Cristo Redentor

Cristo Redentor (1) - A Redenção

Até o presente momento, pelos temas bíblicos tratados, temos refletido sobre Deus, sobre a maneira pela qual o mesmo se revela ao homem, e sobre a resposta do homem à ação de Deus. Infelizmente o homem, devido à sua fragilidade, responde com o pecado. Por nossa sorte, Deus, na sua infinita sabedoria, explora a nossa condição de pecado para levar a termo o seu Plano, que é o da nossa divinização, revelando, dessa forma, toda a sua bondade e todo o seu amor, na misericórdia. Dessa maneira, a criação, por Cristo, com Cristo e em Cristo envereda o caminho da sua plena louvação ao Criador. Aquele Deus que nos convidava a contemplá-lo nos seus atributos, olhando para as obras da criação, agora quer que o conheçamos pela indizível obra da Encarnação da sua Palavra, pela ação libertadora que por ela atua, infinitamente superior à libertação da escravidão dos egípcios, e pela ação re-criadora da humanidade, da qual a volta de Babilônia era figura. Diante da obra redentora atuada estamos em condições de contemplar a Deus na sua ação trinitária, que resulta muito mais explícita e atuante do que na obra da criação. A sua Palavra é por nós conhecida de uma forma muito mais extensa porque não é só a Palavra pela qual o Pai tudo criou, como também é a Palavra da Verdade que nos gerou à vida divina (Tg 1,18), ao assumir a condição humana e ao imolar-se para a nossa redenção. Conhecemos o Espírito não só como força criadora, como, também, como pessoa divina, pela qual entramos em plena comunhão de vida com o Pai. Conhecemos, enfim, a Deus não só como criador, como, também, como Pai que, pelo Espírito que Cristo nos mereceu, nos torna seus filhos adotivos. Conseqüentemente, a nossa louvação é muito mais rica e motivada daquela que o hebreu expressava com os seus salmos ao Deus da sua história, da sua libertação e da sua redenção. Contudo, a reflexão sapiencial que nele se manifesta de forma inigualável, nos permite explorar o que ele descobriu de Deus, para falar do mesmo Deus que nós, agora, conhecemos trinitário. É por isso que as nossas reflexões em nada deixarão no esquecimento tudo aquilo que Deus revelou no A.T., porque é para nós ilustrativo de tudo aquilo que em Cristo Jesus se realizou. Pela história de Israel, pela reflexão sapiencial, pelas palavras dos profetas, o Pai, no Espírito, já anunciava, por figuras, o que o Filho atuaria pela Encarnação. A própria interpretação dos textos antigos terá como guia o trabalho dos Apóstolos que, desde o momento que conheceram a Jesus ressuscitado, procuraram ilustrar a sua messianidade, enquanto viam que nele tinham-se realizadas as palavras da Profecia. Pela prova da messianidade de Jesus, os Apóstolos criaram o sólido fundamento da aceitação, deles e nossa, da divindade do mesmo. De fato, o próprio Jesus a tinha proclamado com milagres, gestos e palavras, mas que eles não podiam entendê-la a não ser depois da sua ressurreição, sob iluminação do Espírito Santo.

Dessa forma, a Pessoa de Jesus é, por si, a Revelação do Pai, a mais plena, que Deus podia oferecer de si aos homens, seja porque nele se atua todo o Plano de Deus e seja porque em Jesus que é um com o Pai, a Pessoa do Pai é revelada. Por Cristo, a nossa louvação transcende a própria celebração da Redenção para celebrar a nossa filiação divina, que por ele se realiza, e presta culto ao Deus trinitário segundo o grandioso gratuito divino pelo qual se revelou aos homens.

Perguntas para uma reflexão:
1ª) Por que a nossa louvação a Deus pode superar a louvação dos hebreus?
2ª) Qual é a importância do A.T. para a compreensão de Cristo Jesus?
3ª) Qual foi o trabalho sapiencial dos Apóstolos ao refletir sobre as Escrituras para apresentar a Pessoa divina de Jesus?

CRISTO REDENTOR (2) - A importância da Pessoa de Jesus Cristo

Jesus, o Verbo que se fez carne, pela sua obediência e imolação, tornou-se a expressão, a mais plena, da criação. Ele é o adão verdadeiro porque, único, desenvolveu as condições da criatura em relação ao seu Criador, sempre fazendo a vontade do Pai. A disposição permanente e perfeita de obediência nele era fruto de um contínuo exercício de contemplação.

Deus Pai quis que Jesus vivesse, além da perfeita obediência, também, a imolação porque esta seria a condição máxima da sua glorificação, ainda mais que se realizaria num contexto de amor aos seus irmãos. Dessa forma a criação chega à expressão máxima da glorificação do seu Criador, tendo, em Cristo, o mediador, na condição de criatura consciente que, voluntariamente realiza em si o que o Criador planejou para a sua criatura. A Encarnação cria a condição pela qual a criação chega à máxima glorificação do seu Criador, ainda mais abrilhantada pela obra da redenção. Jesus é o Verbo que desce do céu, sobretudo para que a criação glorifique, por ele, o Criador. Para que essa glorificação seja ainda maior, Deus faz questão de remir o homem. A kénosis do Verbo, em si, é grande dignificação para a criação, mas o é ainda mais num contexto de redenção, porque vemos que é a expressão, a mais profunda, do amor do Pai, a glorificação, a mais alta, do Filho, no seu amor ao Pai e a nós, e a condição, a mais plena, da comunicação do Espírito aos homens.

Nessas condições, Jesus revela a maneira exata do crescimento do homem. Ao ser concebido no seio de Maria, por obra do Espírito Santo, a sua humanidade é alma vivente. A partir daquele momento, é a pessoa do Verbo que a conduz, de glória em glória, até se tornar Espírito vivificante (1 Cor 15,45). Pelo exercício da contemplação, o Verbo encarnado desenvolve, na sua humanidade, o conhecimento de Deus; pela obediência mantém a relação harmoniosa e necessária da criatura com o Criador e, pela imolação, vive a perfeita doação em prol dos irmãos. Vemos, infelizmente, que o homem vive equivocado, exatamente porque não procura a Deus, conseqüentemente tornando seu ídolo a criatura em lugar de cultivar o conhecimento do Criador (Rm 1,19-23). Longe de Deus no seu pensamento, procura caminhos independentes de realização, seguindo os vãos arrazoados do seu coração. Em terceiro lugar, em lugar de viver uma vida de doação, no serviço, egoisticamente procura a sua realização, chegando até a oprimir os outros.

Pela sua imolação, felizmente, além de ser nosso modelo, o homem Cristo Jesus se torna causa da nossa santificação, seja pela remissão das culpas como pela regeneração no Espírito Santo que nos mereceu com a sua morte de Cruz. Portanto ele é para nós o Caminho, na condição de Princípio santificador, Modelo de Vida e Guia, porque, pela sua ressurreição, tornou-se nosso Guia Supremo e Salvador [é assim que o chama Maria Madalena quando Jesus ressuscitado a ela se revela (Jo 20,16) e São Pedro (At 5,31)].

