Apocalipse

Apocalipse (01) Introdução
           
           Diante do arrefecimento da caridade e do perigo de falsas doutrinas que, particularmente, no momento de uma perseguição, põem em risco a própria fé, João escreve o Apocalipse. Trata-se de uma Carta pastoral “às sete igrejas que estão na Ásia” (1,4). O motivo imediato que provoca a Carta é a perseguição de Domiciano (95 d.C.). Ele aflora logo no prólogo que, quando fala de João, que recebeu de Deus a vocação ao profetismo, lembra “aquele que deu testemunho da Palavra de Deus e do testemunho de Jesus Cristo” (v.2). O reencontramos no início da descrição da primeira visão: “Eu João, vosso irmão e companheiro na tribulação na realeza e na paciência em Jesus Cristo” (v.9), e ao longo das cartas às igrejas (2,3.10.13.19; 3,8). Vemos, também, que, por causa disso, João pauta a sua carta em Daniel, cujo livro trata das perseguições sofridas pelos judeus por parte de um rei pagão no ano 175 a.C., a partir da descrição de como acontece a sua primeira visão: é como a de Dn 8, 15-18.
            João nos diz que o seu escrito é fruto de visões pelas quais Jesus Cristo lhe mostrou a sua condição gloriosa, lhe ditou as cartas às igrejas, lhe explicou as coisas presentes (o porquê das perseguições e a missão da Igreja no mundo) e lhe revelou as coisas futuras (a sorte da Cidade terrena e o destino glorioso dos mártires). Dessa forma o seu escrito deve ser considerado um livro profético. De fato entendemos que, como Ezequiel, do qual utiliza muito as imagens, João quis expressar o que Deus lhe fez conhecer por intuição profética, sem que, de tudo aquilo que descreve, tenha tido uma visão real. Nem Ezequiel a teve. Ela é fruto de uma habilidade literária pela qual o autor descreve o que de fato Deus lhe faz conhecer em espírito de sabedoria e revelação, para que o transmita aos seus servos. A profecia é dirigida particularmente a nós. O profeta, dela, é o intermediário. De posse da obra literária que nos transmite o que Deus revelou ao profeta, todo ouvinte da Palavra proclamada é capaz de entender o que Deus quer dele. O profeta se apresenta como guia. João, portanto, convida a procurar as respostas acerca das exigências da vida cristã, da interpretação da história e do que nos espera, nas Escrituras, como fez Daniel (Dn 10), a partir da celebração do Senhor da Igreja, no primeiro dia da semana (Ap 1,10).
            A vocação de João ao profetismo acontece na ilha de Patmos onde João se encontra por causa da Palavra e do testemunho de Jesus Cristo. Numa primeira visão, Jesus se apresenta na condição de Filho do Homem e Senhor da Igreja. Dele João recebe a ordem de descrever a visão e de enviar às igrejas da Ásia as cartas que ele vai ditar. Numa segunda visão, Jesus mostra a João a sua condição gloriosa no céu. Ele é o Filho do Homem, sentado com o Pai no trono da Majestade, e recebe a mesma adoração, ele que é a realização da figura da Glória de Iahweh de Ez 1. Em subsequentes visões, fruto das reflexões dominicais sobre a Escritura, João entende que o Pai entregou a Jesus o poder de julgar de forma que a Cidade terrena que persegue os mártires será destruída. Antes que isso aconteça Deus tenta corrigir os homens com castigos corretivos, enquanto a Igreja, na condição de Novo Israel, anuncia o evangelho. Ao longo desse tempo haverá perseguições. Mas, no fim, os profetas e os servos de Deus serão glorificados e os maus serão exterminados. Os mártires assistirão ao triunfo de Cristo e exultarão. A Cidade terrena será lançada ao mar e desaparecerá. O Verbo de Deus, então, virá sobre as nuvens e desposará a sua Igreja, a Nova Jerusalém, a Mulher revestida de sol. Felizes os que guardam no seu coração estes ensinamentos e esperam a vinda do seu Senhor, perseverando no testemunho da Palavra!
            Perguntas para uma reflexão:
1ª) Em que sentido o Apocalipse é um livro profético?
2ª) Quais são os profetas nos quais, de forma peculiar, se inspira o Apocalipse?
3ª) Qual é o resumo do Apocalipse?


 Apocalipse (2) - Divisão e conteúdo do Apocalipse (i)            
           
            Prólogo (1,1-3)
            O Prólogo é uma rápida apresentação do Apocalipse, livro que deve ser definido pelo sentido desse mesmo termo: Revelação. Trata-se de uma Profecia que Jesus Cristo transmite a João, aquele que deu testemunho da Palavra e de Jesus Cristo, e que vê claramente o sentido dos sinais que contempla e entende pelo espírito de profecia que Deus lhe concedeu (19,10), para que os servos de Deus a meditem no seu coração e, pela perseverança vivida ao longo do breve tempo da provação, alcancem a herança eterna reservada aos santos.
            Endereço (1,4-8)
            João deseja a graça e a paz às sete igrejas da Ásia por parte d´Aquele que é, que era e que vem, do Espírito Santo, definido segundo o dinamismo do mesmo, considerado na sua plenitude, e de Jesus Cristo que, pela sua imolação, se tornou a Testemunha fiel, o Primogênito dentre os Mortos, o Príncipe dos reis da terra, aquele que amou a sua Igreja, a ponto de lavá-la com seu sangue (cf. Ef 5,25s) e fazê-la reinar. Devemos esperá-lo confiantes porque virá com todo poder e glória e vingará os mártires, porque o grande Senhor Deus é o Todo-Poderoso, Aquele que é, que era e que vem, o Alfa e o Ômega.           
            1ª Visão (1,9-20)
            Movido pelo Espírito, no Dia do Senhor, João, que se declara companheiro dos que sofrem perseguições, nas quais quer perseverar continuando a dar testemunho da Palavra e de Jesus Cristo para chegar a reinar para sempre com Cristo, vê o Senhor das igrejas na condição de Sacerdote-Rei, de condição divina, que, pelo Espírito, tudo perscruta. Ele tem pernas de bronze incandescente; uma espada de dois gumes sai da sua boca. Na condição, portanto, de Filho do Homem (Ez 1), qual descrito em Ez 40,3 e Dn 10,5s, Jesus Cristo lhe fala declarando-se o Vivente que tem as chaves da Morte e dos Hades, capaz, portanto, de dar a vida e de destruir. Quer que João escreva às igrejas para lhes descrever a visão que teve e relatar o seu ensinamento; para que entendam o que está acontecendo à Igreja enquanto está no mundo e para que saibam o que a espera.
(continua)
            Perguntas para uma reflexão:
1ª) Em que termos o Prólogo apresenta o Apocalipse?
2ª) Quais são os títulos de Jesus Cristo que João lembra na saudação?
3ª) De que forma Jesus se apresenta a João, na condição de Senhor da Igreja?


 Apocalipse (3) - Divisão e conteúdo (ii)                      
           
            As Cartas às igrejas (Ap 2-3)
            À Igreja de Éfeso. O Senhor das igrejas pede a conversão porque Éfeso abandonou o primeiro amor, o que lhe tirou a condição de ser reconhecida por ele como sua igreja, não obstante tenha perseverado no testemunho, mantido a fé dos Apóstolos e deteste os falsos doutores que os apóstolos reprovam (1Jo 2,19). Somente quem vive o fervor da caridade, realiza boas obras, mantém a fé e dá testemunho de Cristo, na perseverança, será reconhecido por ele como vencedor e poderá comer “da árvore da vida que está no paraíso de Deus” (2,7).
            À Igreja de Esmirna. Aquele que é de condição divina e que venceu a morte se agrada com a igreja perseguida e que sofre maledicências e a aconselha a perseverar na tribulação até à morte porque, então, alcançará a coroa da vida, garantindo-se definitivamente contra a segunda morte.
            À Igreja de Pérgamo. Aquele que pela espada da verdade é capaz de destruir toda mentira adverte a Igreja de Pérgamo a abandonar o costume de comer carnes sacrificadas aos ídolos e a não seguir a doutrina dos falsos doutores. Somente os que não se contaminaram com ídolos e não aceitaram outra doutrina a não ser aquela dos Apóstolos, comerão o alimento celeste e serão considerados membros do Novo Israel.
            À Igreja de Tiatira. O Filho de Deus que perscruta todas as coisas com o seu Espírito e que é eterno reconhece na Igreja de Tiatira que há amor, prática das boas obras e perseverança na tribulação, mas lhe falta a integridade da fé apostólica, porque comem carnes sacrificadas aos ídolos. Sofrerá castigos corretivos, dos quais serão poupados os que não se contaminaram com a idolatria. Caso estes perseverem reinarão com ele e terão parte na sua Glória.
            À Igreja de Sardes. O Senhor da Igreja que tudo perscruta com o seu Espírito declara que Sardes é uma Igreja morta. Deve voltar à vigilância antes que seja surpreendida pela Vinda do Senhor como por um ladrão. Os que mantém suas vestes brancas terão seu nome inscrito no Livro da vida e serão reconhecidos por ele diante de seu Pai.
            À Igreja de Filadélfia. A Igreja de Filadélfia vive, em tudo, segundo os desejos do Senhor da Igreja, o Santo e Verdadeiro. Por isso este lhe concede uma esperança que não será confundida: “Te guardarei da hora da tentação”. Responderá atento à invocação da Esposa que o invoca e logo virá, sabendo que ela tem pouca força. O sinal da plena complacência de Jesus Cristo com esta Igreja está no fato que a torna instrumento de conversão de alguns judeus. No fim, tornar-se-á a Cidade de Deus, a Nova Jerusalém, com o nome do Cristo glorioso inscrito nela.
            À Igreja de Laodicéia. Aquele que é de condição abertamente divina, o Amém, a Testemunha fiel e verdadeira, o Princípio da criação de Deus, execra totalmente a conduta da Igreja de Laodicéia: “Tu és o infeliz: miserável, pobre, cego e nu!” (13,17), sem a graça de Deus, sem a veste branca, sem a luz do Espírito. Tudo pode ser recuperado pela conversão, porque Jesus ama a sua Igreja embora, como um pai, a repreenda. O vencedor sentará com ele no trono do Pai.
(continua)
Perguntas para uma reflexão:
1ª) Quais são a exigências de Cristo Senhor para que cada igreja local seja reconhecida por ele?
2ª) Quais são as recompensas reservadas às igrejas que ouvem a voz do Espírito?
3ª) Por que a igreja de Filadélfia agrada de forma perfeita a Jesus Cristo?         


