Índice
(1) Introdução
(2) Conceitos bem precisos
(3) Os blocos da carta
(4) O esquema mental do autor
(5) Conteúdo temático
(6) A lógica da exposição
(7) A forma da exposição
(8) Argumentação
(9) Resumo
(10) Chave de leitura
(11) Intuito da carta
(12) Destinatários
(13) Conteúdo das palavras de exortação
(14) O combate contra o pecado
(15) Divisão
(16) Exegese
(1) Introdução
A Carta aos Hebreus é uma avalanche de motivações que um espírito perfeito
apresenta aos “companheiros da vocação celeste” (3,1) que precisam ser
sustentados na fé, num momento de desânimo. Os quadros teológicos são
grandiosos. As citações das Escrituras são oportunas. A noção da fé é
abrangente. Somos colocados diante de uma realidade que Deus oferece e garante,
a ponto de vermos quão preferível ela é em comparação ao que o mesmo Deus exige,
segundo o que Paulo nos diz: “Os sofrimentos do tempo presente não têm
comparação com a glória que há de revelar-se em nós” (Rm 8,18). A argumentação
sobre a fé em Hb 11 chega a nos transmitir a sensação de quão valiosa ela é,
embora exija que perseveremos até o fim, à semelhança de Abraão, Moisés e dos
mártires que “recusaram o resgate para chegar a uma ressurreição melhor”
(11,35).
A Carta aos
Hebreus, segundo a expressão final: "Irmãos, eu vos peço que suporteis
esta palavra de exortação” (13,22), é
um escrito que, lido na assembleia dominical, visa ser uma tentativa de ajudar
uma comunidade, que está para ser tomada pelo desânimo (12,3), a perseverar na
fé, porque, a partir da deserção das assembleias dominicais, decaiu no ardor da
caridade e, por isso, tornou-se lenta à compreensão (5,11), necessitada de
perseverança, perto de ser rejeitada (6,8). O Autor não quer que seus membros
percam a sua "segurança", pelo contrário, quer que, renovado o ardor
da sua fé, "levem até o fim o pleno desenvolvimento da esperança"
(6,12; 10,35s); resistam até o sangue na luta contra o pecado, porque é somente
pela perseverança que alcançarão a herança da salvação (10,36; 1,14). A
parte exortativa da Carta é considerável, enquanto, continuamente, se entrelaça
com a exposição doutrinal sobre "Jesus que sofreu a cruz, desprezando a
vergonha, e se assentou à direita do trono de Deus" (12,2). Quem escreve é
um pastor que revela possuir o carisma de um doutor, que conhece Timóteo
(13,23), que quer contribuir para a santificação dos seus "santos irmãos e
companheiros da vocação celestial" (3,1), mediante uma reflexão sobre
nosso Senhor Jesus (13,20), que chegou à glória pelo sofrimento e que, agora, é
nosso Mediador da graça da qual necessitamos para perseverar no testemunho.
Trata-se de um escriba judeu-cristão que se dirige a judeu-cristãos, filhos de
Abraão (2,16), que acreditaram em Jesus Cristo. É um discípulo de Jesus Cristo
que, pela perseverança, chegou à estatura adulta da fé, capaz de "degustar
a doutrina da justiça" (5,13) e de discernir entre o bem e o mal,
"convicto de possuir uma consciência boa, com a vontade de se comportar
bem em toda ocasião" (13,18). Considera, portanto, o Reino inabalável que
Deus nos concedeu pelo Filho glorificado (12,25) "uma fortuna melhor e
mais durável' (10,34) que qualquer riqueza terrena. Por isso, assim admoesta
"os seus santos irmãos e companheiros da vocação celestial" (3,1):
"É de perseverança que tendes necessidade" (10,36). Os que tudo
deixaram (5,18) importa que observem cuidadosamente os ensinamentos para não
transviar: "Desejamos somente que cada um de vós demonstre o mesmo ardor
em levar até o fim o pleno desenvolvimento da esperança" (6,11).