Perguntas para uma reflexão:
1ª) Qual é a função específica do Verbo que se fez carne?
2ª) Por que pela Redenção resplandece ainda mais a glória do Verbo encarnado?
3ª) De que forma Jesus se torna o nosso Caminho

Cristo Redentor (3) - A Palavra

A intuição sapiencial chegou a ver no homem a imagem e a semelhança do Criador (Gn 1,26s). Por ter sido suscitado por Deus, nele havia, além da imagem, a sua semelhança também. O ser, que torna o homem imagem de Deus, enquanto participado à criatura, fazia com que o ser da Divindade fosse o ser dela, distinguindo-se a criatura do seu Criador somente pelo fato de ter sido chamada à existência; as prerrogativas, que fazem o homem semelhante ao seu Criador, revelavam, por analogia e sublimação, qual era a natureza da vida de Deus. Partindo dessa base, o sábio hebreu pôde falar de Deus numa linguagem antropomórfica.

A consciência que o homem tem de si, revela que, em Deus, há uma realidade que, por ser própria daquele que é a Existência, pode ser concebida como Hipóstase. É aquilo que descobrimos de Deus, de forma clara, a partir do momento em que Jesus se declara o "Eu sou", o Filho que está no Pai enquanto o Pai está nele, porque ele e o Pai são uma única realidade. A realidade transcendente do Criador que, por si, postula uma pluralidade de hipóstases, em virtude da figura do homem que o sábio intuíra imagem e semelhança de Deus, encontra, pela revelação de Cristo Jesus, a sua precisa explicação. As hipóstases do Criador são o Pai, o Filho e o Espírito. A unicidade de Deus, conhecida, agora, na pluralidade das hipóstases, é revelada segundo a riqueza da sua vida a partir do momento em que Jesus nos fala que é o Filho, o Unigênito que o Pai consagrou e enviou ao mundo e que o Espírito é o Amor, a própria vida de Deus. Não há contradição entre Unicidade e Trindade Santa. Aliás, é a Trindade santa que explica a natureza transcendente do Criador e como, na criatura, de fato, ela possa ser vista na sua imagem e semelhança.

Quando a Palavra, que é a Consciência que Deus tem de si, assume a imagem e semelhança do Criador, isto é a condição humana, pela própria natureza assumida se torna a condição máxima da comunicação de Deus aos homens. Jesus é Aquele que o homem pode definir, tomando como analógico o pensamento que está nele, Aquele que, em Deus, é o pensamento de Deus, a Imagem da sua substância, o Resplendor da sua Glória, a sua Sabedoria. É por isso que Jesus diz ser aquele que viu e conheceu a Deus, aquele que dele pode dar testemunho, revelar fielmente a vontade e os sentimentos.

Jesus, enquanto Palavra no seio do Pai, voltada para o Pai, é a própria Sabedoria de Deus que age na criação como Princípio: "Eu sou o Amém, a Testemunha verdadeira, o Princípio da criação de Deus" (Ap 3,14). Quando Deus a fala (Gn 1,3), a Palavra que sai da sua boca (Is 55,10s) realiza todas as coisas (Pv 8, 22.30).

É com essa preciosa figura que se abre a Escritura. Interpretada à luz de Cristo Jesus, como fez João no seu prólogo, torna-se extremamente esclarecedora quanto à natureza divina do nosso Redentor.

Perguntas para uma reflexão:
1ª) De que forma a intuição do sábio hebreu nos permite falar do nosso Redentor como Palavra que sai da boca do Pai?
2ª) Quando Jesus nos revela claramente que em Deus existe uma Vida Trinitária?
3ª) Quais são os outros títulos divinos que ilustram a vida de Jesus Cristo em Deus?

Cristo Redentor (4) - A Sabedoria encarnada

São João, no prólogo do seu evangelho, faz questão de nos apresentar a Jesus, em primeiro lugar, na sua condição divina. Antes de ser o Filho que o Pai consagra e envia ao mundo, Jesus é a Palavra que, em Deus, está voltada para o Pai. Ela tudo conhece do Pai, no Espírito, porque é a Sabedoria, Princípio da criação de Deus. Pv 8, 22-32 se estende em descrever a condição de eternidade da Sabedoria, interpretando, para nós, o sentido da primeira palavra da Sagrada Escritura: “Pela Sabedoria, Princípio da criação, Deus deu origem a tudo o que o céu e a terra contém”. A Carta aos Hebreus fala dessa Sabedoria dizendo que é o Filho, criador de todas as coisas (Hb 1,1s). O prólogo de São João proclama que é a Palavra que se fez carne. Aquele que é consubstancial ao Pai, que, ao assumir a carne humana, se revela o Filho, é aquele que, também, vem por si mesmo, porque ele é Deus.

Enquanto é apresentado por João como a Luz que é Vida para os homens, Jesus é conhecido por nós como aquele que é “Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro”, como diz o Credo, que, contudo, pela Encarnação, vem a brilhar entre as trevas, assumindo a condição de servo, obediente até à morte. É sempre a Sabedoria, Princípio da criação, Palavra que, em Deus, está voltada para o Pai, mas que se tornou um de nós. A Escritura, enquanto nos fala dele para nos dizer como, por ele, o Plano do Pai é atuado, acaba nos explicitando de que forma a Pessoa divina do Verbo, leva à perfeição a humanidade assumida, para nos apresentar, em Jesus, o Caminho seja como modelo, seja como guia e como quem tem, em tudo, a primazia (Cl 1,18).

A condição divina de Jesus nos é ilustrada pelo mesmo Jesus Cristo quando se proclama a Testemunha da Verdade (Jo 18,37) , porque afirma que ele é o único que conhece o Pai. Ele é do alto e nos fala do que sempre vê e ouve (3,31s). É por isso que suas palavras têm o Espírito sem medida (v.34).

A sua condição divina torna-se o testemunho que Jesus dá de si ao longo da sua vida messiânica, fundamentado no testemunho de João Batista, nos milagres que ele opera em nome do Pai, e nas Escrituras que falam dele (Jo 5,39). É, sobretudo, em Jo 8 que Jesus fala abertamente da sua divindade quando, ao proclamar-se Luz do mundo declara que ele é o “Eu sou” (Jo 8,57).

Em Gn 1,1-5 temos, portanto, a apresentação inicial da condição divina de Jesus, quando o lemos em sentido profético e cristológico. Aliás, esta é uma leitura necessária porque nos permite entender plenamente o evangelho de Jesus Cristo que os profetas anunciaram (Rm 1,2). Somando os conhecimentos que nos advém da profecia e de Jesus, enquanto a atua na sua vida terrena, podemos ver em Gn 1,1-5 Jesus que age na sua condição de Verbo do Pai, enquanto com ele opera o Espírito criador. É desse Deus, que desde a criação se revela trinitário, que Jesus sai e vem ao mundo, para a ele voltar pela sua páscoa, desta vez levando consigo a humanidade assumida pela Encarnação. Entendemos, a essa altura, porque com Jesus se inicia a transformação de toda a criação, como nos ensina São Paulo em Rm 8. Por Cristo os homens são regenerados mediante a adoção filial e toda a criação “geme e sofre as dores do parto na expectativa da manifestação gloriosa dos filhos de Deus” Rm 8,19).

Perguntas para uma reflexão:
1ª) Quais são os títulos divinos de Jesus Cristo e o que ilustram dele?
2ª) O que quer dizer que Jesus é a Testemunha da Verdade?
3ª) Por qual processo Jesus realiza a glorificação da criação?