Apocalipse (04) - Divisão e conteúdo (iii)                     
           
            2ª visão. O julgamento da Cidade terrena e a glorificação dos santos (Ap 4-7)
            Jesus Cristo que, pela primeira visão mostrara a João a sua grandeza, na condição de Senhor da Igreja, conquistada com a sua Morte, e a responsabilidade que as igrejas têm com ele se querem triunfar com ele, por uma segunda visão, lhe revela de que forma vingará os que dão testemunho da Palavra. Ele é a realização da figura do Filho do Homem do profeta Ezequiel, da forma que o mostra o seu aspecto como pedra de jaspe e cornalina (4,3). O sentido dessa figura é explicado pela sua analogia com a figura do Verbo de Deus que veste um manto embebido de sangue (19,13). Ele é a Glória de Iahweh ( Ez 1) que, com o Espírito de Deus, governa o universo. Agora está sentado com o Pai no trono da Majestade e recebe, da corte celeste, a mesma adoração. A Liturgia celeste, lidada pelas ordens sacerdotais dos 24 anciãos, o proclama, juntamente com o Pai, três vezes santo. Segundo a sua condição divina, na condição daquele que se imolou em favor daqueles que ama, atendendo às orações dos santos que os 24 anciãos lhe apresentam em forma de taça de ouro cheias de incenso (5,8), julgará a Cidade terrena.
            O julgamento da Cidade terrena (Ap 6) é descrito na base da destruição de Jerusalém que Deus realizou pelos invasores que ele mesmo chamou. João os representa pelo cavalo branco. Os outros cavalos, que se diferenciam pela cor, representam respectivamente, o sangue, a fome e a morte. O cavalo era, por antonomásia, o símbolo da força, porque, nas guerras era o elemento decisivo das batalhas. Analogamente, Ez 5 fala do mesmo castigo pela figura de uma espada que, juntamente com a fome e a peste, castigaram a cidade de Jerusalém, que foi destruída. Juntando o simbolismo dos cavalos com o da espada, entendemos o que o autor do Apocalipse queria apresentar. A Cidade terrena não poderá escapar da ira de Deus e do Cordeiro. O desfecho final do castigo que Deus envia contra a Cidade terrena representada pela cidade de Jerusalém é descrito em linguagem apocalíptica, isto é, mediante figuras tiradas dos fenômenos da natureza, contemplada como que envolvida com a sorte do homem: sol que escurece, estrelas que caem, terremotos, etc.
            Os que forem encontrados, entre os membros das doze tribos de Israel, com o selo do Deus vivo na sua fronte, e os que, entre todos os povos e nações, tiverem lavado as suas vestes no Sangue do Cordeiro, serão levados, pelo Cordeiro, até as pastagens eternas e não mais conhecerão o pranto, o luto e a dor (Ap 7).
(continua)
Perguntas para uma reflexão:
1ª) Qual é a condição de Jesus Cristo na glória celeste?
2ª) Qual é a figura de Ez 5 que inspira a descrição da destruição da Cidade terrena?
3ª) Qual é o destino que receberão os que forem marcados com o sinal do Deus vivo e tiverem lavado suas vestes no sangue do Cordeiro?


Apocalipse (05) - Divisão e conteúdo (iv)                                   
           
            A teologia da História (Ap 8,1-20,15)
            A destruição da Cidade terrena, embora as preces dos santos já tenham sido atendidas, ainda não aconteceu porque Deus está usando de misericórdia com os homens. À semelhança do que ocorreu com Israel, Deus está, no momento, enviando castigos corretivos, na esperança de que os homens se arrependam dos seus pecados. Os castigos são descritos com imagens tiradas de profetas, como Isaias, Jeremias, Ezequiel e Joel (Ap 8). Ap 9 descreve os castigos com referências específicas à História de Israel: na primeira parte, à invasão assíria, na segunda parte, à invasão dos caldeus.
            Diante da obstinação de Israel nos seus pecados, com a Morte de Cristo, a missão de anunciar o evangelho da salvação foi retirada do antigo Israel e foi entregue à Igreja, o Novo Israel (Ap 10). Os profetas que cumprem a missão de profetizar contra povos, nações, tribos e línguas, são irresistíveis pelo tempo da sua missão. Terminada esta, Deus permite que a Cidade terrena, “que se chama simbolicamente Sodoma e Egito, onde também o Senhor delas foi crucificado” (11,8), os mate, diante de um povo que a aplaude. Contudo, transcorrido o tempo destinado ao perseguidor, Deus chama os seus profetas para o triunfo, enquanto a Cidade terrena é totalmente destruída (Ap 11). A mesma sorte está reservada a todos os fiéis da Igreja. Eles são perseguidos e mortos pela Besta que sai do mar, com a qual coopera a Besta que sai da terra e que agem com o poder do Dragão. Mas elas têm pouco tempo, porque, em virtude da Morte de Cristo, Satanás já foi expulso do céu. A este resta somente o tempo final, depois do qual será lançado no lago de fogo. Então, os mártires seguirão a Cristo aonde quer que ele vá e poderão cantar um canto novo e ter um nome novo que somente eles conhecem (Ap 12,1-14,13). Os maus serão ceifados pelo Filho do Homem que os pisará no lagar da ira de Deus. Os mártires assistirão ao triunfo do Senhor da Igreja, que punirá com castigos eternos os maus e destruirá os reinos da terra. A Cidade terrena será destruída para sempre porque se prostituiu aos ídolos e se embebedou com o sangue dos mártires (Ap 14,14-18,24). O Filho do Homem que triunfa com a sua Morte é o Verbo de Deus, “Fiel” e “Verdadeiro”, que tem na cabeça uma coroa com muitos diademas e veste um manto embebido de sangue, com um nome inscrito nele: “Reis dos reis e Senhor dos senhores”. Segura na mão um cetro de ferro e de sua boca sai uma espada que fere as nações. Ele já dominou Satanás, que, todavia, ainda persegue, pelo tempo que lhe resta, a Cidade amada, mas ela não será vencida. Os que são decapitados “por causa do Testemunho de Jesus e da Palavra de Deus” já conhecem o triunfo com Cristo e certamente não conhecerão a segunda morte na qual incorrerão os que não tiverem seu nome inscrito no Livro da vida (Ap 19-20).
            As Núpcias do Cordeiro (21,1-22,5)
            Os que mantiveram suas vestes limpas, lavando-as no Sangue do Cordeiro, revestidos de um manto resplandecente, que são as suas boas obras, serão a Nova Jerusalém, a Mulher vestida de sol, coroada de doze estrelas. Jesus Cristo, que sempre a amou, a desposará para sempre. Será iluminada pela luz de Deus e do Cordeiro. A ela virão todos os povos da terra trazendo seus presentes. Abeberar-se-á à Água cristalina que sai do trono de Deus e do Cordeiro.
            Epílogo (22,6-21)
            O epílogo retoma o tema do Prólogo: ‘Pelo dom da profecia que me foi concedido, diz João, pude ver claramente’ “o que deve acontecer em breve”, “feliz aquele que observa as palavras da profecia deste livro” (22,7). Deus, na sua misericórdia, nos admoesta, porque o Tempo da sua vinda está próximo. “Felizes os que lavam suas vestes” (v.14) porque receberão em herança a vida eterna.
            Perguntas para uma reflexão:
1ª) Quais são as figuras do AT utilizadas por João para descrever os castigos corretivos que Deus inflige à humanidade para que se converta?
2ª) Qual é a sorte dos profetas chamados a anunciar o Evangelho?
3ª) Qual é a sorte da Cidade amada, porque viveu o testemunho de Cristo, aqui na terra?


