tornamo-nos “consortes da natureza divina”. É o máximo da glorificação do homem em virtude do poder e da sabedoria daquele que, por essência, é a Bondade, o Verdadeiro, a Perfeição infinita das prerrogativas do Ser, que só pode agir no amor.
Nas Escrituras, as prerrogativas de Deus se apresentam de maneira gradativa, a partir da criação. O Deus que dá origem a tudo revela-se como a Bondade que age com poder e sabedoria, revela-se como beleza em seu estado puro. Ao longo da história da salvação, particularmente através da história do povo eleito, revela o seu Amor misericordioso e todos os atributos que o acompanham: paciência, longanimidade, benignidade e compaixão. Revela-se particularmente grande em suas obras quando a redenção do homem se realiza pela ação de Jesus, que encarna em si os tipos e as figuras da Profecia. A forma é inesperada porque ele apresenta-se como o “Unigênito Deus”, o Filho.
A reflexão sapiencial da Igreja apostólica nele vê a realização das figuras e tipos das Escrituras relativas ao Cristo e, por elas, fala Dele.
A filiação adotiva que é concedida aos homens constitui-se na comunicação da Vida Trinitária através do dom do Espírito. Este, na sua força criadora renova o que estava perdido pelo pecado. A vida divina da qual torna partícipe a criatura, é o penhor da ressurreição na carne e da herança eterna.
O processo que leva a criatura à sua condição gloriosa acontece pelo desenvolvimento dos dons que Ele participa e promove.
Cada Igreja local é a comunidade dos filhos de Deus que vive conduzida por Cristo Jesus, o qual Deus constituiu Cabeça de um Corpo cujas células recebem Daquele que é a Plenitude. É em Cristo que os fiéis vivem pelo Espírito a sua comunhão com o Pai.

 (2) Jesus Cristo Senhor (1Ts 1,1)

            Pela revelação que o próprio Jesus concedeu a Paulo, no caminho de Damasco, o Apóstolo compreende, sob iluminação do Espírito Santo, que o homem Cristo Jesus é o mediador entre os homens e Deus, em virtude da sua condição divina manifestada pela sua ressurreição. De fato, ressuscitado ele recebeu de Deus Pai todo poder que exerce em favor dos seus na condição de Senhor da Igreja. É uma condição que a catequese apostólica descreve por três imagens que, relacionadas entre si, nos dão a idéia de quanto Jesus influi sobre os seus fiéis. Ele é a videira que faz os ramos produzir frutos. É a pedra angular sobre o qual se edifica, pela ação dos que são pedras vivas, o templo de Deus, no Espírito. Ele é a Cabeça do corpo constituído por cada célula que é cada um dos seus fiéis, que ele nutre na condição de Plenitude  em tudo e em todos.
            Pelo fato que ele realiza em si  a Profecia, o que as Escrituras falam  pode ser utilizado para ilustrar a sua condição. Foi o que fizeram os Apóstolos e os Profetas da nova Aliança com os seus escritos. Aproveitando suas palavras, podemos forjar a imagem completa de Jesus na condição de Cristo de Deus, a partir, como faz São João, das figuras da Palavra que sai da boca de Deus e que tudo cria na força do Espírito  e da Luz, que Deus separa das trevas. A seqüência é rica de lembranças do AT. Jesus é o Adão que Deus criou à sua imagem e semelhança, a Descendência prometida capaz de realizar a redenção dos seus irmãos, o Abel que Caim mata, Noé que dá origem à nova estirpe dos filhos de Deus e que celebra a sua Nova Aliança com Deus, selada pelo arco na nuvem. Jesus é o Isaac, no qual, segundo o que Deus promete a Abraão, são abençoadas todas as tribos da terra. Isaac e Jacó são a Descendência que Deus suscita e que dá origem ao povo que Deus escolheu para si, para estender a salvação a todos os povos da terra. Jesus é Moisés que liberta, que conduz o Israel de Deus pelo deserto. O quadro da serpente de bronze levantada, também ele apresenta uma figura de Jesus, que a lembrará para se proclamar o “Eu sou”. Jesus é o Servo de Iahweh, o cordeiro levado ao matadouro, que todos pensavam amaldiçoado por Deus, enquanto carregava os pecados de todos. Por ter oferecido a sua vida em sacrifício de expiação viu multiplicar-se os seus dias e deslanchar-se o Plano de Deus. É a pedra que derruba todos os reinos da terra e que se eleva num monte eterno. É o Senhor que vem ao seu Templo, a Sabedoria que na criação estava com Deus.
            Mas, o que de mais importante: os Apóstolos são chamados a testemunhar, após ter vivido com ele, tê-lo ouvido falar e, até, tê-lo tocado com suas mãos após sua ressurreição, é a condição divina de Jesus. Após ter vencido a morte, pela sua ressurreição do sepulcro, transformado, de alma vivente em Espírito vivificante, vivifica todos os homens que dão a sua adesão de fé a Ele e dá a condição de estar entre o número dos eleitos, a todos aqueles que vivem a lei do Espírito, mediante a observância dos seus mandamentos. È ele que suscita os Apóstolos, os Profetas, os Evangelistas, os Pastores e os Doutores, na Igreja, para que todo e cada membro dela esteja em condição de contribuir, segundo o seu serviço, na edificação da Igreja.

Vocabulário
     Essa primeira carta de Paulo, escrita no ano 52, nos dá a oportunidade para começar a criar um vocabulário que, sempre mais enriquecido, nos possibilitará o aprofundamento na compreensão do Evangelho de Deus, isto é, do Desígnio que Deus, desde sempre, pensou na sua bondade, e que realizou pelo Filho.
     