Cristo Redentor (5) Adão

A reflexão que o sábio faz sobre o homem em Gn 1, é uma idealização diante da frustração que o fracasso do Plano de Deus sobre Israel provocava. Dentro do quadro ideal da criação, o homem era visto, portanto, na sua relação criatural com Deus, enquanto era chamado a servir ao Criador motivado pela contemplação das obras da criação. Esse ideal que o homem nunca soube viver teve o seu realizador na pessoa divina de Cristo Jesus, o qual, além de ser o realizador da expectativa de Deus sobre o homem, em virtude da sua relação real com a humanidade, é princípio de realização, em todo homem que nele crê. Por sua vez, o homem é capaz de uma divinização porque foi criado à imagem e semelhança de Deus. Quando a pessoa divina do Verbo assume a carne humana não faz outra coisa a não ser desenvolver a condição de divinização que está no homem. O faz em virtude da sua condição divina, para a glorificação do Pai, primeiro, para a sua glorificação, em segundo lugar, e, em terceiro lugar, para a nossa glorificação. Com isso, toda a criação, arrastada no processo de glorificação da humanidade, que tem Cristo Jesus como Cabeça, glorifica o seu Criador.

O sábio que escreveu Gn 1,26-28, na base de tudo aquilo que o povo hebraico possuía de revelação divina, seja pela reflexão sapiencial dos historiadores como pelos pronunciamentos dos profetas, intuiu que o homem era "imagem e semelhança de Deus". Seguindo essa intuição, apresentou, antropomorficamente, Deus agindo na obra da criação, como se fosse um ser humano pensando e querendo. Essas prerrogativas nos permitem intuir a harmônica simbiose das duas naturezas, a divina e a humana, na única Pessoa do Verbo encarnado. Nos permitem entender como foi possível ao Verbo glorificar a humanidade assumida, a ponto de torná-la plenamente participante da vida divina. Nos permitem vislumbrar, enfim, as condições altíssimas de participação do homem à vida de Deus. Nessa participação nos distinguimos de Jesus Cristo somente pelo fato que nós comungamos do Espírito de forma adotiva, enquanto ele participa da vida divina como Filho consubstancial ao Pai e ao Espírito.

Esse primeiro título messiânico que a primeira página das Escrituras nos oferece, já nos lança na visão da nossa condição definitiva. Enquanto antecede a própria história do homem pecador, nos mostra todo o potencial de santificação de que o homem é capaz e, enquanto já anuncia o que será a humanidade em Jesus, nos mostra de que foi capaz a Redenção, porque o nosso destino, em virtude da Morte de Cristo, é de sermos, manifestamente, semelhantes a ele.

Quando o autor sagrado apresenta as regras de desenvolvimento do homem, estamos em condição de ver à qual santidade podemos chegar, se assumimos o homem Cristo Jesus como Caminho, porque ele atuou em si, plenamente, as condições de dependência criatural, pela obediência e caridade. O adão da criação, o verdadeiro, não desafia o seu Criador (Jo 8,29 : "a sua vontade faço sempre"), vive em contínua ação de graças em espírito de piedade, e realiza a perfeita caridade na doação de si aos seus irmãos. Estes ensinamentos deveriam ser capazes de desvencilhar a nossa mente da visão terrena que temos da nossa liberdade e do nosso destino.

Perguntas para uma reflexão:
1ª) Por que Jesus é o adão ideal?
2ª) Quais são as regras de desenvolvimento do homem que Cristo Jesus nos ensina com o seu exemplo?
3ª) Qual é a primeira causa do desvio e da rebeldia do homem?

Cristo Redentor (6) A Descendência

A grandeza de Deus resplandece no máximo do seu fulgor a partir do momento em que, aquele que é a Bondade que sempre age no amor, se revela Misericórdia. Não obstante o fracasso da criatura, por si chamada a corresponder ao Plano de Deus mediante um crescimento na louvação e na obediência, que o levariam a reinar, Deus persegue o seu Plano tomando a iniciativa de resgatar o homem da sua miséria e fazê-lo reinar por meio de um Cabeça que surge no meio da própria estirpe humana, em condições, contudo de vencer a Serpente que tinha enganado o homem. Para isso envia o seu Filho, o qual, ao assumir a condição humana, restabelece as condições ideais (Cl 3,10), até criando em si as condições de uma aliança que nunca será rompida, porque terá estabelecido uma união inquebrantável entre a divindade e a humanidade. Quando a criatura, não obstante a sua regeneração em Cristo pelo batismo, voltar a pecar, poderá sempre lembrar que em Jesus pode ser novamente perdoada (1Jo 2,1s). Tudo isso é profeticamente anunciado em Gn 3,15. A forma é misteriosa porque, humanamente, é impossível pensar como poderia acontecer que o homem volte a uma condição de hostilidade com a Serpente, uma vez que escutou e implementou o plano de se rebelar ao seu Criador, para ser igual a ele, e toda a história subseqüente, a partir de Caim, ilustra um enredamento no pecado sempre mais profundo e grave. Somente com Cristo tudo se torna explicável a partir do momento em que os Apóstolos vêem, na sua ressurreição, a prova de sua condição divina. Somente um homem que fosse Deus poderia realizar em si a promessa de Deus.

Dessa forma Jesus se torna a Revelação do desígnio do Pai que "por livre vontade, quis, em Cristo, recapitular todas as coisas" (Ef 1,10) para que "nos tornássemos seus filhos no Amado" (v.6)
"Aquele que não tinha pecado, Deus o tornou pecado para nós" (2Cor 5, 21). É importante notar que é na profecia de Gn 3,15 que encontramos o fundamento da função co-Redentora de Maria porque é nela que o Verbo assume a carne humana. Trata-se de uma contribuição pequeníssima e que é, ao mesmo tempo, uma altíssima dignificação da criatura por parte de Deus. Contudo, enquanto Maria é chamada a ser cooperadora no plano sapientíssimo do Pai, ela contribui, de fato, para que a Encarnação se atue. São Paulo proclama: "Há um único Mediador entre Deus e os homens, o Homem Cristo Jesus, que deu a sua vida em resgate de muitos" (1Tm 2,5). Mas isto aconteceu querendo o Filho de Deus nascer, na plenitude dos tempos, da Mulher" (Gl 4,4). Sabendo nós que, em última análise, Maria nos representa, porque, de fato, a Mulher de Gn 3,15 é a humanidade, descobrimos, pela co-redenção de Maria que o nosso Redentor chama todo e cada fiel a completar em si "o que falta à paixão de Cristo" (Cl 1,24). Jesus é a Descendência que, pelo mistério da Encarnação, se integra à nossa condição humana, enquanto nos revela, por Maria, que entende associar-nos, como membros da sua Igreja, à obra da Redenção.

Perguntas para uma reflexão:

1ª) O que á a misericórdia de Deus?
2ª) De que forma Jesus atua a nossa Redenção?
3ª) Qual é o sentido de Maria na obra da Redenção?

Cristo Redentor (7) Abel morto por Caim

Abel é uma figura de Cristo Jesus porque representa o justo que é eliminado da terra dos vivos pela violência dos maus. Esse quadro se realiza, de forma dramática, na vida de Jesus que, desde o início da sua vida pública é jurado de morte por parte dos fariseus (Mc 3,6). Um ódio cego domina os que não querem aceitar o Profeta que fala segundo o Espírito e que leva as autoridades religiosas a condenar à morte o justo por não querer abdicar a uma tradição humana e a interesses escusos, motivados pela idolatria do ouro.