Apocalipse (06) Prólogo (1,1-3)                                                                                                                                                
            Tradução - Revelação de Jesus Cristo, que Deus a ele deu para mostrar aos seus servos “o que deve acontecer em breve” e, tendo-o enviado, manifestou por sinais, pelo seu anjo, ao seu servo João, aquele que deu testemunho da Palavra de Deus e testemunhou Jesus Cristo, tudo o que viu. Feliz o leitor e os ouvintes das palavras da Profecia e os que guardam as coisas nela escritas. De fato o tempo está perto.
            Paráfrase - Deus quer revelar aos seus servos, por meio de João, o que, em breve, será manifestado. No seu livro profético, João, aquele que deu testemunho da Palavra e de Jesus Cristo, relata fielmente tudo o que viu e que pôde entender em espírito de sabedoria e revelação (19,10) e que Jesus Cristo lhe apresentou por quadros. Serão reconhecidos por Jesus diante do Pai e herdarão a vida eterna os ouvintes que meditarem no seu coração e porem em prática as palavras da Profecia, proclamada pelo leitor na Liturgia dominical. De fato, o Dia do Senhor está perto.
            Comentário - O prólogo quer apresentar o livro profético que João escreveu em espírito de revelação (22,7). O mesmo fenômeno, que já tinha acontecido ao profeta Ezequiel, às margens do rio Cobar, no exílio de Babilônia, aconteceu a João: “os céus se abriram e tive visões de Deus” (Ez 1,1). Quem falou a João foi o próprio Jesus Cristo que se apresentou na condição de Senhor da Igreja, na figura do Filho do Homem (Ez 1). Jesus é a encarnação da Glória de Iahweh, que já veio para julgar a Cidade de Jerusalém e condená-la por causa dos seus crimes (Ez 10) e que julgará a Cidade terrena, as cidades das nações, em virtude da sua Morte (Ap 16,19). João relata que se prostrou diante dele. Mas o Senhor o levantou dizendo: “Não temas! Eu sou o Vivente” (1,17s) e mandou que escrevesse o que tinha visto na visão para que os servos de Deus soubessem o porquê das coisas inaudíveis (Dn 8,13) e qual é o seu destino no céu (Ap 1,19), após breve provação. Movido pelo espírito da profecia (19,10), João relata fielmente “tudo o que viu” (1,2; 22,6). Neste momento o prólogo lembra que João foi chamado ao profetismo na condição de quem já deu testemunho da Palavra e de Jesus Cristo (1,2.9; 6,9). Uma condição que o tornou particularmente apto para confortar os que sofrem tribulações por causa de Jesus. A Profecia torna bem-aventurado aquele que a guarda, “porque grande será a sua recompensa nos céus” (Mt 5,12), que logo o Senhor lhe dará. Aconteceu a João o que São Paulo deseja para todo cristão: recebeu um espírito de sabedoria e revelação que o levou a entender qual é “a riqueza da glória da sua herança entre os santos, e qual é a extraordinária grandeza do seu poder para nós,... que Deus fez operar em Jesus Cristo” (Ef 1,17). As igrejas chamadas ao testemunho de Jesus Cristo podem experimentar uma grande consolação ao saber que Jesus, que se apresenta no esplendor da Glória de Iaweh, como Filho do Homem de condição divina, e que, no céu, está sentado à direita da Majestade e recebe a mesma adoração, é o “Eu sou”, isto é, Deus enquanto age e manifesta o seu Nome. É o próprio Poder soberano d´Aquele que é o Alfa e o Ômega, o Senhor Deus, Aquele que é, que era e que vem, o Todo-poderoso, que se revela em Jesus Cristo, “Aquele que nos ama” (1,5). O conceito que João tem de Deus implica uma relação de dependência quando se fala de Jesus Cristo. Todavia, ela se limita à forma pela qual Cristo revela o Pai, qual é a da Encarnação. De fato, ele participa da mesma dignidade e recebe, com o Pai, a mesma adoração. O homem Cristo Jesus, nessa condição, é o nosso Mediador, único, devido à sua excelência, e que opera a nossa redenção enquanto fez da sua vida uma oferta de resgate em nosso favor (Is 53,10). Quando, portanto, no Dia do Senhor, as igrejas celebram Jesus Cristo ressuscitado, pelo Memorial da sua Morte, enquanto aprofundam seu conhecimento pelas Escrituras, estão altamente motivadas a perseverar no testemunho. O que as torna sempre vigilantes, na espera do seu Senhor.
Perguntas para uma reflexão:
1ª) Em que sentido o Apocalipse é uma profecia?
2ª) Qual é a revelação que Jesus pretende fazer a João?
3ª) De que maneira aprofundamos a revelação que João nos relata?


Apocalipse (07) Endereço (1,4-8)
                                       
            Pela saudação inicial conhecemos o nome do autor do livro profético que, em primeira pessoa, se apresenta enquanto dirige a sua mensagem sob forma de Carta endereçada às sete igrejas que estão na Ásia. Pelo fato que o Apocalipse foi escrito no ano 96 d.C. e que a Carta é dirigida às igrejas da Ásia; pelo fato, também, que o autor se apresenta como “irmão e companheiro na tribulação, na realeza e na perseverança em Jesus” (1,9), entendemos que ela é motivada pelas condições da perseguição provocada pelo imperador Domiciano (95 d.C.). Todavia, o intuito de João vai além das circunstâncias. Ele quer, sobretudo, promover a perseverança no testemunho de Jesus Cristo por parte de toda e cada igreja local, que vive no mundo, mas que nunca pode ser do mundo. O número sete é simbólico e indica a totalidade das igrejas.
            A saudação inicial se estrutura em três blocos: I) o hino a Jesus Cristo; II) o grito de alerta; III) a proclamação da grandeza daquele que tudo domina.
            I) O hino a Jesus Cristo proclama o amor nupcial do Senhor da Igreja que com seu sangue lavou a sua Esposa para que reine com ele como povo sacerdotal. O amor de Cristo é a manifestação gloriosa do Poder de Deus, d´Aquele que é, que era e que vem. Pela sua imolação, Jesus se torna: a) “a Testemunha fiel”: título eminentemente divino. Deus é, por si, a “Testemunha fiel” porque ele é o Verdadeiro (αψευδης Θεος, que não mente), sempre fiel a si mesmo. Nessa condição, Jesus declara de si mesmo  que veio ao mundo “para dar testemunho da verdade” (Jo 18,37) porque ele proclama: “Falamos do que sabemos e damos testemunho do que vimos” (Jo 3,11.32). São Paulo, contudo, diz que “Cristo Jesus... deu testemunho diante de Pôncio Pilatos numa bela profissão de fé” (1Tm 6,13). Nesse sentido se torna modelo para os cristãos chamados a dar testemunho diante dos tribunais e dos reis da terra. O cristão, então, encontra a sua confiança em Deus ao considerar o poder de Deus que se manifestou na ressurreição daquele que perdeu a vida por causa do testemunho da Verdade. b) “O Primogênito dos mortos”: Jesus é assim contemplado em virtude da sua ressurreição de sua Morte redentora (Cl 1,18), que faz de nós a estirpe dos filhos de Deus. Assim se define o próprio Jesus (Ap 1,18). c)“O Príncipe dos reis da terra”: Aquele que é destinado a dominar com cetro de ferro as nações porque é o “Rei dos reis e Senhor dos senhores (Ap 19,16).
            II) O grito de alerta que anuncia a sua vinda na condição de Filho do Homem que vem sobre as nuvens, ressoa como uma exortação a todas as igrejas para que esperem, confiantes, o seu Esposo, que virá muito em breve. Virá com poder e glória “para retribuir a cada um conforme o seu trabalho” (22,12). Então vingará os seus mártires.
            III) A auto-proclamação que Deus faz de si mostra que Jesus Cristo é a manifestação de todo o Poder de Deus. Os mesmos títulos devem ser atribuídos ao Pai, porque ele é Deus, e a Jesus Cristo porque ele é a expressão do seu Ser (Hb 1,3).
            Sob a égide de tanto Deus que tem a sua manifestação na ação de Jesus Cristo e do Espírito que o acompanha, as igrejas são chamadas a viver, confiantes, o seu testemunho no mundo.
            Perguntas para uma reflexão:
1ª) Qual é o intuito do livro profético de João?
2ª) Quais são os blocos segundo os quais se divide a saudação inicial?
3ª) Quem é Jesus Cristo em relação a Deus Pai?


Apocalipse (08) A visão do Senhor das igrejas (1,9-20)    
           
            A visão que João tem de Jesus na condição de Senhor das Igrejas, nos permite precisar o motivo último pelo qual João escreve o Apocalipse, que, como já vimos, é aquele de promover nas igrejas a perseverança no testemunho de Jesus Cristo. João descreve a visão pautando-se naquela que Daniel teve do anjo Gabriel, que explicava o Tempo do Fim (Dn 8,19), e na visão de “uma como aparência de homem” (10,18), que tem todas as características do Filho do Homem de Ez 1,26-28, e que Daniel descreve (Dn 10,5s) enquanto amplia Ez 40,3. Jesus, na condição de Filho do Homem, Senhor das igrejas exerce, para João, a mesma função do anjo Gabriel em relação a Daniel. Esse paralelismo se torna evidente quando lemos Ap 13, momento em que João adota a explicação de Daniel, quanto à perseguição de Antíoco IV Epífanes contra o povo judeu (175 a.C.), para ilustrar a condição de perseguição que a Igreja sofre por parte de reis e falsos profetas. Utiliza, então, também, a figura de Nabucodonosor, para ilustrar como os reis da terra tiranizam as nações e, na sua ambição desmedida, delas exigem um culto de adoração (Dn 3,4-6). O Apocalipse, assim, todo pautado em Daniel, se revela um livro profético que quer responder à questão dos mártires. Inspira-se, amplamente, também, em Ezequiel, enquanto fala de Jesus como Filho do Homem que, na condição de Glória de Iahweh, julga a Cidade terrena e a condena. Jesus é, realmente, o Resplendor da Glória de Deus, a expressão do seu Ser: verdade que se tornará ainda mais manifesta a partir do momento em que João o descreve na sua condição gloriosa, sentado, com o Pai, no trono da Majestade (Ap 4). É nele que as igrejas devem confiar, elas que se tornaram seu povo de reis e sacerdotes para Deus Pai, porque é Ele que as rege e guia como Rei-Sacerdote, que lida a Liturgia do Memorial da sua Morte, enquanto, no primeiro dia da semana, a sua Igreja o celebra na sua ressurreição (1,10). Ele é de condição divina e perscruta tudo pelo Espírito. Ele é o Eterno, o Verdadeiro. Tudo é dito em linguagem figurativa, tirada da Profecia. Isto nos diz que podemos acompanhar João na sua visão e, em espírito de sabedoria e revelação, descobrir as mesmas verdades e nos motivarmos, como ele se motivou, a servir a Cristo na perfeita caridade, prática das boas obras, sã doutrina e testemunho da Palavra. Para Cristo, as igrejas têm a dignidade de ser como candelabros de ouro que brilham diante de Deus; de ser como estrelas que podem brilhar no firmamento do céu, enquanto se deixam governar pelo seu Senhor.
            Perguntas para uma reflexão:
1ª) Em quais visões de Daniel e Ezequiel se pauta João para descrever Jesus Cristo na condição de Filho do Homem e Senhor das igrejas?
2ª) Quais são as prerrogativas do Senhor das igrejas?
3ª) De que forma as podemos contemplar com João, na Missa dominical?