     Igreja - Paulo vê, na Igreja, o Novo Israel, que tem como pedra angular o Senhor Jesus Cristo. Alicerçado sobre o fundamento dos Apóstolos, se eleva, pelas obras de cada uma de suas células, como templo de Deus, no Espírito (Ef 2,20-22). Visto sob a figura de um corpo que tem muitos membros, o Novo Israel que Deus chamou para ser o seu povo, tem, como Cabeça, Jesus, a Descendência de Davi, portanto, o Cristo de Deus, o Filho que o Pai consagrou e enviou ao mundo. Constituído em poder, pela sua ressurreição dos mortos, tornado, de alma vivente, Espírito vivificante (1Cor 15,45; 2Cor 3,18), ele é o Senhor da igreja (Fl 2,6-11), a Plenitude que plenifica tudo em todos (Ef 1,23).

     Vida cristã - Pela mediação de Jesus Cristo, os que receberam a graça da fé, são chamados a "guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz" (Ef 4,3).
     Diante de tudo aquilo que vê realizar-se na Igreja de Tessalônica, a Paulo só resta elevar a Deus a sua ação de graças porque vê os tessalonicenses na condição de eleitos, isto é, fiéis que, como ele, evoluem na fé e promovem em si a caridade da forma mais perfeita, qual é aquela da suportação das tribulações por causa do Evangelho de Deus. De fato, ela promove a constância, que, por sua vez, faz brotar uma esperança marcada pela alegria, que é um dos frutos do Espírito (Gl 5,22).
       A vida cristã tem seu princípio na ação unilateral de Deus que, por definição bíblica, é a Bondade. Fiel a si mesma, age no amor em relação a todo e qualquer ser humano que, por livre determinação de sua vontade, quer que se torne seu filho adotivo em Jesus Cristo (Ef 1,5). O Verdadeiro nos reveste, então, "da couraça da justiça" que se revela na fé que o Espírito criador suscita para ser o nosso "escudo" para poder extinguir "os dardos inflamados do maligno" (Ef 6,14-16). Desenvolve-se, então, a fé pelo "zelo em propagar o evangelho da paz" (ibid.), empunhando "a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus" (6,17). 
        A vida cristã alcança a sua condição perfeita pelo testemunho da Palavra e de Jesus Cristo, na perseverança nas tribulações. A virtude da constância que se origina em nós, faz brotar a esperança, que nunca permitirá que nos separemos do amor de Cristo (Rm 5,3-5). Vemos tudo sintetizado em Gl 5,5: "Aguardamos, no Espírito, a esperança da justiça que vem da fé". Gl 5,6 acrescenta uma especificação: "a fé agindo pela caridade".

     Desígnio de Deus - Quando Paulo elenca os acontecimentos que a sua visita a Tessalônica provocou, acaba nos apresentando o maravilhoso da ação de Deus. O Apóstolo traz à obediência da fé os pagãos, adoradores de ídolos, em virtude da eficácia da Palavra anunciada. O Espírito comunica a vida divina aos que dão a sua adesão de fé ao Deus "que ressuscitou dos mortos Jesus, nosso Senhor, o qual foi entregue por nossas faltas e ressuscitado para a nossa justificação" (Rm 5,24s).


Paráfrase

    Paulo, juntamente com Silvano e Timóteo, deseja graça e paz à comunidade dos fiéis que está em Tessalônica,  com a qual vive em comunhão com Deus Pai e Jesus Cristo, o Senhor da Igreja.

      Antes de tudo, quer que os fiéis de Tessalônica saibam que ele, continuamente,  eleva a Deus a sua ação de graças por todos eles, recordando-os, sem cessar, nas suas orações*. Quer que saibam que ele apresenta, diante de Deus e Pai nosso, a obra da fé deles e o trabalho, fruto do amor e da esperança, que tudo suporta, da vinda do Senhor  Jesus Cristo, ciente da eleição deles, por serem amados por Deus.