O quadro do assassinato de Abel acaba retratando, de forma geral o drama das trevas que rejeitam a luz, num contexto de ódio fratricida, exatamente segundo aquilo que aconteceu com Jesus que foi odiado pelo mundo. É um quadro precioso porque, por ele começam a se delinear os aspectos proféticos da Descendência que, segundo o Plano de Deus restabelecerá a Humanidade na sua condição original vencendo a serpente enganadora (Gn 3,15). A vitória da Descendência dar-se-á de forma totalmente inesperada. O justo triunfará sobre o mal enquanto será vítima do próprio irmão que, contudo, encontrará a sua redenção exatamente no sangue que a vítima inocente derramou.

A figura de Abel, oportunamente, nos lembra que Deus está realizando o seu plano de salvação desde o início, suscitando e dando continuidade a uma descendência de verdadeiros adoradores enquanto a humanidade envereda o caminho da degeneração e do materialismo, da forma que é descrito com a história da descendência de Caim. Set substituirá a Abel e por meio de seu filho Enós, o culto com o qual Deus se agrada terá, sem cessar, a sua continuação (Gn 4,25s). Dessa forma se apresenta uma preciosa característica de Jesus na figura de Abel: é o justo no qual o Pai se compraz. O sacrifício da sua vida o tornará ainda mais agradável diante dos seus olhos.
Vemos que, aos poucos, o autor sagrado vai desenvolvendo a sua catequese. Ela se inspira na reflexão sobre a história de Israel. Para os seus contemporâneos é parenética. Para nós já é profética porque aquilo que o autor sagrado expõe já é evangelho (Rm 1,2). Em Jesus Cristo tudo está realizado. Os próprios autores do N.T. nos ajudam a reconhecer no A.T. a exegese da pessoa de Jesus. Nesse caso é o próprio autor da Carta aos Hebreus que relaciona Abel a Jesus, enquanto considera o sangue derramado por Cristo : "o sangue da aspersão mais eloqüente que o sangue de Abel (Hb 12,24).
Desde que iniciamos as nossas reflexões, tendo como guia o próprio manual catequético que Deus escreveu para a humanidade, o nosso Redentor já é, para nós, a Palavra que, no princípio, está voltada para Deus e que, na plenitude dos tempos se fez carne, nascido de Mulher, que, morto pelos seus irmãos, se torna para eles princípio de salvação, porque ele é o justo cujo sacrifício é agradável a Deus.

Perguntas para uma reflexão:

1ª) De que forma Abel é figura de Cristo?
2ª) O que representam as descendências de Caim e Abel?
3ª) Quanto nos é dado conhecer de Jesus Redentor por Gn 1-4?
Cristo Redentor (8) Noé

A primeira forma pela qual Noé é lembrado (Gn 5,29) trata da etimologia do seu nome. Resulta que Noé é a conclusão da Descendência e se caracteriza como lavrador da terra. Por meio dele, não obstante a maldição da terra pronunciada contra Adão por causa da sua rebeldia, a terra dará uma consolação ao homens, o vinho, do qual ... temos um amplo elogio. Com isto, Noé já começa a ser figura de Cristo que dá o vinho da alegria à humanidade: é o que as Bodas de Caná nos ensinam. Também, a terra, por ele, é resgatada da sua maldição e o que, por Cristo, os homens oferecem dos frutos da terra, se torna uma oferta aceita pelo Senhor.

Noé é, por uma razão ainda maior, figura de Cristo porque é aquele que dá origem a uma nova humanidade (Gn 10,1.32), pelos filhos que gerou (5,32) e que salvou da destruição (7,1) da qual toda a humanidade se tornou merecedora por causa da sua total degeneração. Noé é o justo que Deus suscita. É a realização da promessa da Descendência salvadora (Gn 3,15). A ele Deus manda construir a Arca que é símbolo do batismo (1Pd 3,21) e de toda a economia da salvação, em Cristo. Por três vezes é dito de Noé que "tudo o que Deus lhe ordenara, ele o fez" (6,22;7,5.16). Pela figura de Noé que "encontra graça diante dos olhos de Deus" (6,8), que é "o único justo" (7,1) e que faz "tudo o que Deus lhe ordenara", entendemos melhor de que forma o nosso Redentor realizou a nossa salvação, tendo assumido a nossa condição humana, atuando dessa forma, de maneira surpreendente, o que tinha sido anunciado pela promessa da Descendência. A simbologia se torna completa com o quadro do sacrifício que Noé oferece no momento em que sai da Arca. Deus se agrada com o sacrifício de Noé e, por causa disso, jura que nunca mais amaldiçoará a terra, tornando Noé o novo Adão que dá origem a uma estirpe humana de redimidos. A figura de Noé que não está só e sim, acompanhada pelos filhos e noras, ilustra perfeitamente a condição de Cristo Redentor que, quando atua a salvação, já não está só como o Adão da criação. Ele está
plenamente inserido na humanidade embora ele seja o único que salva, enquanto chamado por Deus Pai para atuar o Plano da salvação. Não há dúvida que se trata de uma nova criação porque os termos são iguais aos que encontramos em Gn 1,28s. Vemos, dessa forma que de figura em figura as Escrituras ilustram a nossa salvação. Tudo isso Jesus tentou explicar aos discípulos de Emaús. Ao se revelar aos discípulos reunidos no Cenáculo mostrou como aquilo que ele atuou de forma extraordinária, ao longo do caminho com os dois discípulos, pode ser repedido pela sua Igreja de forma sacramental: pelo seu Espírito que fala às igrejas pelas Escrituras (Moisés, Profetas e Salmos). Podemos inflamar os nossos corações e reconhecê-lo na "fração do pão" que ele mandou "fazer em sua memória" (Lc 22,19).

Perguntas para uma reflexão:
1ª) Quais são as prerrogativas de Noé que o tornam preclara figura de Cristo?
2ª) Qual é o sentido profético do sacrifício que Noé oferece a Deus após o Dilúvio?
3ª) Por que as Escrituras são o sacramento do Espírito
Cristo Redentor (9) O Arco na Nuvem

Além de personagens de narrativas sapienciais ou históricas, a Profecia anuncia o Cristo Redentor também através de símbolos. O primeiro deles que se apresenta no manual catequético das Escrituras é o Arco na Nuvem. Um arco-íris se estende no céu após o dilúvio e Deus o contempla após ter-se deliciado com o suave odor do sacrifício que Noé lhe ofereceu sobre um altar que tinha erigido. Aliás, diz a Escritura, é o próprio Deus que coloca o seu Arco na Nuvem para que seja para ele a lembrança perpétua da Aliança que acaba de estabelecer com Noé.

A estrutura literária da perícope que retrata o Arco na Nuvem nos alerta que estamos diante de um símbolo importante. De fato, a significação do símbolo é repetida, voluntariamente, por três vezes e está ligada intencionalmente a uma promessa solene que Deus faz após ter aceito o sacrifício cruento de Noé. O sacrifício reconcilia a criação com o Criador, em virtude da mediação daquele que encontrou graças aos seus olhos, o único justo da sua geração e que sempre faz o que agrada a Iahweh.
À luz da ressurreição de Jesus é fácil identificar no Arco na Nuvem o próprio Cristo do Senhor glorificado que se tornou a nossa Paz. Aliás, ao anunciar a sua ressurreição, Jesus fala de um relâmpago que sai do oriente e vai até o ocidente e afirma que assim será a vinda do Filho do Homem. Para que fique ainda mais claro o significado do Arco que o Relâmpago da ressurreição marca no céu, o próprio Jesus o une ao Dilúvio do tempo de Noé, momento em que todos pereceram do mesmo modo. Tudo isto acaba identificando Jesus que, pela sua Ressurreição é constituído, por Deus, o Juiz dos vivos e dos mortos. A mesma Luz será para os bons causa de paz e vida, em virtude do seu Espírito simbolizado pela Nuvem, que é a coluna de fogo destruidora dos inimigos do povo dos santos do Altíssimo.