Apocalipse (09) As cartas às igrejas (Ap 2-3)
                     
            Diante da majestade do Senhor e do amor que ele manifestou com a sua Morte de Cruz, que as igrejas podem sempre mais aprofundar pela reflexão sobre a Profecia, no dia do Senhor, em espírito de sabedoria e revelação, cada igreja deve corrigir-se dos seus erros para viver a perfeita caridade, a prática das boas obras, guardar a fé dos Apóstolos e dar testemunho da Palavra. Conforme a índole do defeito que cada igreja deve corrigir ou da virtude que deve praticar, João relembra peculiares características do Senhor, já pronunciadas em Ap 1.
            Os títulos que João atribui a Jesus Cristo, enquanto nos esclarecem acerca da condição do Senhor da Igreja, servem para fundamentar a recompensa que os fiéis das igrejas receberão na vida eterna. O Senhor da Igreja nos tornará participantes da sua vida divina, “no Paraíso de Deus” (2,7) se formos encontrados atuando boas obras, professando a sã doutrina e dando testemunho de Jesus Cristo, no fervor da caridade. Esta é a condição da vida divina, simbolizada pelo ouro, pela qual o Senhor nos reconhecerá como membros da sua Igreja. Quando Jesus se refere à igreja de Esmirna, lhe lembra que ele é o Vivente porque perseverou até a morte no testemunho da verdade. Têm, portanto, a “coroa da vida” (2,10) somente aqueles que perseveram até o fim nas perseguições por causa da fé. A igreja de Pérgamo está procedendo assim, lhe falta, contudo, corrigir-se no cuidado de não escandalizar os fracos, evitando de comer carnes sacrificadas aos ídolos. Tenham, portanto, o cuidado de não ofender os irmãos daquele que pode ferir com a “espada afiada, de dois gumes” (2,12), que sai da sua boca, mas que pode, ao mesmo tempo, torná-los participantes do banquete eterno porque os considera membros do povo eleito, cujo símbolo o sumo sacerdote carregava sobre o seu peito (Ex 28,29). A igreja de Tiatira está cometendo o mesmo erro, do qual deve corrigir-se porque a admoesta “o Filho de Deus, cujos olhos parecem chamas de fogo e cujos pés são semelhantes ao bronze” (2,18). Se escutarem aquele que possui o Espírito de Deus que, na sua pureza perscruta e descobre toda imperfeição e viverem a perfeita caridade em relação aos irmãos, então participarão do governo do mundo que ele possui na condição de verdadeira Estrela d´Alva, filho da Aurora, porque o seu poder é eterno como o bronze. Não é como o dos reis da terra (Is 14,12) que têm seus pés de argila misturada com ferro (Dn 2,43).
            Sardes é uma igreja morta. Deixou de ser vigilante. Deve converter-se e voltar ao fervor do momento em que recebeu, atenta, a pregação do evangelho, para não ser surpreendida pelo dia do Senhor como por um ladrão. Está lhe falando aquele que governa o mundo com o seu Espírito e rege as igrejas na condição de Glória de Iahweh. Diante do seu Pai, Jesus Cristo vai reconhecer somente aqueles que não sujaram suas vestes. Filadélfia é uma igreja perfeita em tudo. Na condição de quem é o Santo e o Verdadeiro, Jesus, a ela abre a visão daquilo que a espera e que ela alcançará porque mereceu ser por ele sustentada na provação, que será até abreviada. Guardou a fé e não o renegou diante dos homens. Mereceu até ser instrumento de conversão para uns judeus, tanto é amada por ele como Esposa. Quando o invocar na tentação última, Ele virá logo. Mas ela deve perseverar até o fim para poder ser parte da Cidade santa, como uma coluna do Templo de Deus, entre os membros da Nova Jerusalém que descerá do céu revestida da glória de Deus, como uma esposa preparada para o seu marido (21,2). A Laodicéia, o Senhor das igrejas se apresenta com ainda maior ênfase na sua condição divina: “Assim fala o Amém, a Testemunha fiel e verdadeira, o Princípio da criação de Deus” (3,14). A igreja local tornou-se algo detestável. Nada mais tem de cristão. É pobre, cega e nua! Deve voltar a brilhar como um candelabro de ouro, recuperar a fé, revestir-se com as vestes reais da Esposa de Cristo, pela conversão, até voltar ao fervor inicial. Enquanto não chega a hora da sua vinda, Jesus até insiste em bater à porta para que todos se reconciliem com ele, porque ele quer que todos triunfem com ele.
            Perguntas para uma reflexão:
1ª) Quais são os títulos do Senhor Jesus que motivam as igrejas a escutar a voz do Espírito?
2ª) Com quais símbolos Jesus Cristo fala da recompensa eterna que receberão os que derem testemunho dele diante dos homens?
3ª) Por que Jesus Cristo manda a igreja de Laodicéia comprar dele ouro purificado no fogo? (3,18. Cf. 1,12; 21,18).


Apocalipse (10) O Senhor das igrejas na glória do Céu (Ap 4-5)

            O mesmo Jesus que, na primeira visão, apareceu a João na condição de Glória de Iahweh, o Filho do Homem que realiza em si a figura de Ez 1,26-28, se revela, em uma segunda visão, sentado com o Pai no mesmo trono e recebendo a mesma adoração. Tem o aspecto de uma pedra de jaspe e cornalina: pedras que estão a indicar a condição humana que a Glória de Iahweh assumiu pela Encarnação e que foi glorificada pela imolação de Cruz. Em Ap 19,11-16 temos uma descrição análoga e complementar: o Verbo de Deus aparece num “cavalo branco” e “veste um manto embebido de sangue”. Ambas as descrições qualificam Jesus Cristo apresentado na condição de Cordeiro imolado que venceu, ao qual o Pai entrega todo poder de julgar (5,7). João aproveita, também, as imagens que Ez 1 utilizou para descrever as atividades da Glória de Iahweh, para falar de Jesus Cristo segundo a sua condição divina e enquanto é a Expressão do Ser de Deus: “No meio do trono e ao seu redor estavam quatro seres vivos, cheios de olhos” (Ez 1,5.21). Ao Pai e a Ele a corte celeste presta a sua adoração, lidada pelas ordens sacerdotais, como numa liturgia no templo. É celebrado, pelo triságion, o Deus único nas pessoas do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
            A partir desse momento, João começa a tratar a questão dos mártires. Quem fará justiça aos que deram testemunho da Palavra e resistiram até a morte para dar testemunho de Jesus Cristo? Símbolo da justiça que será feita é o Livro que Deus entrega ao Cordeiro imolado, que se apresenta vitorioso. Enquanto o Livro é aberto, ele indica de que forma a justiça é feita. O Juiz é Jesus Cristo, a quem Deus entrega todo poder porque é o Verbo de Deus que se fez carne e se imolou. É o Filho que o Pai glorificou e constituiu Rei dos reis e Senhor dos senhores, que rege as nações com cetro de ferro. O Leão da tribo de Judá, o Rebento da estirpe de Davi que venceu, é o vingador dos mártires. Ele julgará a Cidade terrena “que se chama também Babilônia e Egito, onde também o Senhor delas foi crucificado” (11,8), e a destruirá, enquanto os mártires serão glorificados. Então, a estes dará o refrigério e os levará às pastagens eternas onde se abeberarão às águas cristalinas do Espírito.
            Na Liturgia celeste, toda a adoração prestada Àquele que está sentado no trono tem, a partir do momento em que Jesus julga o mundo em virtude do poder que Deus lhe deu, a sua motivação no Cordeiro imolado, “conhecido antes da fundação do mundo, mas manifestado, no fim dos tempos” (1Pd 1,20).
            Daqui para frente, os hinos que exaltam a vitória de Deus e do Cordeiro voltam a se repetir. Aquilo que a corte celeste celebra inspira até o canto que a Igreja canta ainda na terra, porque sabe que, associada a Jesus Cristo na sua Morte, já vive a sua condição de triunfo (1,9).
            Perguntas para uma reflexão:
1ª) Qual é a relação da visão da Glória de Iahweh em Ez 1 com a visão de Jesus Cristo na glória do Céu?
2ª) Quem é que recebe o poder de julgar?
3ª) Por que a Igreja, na terra, canta o mesmo hino dos mártires no Céu?