      De fato, quando a eles anunciou o Evangelho, esse não chegou aos seus ouvidos como simples retórica, mas como palavra eficaz e de profunda persuasão, sob a ação do Espírito Santo (o que, aliás eles bem  sabem pelas atitudes assumidas por ele, em favor deles, enquanto estava no meio deles). Da mesma maneira, eles se tornaram seus imitadores e do Senhor, tendo acolhido a Palavra, que vinha acompanhada de muita tribulação, na alegria do Espírito Santo, tendo-se tornado, dessa forma, modelo para todos os fiéis na Macedônia e na Acaia.
      Por eles, de fato,  propalou-se a Palavra do Senhor não somente nestas regiões, como, também, em todo lugar, onde a sua fé em Deus, brilhou, a ponto de não haver necessidade de acrescentar algo de sua parte. De fato, todos anunciam qual foi a sua estada entre eles e como os fiéis de Tessalônica se converteram a Deus, abandonando os ídolos para servir ao Deus vivo e verdadeiro e esperar, vindo dos céus, o seu Filho Jesus, que fez ressurgir dos mortos, aquele que nos livra da ira que está para se manifestar.
Vocabulário
Oração – A oração é, para Paulo, parte integrante da sua atividade apostólica. É ação de graça, impetração, louvor. O gáudio que ela provoca, quando é ação de graças, renova a vida do espírito e dispõe para uma renovada doação (3, 9-10).
 – Fé é adesão incondicional à Pessoa do Filho que é anunciada pela palavra do Evangelho. Suscitada pelo Espírito, em virtude da eficácia da palavra da pregação apostólica, deve ser cultivada para que, pela confiança em Deus, tendo como exemplo Abraão, e pela opção pela causa de Deus, a justificação se manifeste sempre mais (Rm 1,17). As suas obras são a como fez Moisés, a perseverança no testemunho dos valores de Deus, como muitos santos provaram ter, até a renúncia à vida em favor da causa de Deus. Hb 11 é uma aula sobre a fé, como, também, Hb 12, que apresenta Cristo como modelo. 1Jo 5,20 e 2Jo 9-10 especificam o aspecto da mesma quando dizem que opera a caridade enquanto visa o aprofundamento acerca de Cristo e de Deus verdadeiroGl 5,5-6 define a natureza e o dinamismo da fé: “Nós, com efeito, aguardamos, no Espírito, a esperança da justiça que vem da fé... agindo pela caridade”, conceito desenvolvido em Rm 5,1-5. A fé é a primeira condição da vida divina em nós, suscitada pelo Espírito através da informação que o anúncio do Evangelho de Deus acerca do Filho oferece. Pelo Batismo o Espírito firma em nós a fé nos marcando com o seu selo, isto é, nos configurando a Cristo. A partir do momento que a vida divina está em nós na sua forma plena, embora embrional, a caridade que é a virtude teologal que durará para sempre, deve ser alimentada, ao longo de toda a nossa vida, porque vivemos na esperança e não na visão. Essa é a função específica da fé. Ela é necessária até para promover a esperança. De fato, não seríamos capazes de dar testemunho da nossa fé, ao longo da tribulação, se a Palavra não habitasse em nós abundantemente. Nutrimos a fé pela “Palavra da Verdade, o Evangelho que produz fruto... desde o dia em que ouvistes e compreendestes em sua verdade a graça de Deus”. O aprofundamento da Palavra, que é Revelação divina, é “conditio sine qua non”, porque é por ele que compreendemos o Mistério. O cântico espiritual de Paulo em Ef 1,3-14 nos revela a quais píncaros de entendimento pode chegar o cristão que cultiva a sua fé e por ela se nutre.
Caridade – A caridade é vida divina participada. Sua primeira manifestação é a fé. Ela deve ser cultivada pela observância dos mandamentos de Cristo. Dessa forma evitará que sejamos pedra de tropeço para os irmãos. Desenvolve-se, enquanto diz respeito diretamente a Deus, pela compreensão  enquanto é pela caridade fraterna que ela é promovida quando nos preocupamos em realizar as boas obras para as quais Deus nos destinou: o anúncio da Boa Nova, as obras de misericórdia.
Esperança – É a condição inabalável à qual chega a caridade uma vez que como uma âncora lançada “além do véu, pelo qual Cristo entrou como Sumo Sacerdote” não permite que nada nos separe de Cristo, amado por uma caridade que o Espírito efundiu no coração do fiel (Rm 5,5).
2, 1-12.13-16   O Apóstolo

Conteúdo
           
Após ter tratado do dinamismo da vida cristã dentro do contexto da vida da Igreja de Tessalônica, Paulo passa a apresentar a sua vida de Apóstolo.
            O Apóstolo atua de forma perfeita quando as tribulações o associam a Cristo Jesus na sua Paixão. A sua confiança passa a ser somente aquela que ele tem no seu Deus. Para sempre estar à altura da sua vocação, deve sempre proceder com lisura e sinceridade e nunca ceder ao desejo de levar vantagem da situação ou de procurar a sua própria glória.
Além de ter-se comportado dessa forma, mesmo depois que os tessalonicenses aderiram à  fé diante do anúncio do Evangelho, ele nunca se prevaleceu da sua condição de Apóstolo para onerar os fiéis naquilo a que ele tinha direito. Ignorando os seus direitos, se fez pequeno, como uma mãe que só se preocupa em alimentar os filhos, movido pelo amor  e caridade com os que se tornaram fiéis da igreja daquele lugar. Os amou, com amor de caridade, como o Cristo amou os seus discípulos (Jo 15,15). São como filhos seus gerados pela fé, que ele ama em Cristo porque, agora, participam da mesma natureza da graça da filiação adotiva, em virtude da comunicação do Espírito. Trabalhou dia e noite para exortá-los, consolá-los e encaminhá-los no cumprimento da vontade de Deus, em vista da sua salvação eterna.

Vocabulário

Apóstolo – Ao longo das suas cartas, Paulo sempre volta a lembrar a sua condição peculiar de Apóstolo. O faz para reafirmar a sua autoridade, conduzindo, dessa forma, os leitores e ouvintes de seus escritos à obediência na fé, para que  se afastem do perigo de falsos apóstolos e que movidos por convicções erradas, acabem se afastando das igrejas locais e do Evangelho que os verdadeiros Apóstolos pregaram com a autoridade que Cristo Jesus lhes conferiu segundo o testemunho do Espírito. Além desses falsos apóstolos há também falsos pregadores manchados no seu espírito por intuitos escusos, ou pela vontade de enganar.
            O pregador do Evangelho de Deus deve somente agradar a Deus. Não deve adular, procurar vantagens monetárias, viver atrás de elogios de ninguém.
            Depois de ter exposto os aspectos negativos do falso apostolado que não procura agradar a Deus, Paulo, citando o que aconteceu em Tessalônica, proclama que a grandeza do verdadeiro apóstolo está na doação, motivada pelo amor àqueles que vê poder gerar e alimentar como uma mãe faz com os seus filhinhos. É a fecundidade da virgindade, na caridade, que faz brotar no apóstolo a benevolência, que é a própria atitude de Deus que ama enquanto enche de bênçãos as suas criaturas (Ef 1, 3-10).
Paulo continua na descrição desse amor que está pronto a dar a própria vida pelos amados, recordando o seu trabalho e a luta que enfrentou para cultivar a fé dos fiéis de Tessalônica. O fez como um pai que em relação aos seus filhos vive exortando, consolando nas dificuldades e ensinando a dar os primeiros passos no caminho da santificação para agradar a Deus e, dessa forma, se tornar merecedor do Reino e da Glória eterna.
            Na condição de instrumento perfeito em que se tornara desde o momento da sua eleição, pela ação do Espírito Santo, Paulo vê que a sua palavra opera em virtude de uma força que procede do Espírito e age em profundidade nos espíritos. Em Cl 1,9 Paulo, até fundamentado na sua experiência pessoal, apresenta a figura ideal do cristão que, por sua vez, explica a “eficaz energia” pela qual consegue operar.
            A santidade de Paulo, portanto, é fruto de uma ação do Espírito de Deus que o converte, o santifica pela Palavra, o consagra para o apostolado, o torna instrumento perfeito da manifestação do seu poder. Temos uma ilustração dessa eficácia em 1Ts 1,9-10  