Para manter
o fervor da caridade (6,11), manter "o senso moral exercitado para
discernir o bem e o mal" (5,14) e degustar a doutrina da justiça (5,13), o
autor da carta propõe a reflexão sobre o Filho eternamente perfeito (7,28b),
o Sumo Sacerdote que entrou no céu como precursor (6,20), nosso Senhor Jesus,
que "o Deus da Paz fez subir dentre os mortos, que se tornou, pelo sangue
de uma Aliança eterna, o Grande Pastor das ovelhas" (13,20). Deus o levou
à perfeição por meio do sofrimento (2,10). Se queremos participar da Glória de
Nosso Senhor Jesus devemos passar pelo mesmo sofrimento, para sentarmos com ele
à direita da Majestade. Além do mais, sua morte foi sofrida por ele para a
nossa redenção. Portanto, tendo sido iluminados, tendo degustado o Espírito da
Palavra, tendo participado dos sofrimentos dos santos, aceitado o despojamento
dos bens, sabendo de possuir bens maiores, "não negligenciemos tamanha
salvação" (2,3).
Temos no
céu, "em relação a Deus, um sumo sacerdote misericordioso e fiel para
expiar os pecados do povo. Pois, tendo ele mesmo sofrido pela tentação, é capaz
de socorrer os que são tentados" (2,18). Em segundo lugar, estamos no
tempo definitivo; realizou-se a figura; "guardemos bem a graça do Reino
inabalável que Deus nos anuncia pelo Filho glorificado" (12,28). Na
sua argumentação, o autor utiliza uma contínua comparação entre a antiga
aliança e a nova aliança. A superioridade desta última é motivo de grande
segurança para os que creem. Nos nossos
dias que são os últimos, os prodígios que Israel viu, na verdade figuras
didáticas, se realizaram. Fomos contemplados por uma Aliança no sangue de Jesus
Cristo, conhecemos o verdadeiro Monte do Santo, caminhamos para a verdadeira
pátria "que está para vir" (13,14). Nós é que estamos ouvindo aquilo
que foi transmitido a Israel em figura, porque Deus nos falou no Filho. Podemos
distinguir (5,14) entre a vaidade da criação e o que é inabalável: a graça do
Reino. Recebemos a graça da Salvação (2,3) e o mistério do Reino (12,28).
Sirvamos a Deus, observemos os ensinamentos do Senhor e dos Apóstolos
"para não nos transviarmos". Aceitemos as provações pelas quais Deus
nos comunica a santidade (12,10); elas produzem frutos de paz e justiça (v.11).
De fato, a vida cristã se desenvolve por etapas: conversão, batismo, Espírito,
dons, caridade, perseverança na tribulação, esperança. A Igreja, à qual o autor
da carta se dirige, viveu a iluminação, os dons, mas é "de perseverança
que tem necessidade", condição para agradar a Deus em tudo, sem esmorecer.
A maneira para se animar é a assembleia dominical pela qual a Palavra habita em
nós plenamente (Cl 3,16). Lá há quem, repleto de sabedoria, como Estevão,
ensina e admoesta. A ação de graças é promovida (ibid.). Pelo Senhor Jesus,
alcançamos toda graça (Jo 14,13;15,16).
O Autor
utiliza uma argumentação que sensibiliza os filhos de Abraão. Jesus é o Filho
(Sl 2,7), o Rei que, pela sua imolação, desposa a Igreja (Sl 45). Nessa
condição, é, também, nosso Sumo Sacerdote porque, Aquele que recebeu o nome de
Senhor, Deus, por um juramento, chamou ao sacerdócio, como fez com Aarão
(Sl 110,1.4).
Aquele que é
superior aos sacerdotes da terra, porque realiza em si a figura de Melquisedec
e, por um juramento de Deus, é estabelecido Sumo Sacerdote para sempre, é de
condição divina: "Resplendor de sua Glória e Expressão do seu Ser,
sustenta o universo com o poder de sua palavra" (1,3). É nessa condição
que realiza, com a sua Morte, a purificação dos pecados, abole a primeira
tenda, entrando, uma vez por todas, no Santuário que está no céu, passando pelo
véu da sua humanidade, e se torna Mediador de uma definitiva aliança. Embora
sendo homem, senta à direita da Majestade, porque é Filho.
A nossa herança é a Cidade celeste, da qual
participaremos se formos perfeitos como os justos. Será Deus que nos julgará.
Temos que proceder com temor e tremor porque ele é um “fogo abrasador (12,29).