Apocalipse (11) O Julgamento da Cidade terrena (Ap 6-9)

            Depois de ter apresentado o Senhor da Igreja em toda a sua grandeza e poder, porque ele é a Glória de Iahweh que, em Jesus Cristo, realiza a figura do Filho do Homem que, agora, recebe a mesma adoração, sentado com o Pai no trono da Majestade e, de Deus, recebe o poder de julgar porque é o Cordeiro imolado que venceu, João descreve o julgamento da Cidade terrena, emblematicamente representada pela Jerusalém que se tornou uma Sodoma e Gomorra (Is 1,10) que Deus destrói pelo invasor que ele mesmo chama (o montador do cavalo branco).  A Cidade, segundo a narrativa de Ez 5, perece pela espada (cavalo vermelho), a fome (cavalo negro) e a peste (cavalo esverdeado) (Ap 6,6-8). Mas tudo isto não acontece de imediato para as “cidades das nações” (Ap 16,19), porque ainda não se completou o tempo da missão da Igreja (10,11). Somente quando se completar o número dos mártires (6,11), é que, então, a “Grande Cidade” (Ap 16,19) perecerá sob a ira de Deus e do Cordeiro, porque terá preenchido a medida dos seus crimes (18,5). João descreve a ruína da Cidade com os termos do gênero apocalíptico, utilizando Is 34,4, Jl 2,11 e Mt 24,29,  como, oportunamente, a Bíblia de Jerusalém sinaliza nas suas rubricas. À destruição da Cidade terrena, segue-se o triunfo dos mártires, isto é daqueles que, entre os povos da terra, não tendo recebido na sua fronte o nome da besta, recebem o sinal da sua eleição pelo anjo de Deus, e daqueles que lavaram suas vestes no Sangue do Cordeiro. Não conhecerão mais a morte, o luto e a dor. O Cordeiro os levará para as pastagens eternas e se abeberarão da Água cristalina que sai do Trono de Deus e do Cordeiro (22,1). A partir de 8,1 João trata dos desdobramentos necessários para ilustrar mais amplamente o que foi apresentado de forma temática em Ap 5-7. O setenário das trombetas é um desdobramento da questão que os mártires apresentam (6,10), enquanto João descreve a destruição da Cidade terrena. De fato, a sua oração já foi apresentada diante de Deus, como incenso queimado diante do trono, e um fogo destruidor será o castigo que Deus enviará quando o Templo que está no Céu se abrir e aparecer a Arca da Aliança, símbolo do Deus dos exércitos. No momento, Deus está enviando castigos corretivos para que os homens se convertam dos seus crimes. Foi assim que agiu com Israel. João detalha a descrição dos castigos assemelhando-os a granizo e fogo que destroem a vegetação da terra, a uma “grande montanha incandescente” (8,8) que cai no mar e destrói criaturas do mar e navios, a “uma grande estrela, ardendo como tocha” que destrói rios e fontes. As figuras são tiradas, todas elas, das descrições que os profetas utilizaram. O envolvimento do sol, da lua e das estrelas é parte da linguagem apocalíptica deles. João detalha ainda mais a narrativa dos castigos corretivos a partir do toque da quinta e sexta trombeta porque, então, utiliza a invasão da Samaria e da Judéia por parte dos povos que o próprio Deus chama. As invasões, embora tenham sido, de certa forma, castigos definitivos para os respectivos reinos, de fato, servem como descrição de castigos corretivos para os homens da terra que devem lê-los em chave teológica: são fruto do Mal.
            Perguntas para uma reflexão:
1ª) De que forma Jerusalém representa as cidades das nações que serão destruídas pela ira de Deus e do Cordeiro?
2ª) De que forma são descritos os castigos corretivos que Deus envia à humanidade?
3ª) Quando será o fim dos tempos?



Apocalipse (12)  As condições da Igreja no mundo (10-13)

            A análise das sete trombetas nos esclareceu acerca de um dos motivos da demora de Deus em destruir a Cidade terrena: Deus, na sua paciência, espera pela conversão dos homens. Há, contudo, um segundo motivo. Depois de ter Deus tirado do Antigo Israel a função de anunciar o evangelho da salvação e de tê-la entregue ao Novo Israel, a Igreja, enquanto não se completa o número dos seus mártires, tem a missão de “profetizar contra muitos povos, nações e reis” (10,11). Isto não acontece sem sofrimentos, embora Deus proteja os seus profetas pelo tempo em que dura a sua missão. Terminada esta, serão mortos pela Cidade terrena. É algo que Deus permite porque quer glorificar os seus profetas associando-os à Morte de Cruz de Jesus Cristo. De fato, após o breve tempo concedido ao perseguidor, os profetas serão glorificados e a Cidade terrena ruirá com a morte de todos os seus habitantes (Ap 11). Da mesma forma que os profetas sofrem perseguições, a Igreja, como um todo, também, sofre, atacada pelo Maligno. Aqueles que o vencem no Sangue do Cordeiro conhecerão o triunfo. Será como quando a mulher sofre as dores do parto. Depois de breve tribulação, ela se alegrará (Jo 16,21). Assim será da Igreja destinada a ser a Esposa do Cordeiro. Aparecerá no céu como uma Mulher vestida de sol, com uma coroa de doze estrelas na sua cabeça e a lua sob os seus pés (12,1). Essa sua condição gloriosa só acontecerá se os seus membros não aceitarem submeter-se aos desmandos dos reis da terra que querem ser adorados como deuses. Por causa disso, chegam até a matar os que recusam oferecer a sua adoração às suas estátuas ou a de deuses pagãos. Era o que pretendiam Nabucodonosor e Antíoco IV Epífanes, como lemos no livro de Daniel. Aos reis da terra se aliam os mágicos que querem obrigar os habitantes da terra a ter na sua fronte o nome da Besta. A análise teológica que João faz da história é apresentada em linguagem simbólica que atinge, particularmente, do profeta Daniel. Desde o início do Apocalipse, João, ao descrever a visão do Filho do Homem, se inspira nele. Mas é em Ap 13 que se torna evidente a sua utilização de tal forma que não é possível a interpretação do texto de João sem ter presente o seu escrito. João se vê na mesma condição do profeta que de Deus recebeu o dom do espírito de sabedoria e revelação e entende que é pelas Escrituras que pode conhecer o sentido da história. Pode até aumentar a sua confiança em Deus vendo como Deus já veio em socorro de Daniel e de seus companheiros, ao contemplar em Jesus Cristo a realização da figura de Gabriel (Dn 9,21), por sua vez relacionado ao Filho do Homem de Ez 1 (Dn 10,5s). Pela teologia da história de Daniel é possível ter uma visão clara da História da Igreja. Os reis da terra, na sua ambição desmedida, se arvoram a deuses e perseguem, ajudados por falsos profetas, quem não presta adoração às suas estátuas. Deus permite os seus desmandos e até que uns deles persigam a Igreja, porque quer levar a termo a glorificação dos seus santos. No fim dos tempos, quando o tempo do perseguidor chegar ao fim, e ele tem um tempo limitado, Babilônia conhecerá a destruição enquanto os servos de Deus serão glorificados.
Perguntas para uma reflexão:
1°) Por quais motivos Deus protela o seu julgamento do mundo?
2°) Por que Deus permite que os seus profetas sejam perseguidos?

3°) Segundo qual livro do AT se estrutura o Apocalipse?


Apocalipse (13) O castigo definitivo (Ap 14,1-19,8)

            Esgotados os castigos corretivos e tendo chegado ao seu termo o tempo do Fim, o Senhor da Igreja, revestido da túnica sacerdotal e com a faixa de ouro à altura do peito, símbolo da sua realeza, lançará sobre os homens maus os castigos contidos nas taças de ouro da ira de Deus e exterminará os reis da terra que o Dragão tentou reunir contra ele. A Cidade a grande e as cidades das nações ruirão e a Besta que reina sobre os reis da terra entregues à idolatria e que se tem embebedado com o sangue dos mártires, será lançada ao mar como uma grande montanha e desaparecerá. Atrás dessa linguagem figurativa, toda tirada das Escrituras, está uma teologia escatológica. Pelo fato que quem age é Jesus na condição de quem grita: “Está realizado” (16,17), significa que é em virtude da sua Morte que acontece o julgamento. Aquilo que parece projetado, cronologicamente, no futuro, de fato já está em ato porque a Morte de Jesus já aconteceu, aliás, desde sempre Deus nela se comprazeu (1Pd 1,20). Abraão viu o seu dia e se alegrou (Jo 8,56). Tudo está em ato, de forma que, é com o momento da nossa morte que nos encontramos com o Filho do Homem que vem sobre as nuvens com todo poder e glória. Para os que não se contaminaram com o mundo, será o Cordeiro que eles seguirão cantando um canto novo, até as pastagens eternas; para os que bateram palmas, porque os profetas foram mortos pela Cidade, a grande, e expostos na praça da cidade, e que aceitaram na fronte o nome da Besta, para os reis da terra que a tiranizaram e fizeram morrer pela espada os servos de Deus, será o Filho do Homem que os ceifará com a sua foice e os pisará no lagar da ira de Deus. Desde sempre, os que receberam na fronte o sinal de Deus e os que lavaram suas vestes no Sangue do Cordeiro, triunfam com Cristo. Os que ainda não receberam a coroa da vida sabem, contudo, que reinarão com Cristo se perseverarem até o fim. João, prisioneiro por causa da Palavra e de Jesus Cristo, sabe que já participa da realeza dele. Quando uma igreja é um candelabro de ouro e é reconhecida por Jesus por causa da perfeição da sua caridade, como acontece com Filadélfia, significa que é destinada a ser a Nova Jerusalém, toda de ouro. Os fiéis daquela igreja que, historicamente, já não existe, alcançaram essa condição quando, um após outro se tornaram cidadãos do céu. Daniel já profetizava que os que ensinariam a verdade de Deus por sua vida virtuosa, brilhariam como estrelas no firmamento, mas é João que, agora, sabe como: em virtude do Anjo forte que consumou o mistério de Deus com a sua Morte de Cruz. A leitura do Apocalipse é edificante enquanto contempla a Morte do Senhor e a celebra como condição do seu triunfo, motivação de perseverança na tribulação, sentido escatológico da História.
            Nos sete anjos das sete taças temos o desdobramento do Filho do Homem “vestido com uma túnica longa e cingido à altura do peito com um cinto de ouro” (1,13). Os castigos corretivos se tornam figuras dos castigos definitivos infligidos aos maus. A Cidade terrena continua sendo descrita com tudo aquilo que foi dito pelos profetas acerca de Jerusalém, que amontoou seus pecados até o céu, e com os termos pelos quais foi execrada Babilônia, na apocalíptica de Isaias. Os hinos de regozijo dos mártires acompanham o triunfo do Cordeiro, seu vingador.
            Na sua narrativa, o autor domina de tal forma as Escrituras que elas se tornam a sua linguagem. Dessa maneira, torna-se fundamental reconhecer cada citação das Escrituras que o autor faz, para poder entender corretamente, sem fantasiar, o que ele está dizendo.
Perguntas para uma reflexão
1ª) Qual teologia está atrás da linguagem figurativa que descreve os castigos que o Filho do Homem infligirá aos maus?
2ª) De que forma reinam os que perseveram até o fim no testemunho de Jesus Cristo?
3ª) Qual é o vestuário que caracteriza o Filho do Homem que vinga os seus mártires?