Texto

 1Vós mesmos, de fato, sabeis, irmãos, que a nossa estada convosco não foi em vão, 2 pelo contrário, marcados por tribulações e humilhações sofridas, como sabeis, em Filipos, nos armamos de confiança no nosso Deus e vos falamos do Evangelho de Deus, sustentando muitas lutas. 3De fato, o nosso apelo não parte de convicções erradas, nem está misturado com intuitos desonestos, nem visa o engano. 4Falamos na condição de quem avaliado por Deus foi achado digno de anunciar o Evangelho. Falamos não para agradar aos homens, mas a Deus que avalia os nossos corações. 5Nunca nos rebaixamos a um discurso adulatório, como bem sabeis, nem a um discurso  dissimulado que visasse vantagens materiais, Deus é testemunha disso, 6nem procuramos aplauso de homens, nem o vosso nem o de outrem, 7podendo nos prevalecer da condição de sermos Apóstolos de Cristo. Pelo contrário, nos tornamos pequenos no vosso meio, como se fôssemos uma mãe que nutre seus próprios filhos. 8Dessa forma, como quem desejava todo o bem para vós, cheios de benevolência, queríamos vos dar, não somente o Evangelho de Deus, mas até as nossas próprias vidas, porque vos tínheis tornado amados para nós. 9Certamente lembrais, irmãos, o nosso trabalho e a nossa luta. Noite e dia dedicados ao trabalho para não ser de peso a nenhum de vós, vos proclamamos o Evangelho de Deus. 10Vós sois testemunhas e Deus também, como de maneira santa, justa e irrepreensível caminhamos, em atenção a vós que abraçastes a fé, 11como bem sabeis que estivemos vos tratando como um pai lida com os seus filhos, 12exortando-vos, suplicando-vos e vos dando prova  de como devíeis andar segundo a maneira que agrada a Deus, Aquele que vos chama ao seu próprio Reino e à sua própria Glóri


2,13-16 Elucidações

Conteúdo
            Terminada a apresentação da maneira segundo a qual se conduzia diante de Deus, no seu trabalho apostólico, Paulo especifica os motivos pelos quais tinha declarado que os fiéis de Tessalônica estavam entre o número dos eleitos: 1º)Tinham acolhido a Palavra não como palavra humana, mas, de Deus, como de fato  é, que opera neles, os fiéis; 2º) tinham-se tornado imitadores das comunidades de Deus que estão na Judéia, que vivem a sua fé em Cristo Jesus, porque, também sofreram perseguições como os fiéis da Judéia por parte dos judeus, que levaram à morte o Senhor Jesus e os Profetas e os que perseguiram, que não agradam a Deus, são hostis a todos, tentando impedir que ele fale aos gentios para que se salvem. Desse modo preenchendo em tudo a medida dos seus pecados. De fato, chegou sobre eles a ira de Deus, para os seu fim.

Vocabulário
           
            Evangelho – É a revelação do Plano de Deus que tem a sua atuação na pessoa divina de Jesus (Ef  1,10), o Cristo de Deus, constituído em poder pela sua ressurreição dos mortos (Rm 1,4). O seu anúncio opera a conversão e a reflexão por parte dos fiéis, condição necessária para a santificação (Rm 15,14.16).

            Judeus –  É o povo que Deus escolheu para anunciar a salvação a todas as nações. A continuidade da sua missão dá-se pela ação dos doze Apóstolos que Jesus enviou no mundo inteiro.
 As autoridades judaicas recusaram-se em aceitar Jesus como o Cristo de Deus. Paulo sempre lamentou essa recusa porque considerava os judeus os mais capazes de usufruir da graça do Evangelho (Rm 1,16). Interpretou-a como a maneira que Deus escolheu para mostrar a gratuidade do dom da fé e estender a salvação a todos os povos (Rm 9-11).

2,17-3,13  A origem da carta

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            Longe dos fiéis de Tessalônica, na verdade, mais de vista que de coração, Paulo desejava ardentemente voltar a vê-los, apreensivo quanto à sua sorte por causa das perseguições que os judeus da sinagoga de Tessalônica lhes infligiam. Uma vez que se tinham tornado a sua esperança, a sua alegria e a sua coroa para o dia da Vinda (parusia*) do Senhor da Igreja, Jesus Cristo, não queria que o seu trabalho tivesse sido em vão.
            Por esse motivo tinha enviado Timóteo, na condição de ministro do Evangelho de Cristo, no intuito de encorajar os fiéis de Tessalônica para que não esmorecessem na tribulação, condição fundamental para alcançar a salvação.
            Timóteo tinha voltado, relatando a firmeza da fé e da caridade dos tessalonicenses.
            Esse fato fez com que ele experimentasse  uma alegria profunda que o levou a desejar visitá-los para, através das suas instruções, levar à plenitude a sua fé. Era movido por uma caridade ainda apreensiva em relação à sorte daqueles que ele tinha gerado na fé. Por isso, nas suas orações pedia de poder ir até eles para fortalecê-los e consolá-los pelo Evangelho, na condição de Apóstolo.
Enquanto isso não acontecia, fazia votos que o próprio Senhor levasse à plenitude a sua caridade e promovesse o amor fraterno, para que estivessem em perfeita santidade  diante do seu Deus e Pai, no dia da vinda do Senhor Jesus Cristo, com todos os seus santos. 