A natureza simbólica da figura que o Hagiógrafo adota é reforçada pela simbologia numérica contida no quadro que apresenta. Em primeiro lugar, a Aliança, que é o objeto que o Arco na Nuvem quer sinalizar, é lembrada por seis vezes. Sabemos que o número seis se refere aos sexto dia da criação, o dia em que o homem é criado por Deus. Ao lembrar por seis vezes a sua Aliança, Deus quer significar que ela contempla o homem na criação. De fato, todas as vezes que é anunciada a Aliança com o homem são lembrados, como termo da mesma, todos os seres vivos da terra. Em segundo lugar, o Arco na Nuvem é lembrado três vezes. O número três está diretamente relacionado com a Divindade. O Arco na Nuvem é, portanto o sinal de Deus, pelo qual, lembrado da sua aliança em virtude do sacrifício de Noé, o Justo, os homens e a criação já não conhecerão a destruição e a morte.

O simbolismo do Arco na Nuvem, enquanto fala de Cristo com o Espírito, é valiosíssimo instrumento catequético para falar da Ssma. Trindade. A Luz é reverberada por Cristo (o Arco-íris), o qual, por sua vez, se apresenta no Espírito (a Nuvem).

Perguntas para uma reflexão:

1ª) Em que sentido o Arco na Nuvem é símbolo de Cristo?
2ª) Em que contexto Jesus se identifica com o Arco-íris?
3ª) Por que o Arco-íris é um símbolo da Ssma. Trindade?

Análise do texto – A análise de Gn 9, 8-17 define qual é a relação de Jesus conosco e qual é, em Cristo, a causa ativa da nossa salvação: ele é o justo no qual o Pai se compraz e que tudo merece por nós, enquanto está ligado a nós por vínculos de sangue, como o ancestral Noé com a sua geração.
v.8- O que o nosso Deus estabelece com Noé, vale para nós, porque entre nós e Jesus Cristo existe a mesma ligação de sangue que existia entre Noé e os seus filhos. Fomos gerados pela Palavra da Verdade que se fez carne.
v.9- Deus estabelece uma aliança de forma unilateral conosco, enquanto liderados por Cristo-Cabeça.
v.10- A aliança se estende a todos os seres vivos: pássaros, animais domésticos e selvagens.
v.11- Deus promete, pela sua aliança, que não vai mais devastar a terra com o dilúvio. Aqui termina a primeira parte que diz respeito à iniciativa de Deus em relação ao homem. A segunda parte (9,12-17) vai explicar o motivo.
v.12- Será um sinal que lembrará a Deus a sua aliança com o homem e todos os seres vivos.
v.13- O Arco-íris na nuvem, que o próprio Deus cria, é sinal que vai poupar a terra da destruição.
v.14- A Nuvem que paira sobre a terra e o Arco aparecendo nela,
v.15- É o sinal que lembra a Deus o seu pacto conosco e com todos os seres vivos para que não haja novamente um dilúvio para destruir toda carne.
v.16- Resume tudo o que foi dito acima: o Arco na Nuvem subsistirá para sempre. Deus o verá e  este lhe lembrará o seu pacto eterno entre Deus e os animais selvagens e toda carne que vive sobre a terra.
v.17- Está explicado o sinal da Aliança que Deus estabelece entre ele e toda carne que vive sobre a terra.
            O quadro revela uma atitude magnânima por parte de Deus por parte de Deus. O seu mistério é desvendado em Cristo Jesus. Por causa dele, Deus nunca esquecerá o seu pacto. Por quanto os homens possam ser merecedores de destruição, Deus ao lembrar o seu Filho glorificado na nuvem da transfiguração, nunca partirá para um extermínio do homem, lembrado do sacrifício de suave odor que este lhe ofereceu.

Cristo Redentor (10) Abraão

Abraão é mais um dos elos que permitem a continuação da Descendência prometida, desde o início da história da humanidade, em vista de uma Redenção que deve beneficiar todos os homens. A descendência pecadora é representada pela de Caim enquanto a descendência da qual, segundo o Plano misericordioso de Deus, surgirá um salvador, é a de Abel. Quando esta Descendência chega a Abraão, ela é vista continuando dentro de um povo ao qual Deus dá origem pelo próprio Abraão. Dessa forma, Deus começa a anunciar qual será a natureza do povo que criará para si. Será um povo que terá para si um Cabeça, fonte de todas as bênçãos de Deus e cada membro será marcado por um sinal de pertença ao povo de Deus. Ao mesmo tempo, cada membro do povo terá que viver segundo os ideais que o seu líder assumiu, porque nele está o Modelo de todos os que querem agradar a Deus. À semelhança de Abraão, cada membro do povo deve afastar-se da civilização pagã e constituir-se num povo que nada mais tem a ver com os ídolos. A descendência de Abraão deve permanecer fiel ao Deus da sua história, o Deus que o fundou e o protegeu dos seus inimigos. A esse Deus deve servir, tendo nele plena confiança porque se revelou um Deus capaz de salvar. Quando Deus pediu a Abraão o sacrifício do filho da promessa, Abraão demonstrou de ser capaz do ato, o mais heróico, com o qual Deus se agrada, tornando-se, dessa forma, para todos os seus descendentes, o modelo de como devem agradar a Deus. Para estes, o motivo da sua imitação do exemplo de Abraão está na bênção que alcançou de Deus, pela qual se tornou, ele mesmo, uma bênção para todos os povos.

Por tudo o que Abraão representa, ele é uma figura eminente de Cristo Redentor, o qual, de fato é o Cabeça que dá origem ao povo de Deus. Ele separa do mundo os que crêem nele e para eles se torna modelo na piedade, na obediência e na confiança, nos mostrando, no triunfo da sua imolação, o motivo da nossa confiança para fazer o mesmo para que possamos agradar a Deus com a nossa vida. A figura de Abraão é importante como figura de Cristo Cabeça da Igreja porque dele traça a primeira das características: embora ele seja o Princípio da estirpe dos filhos de Deus, por vontade de Deus não se distingue de nós a ponto de ser inatingível, pelo contrário, enquanto ele é a nossa origem, as suas prerrogativas se tornam as nossas prerrogativas, com a possibilidade, de nossa parte, de vivermos a mesma dignidade e responsabilidade. O povo de Deus é aquele que dá continuidade, no tempo e no espaço, àquilo que o seu Cabeça realizou.

A figura de Abraão é citada pelo próprio Jesus como modelo para os judeus para que possam chegar a crer nele, enquanto se apresenta como Messias, para que possam aceitá-lo como Deus (Jo 8,33-59). Também São Paulo cita Abraão, na Carta aos Romanos, como modelo de fé, para que entendamos de qual forma podemos nos tornar merecedores da justificação que nos advém da fé em Cristo Jesus (Rm 4).

Perguntas para uma reflexão:
1ª) Qual é a característica de Abraão dentro da Descendência que Deus suscita desde o pecado de Adão?
2ª) Quais são as características de Abraão que ilustram as prerrogativas de Cristo?
3ª) De que forma a figura de Abraão caracteriza a nossa relação com Cristo?