         

Apocalipse (14) O Esposo e a Esposa (Ap 19,9-22,21)
           
            Para João, Jesus Cristo é o Esposo da Igreja: “Aquele que nos ama e nos lavou com seu sangue dos nossos pecados” (1,5). Ele sabe qual é o nosso bem: “Repreendo e educo aqueles que amo” (3,10). Nessas condições diz à Igreja de Esmirna que a ama porque é pobre e perseguida, porque sofre. Está preocupado com ela para que persevere até o fim para chegar a ser coroada com uma vida sem fim. A Igreja, que é a sua Esposa, que agrada a ele perfeitamente quando, no Espírito, o invoca para estar para sempre com Ele, deve viver na vigilância, esperando o seu Senhor, enquanto o celebra na sua condição de Filho do Homem e escuta a voz do Espírito. Os sofrimentos do tempo presente são de breve duração. Logo o Senhor Jesus virá para vingar os seus servos porque, em virtude da sua Morte de Cruz, todo poder lhe foi concedido. O Cordeiro vitorioso destruirá a Cidade terrena que o crucificou e matou os seus mártires e desposará a sua Igreja que resplendecerá da Glória de Deus. Ela é a Mulher que, no momento presente, sofre as dores de parto, mas que se sairá vitoriosa sobre o Dragão, porque o Filho já foi arrebatado para o céu. Miguel venceu o Dragão e o vencerão todos aqueles que lavam suas vestes no Sangue do Cordeiro. Terminada a provação, a Igreja, a Mulher do Cordeiro, revestida de sol, com doze estrelas na cabeça e a criação participando do seu triunfo, será convidada a celebrar as Núpcias eternas. As boas obras a revestirão como um manto de linho resplandecente (19,8). Será a Nova Jerusalém, toda de ouro. Seus alicerces serão os doze Apóstolos. A ela, de todos os cantos da terra, os povos levarão seus presentes (21,24). Será iluminada pela luz de Deus e do Cordeiro e se abeberará do Espírito que sai do Trono de Deus.
            Para agradar o seu Senhor, a Glória de Iahweh, que se manifestou na carne, o Filho do Homem, Rei-Sacerdote, que, de alma vivente se tornou Espírito vivificante, a Testemunha fiel, o Primogênito dos mortos, o Príncipe dos reis da terra, o “Fiel e Verdadeiro”, o “Verbo de Deus”, a Igreja deve entender que é na aflição que está a condição máxima da sua realização, a qual, para ser vivida com os sentimentos de Jesus Cristo na sua Paixão, deve ser preparada por uma vida de perfeita caridade, prática de boas obras e comunhão de doutrina com os Apóstolos. Então, a ela, o seu Senhor garante que poderá comer do fruto da árvore da vida no Paraíso de Deus, ter seu nome inscrito numa pedrinha branca, receber a Estrela da manhã, ser reconhecida diante do Pai, ser coluna no templo de Deus e sentar no trono com o Cordeiro que venceu. A plena união, que só ocorre na vida celeste, só pode acontecer se a Igreja, Esposa de Cristo, persevera até o fim, sem nunca se deixar corromper. Os meios são: a celebração do Senhor ressuscitado, pelo Memorial da sua Morte no primeiro dia da semana; a contemplação da sua condição gloriosa como Casa de Deus e Porta do Céu, da sua condição de Filho do Homem sentado com o Pai no trono da divindade, recebendo a mesma adoração, do poder de julgar que o Pai lhe concedeu em virtude da sua imolação; a reflexão sobre a teologia da História: ainda não se completou o número dos mártires, Deus ainda envia castigos corretivos como fez com Israel, a igreja está vivendo a sua missão evangelizadora; os profetas são irresistíveis na sua missão, contudo tem que passar pelo sofrimento para serem associados, em tudo, à Glória de Jesus Cristo. Também os outros fiéis triunfarão porque eles são a Igreja. Terão que suportar as perseguições. Quem resistir seguirá o Cordeiro aonde quer que vá e cantará um canto novo. Jesus Cristo na condição de Filho do Homem vingará os seus mártires punindo para sempre os maus, com castigos eternos, destruirá os reinos da terra em virtude da sua vitória de Cruz. A prostituta será lançada ao mar e desaparecerá. O Cordeiro celebrará suas núpcias com a sua Igreja coroado com muitos diademas, vestindo o manto da sua Paixão, brandindo o cetro de ferro que esmaga os reinos como vasos de argila. A Igreja dos mártires conhecerá o refrigério, cessará a morte, o luto e a dor. Ela será, para sempre a Esposa do Cordeiro, a Cidade Santa, o Novo Israel.
Perguntas para uma reflexão:
1ª) Quais devem ser as prerrogativa da “Esposa, a Mulher do Cordeiro” (21,9)?
2ª) Qual recompensa Jesus reserva à sua Esposa?
3ª) O que deve praticar a Igreja para merecer a recompensa eterna?


Apocalipse (15) A profecia no Apocalipse

            Sabemos que em Daniel, a condição profética do protagonista é mero artifício literário, que tem o intuito de sublinhar a natureza profética dos ensinamentos contidos no livro. Isto vale para a Revelação que João escreveu. Vemos, de fato, que as visões que ele utiliza nada acrescentam àquelas que, seja Daniel como Ezequiel já descreveram, enquanto, por elas, nos é transmitido um ensinamento novo, que nos advém de Jesus Cristo, entendido como o realizador da Profecia e aquele que comunicou a João o espírito da profecia (19,10). João quer que aconteça para nós o que Pedro desejava para os fiéis das suas comunidades, quando os exortava a refletir sobre as Escrituras, porque são: “uma lâmpada que brilha em lugar escuro, até que raie o dia e surja a estrela d´alva em nossos corações” (2Pd 1,19); elas falam de Cristo (Jo 5,39); por elas “os que têm ouvidos ouçam o que o Espírito diz às igrejas”. João, portanto, está nos convidando a acompanhá-lo na sua reflexão sapiencial para que, repassando continuamente as Escrituras, por tudo aquilo que chegamos a compreender de Cristo, nelas encontremos a força para a perseverança no testemunho e vivamos vigilantes esperando a Vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo. São Paulo já tinha rezado em favor dos fiéis da Igreja de Éfeso pedindo ao “Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê um espírito de sabedoria e de revelação, para poderdes realmente conhecê-lo. Que ele ilumine os olhos dos vossos corações, para saberdes qual é a esperança que o seu chamado encerra, qual é a riqueza da glória da sua herança entre os santos e qual é a extraordinária grandeza do seu poder para nós, os que cremos, conforme a ação do seu poder eficaz,
Que ele fez operar em Cristo,
Ressuscitando-o de entre os mortos
E fazendo-o assentar à sua direita nos céus
Muito acima de qualquer Principado
E Autoridade e Poder e Soberania
E de todo nome que se pode nomear
Não só neste século, mas também no vindouro.
Tudo ele pôs debaixo dos seus pés,
e o pôs acima de tudo, como Cabeça da Igreja,
que é seu corpo: a plenitude daquele
que plenifica tudo em todos.” (Ef 1,17-23)
            É com esse intuito que João escreve a sua Carta “às sete igrejas que estão na Ásia” (1,4). O que Paulo sintetizou ao expor o conteúdo da sua oração em favor dos fiéis de Éfeso, João o dramatizou no seu Apocalipse. Nele vemos apresentada a riqueza da glória que espera os que dão testemunho de Cristo diante dos homens, o poder que Deus manifestou em Cristo e a condição de Jesus Cristo como Cabeça da Igreja. Pelo espírito de revelação, ao meditarmos as Escrituras, poderíamos chegar às mesmas intuições às quais chegaram Paulo e João. É bom lembrar que o autor do Apocalipse não é o Apóstolo que escreveu o Evangelho e que foi João que encontrou no autor do Apocalipse a sua inspiração para fazer do Filho do Homem o protagonista do seu escrito.
            Perguntas para uma reflexão:
1ª) Em que sentido João profetiza no Apocalipse?
2ª) De que forma o fiel pode profetizar?
3ª) Em relação à qual título messiânico o Apocalipse inspirou o autor do Evangelho de João?