Vocabulário

            Parusia  A Vinda do Senhor é o momento em que Jesus manifesta a sua presença para julgar cada homem. Para Paulo será o momento em que o justo juiz lhe dará a coroa da glória que ele mereceu pelo  bom combate que deu origem a muitas igrejas locais. Será portanto um dia de alegria porque, será coroada a sua esperança, após ter suportado com perseverança as tribulações por causa da sua fé. A Vinda do Senhor surpreenderá, como um ladrão, o servo que faltar com a vigilância. O Senhor da Igreja não o reconhecerá diante do seu Pai (Ap 3,3-5).

Comentário

            Quando chegamos no fim do 3° capítulo da carta notamos uma formulação literária remetendo-nos ao início da mesma, devido as mesmas palavras que lá encontramos “diante de Deus e pai nosso, quando da Parusia do Senhor nosso Jesus, com todos os seus santos” (3,13; 1,3: “a paciência da esperança do Senhor nosso Jesus Cristo, diante de Deus e pai nosso”). Trata-se de uma inclusão cujos termos estabelecem o tema da doutrina nela contida. O tema apresenta a vida cristã, enquanto é vivida aqui na terra, como um exercício na fé e na caridade até se abrir a uma esperança, que não será confundida, na expectativa da Vinda do Senhor. Enquanto vivida na visão, ela será  uma convivência com Cristo, em Deus, pelo Espírito.
Pela cronologia dos acontecimentos que encontramos no 3° capítulo, entendemos que o 1° capítulo contém um encorajamento de Paulo e o 2° capítulo é um desabafo, aliviado ao ver que todo o seu trabalho não foi em vão.
Todavia, por trás do encorajamento e do desabafo, como, também, da descrição da origem da carta, está uma doutrina que, embora nos tenha sido transmitida de maneira ocasional, nos é, contudo, extremamente preciosa. É no discurso de Paulo no areópago de Corinto (At 17,22-34) que temos um primeiro contato com os pagãos sistematicamente formulado. É no discurso de Estevão que temos a dissertação sistemática, segundo as Escrituras, sobre a messianidade de Jesus (At 7,54). É no debate com os judeus, na Carta aos Romanos, que está a explicação da relação da Lei com Jesus, o Cristo. Quando somamos os ensinamentos ocasionais à exposição sistemática dos textos citados, temos uma teologia do Desígnio de Deus do qual fala Paulo em Ef 1,3-10.
Podemos resumir a teologia de Paulo da seguinte forma: Aos homens, incapazes de encontrá-lo, Deus se revelou através da escolha do povo hebraico, para nele suscitar a Descendência capaz de resgatá-los da sua condição de escravidão conseqüência  do pecado. Na Profecia contida nas Escrituras está preanunciado o Plano de Deus que teve a sua plena realização em Jesus. Pela sua ressurreição dos mortos, este  revelou sua condição divina. Ele é o homem que constituído em poder, na condição de Senhor do novo Israel, pelo seu Espírito, está em condições de santificar todo e cada homem que a ele dá a sua adesão de fé. O fiel da Igreja é chamado a promover a graça da justificação que Jesus por ele mereceu com o seu sacrifício de expiação, pelo cultivo da sua fé; firme na esperança até criar as condições para o Espírito Santo levar à plenitude a sua comunhão com Deus. Para que o Mistério de Deus chegue ao conhecimento de todos os homens, Jesus Cristo constituiu os Apóstolos para anunciarem essa Boa Nova no mundo inteiro, animados pelo espírito da profecia que tornava a sua palavra eficaz pelo poder do Espírito. Foi dessa forma que as comunidades locais foram constituídas em igrejas de Deus Pai e em Jesus Cristo. Vivendo segundo os seus mandamentos, os fiéis se purificam dos seus pecados para serem achados irrepreensíveis no Dia do Senhor e, dessa forma, poder ficar de pé diante de Deus.
            A idéia de um julgamento final, volta mais uma vez no fim desse 3º capítulo. Faz parte de tudo aquilo que Paulo ensinou ao longo da sua catequese, enquanto esteve entre os fiéis da comunidade de Tessalônica. Rm 5,  9-10 aponta para a importância daquele momento. Estaremos livres da ira de Deus de uma vez por todas se formos encontrados irrepreensíveis na santidade. O cristão deve, portanto, dar suma importância à escatologia. O Apóstolo utilizará a linguagem apocalíptica para sublinhar a importância do momento do julgamento definitivo, sem nunca sugerir a sua iminência que seria sinalizada por cataclismas. O julgamento, contudo, deve estar insistentemente presente na alma do fiel, para que nunca decaia do primeiro fervor no serviço àquele Deus ao qual se converteu.
            Cada fiel deve “servir ao Deus vivo e verdadeiro e esperar vigilante o seu Filho, que virá como Juiz, Jesus, do qual, vivendo a vida, se garantirá da ira futura” (1,10). Deve “caminhar de maneira digna diante de Deus que o chamou ao seu Reino e a sua Glória” (2,12). Que Deus, portanto, “confirme os seus corações para que, tornados irrepreensíveis na santidade, possam ficar de pé diante de Deus e Pai nosso, quando da vinda do Senhor nosso Jesus Cristo, com todos os seus santos” (3,13).

4, 1-12 Conselhos morais

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            Após ter lembrado os princípios doutrinais fundamentais ditados quando da sua estada em Tessalônica, Paulo volta a lembrar preceitos morais segundo a vontade do Senhor Jesus. Não duvida em se apresentar aos tessalonicenses como modelo. Ele procura andar nos caminhos de Deus e agradá-lo se esmerando no seu serviço, na condição de Apóstolo* do Evangelho de Deus. Os tessalonicenses, na condição de fiéis, terão que viver a sua santificação na fidelidade conjugal e ser honestos nos negócios. A imoralidade e falta de lisura que prejudica o irmão serão vingadas por Deus. Elas tornam impuro o coração e entristecem o Espírito Santo, princípio da nossa santificação. Entre os irmãos na fé, a relação deve ser de amor fraterno, que deve crescer sempre mais. Levem uma vida tranqüila conduzindo o seu negócio. Sejam honestos, sem desejar o que é dos outros.