Cristo Redentor (11)  Moisés

A figura de Moisés é citada pelo próprio Jesus quando fala do verdadeiro maná que ele está para dar através da sua imolação: "Não foi Moisés que vos deu o pão que vem do céu... É a minha carne dada para a vida do mundo" (Jo 6,32.51). Moisés é figura de Cristo porque ele foi o profeta chamado para libertar o seu povo da escravidão do faraó, o líder que, ao longo de uma peregrinação de quarenta anos no deserto, conduziu o povo de Deus, tornando-se para ele juiz e mediador da Lei do Senhor. Pela comparação com essa figura, Jesus começa a se caracterizar pelas qualificações que são específicas do líder. O amor e a preocupação que ele tem para com o seu povo permitem ver que ele não está distante do seu povo, não obstante a sua santidade. É aquilo que devemos ter presente, sempre que falamos de Cristo Jesus. Não obstante a sua santidade e as suas qualificações de Guia supremo e Salvador (At 7,31), ele deve ser sempre considerado unido a nós como o representam as figuras de Noé e Abraão. Jesus participa, em tudo, da sorte dos seus irmãos, contudo, estando na condição de nos resgatar do âmago da nossa miséria porque nele estão as qualidades divinas e messiânicas. Ele é um adão, como nós; todavia porque é o Filho de Deus que assume a carne humana, com ele está o poder da divindade; e porque a sua humanidade, embora em tudo igual à nossa, não conhece pecado, ela pode carregar sobre si as nossas culpas e merecer o perdão. Ele é Noé, constituído justo, por graça, para ser princípio da nossa salvação. Ele é Abraão, ancestral de um povo, todavia, sempre obediente à vontade de Deus a ponto de se tornar, por vontade de Deus, uma bênção para todos os povos.

Notamos, contudo, grandes fraquezas em Moisés que nos permitem ver como a figura, embora anuncie o Messias, está muito longe dos ideais que esse realizará. Moisés titubeia, apavorado, quando Deus o encarrega de ir e libertar o seu povo; se apavora diante de um povo que o ameaça a ponto de se queixar, revoltado, com Deus e merecer, por causa disso de ser associado à sorte daquela geração rebelde que não entrou na terra prometida. Não é assim com Cristo. Porque de condição divina, está pronto para uma libertação do homem bem mais importante da libertação da escravidão do Egito, e, porque perfeito em santidade, abraça a sua missão com determinação: "O meu alimento é fazer a vontade do meu Pai e cumprir com a sua obra" (Jo 4,34). Diante de um povo que se manifesta com aspirações políticas e ambições meramente humanas, ele se retira junto à Santidade do Pai e lá encontra a determinação de começar tudo de novo (Jo 6,15); não desanima nem se apavora.

Os Apóstolos viram em Moisés o profeta que até anunciou ao povo de Israel aquele que viria após ele e que deveria ser escutado. É um caso aberto que nos diz quanto a Igreja, no seu alvorecer, viu Jesus ligado à profecia, a ponto de considerá-lo o seu realizador. É a intensidade da sua relação com a profecia com a qual corresponde de forma, ao mesmo tempo, total e surpreendente, mais uma prova da messianidade de Jesus. Nunca mais haverá um enviado de Deus que possa atuar em si a profecia e, enquanto a atua a inove pela surpreendente revelação da sua condição divina.

Perguntas para uma reflexão:
1ª) De que forma Moisés é figura de Cristo?
2ª) Quais são as características que se revelam em Cristo como Guia do seu Povo?
3º) Por quê Jesus é superior a Moisés?

Cristo Redentor (12)  O Emanuel

Emanuel é um título divino que Isaias dá ao Messias no momento em que anuncia uma intervenção futura na história de Israel, por parte de Deus, da qual serão provas os castigos da deportação que atingirão seja o reino do norte como o reino do sul. Ele substituirá os indignos descendentes da casa de Davi e reinará na terra que Deus deu a Israel (Is 7,14). As prerrogativas do Emanuel serão as de ser "Conselheiro admirável, Deus forte, Pai dos tempos, Príncipe da Paz" (9,5) e de possuir a plenitude do Espírito (11,1s).

O mesmo São Mateus que cita o Emanuel quando fala da maternidade divina de Maria e da vocação de José para ser esposo de Maria (Mt 1,18-23), volta a citá-lo quando começa a falar da atividade messiânica de Jesus, querendo, dessa forma, nos dizer que, em Jesus devemos notar as prerrogativas das quais fala Isaias quando anuncia a grande luz que iluminou o país de Zabulon e os país de Neftali. O filho da jovem mãe chamado a estabelecer o Reino do Pai, é Conselheiro admirável, isto é, aquele que tem uma sabedoria acima de toda expectativa (Pv 8,22-31; Sb 7,22-8,1); Deus forte, isto é, Iahweh (Sl 28, 8-10; Ap 18,8); Pai eterno (Jo 1,30; 8,68); Príncipe da Paz (Jo 20,21; 14, 27.16s). Os títulos são proféticos e adquirem toda a sua significação à luz de Jesus Cristo que se proclamou rei diante de Pôncio Pilatos e que, sobre sua cabeça, na Cruz, tinha a inscrição profética "Rei dos Judeus". De fato ele é a Palavra voltada para o Pai (Jo 1,1), que a Carta aos hebreus diz ser o Filho pelo qual o universo foi criado; a Sabedoria, portanto,que desde sempre está com o Pai como "mestre de obra" da criação (Pv 8,30), admirável (Sb 7,22s). Em Lucas, Jesus se declara o forte guerreiro que expulsa Satanás na condição de mais forte que estabelece o Reino na potência do Espírito" (Lc 11,20-22). É a única força capaz de vencer o príncipe deste mundo, que nada pode contra ele (Jo 14,30). No Apocalipse o próprio Jesus se declara Aquele que é, o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim (22,13), palavras que a liturgia do Sábado santo completa dizendo: "a ele o tempo e a eternidade...". A paz, enfim, que Jesus estabelece, reconciliando o mundo com o Pai, revela toda a sua condição divina. Toda a criação volta a estar em harmonia com Deus, sobretudo o homem que já não estava mais em paz nem consigo mesmo, nem com a criação, nem com Deus".

"A grande visão ultrapassa tudo quanto se possa dizer dos reis que sucedem a Davi: não há falta nem limitação nesta paz e justiça que se ampliam no espaço e no tempo; Deus mesmo faz nascer um menino e lhe impõe nome sobre-humano. Somente dito de Cristo é que este oráculo adquire seu pleno sentido; até então tinha sido antes esperança e anseio, ideal não realizado, no entanto, ideal crido e desejado, e desta forma tensão para o futuro, como anúncio e preparação" (Alonso Shökel, Profetas I, ed. Paulinas, pg 160).

O Emanuel, que nasce da jovem mãe para substituir a indigna descendência da casa de Davi, à qual, todavia, Deus permanece fiel, e para estabelecer o Reino de Deus na terra prometida de forma definitiva, registra mais uma prerrogativa que deve ser somada às quatro lembradas pelos títulos extraordinários de Is 9,5: guia o Espírito do Senhor, que é lembrado por três vezes na sua ação: Espírito de sabedoria e entendimento; Espírito de conselho e fortaleza; Espírito de ciência e temor. A sétima prerrogativa do Messias é lembrada com uma palavra que tem a mesma raiz de 'Espírito' que quer, contudo sublinhar o que, desta vez, parte do Messias e se eleva a Deus: a sua fragrância no temor de Iahweh. Nessa construção literal temos: 1º) o dinamismo do Espírito (lembrado cinco vezes); o sentido estritamente divino da sua ação (enquanto é lembrado por três vezes de forma direta em relação aos dons que efunde; 3º) o dom septenário (com o último dos dons escondido na raiz da palavra 'espírito') (Is 11,1-3).