Apocalipse (16) A questão dos mártires

            Foi uma condição de perseguição que motivou o Apocalipse, embora João, pela sua Carta apostólica de cunho pastoral, até em vista de sugerir a forma certa para viver a expectativa da Vinda do Senhor, se preocupe, também, com o arrefecimento da caridade e com as falsas doutrinas, sugerindo, para isso, a conversão às igrejas às quais escreve. Antes mesmo de falar da primeira visão, João lembra a sua condição de “companheiro na tribulação” (1,9) aos servos de Deus chamados, como ele, ao testemunho de Jesus Cristo. Nas cartas às igrejas da Ásia, lugar onde mais grassava a perseguição de Domiciano no ano 95 d.C., são lembradas as tribulações pelas quais elas passaram ou logo estarão passando: “Conheço tua conduta, tua fadiga e tua perseverança” (2,2); “Conheço tua tribulação, tua indigência... Eis que o diabo vai lançar alguns de vós na prisão” (2,9.10); “... não renegaste a minha fé” (2,13); “...guardaste minha palavra e não renegaste o meu nome” (3,8). No momento em que o Cordeiro abre o quinto selo, os “que tinham sido imolados por causa da Palavra de Deus e do testemunho que dela tinham prestado...clamam: “Até quando, ó Senhor santo e verdadeiro, tardarás a fazer justiça, vingando nosso sangue contra os habitantes da terra?” (6,9s). No momento em que João fala da sorte dos profetas do Novo Israel diz: “Quando terminarem seu testemunho, a Besta que sobe do abismo combaterá contra eles, vencê-los-á e os matará” (11,7). Quando fala da sorte dos fiéis diz do perseguidor: “Deram-lhe permissão para guerrear contra os santos e vencê-los” (13,7). As referências constantes ao livro de Daniel, que se intensificam em Ap 12-13, nos revelam que João utilizou Daniel para expor a sua escatologia. Notamos a influência de Daniel desde a formulação da primeira visão. O Senhor das Igrejas que fala a João é descrito com as características do anjo Gabriel de Dn 10,5. A explicação que dá diz respeito aos tempos de perseguição por parte de um rei iníquo, como acontece em Ap 13, e que pode ser identificado com Antíoco IV Epífanes o qual, no tempo do autor de Daniel, ano 175 a.C., desencadeou uma perseguição contra o povo judeu. Embora a questão dos mártires não resuma em si a finalidade da Carta apostólica de João, ela a marca de tal forma que dá o tom a toda ela. É continuamente relembrada nos hinos que explodem no fim de cada situação tratada por João a respeito da Igreja perseguida. Quem canta esses hinos são “os que lavaram suas vestes e a alvejaram no sangue do Cordeiro” (7,14) (notamos que é o mesmo hino que João canta no Endereço (1,5-6), na condição de companheiro na tribulação dos servos de Deus). Em todos os hinos que eles cantam lembram os sofrimentos que padeceram pelas mãos dos perseguidores e manifestam a alegria de vê-los castigados: “As nações tinham-se enfurecido, mas a tua ira chegou... para exterminar os que exterminam a terra” (11,18). “O Diabo os acusava dia e noite diante do nosso Deus. Eles, porém, o venceram, pois desprezaram a própria vida até a morte’ (12,10s). “Estes derramaram sangue de santos e profetas e tu lhes deste sangue para beber. Eles o merecem” (16,6). “Ele julgou a grande Prostituta... e nela vingou o sangue dos seus servos!” (19,2).
            Perguntas para uma reflexão:
1ª) Nas Cartas às Igrejas (Ap 2-3), de que forma são lembradas as perseguições?
2ª) Em que sentido Daniel inspira João quando fala das perseguições?
3ª) Com que palavras os hinos dos mártires celebram o seu triunfo?


Apocalipse (17)  Apocalipse: uma escatologia                            
            João, ao escrever a sua Carta pastoral às igrejas da Ásia Menor, aborda, de início, o tema da vigilância: uma constante na pregação apostólica, porque dá pleno sentido à vida cristã: “Vos convertestes dos ídolos a Deus, para servirdes ao Deus vivo e verdadeiro, e esperardes dos céus a seu Filho, a quem ele ressuscitou dentre os mortos: Jesus que nos livra da ira futura” (1Tss 1,9s). Não o faz de forma fria, simplesmente expondo uma doutrina. É movido pelo profundo conhecimento de Cristo Jesus, que amadureceu nele ao longo de toda a sua vida, de forma que a pessoa do Senhor se torna, para ele, a mais profunda motivação para a vigilância: “Eis que ele vem com as nuvens, e todos os olhos o verão, até mesmo os que o transpassaram, e todas as tribos da terra baterão no peito por causa dele. Sim! Amém!” (Ap 1,7). A vigilância deve começar, antes de tudo, pela vivência fervorosa da vida cristã, diante de tudo aquilo que já se realizou em virtude d` “Aquele que nos ama, e que nos lavou de nossos pecados com seu sangue, e fez de nós uma realeza de sacerdotes para Deus, seu Pai” (v.5s). A motivação para a vivência dessa escatologia realizada deve ser encontrada na celebração do “dia do Senhor” (v.10), através da profunda reflexão sobre as Escrituras, pelas quais podemos entender, em espírito de sabedoria e revelação “qual é a esperança que o chamado de Deus encerra... (Ef 1,18-23). Tudo está presente para nós quando celebramos o Dia do Senhor e contemplamos a sua imolação de Cruz pela qual se consumou o Mistério de Deus: os reis da terra reunidos contra Ele pelos espíritos imundos do Dragão, da Besta e do Falso Profeta, foram derrotados na planície de Harmagedon; a Cidade a Grande e as cidades das nações estão fadadas a desmoronar (Ap16,19), transcorrido o breve tempo que ainda é dado ao Perseguidor. O embate final já aconteceu: Miguel já expulsou, para sempre, do céu, o Dragão (12), que nunca pôde nada contra Ele (Jo 15,30); ao Diabo só resta o tempo que lhe foi concedido para atormentar os santos que vivem na terra. Todos os ataques que ele empreender contra a Cidade amada, matando profetas, decapitando santos, serão frustrados pelas muralhas de fogo que protegem a Nova Jerusalém (Ap 20,9; Zc 2,9) e profetas e santos serão chamados, até durante o próprio reino milenar, figura da era em que Cristo triunfa, enquanto se completa a história da humanidade, a reinar com Cristo (Ap 20,4). A Igreja, que ainda vive na terra, sabe que o seu Senhor é o Verbo de Deus que, no fim, triunfará plenamente. Será, então, manifestada a glória dos seus santos na Esposa do Cordeiro, revestida de linho resplandecente, juntamente com Aquele que a lavou com o seu sangue e fez dela um reino para Deus Pai, que virá com os exércitos do céu (19,14), exterminará os reis da terra. O Dragão, a Besta, o Falso Profeta e todos os que receberam na fronte o nome da Besta serão lançados no lago de fogo onde viverão atormentados para sempre.
            Jesus é o Filho do Homem que a Igreja celeste pode contemplar sentado à direita do Pai, que virá com todo poder e glória porque, em virtude da sua imolação mereceu receber do Pai todo o poder de julgar (Ap 5). A morte que os seus inimigos lhe infligiram, não foi o momento da sua derrota, e sim, da sua glorificação, de forma que ele é o Cordeiro imolado glorioso porque esteve morto, mas agora está vivo, participando a sua humanidade da Glória da Divindade, dela recebendo a mesma adoração (Ap 4).
Perguntas para uma reflexão:
1ª) Qual é a figura de Cristo que, para João, deve nos motivar à vigilância?
2ª) O que somos chamados a meditar no Dia do Senhor, para renovar nossa vigilância?
3ª) Em qual condição gloriosa a Igreja celeste contempla o Filho do Homem?


Apocalipse (18) A linguagem bíblica do Apocalipse

            A partir da resposta à questão do tempo ao longo do qual os servos de Deus devem dar testemunho da Palavra, vemos que a Escritura expressa muitas verdades por meio de uma linguagem simbólica. Nesse caso específico, a verdade é expressa através da simbologia numérica. Até simplesmente nos limitando ao conteúdo do Apocalipse, vemos que as citações que João faz das Escrituras são praticamente conceitos que os respectivos autores dos respectivos livros citados expressaram de forma simbólica.
            “Eis que vem sobre as nuvens...”: é uma citação de Daniel no momento em que fala do Filho do Homem. É uma forma para atribuir a essa personagem uma condição divina, enquanto o vê vir sobre as nuvens que são o carro de Iahweh.
            “Voltei-me para ver a Voz forte... vi um Filho de Homem”: é uma citação que, em Ez 1 quer ser a figura da Glória de Iahweh que governa o universo.
            “No meio do trono e ao seu redor estavam quatro seres vivos, cheios de olhos pela frente e por trás”: trata-se novamente de uma citação de Ez 1 que quer apresentar a Glória de Iahweh em todo o seu poder divino.
            “Vi então aparecer um cavalo branco cujo montador tinha um arco...”: trata-se dos reis invasores que o próprio Iahweh suscita para castigar de forma definitiva Israel: seja Samaria como Judá.
            “A grande cidade se dividiu em três partes, e as cidades das nações caíram”: é uma citação dos profetas que viram Jerusalém desmoronar, assim como Tiro e Babilônia.
                        João faz das verdades expressas nas Escrituras de forma simbólica, a sua linguagem, mantendo a simbologia utilizada pelos respectivos autores, dando, contudo um significado complementar, para expressar assim a sua teologia. É típico o caso da figura do Filho do Homem que ele tira de Ezequiel. Em Ezequiel ela é a representação da Glória de Iahweh. Para João, mantido todo o conteúdo teológico que Ezequiel quis dar a essa figura, é o vocábulo, o mais apropriado, para falar de Jesus Cristo na sua condição divina. Outro caso clássico é a figura da Jerusalém prostituta. João a adota mantendo toda a significação que os profetas quiseram a ela dar e a torna o seu vocábulo para falar da Cidade terrena, das cidades das nações que serão destruídas pela ira de Deus e do Cordeiro. Um terceiro caso clássico pode ser aduzido para explicar a linguagem do Apocalipse e é a figura de Antíoco IV Epífanes e do carneiro que sai da terra. São figuras tiradas do profeta Daniel. São perseguidores do povo dos santos do Altíssimo. João mantém todo o significado teológico que Daniel quis dar a estas figuras, mas as utiliza para falar do poder das nações e dos falsos profetas “que apresentarão grandes sinais e prodígios de modo a enganar, se possível, até mesmo os eleitos” (Mt 24,24).
            Com isso a linguagem bíblica do Apocalipse resulta densíssima, mas somente assim, capaz de expressar, em toda a sua riqueza, a Revelação que se deu com Jesus Cristo, nada perdendo do conteúdo da profecia, dela fazendo, pelo contrário, a célula de um novo embrião, para ser linguagem de uma doutrina nova.