4,13 - 5,11  A sorte dos que morrem no Senhor

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            A tristeza diante da morte dos irmãos está cheia de esperança para os que crêem no Deus vivo e verdadeiro. Da mesma forma que ele ressuscitou Jesus, assim ressuscita os que morrem, porque neles está o penhor da sua ressurreição, que é o Espírito, uma vez que, sepultados com Cristo, no batismo, ressurgiram para uma vida nova (Rm 6,4). Para explicar aquilo que acaba de afirmar, Paulo assume a linguagem apocalíptica que, figurativamente, tudo projeta num julgamento final. No fim dos tempos, vivos e mortos serão chamados para o julgamento. Os que ainda estiverem vivos serão julgados a parte, no dia da parusia do Senhor. Quando for dada a ordem, pela voz do arcanjo e ao som da tuba de Deus, o Senhor descerá do céu e os mortos ressuscitarão. Em seguida, os que ficaram serão arrebatados ao encontro de Cristo nos ares. E, assim, para sempre, estaremos com o Senhor. É dessa maneira que os fiéis devem se consolar (4,13-18)
            Sempre apoiado na linguagem apocalíptica, logo em seguida, Paulo tenta fazer compreender o que de fato acontece com os que morrem. O julgamento é individual. Por isso, o importante é viver em vigilância, para não sermos surpreendidos pela Vinda do Senhor como por um ladrão. Quem se arma, como de uma couraça, com a vida de fé e caridade, e se protege com a esperança da salvação, nada tem a temer. Vivamos, portanto, sempre, no Senhor, tranqüilos, porque Deus não nos destinou à ira, mas à conquista da salvação por Nosso Senhor Jesus Cristo, que por nós morreu (5,1-11). (cf. Rm 8,34).

Comentário

            A sorte dos que morrem é o argumento específico do qual Paulo acaba tratando nessa carta. Aliás, é tanta a insistência de Paulo em lembrar as últimas coisas, a morte, o julgamento o castigo que aguarda os maus e a vida feliz dos que estarão para sempre com o Senhor, que devemos considerar a escatologia (Tema 3) uma verdade importante da catequese apostólica.
Os fiéis de Tessalônica já tinham chegado a professar a sua fé em Jesus ressuscitado. Fundamentado nessa crença, Paulo afirma que Deus ressuscitará os que adormeceram em Cristo. Adormecer em Cristo significa cessar de viver essa forma de existência para assumir aquela  que a vida de obediência ao Deus vivo e verdadeiro que ressuscitou Jesus dos mortos merece (5,14). Sem explicar como isso acontece, porque está acima de qualquer experiência humana, Paulo, todavia, o ilustra recorrendo àquilo que a apocalíptica, que se encontra nos livros dos profetas, diz. Ela fala de uma convocação que diz respeito a todos os homens, indistintamente, vivos ou mortos. A solenidade do momento é marcada pela voz do arcanjo, o som de uma tuba que não pode deixar de ser a tuba de Deus. O poder daquele que julga é representado pela sua solene vinda sobre as nuvens, que são a sua carruagem. Nesse contexto, os que morreram primeiro ressurgirão, os vivos, julgados, acompanharão a sorte os mortos que foram julgados e achados dignos de participar do Reino do Filho (vv.15-18).
            Deixando de lado o tempo, Paulo entra num detalhe que parece estar em contradição com a descrição do julgamento. Naquela descrição o momento do julgamento coincide com o fim dos tempos. Mas, exatamente porque aquilo é figura que não pretende estabelecer o tempo nem o modo real do julgamento, mas somente a importância de quem julga e a gravidade da sentença que ele pronuncia, Paulo lembra aos fiéis que tudo acontece no momento da morte. Isto resulta na obrigação que temos de viver vigilantes, que o Apóstolo tenta valorizar.
 Quem é surpreendido pela morte como por um ladrão, será punido, porque será encontrado sem o fervor da caridade. Quem estiver vivendo como filho da luz, entrará “no gáudio do seu Senhor”. Quem for encontrado vivendo a sua fé, promovendo a sua caridade, aberto a uma esperança que não será confundida, o Deus que no Filho nos remiu, por ele nos dará a vida eterna (Rm 8,31-33), porque para isso nos destinou. É isto que devemos pensar para nos consolarmos acerca dos que dormem no Senhor (5,1-11). 

Tema

3) Escatologia (1Ts 4,13-5,11)   