Perguntas para uma reflexão:
1ª) Quais são as qualificações do Emanuel?
2ª) De que forma as qualificações do Emanuel ilustram a Pessoa de Jesus?
3ª) Quais são os dons do Espírito que sempre permanece com Jesus?

Cristo Redentor (13)  A Glória de Iahweh

Marcos é muito claro em identificar Jesus com a Glória de Iahweh. De fato, vê em João Batista, o precursor do Senhor, a voz que grita no deserto, a mesma voz que anunciava a Glória de Iahweh, quando da volta do Resto de Israel da escravidão da Babilônia. Apresentava-se, então, um Deus cheio de ternura e, ao mesmo tempo Criador e Senhor da História (Is 40), que proclamava que toda culpa tinha sido esquecida e que o Santo voltaria a habitar no meio do seu povo. A exultância que tomou conta de Isaias é agora a nossa exultância, à qual nos convida a pregação apostólica. Em Jesus ressuscitado manifestou-se abertamente o Filho de Deus, "com poder, em Espírito de Santidade" (Rm 1,4). Aquele que não reteve ciosamente, para si, "o ser igual a Deus, mas humilhou-se, assumindo a condição de servo, feito obediente até à morte... recebeu um nome que está acima de todo nome, para que todo mundo proclame, Jesus Cristo é Senhor!" (Fl 2,6-11). Em Jesus está o Deus que "visitou o seu povo", trazendo consigo todos os benefícios da divindade.
A Glória de Iahweh manifestara-se ao povo de Israel mediante os prodígios que Deus operara ao longo da sua História, a partir da libertação da escravidão do Egito, e que tinha a sua ainda maior manifestação na volta da escravidão da Babilônia, considerada como o gesto divino de uma nova criação. Em Jesus, ela se revela visível na Palavra que se faz carne e que conduz a Humanidade, assumida pela Encarnação, à Glória do céu, pela ressurreição e ascensão. Para os Apóstolos, Jesus, desde a sua origem, ao nascer de Maria, concebido por obra do Espírito Santo, é essa Glória do "Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade" (Jo 1,18), que viveu entre nós e se manifestou através dos seus gestos, último dos quais foi a sua Ressurreição. Jesus é, realmente, Aquele que se fez, em tudo, igual a nós, exceto no pecado, que acabou realizando em si a figura do Filho do Homem de Ez 1,26-28, segundo a descrição de Dn 10,5s. Ele é, então, o Deus que julga a História, igual, em dignidade, ao Pai, que, em virtude da sua imolação de Cruz, fez de nós "um reino e sacerdotes para Deus" (Ap 1,6). Na condição de Filho do Homem glorificado é o Senhor das igrejas que admoesta com o seu Espírito. Esse é o conteúdo da pregação dos Apóstolos e o motivo da nossa exultância. A Glória de Iahweh se manifestou na pessoa do filho de Maria. Aquele que se tornou participante da nossa humanidade, tendo vivido em perfeição a vocação do adão que Deus criara à sua imagem e semelhança, pela sua obediência até à morte e morte de Cruz, nos tornou participantes da sua divindade. Nós somos "filhos no Amado" (Ef 1,6). Somos filhos de Deus.Por nós, Jesus pediu ao Pai que nos tornássemos participantes da Glória que era sua desde a criação do mundo (Jo 17,24).


Perguntas para uma reflexão:
1ª) De que forma o evangelista Marcos compara Jesus com a Glória de Iahweh da qual fala Is 40?
2ª) Quais são os feitos de Jesus-Glória de Iahweh, que tem suas figuras proféticas na libertação do Egito e da Babilônia?
3ª) Quando, em Jesus, a figura do Filho do Homem se identifica com a Glória de Iahweh?

Cristo Redentor (14) O Servo de Iahweh
São quatro os cânticos que Isaias consagra à figura do Servo de Iahweh, que ilustram a sua missão universal, os sentimentos com os quais lida com os necessitados; a disposição à mansidão diante das torturas que lhe são infligidas; a expiação vicária (Is 42;49;50;53).

Jesus é o Servo de Iahweh porque, na condição de criatura, vive, em tudo, a sua obediência até à imolação de Cruz. Is 53 descreve os sofrimentos da sua Paixão, que tem uma função redentora, e redundam em glorificação para ele: por ter entregue a vida recebe em herança muitos povos. Para eles se torna uma luz porque implanta o direito.

Jesus se refere a esse título quando se proclama a Luz do mundo. Realiza esse feito acendendo o fogo e recebendo o batismo de sangue (Lc 12,49s), porque é seu desejo fazer a vontade do Pai (Jo 4,34). Ele veio para servir e não para ser servido.

Dessa forma, Jesus une em si a figura do Filho do Homem e do Cordeiro imolado, da forma que o contempla o autor do Apocalipse. O aspecto glorioso da Glória de Iahweh é precedido pelo adão que ainda deve aprender a obediência pelo sofrimento (Hb 2,10). Dessa forma Jesus se torna Aquele que, agora, está sentado no trono da Majestade com o aspecto de uma pedra de jaspe e cornalina, envolvido pelo arco-íris da cor da esmeralda (Ap 4,3). É o Servo de Iahweh, Cordeiro imolado glorioso que, do Pai, recebe o poder de julgar. A Glória de Iahweh que julgará o mundo sempre mantém a característica do Servo porque Ela é o adão Jesus que triunfa em virtude da sua imolação e, na condição de Testemunha fiel e Primogênito entre os mortos é o Príncipe dos reis da terra.

Dessa forma, o título messiânico de Servo é um título honorífico: é aquele que se torna grande como Abraão, Moisés, Samuel, Davi.

O Servo, enquanto conquista os povos da terra, é princípio de glorificação para os seus, que se tornam o povo dos santos do Altíssimo, associados no julgamento dos povos por ter dado testemunho da Palavra e de Jesus Cristo. Em Jesus, se tornaram os servos de Deus.

O Servo é aquele em que o Pai, seja no momento do Batismo ao Rio Jordão como na Transfiguração, se agrada, porque sempre faz a sua vontade. Com essa atitude ele resgata a rebeldia de Israel, que se revela um servo rebelde. O Servo presta ouvido aos ensinamentos da Lei (Is 49), enquanto Israel se afastou do Senhor. O Servo chega a compreender que o dom da sua vida que Deus exige em resgate dos seus irmãos é a condição da sua própria glorificação e da realização do Plano de Iahweh (Is 53), enquanto Israel se entrega ao culto dos ídolos. Pos isso, como Cordeiro imolado levado ao matadouro, carrega sobre si as nossas culpas. Vitorioso sobre a morte por causa da sua imolação, celebra o seu Senhor na grande assembléia, nos tornando participantes do seu triunfo, na condição de quem foi por ele resgatado do pecado.