Apocalipse (19) O Cordeiro imolado

O Cordeiro é o ápice da Revelação que Jesus Cristo faz a João. O Apocalipse todo é permeado por essa figura, a partir da sua formulação implícita “que Deus a ele deu”, no prólogo, e que se refere a Ap 5,7, até à sua formulação explícita, feita por um dos sete anjos das sete taças, isto é da Morte de Cristo, celebrada pelos que estão sobre a abobada de cristal, manchada de sangue: “Vem, vou mostrar-te a Esposa, a Mulher do Cordeiro” (21,9). Jesus, na condição de Cordeiro imolado vitorioso é a expressão, a mais alta, da glorificação à qual Deus Pai, no seu arcano desígnio, quer elevar a humanidade. João apresenta essa condição glorificada da Raiz de Davi mediante o Filho do Homem de Daniel, a Glória de Iahweh, sentado no trono do Pai: “Alguém sentado com a cor do jaspe e da cornalina” (4,3). É o Cordeiro com sete chifres repletos com os olhos do Espírito que perscrutam a terra, que recebe do Pai todo o poder e, quando se aproxima do trono, recebe o Livro da Vida, isto é o poder de julgar a todos os homens. E nessa condição que se revela a João quando lhe mostra ser o Senhor das igrejas porque se, como tal, se apresenta na figura da Glória de Iahweh de Ezequiel, contudo, quando toca a João prostrado diante dele, lembra-lhe que ele é aquele que esteve morto, mas agora está vivo. Nessa condição de vítima imolada que, todavia, julga o mundo, se apresenta como a recompensa para todos aqueles que dão testemunho dele. Os mártires o seguem, cantando um canto novo. Isto significa que alcançaram a mesma sorte do Cordeiro, tendo lavado suas vestes no sangue dele, e podem participar plenamente da sua Glória. O Cordeiro é o esposo da Igreja. Por Ele, a Esposa conhece toda a Glória de Deus (Jo 17). A condição glorificada da Humanidade do Verbo, em virtude da sua imolação é o nome novo que Jesus recebe no momento em que o Pai o ressuscita. É a condição que o Cordeiro imolado participa aos que resistem até a morte no testemunho da Palavra e de Jesus Cristo diante dos tribunais da terra: o nome novo escrito na pedrinha branca que recebem daquele que é o Fiel e Verdadeiro, de cuja boca sai uma espada afiada, escrito naqueles que se tornaram colunas do Templo, da própria Nova Jerusalém, o nome do Senhor da Igreja; a condição de comer dos frutos da árvore da vida, do maná escondido, isto é do alimento que a Sabedoria dá somente aos seus servos; o reconhecimento de Jesus diante do Pai, herdando, assim, para sempre, a vida eterna.
            O título de Cordeiro de Deus, na boca de João Batista, é também o ápice da revelação do A.T. Isaias já o tinha profetizado, João o repete, enquanto fala de Jesus como do Forte, Aquele que batiza no Espírito, o Filho de Deus. A profecia de João Batista tem sua plena realização na Cruz. Por ela, João evangelista retrata Jesus Cristo na condição de Cordeiro pascal, do qual não quebraram um osso sequer e que foi traspassado. Enquanto vemos João assumir esse quadro desde o início do Apocalipse, enquanto fala daquele que nos lavou com o seu sangue e que vê chegar sobre as nuvens do céu, enquanto olham para ele até aqueles que o traspassaram, podemos dizer que o Apocalipse é uma ilustração extensa da figura do Verbo encarnado que na Cruz se revela o Cordeiro imolado, o Templo, do qual jorra o Espírito (Ez 47).
            O Cordeiro imolado que na Cruz se revela como verdadeiro Messias e, pela ressurreição, o Filho que deve subir ao Pai, é aquele que João, desde a saudação professa, até segundo a sua Humanidade, plenamente participante da Vida Trinitária, que na visão do Senhor da Igreja é a realização do Filho do Homem de Ez e Dn, na visão da liturgia celeste, o Cordeiro imolado na Glória do Pai, e na visão final, que é a mesma visão da Liturgia celeste, focalizando a condição da Igreja celeste, é Aquele que está sentado no Trono com o Pai, enquanto, debaixo do trono sai o rio da água cor do cristal.
            O Apocalipse quer conduzir os fiéis da Igreja a prestar o seu culto de adoração a Jesus Cristo e, por ele ao Pai, segundo o máximo da condição do mesmo como Mediador único: Aquele que torna a Humanidade a habitação da Plenitude da Divindade para que os homens, por ele dando testemunho do Verdadeiro na fidelidade até a morte, participem da mesma, plenamente, por toda a eternidade.
            Perguntas para uma reflexão:
1a) Por que a figura do Cordeiro imolado é o ápice da revelação da Glória de Deus?
2a) Em que consiste a riqueza da vida divina que o Cordeiro imolado participa aos que deram testemunho dele, na terra?
3a) Quais são as figuras do AT que dizem respeito ao Cordeiro?


Apocalipse (20) A Cidade terrena e a Cidade celeste

João inicia o seu Apocalipse exortando os fiéis à vigilância,  que deve ser renovada, na sua motivação, pela liturgia dominical. A contemplação do Senhor da Igreja, na sua condição gloriosa, leva os cristãos a dar testemunho da Palavra e de Jesus Cristo, na perseverança. É dessa forma que terão parte no triunfo que Cristo goza, no céu, com o Pai, após ter assistido, jubilosos, ao julgamento e destruição da Cidade terrena. Gozarão de eterna paz, abeberando-se às águas cristalinas que saem do trono de Deus e do Cordeiro, na Nova Jerusalém, a Cidade que desce do céu, revestida da glória de Deus.
            A Cidade terrena, a Grande, representa, de forma emblemática, as civilizações que, nos seus governantes, manifestam o orgulho do homem que se ergue contra Deus e chega, até, a perseguir os que servem a Cristo Jesus. Quem a castiga é o próprio Filho do Homem que veio, a primeira vez, na carne, para fazer, dos que a ele dão a sua adesão, um reino e sacerdotes para Deus. A maneira com que a Cidade terrena é castigada é descrita pelas palavras tiradas dos profetas, particularmente de Isaias e Ezequiel, que as utilizaram quando anunciaram a destruição de Jerusalém. Isto nos permite entender os motivos do castigo: idolatria, infidelidade dos reis, covardia dos juizes, arbitrariedade dos ricos contra os pobres e, enfim, perseguição contra os profetas de Deus. A linguagem utilizada em descrever a destruição, além de figurativa, às vezes, se torna apocalíptica.
            Como aconteceu para Jerusalém, a partir do momento em que a missão de anunciar o Reino messiânico é entregue à Igreja, Deus usa de misericórdia com os povos e nações, esperando que, pela pregação dos seus profetas, se convertam. Permite até que os seus enviados sejam mortos pela Cidade a Grande, que se chama, também, Babilônia e Egito, na qual foi crucificado o Senhor dela (Ap 11,8). Quando, porém, tiver preenchido a medida dos seus pecados, será destruída, lançada ao mar como uma montanha, para desaparecer para sempre.
            A Cidade terrena tem a perversão que a figura do Dragão representa de forma clara. Ele é o poder que domina as eras da terra e que se manifesta nos reis que só tem um desejo, “aquele de agradar à Besta”. À semelhança do Anjo forte, o Dragão tenta dominar a humanidade pelas duas Bestas que o representam: uma que sai do mar, outra que sai da terra. Enquanto pelo poder dos reis e governantes domina os homens pela espada, obrigando-os a lhe prestar culto como se fosse uma divindade, pelo poder dos falsos doutores, tenta seduzir os homens para que se tornem idólatras, se curvem à imposição dos poderosos, aceitem, na sua fronte, o sinal da primeira Besta.
            É contra o Dragão que, vencido por Miguel, desceu à terra para guerrear contra os santos do Altíssimo, que os fiéis devem resistir e, se for necessário, morrer pela espada. É a isto que João “companheiro na realeza e na tribulação” exorta as igrejas. Os fiéis devem escutar o que o Espírito lhes diz pelas Escrituras, enquanto contemplam o seu Senhor que as sustenta com “a sua mão direita”. Devem se animar ao contemplar aquele que esteve morto, mas, que, agora, está vivo, que pode destruir com a espada que sai da sua boca todo falso doutor, que tudo perscruta com o fogo do Espírito e que pode esmagar os reinos da terra com o seu cetro de ferro; porque ele é a Estrela d´Alva, o Filho da Aurora, o único que tem um poder eterno. Ele nos reconhecerá diante do seu Pai se tivermos vivido no fervor da caridade, na sã doutrina, realizando boas obras e dado testemunho dele diante dos homens. Seremos colunas do Templo que está no céu, com o nome nelas inscrito da Nova Jerusalém.
            A Cidade celeste, pelo que já se diz nas cartas do Filho do Homem às igrejas, é, portanto, a Mulher do Cordeiro, a Nova Jerusalém que desce do céu revestida da Glória de Deus. Aqui na terra, é a Cidade amada que Jesus Cristo defende com o fogo divino, destruindo todo e qualquer poder que atente contra ela. No céu será constituída por todos aqueles que não receberam, na sua fronte, o nome da Besta, nem, na sua mão, o número dela; por todos aqueles cujo nome será encontrado no Livro da Vida quando o livrinho da sua vida for aberto no julgamento final. Entoarão um canto novo, que ninguém pode cantar, mas somente eles, porque é o canto dos anjos, enquanto os anciãos apresentam, ao longo da liturgia celeste, as orações dos mártires na forma de incenso, queimado em taças de ouro.
            A Nova Jerusalém, revestida do manto resplandecente das suas boas obras, será desposada pelo Cordeiro. Viverá em segurança no alto Monte da Potência divina. Será toda de ouro, sem mais poder ser removida da presença do seu Senhor, que a reconhecerá diante do seu Pai.
            Perguntas para uma reflexão:
1a) O que devemos praticar para sermos, uma dia, membros da Cidade celeste?
2a) Quem é a Cidade terrena
3a) Quais são os pecados que nos tornam membros da Cidade terrena?

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