            A primeira carta aos Tessalonicenses está toda pontuada pela lembrança do Dia do Senhor, chamado “O dia da ira” (1,10) porque, naquele dia, a santidade de Deus queimará tudo o que é imperfeição no homem. Por isso o fiel deve viver a purificação para poder enfrentar o julgamento de Deus e escapar da sua ira. Disso falam Rm 5,10; 2Pd 1,3-10; 1Jo 1,7;3,2-3. A condição que permite ao fiel poder enfrentar o terrível julgamento de Deus é logo afirmada por Paulo em 1,3: é preciso viver no fervor da caridade em virtude de uma fé operante e de uma esperança que não será confundida porque, então, o Espírito terá efundido a vida divina no fiel de tal forma que ele, em tudo, fará a vontade de Deus. Esta disposição e as obras que realiza o colocam em plena  comunhão de vida com o Pai, em Jesus Cristo, pelo Espírito. O trabalho é gigantesco, as etapas são imensas. Contudo, isto é possível uma vez que há boa disposição de caminhar porque de fato o querer e o poder são de Deus que tudo opera na força do seu Espírito. Paulo, embora saiba que os fiéis de Tessalônica ainda não tenham atingido a estatura adulta de Cristo; tanto é verdade que quer estar novamente com eles para, nisto, ajudá-los, na condição de Apóstolo (3,10; considera-os merecedores de seu incentivo por tudo aquilo que estão realizando: estão no caminho para se tornar irrepreensíveis para o Dia do Senhor (3,13). É a condição pela qual Deus levará a termo a obra começada. A motivação para esse trabalho é fortíssima: a condição de filho que o fiel alcança pela fé em Jesus e a visão de Deus que o espera.
Favorece essa sua motivação a compreensão de Jesus, o ressuscitado, no qual há uma poderosa manifestação de Deus. Basta pensar no autor do Apocalipse que, ao contemplar o Filho do Homem em todo  o esplendor da sua condição divina, é tomado por tanto ânimo que diz aos seus companheiros na tribulação que com eles participa da realeza de Cristo, a quem, na saudação elevou o seu cântico de exaltação dizendo que ele é Aquele que nos ama, que nos lavou com o seu sangue e fez de nós um reino e sacerdotes para sempre (Ap 1, 9.5-6). De fato, é por ele que Deus nos arrancou das trevas e nos transportou para  Reino do seu Filho, no qual temos a remissão, o perdão dos pecados (Cl 1,13). É Ele que esperamos enquanto o celebramos consolados por tudo aquilo que realizou por nós. Paulo, na sua irrepreensibilidade,vê no dia da Vinda do Senhor, motivo de jubilo e orgulho porque poderá apresentar a igreja de Tessalônica como sua alegria e coroa de glória (1Ts 2,19).
            Em 1Ts 2, Paulo se apresenta como modelo de dedicação com que vive o seu serviço na condição de Apóstolo e à qual exorta os fiéis de Tessalônica em relação à sua condição de quem abraçou a fé em Cristo, motivada pela herança do Reino, a participação eterna da Glória de Deus. Em Rm 8, declara que os sofrimentos do tempo presente não tem proporção com a Glória futura que há de manifestar-se em nós (8,18). O conteúdo dessa visão, para Paulo, é composto pela aparição de Jesus, pelo êxtase com o qual foi favorecido (2Cor 12,2) e pela esperança em que vivia, fruto da efusão da caridade no seu espírito pela ação do Espírito Santo, merecida pela sua perseverança nas tribulações que lhe  proporcionara a virtude da constância (Rm 5,3-5). Os fiéis das sete igrejas do Apocalipse são convidados, pelo Espírito, a aprofundar o conceito de Reino e de Glória ao considerar aquilo que receberão como recompensa da sua perseverança, fruto da árvore da vida, coroa de diademas, pedrinha branca, estrela da manhã, veste branca, pedra esculpida do templo de Deus, realeza divina (Ap 2-3).
            1Ts 3,13 apresenta mais um vez a perspectiva do Reino e da Glória aludindo expressamente que este é o prêmio que Deus destina aos homens. O ilustra Paulo com a visão da Vinda do Senhor com todos os seus santos. È aquilo que Paulo recorda em Ef 1, 17-23, entre as graças que pede nas suas orações em favor dos fiéis das igrejas: para que possam compreender a riqueza da Glória que os santos herdam. É exatamente nessa oração que encontramos juntas as motivações.
            Pelo exemplo da vida de Paulo, constatamos que, para a sua composição, convergem a valorização da Palavra, a celebração do Mistério de Deus, a purificação, a obra da fé, a comunhão com Deus sempre mais promovida pela união com Cristo na sua Paixão até se abrir a uma esperança que não será confundida porque será como uma âncora lançada além do véu onde Cristo entrou como sumo sacerdote (Hb 6,19-20).
            A preocupação acerca de quando acontecerão estas coisas é uma questão ociosa (5,1). O diz claramente Jesus quando a responde (Lc 21,8). Os tessalonicenses sabem muito bem que o Dia do Senhor virá como um ladrão que vem de noite (v.2). Será como quando acabamos de dizer que tudo está em paz e segurança e aí, de surpresa, acontece repentina desgraça, como as dores do parto para a grávida, e não há como escapar (v.3). Este não é o caso dos que não vivem nas trevas. O dia do julgamento não os surpreenderá (v.4). Os fiéis de Tessalônica são filhos da luz, filhos do dia. Não são da noite nem das trevas (v.5). Porém, não é para dormir, como fazem os outros; é para vigiar e ser sóbrios (v.6). Os que dormem é de noite que dormem e os que  se embriagam é de noite que se embriagam (v.7). Nós que somos do dia, sejamos sóbrios, revestidos com a couraça da fé e da caridade, e nosso capacete seja a esperança que salva (v.8). Deus não nos destinou à ira, mas à conquista da salvação por tudo aquilo que Nosso Senhor Jesus Cristo realizou em nosso favor, entregue à morte por nós, para que, seja que vigiemos (enquanto vivos), ou seja que durmamos no Senhor, juntamente com ele vivamos. Portanto, consolai-vos e edificai-vos uns aos outros, do jeito que estais atuando.
É evidente, na explicação de Paulo, que o “quando” se torna uma questão a partir do momento que é mal entendida a explicação de como se dá o fim, enquanto explicado na linguagem apocalíptica. De fato,em relação ao julgamento que atinge todo e cada homem, o importante é o como o homem é encontrado, porque o dia do Senhor surpreende quem não vive na vigilância. Não é surpreendido o homem de fé que vive o seu amor a Deus e sobretudo coloca toda a sua esperança na Vinda do Senhor, momento em que se associará a Ele para herdar o Reino de Glória, ao qual Deus o destinou. Quem não é das trevas, mas é da luz está com o Senhor sempre, na vida ou na morte. Uma vez que os Tessalonicenses vivem a fé e a caridade e são constantes na tribulação, estão entre os eleitos. Na perseverança alcançarão a salvação.
            1Ts 4,13-14 apresenta como premissa do julgamento, que não acontecerá para aqueles que deram a sua adesão de fé ao Filho (Jo 3,18), a própria ressurreição, que Deus operará em virtude da ressurreição de Jesus. Os que são destinados a estar com Jesus, lá estarão diante de Deus glorificados. De fato, quando o homem entra na eternidade ele está sujeito às condições da eternidade, não mais às condições  do tempo. Podemos alegar exatamente o caso da morte de Jesus, na hora em que entregou o seu espírito ao Pai. Naquele momento entrou na Glória. A ressurreição foi o sinal reservado aos homens para que acreditassem no Justo que não podia conhecer a corrupção. Assim é do homem que entra na eternidade segundo a sua condição de ser, feito de corpo e alma (mera distinção lógica, insistem os teólogos). Maria Ssma. é o modelo da pessoa humana que reflete em si, com a sua assunção ao céu, o fruto da redenção que resgata a alma e o corpo. Aproximam-se da forma privilegiada de Maria os mártires que, diz o Apocalipse, não conhecerão a segunda morte. Em virtude da perfeita caridade que os levou à imolação, na hora da morte provocada pelo martírio, se unem a Jesus na sua condição gloriosa (Ap 20,4-6). São os que “seguem o Cordeiro aonde quer que ele vá” (Ap 14,4), participando em tudo aquilo que foi dado à humanidade de Cristo. A glorificação  de Jesus, de Maria, dos mártires, dos santos e de cada eleito distinguem-se somente pelo grau. Quanto à sua natureza, é idêntica, porque se refere à condição humana . São os efeitos de uma santificação vivida na terra que distinguirão cada um, quanto à participação da Glória de Deus. Quanto aos réprobos, a ressurreição será para a condenação que o fogo da ira de Deus realizará.
            Infelizmente, não obstante as evidentes conotações do gênero apocalíptico utilizado pelos autores sagrados, a reflexão teológica assumiu a imagem do julgamento final como um ponto doutrinal da escatologia. Mas é exatamente esta maneira de proceder que cria os impasses, pretensamente solucionados com perspectivas que superam, em fantasia, a própria surpreendente linguagem da apocalíptica. Quando Paulo começa a explicar o que acontece para os que morreram, tem dito de forma doutrinal que eles receberam a mesma sorte de Jesus, que Deus ressuscitou (4,13-14). A explicação é formulada segundo aquilo  que a apocalíptica dizia. Quando não advertimos o gênero apocalíptico em 4,15-17 e, conseqüentemente, assumimos como real o que é descrito, acabamos visualizando homens na terra olhando para o céu, e vendo Jesus vir sobre as nuvens (enquanto sabemos que tudo não passa de uma linguagem que quer afirmar que ninguém escapará do julgamento daquele que Deus constituiu em poder). Estar fisicamente vivo ou morto não acarreta distinção quanto a um julgamento que visa punir ou glorificar o homem pelas suas obras. Voz do arcanjo, som da trombeta, o Senhor que desce do céu, seres arrebatados nas nuvens, são todas elas imagens da linguagem apocalíptica. A narrativa projeta no futuro aquilo que de fato acontece para cada homem quando será arrebatado e estará de pé, diante do tribunal de Deus,  para receber a sua sentença.
           