O servo de Iahweh é, portanto, aquele que resgata a humanidade da sua rebeldia, do seu afastamento de Deus e a torna capaz de servir o seu Criador. Nisso Israel é figura porque, a partir do 1º cântico (Is 42), a redenção é anunciada como universal. Pelo Servo, a Luz de Deus chega aos confins de toda terra. Com a sua imolação, seguida pela sua glorificação, Jesus, realizador da figura profética do Servo de Iahweh, ensina a todos os homens qual é o verdadeiro caminho da sua realização:
"Vistes o que vos fiz. Vós, também, deveis fazer o mesmo. Eu, vosso Mestre e Senhor, vos lavei os pés. Vós sereis meus discípulos se lavardes os pés uns dos outros" (Jo 13). Assumir a condição de servidor, segundo a específica vocação na Igreja, significa perseguir o caminho da própria realização (Rm 12, 1.5).
Jesus, na condição de Enviado do Pai, sempre faz a sua vontade. É por isso que o Pai o ama. Quando pensa que todo o seu trabalho em favor da causa de Deus foi inútil, porque os homens se fecham à sua ação, Deus decreta que ele não é somente o salvador de Israel, mas de todas as nações, que recebe como herança.

Perguntas para uma reflexão:
1. Quais são os cânticos de Isaias que celebram o Servo de Iahweh?
2. De que forma o Servo nos resgata?
3. Por que o serviço é a condição da nossa realização?
Cristo Redentor (15) O Esposo

A reflexão dos sacerdotes do Templo tinha advertido a presença do verdadeiro Deus na história do povo hebraico e reconhecido o privilégio da revelação dele a Abraão, Isaac e Jacó, como também a intervenção prodigiosa na libertação de Israel da escravidão até constituí-lo num reino, justificando, com isso, seja o título de "El Shaddai", como o de "Iahweh".
         Os profetas, diante da ingratidão do povo com o seu Deus, salientaram que, em todo e cada momento, Deus estava agindo numa atitude de predileção com o povo da escolha, de forma que o compararam a um marido ciumento diante das atitudes idolátricas de Israel, que classificaram de prostituição. Aquele amor, segundo o qual a Bondade sempre agiu, a partir da criação, é lembrado pelos profetas em toda a sua profundidade, embora, infelizmente, num contexto de iniqüidade e perversão: "Dá-lhe o nome de 'Não-Amada', porque não mais amarei a casa de Israel" (Os 1,6). Contudo, a profundidade do amor de Deus encontra, na própria má conduta de Israel, a condição para uma manifestação de amor ainda mais profunda. Enquanto Deus anuncia o castigo, manifesta a sua vontade de voltar a amar Israel. O anúncio é solene e deve ser interpretado como verdadeira profecia que atuar-se-á somente pela Encarnação do próprio Jesus: "Acontecerá naquele dia, ..." (Os 2,18-22). A figura dessa realidade é a manifestação da Glória de Iahweh, quando da volta da escravidão de Babilônia. É o momento em que o Deus de Israel, após ter-se revelado como "El Shaddai", "Iahweh", se revela o "Santo" que quer voltar a morar no meio do seu povo.
         Jesus, portanto, é a Glória de Iahweh que, pela Encarnação, do Deus de Israel, o único e verdadeiro, manifesta todo o seu amor que desta vez, acolhe a humanidade, não porque já purificada por um castigo, como aconteceu a Israel depois do exílio de Babilônia, e sim, porque movido pelo amor do seu coração divino (Lc 1,78). O amor do Coração do nosso Deus terá a sua suprema manifestação na Cruz, aonde aparecerá como o Pastor que dá a vida pelas suas ovelhas. Enquanto, todavia, caminha para a Cruz, todos os seus gestos, pregação, expulsão dos demônios, cura dos doentes, vocação dos Apóstolos, instituição da Eucaristia, etc..., querem ser uma antecipação e figura do amor esponsal que, enfim, manifestará. Como esposo o anuncia João Batista aos seus discípulos (Jo 3,29). O próprio Jesus assume essa imagem quando declara: "Podem os amigos do noivo..." (Mc 2,19-21). São Paulo não tem dúvidas em ver, na morte de Cristo, as núpcias do mesmo com a sua Igreja (Ef 5,25-27). Enfim, são João retrata o triunfo dos mártires pela figura das núpcias do Cordeiro com a Igreja (Ap 19,7). Por esse quadro final, os esponsais que Iahweh quer celebrar com a humanidade assumem toda a sua significação. Desde a criação, Deus chama o homem à participação da sua vida. Por isso, sua ação amorosa não tem limites, enquanto espera uma resposta amorosa por parte dos homens.
         A relação nupcial quer descrever a união à qual a divindade chama a humanidade. Ela viveu todo o seu amor para com os homens na imolação de si sobre a Cruz, em Jesus Cristo.
         Perguntas para uma reflexão:
1ª) Em que sentido a figura do esposo caracteriza o amor de Deus para com os homens?
2ª) Em que momento da história de Israel essa figura vem a caracterizar o amor de Iahweh para com o seus povo?
3ª) De que forma o amor nupcial de Deus se concretiza em Jesus Cristo?

            Reflexão de aprofundamento
            Em Jesus Cristo “que nos lavou dos nossos pecados com o seu sangue” (Ap 1,5) e que devemos esperar na vigilância, devemos ver  o Esposo da igreja, como, aliás, ensina o fim do Apocalipse: “O Espírito e a Esposa dizem: “Vem!” É o Cordeiro imolado, o Filho do Homem que esteve morto mas agora está vivo e que quer celebrar as suas núpcias com a ‘sua mulher’ (19,7). Glorioso vem com todo poder. É dessa forma que devemos interpretar o Esposo da parábola da virgens, anunciado com o grito: “Eis que vem o esposo, ide ao seu encontro” (Mt 25).
            No A.T., a relação esponsal de Iahweh com Israel encontrou a sua exaltação no Cântico dos cânticos. Através da celebração do amor humano, instituição do Criador, Israel exalta o amor de Deus.
            No N.T. o Cântico dos cânticos não é citado porque os autores preferem narrar a forma pela qual o amor esponsal da Caridade divina se realizou. Foi pelo sacrifício do Filho de Deus que se realizaram as núpcias (Ef 5,27). “Aquele que é e que era” (Ap 11,17), o Eterno, “que existia antes de mim” (Jo 1,30), quando veio, foi para estabelecer uma aliança definitiva, na condição de “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (1,29). É o Filho de Deus que vem pela Encarnação; que volta a vir quando se apresenta ao Rio Jordão para dar início à sua missão messiânica que culmina com a sua ida a Jerusalém para ser morto. Virá com todo poder e glória como Verbo de Deus, num cavalo branco, com um manto de púrpura, com uma coroa com muitos diademas. Vem na condição daquele que “nos ama” (Ap 1,5), Senhor da Igreja, Filho do Homem que quer nos fazer sentar no trono do Pai, ele que está sentado com o Pai com “o aspecto  de uma pedra de jaspe e cornalina” (4,3). Ele é, dessa forma, a revelação suprema do amor da Caridade divina, na condição última de Cordeiro imolado glorioso. Com a sua vinda, destruída a Cidade terrena, serão celebradas a núpcias. Os que lavaram suas vestes no sangue do Cordeiro se revestiram de boas obras, como de um linho resplandecente. Serão a Nova Jerusalém, “a Esposa, a mulher do Cordeiro” (21,9) que “desce do céu pronta como uma esposa que se enfeitou para o seu marido” (v.2).
            A relação nupcial pode ser vivida pelo Memorial da Morte de Cristo, momento em que a Igreja lembra, consolada, todo o amor do Filho do Homem que se tornou Cordeiro pascal, atuando em si a figura do Servo de Iahweh. São as Escrituras que ilustram a grandeza do Senhor da Igreja. A relação esponsal é completa quando o fiel se apresenta para a celebração com as suas boas obras. Tudo é fruto de um trabalho contínuo que 2Pd 1, chama de purificação.

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