5,12-22 Conselhos finais

            Conforme vai lembrando, Paulo dita os conselhos finais. Não deixam de conter informações doutrinais importantes. Eles devem ser somados àqueles que Paulo começou a dar a partir de 4,1, incompletos porque começou a tratar da sorte dos que faleceram (4,13-5,11). Na Igreja há pessoas colocadas no comando, e elas o exercem em nome do Senhor. Os fiéis devem viver em plena comunhão com eles, reverenciando-os pelo trabalho que desenvolvem entre eles. Quanto aos irmãos, devem praticar a correção fraterna, como, também, não deixar de encorajar os fracos. Nunca retribuam o mal com o mal. Procurem operar o bem em favor de todos, indistintamente.
            Movido pelas convicções amadurecidas pela experiência da sua vida de serviço a Deus, na promulgação do Evangelho do seu Filho, Paulo sintetiza dessa forma a vida cristã: gloriar-se nos sofrimentos, porque permitem que desponte em nós a vida que Jesus experimentou na sua Paixão; orar constantemente a Deus porque é ele que opera o querer e o fazer; dirigir a Deus uma contínua ação de graças ao constatar que ele sempre  leva em frente o seu Plano. É esta a vida que Deus quer que se desenvolva em cada um dos fiéis pela ação de Cristo Jesus.

5,23-28 Epílogo

            Epiclese – Paulo sintetiza nessa epiclese o que é a vida cristã em sua plenitude. É plena união com Deus, no Espírito Santo. Ela é por nós alcançada quando todo o nosso ser, espírito, alma e corpo chega a viver na plena caridade. Isto nos torna irrepreensíveis diante de Deus no dia da Vinda de Senhor Jesus Cristo. Aquele que para isso nos chamou é um Deus fiel; e ele o realizará!
            Adjuração – Paulo considera tão importante a sua carta que suplica, em nome do Senhor para que seja lida na assembléia litúrgica.
            Desejo – Que encontrem graça diante dos olhos de Jesus Cristo o Senhor, por viverem à altura da sua vocação. E que assim seja!

Um comentário:

  1. Gostei dos comentários sobre esta 1ª Carta de Paulo aos Tessalonicenses Falo parte de um grupo de evangelização e este texto nos ajudou muito a entender todo o contexto e a doutrina de Paulo, nesta Carta. Obriagda. Abraços.

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