(10) Chave de leitura
Enquanto apela para a superioridade
de Cristo em relação às figuras do
Antigo Testamento e faz disso o tema da sua exortação, o autor da carta
lembra que estamos nos tempos últimos (9,26b-28; 10,25.37-38; 12,27), de forma
que devemos viver na expectativa da vinda do Senhor. Não vale a pena desertar
agora depois de ter sofrido tanto. A perseverança nos levará a participar da
herança com Jesus, enquanto a deserção nos tornará merecedores do fogo da ira
de Deus.
Enquanto aduz o exemplo da história
dos hebreus, convida a escutar a voz de Deus, para que não sejamos excluídos do
repouso prometido, à semelhança dos que endureceram o seu coração no deserto e,
por isso, foram excluídos da terra prometida.
Se diante da Voz de Deus que falou
no Monte Sinai, quando a terra estremeceu, e mostrou, pelo seu servo Moisés, a
sua Lei, por não a ter observado, os hebreus receberam o castigo, agora que
Deus fala do céu pelo Filho, o "Apóstolo" que anunciou, por primeiro,
a salvação (2,3), devemos temer um castigo maior, reservado para o fim dos
tempos, quando Deus fará estremecer os céus, se não observarmos
"cuidadosamente os ensinamentos que ouvimos para que não nos
transviemos" (2,1). Devemos prestar ouvidos à Palavra de Deus, que o
Senhor começou a anunciar e que os Apóstolos também anunciaram, confiando no
poder daquele que foi constituído Filho do Homem, sentado à direita da
Majestade de Deus, por si, de condição divina, mas que, também, glorificou a
sua Humanidade pela obediência até a imolação. Ele tornou-se um sumo sacerdote
capaz de compadecer-se com os que são agora tentados, superior a Moisés e a
todo sumo sacerdote, porque foi chamado por Deus para um sacerdócio eficaz e
eterno. Também, entrou no Templo que está no céu sem ter que oferecer
sacrifícios para si próprio, mas com o seu próprio sangue, tendo realizado, uma
vez por todas, a Redenção. Temos, no céu, um sacerdote santo e imaculado.
É na assembleia dominical, como também
lembrará Ap 1,10, que ouvimos "quem nos fala do alto dos céus" pelo
Filho, através da Profecia (Ap 1,3), enquanto celebramos o Memorial da sua
Morte. É por ele que vivemos na vigilância, nutrindo a fé, mantendo o fervor
inicial, adquirindo uma virtude comprovada, chegando a uma esperança que não
será confundida, enquanto aguardamos a vinda d´Aquele que vem (Hb 10,37s) e
recebemos a graça de um auxílio oportuno daquele que sabe compadecer-se dos que
são tentados, tendo ele, por primeiro,
experimentado a tentação.
A
exortação quer fundamentar a sua força de convicção no valor da Palavra de Deus
à qual teremos que prestar contas [Prestai atenção à Palavra (12,25). A Palavra
é uma espada cortante de dois gumes que penetra até... Se a Palavra revelada
por anjos...]. O termo palavra, em hebraico não indica somente o que Deus diz,
como, também, o que Deus realiza. Como Deus se revelou outrora por tudo aquilo
que anunciou e realizou, “no Filho” Jesus Cristo, nos anunciou o Reino inabalável,
a Salvação e nos constituiu herdeiros, com Cristo, do mundo futuro. Por isso, é
necessário perseverar até o fim na nossa fé em Cristo para receber a
"herança das promessas" (6,12).
Não
podemos endurecer os corações. Os que endureceram os seus corações, não
querendo ouvir a voz de Deus, não obstante tivessem visto as suas obras que a
comprovavam, foram excluídos do repouso prometido. Isso acontecerá para nós,
também, se menosprezarmos a salvação anunciada pelo Senhor e fielmente
transmitida pelos Apóstolos, "acompanhando Deus suas palavras com
sinais..." (2,4).
A
argumentação da Carta irá utilizar, constantemente, a comparação entre dois
momentos proféticos bem distintos: o tempo em que Deus falou pelos seus servos,
os profetas, e o tempo escatológico em que Deus fala pelo Filho. Falou Deus aos
pais nos profetas... Falou-nos no Filho (1,1s); a palavra promulgada por
anjos.. tão grande salvação anunciada pelo Senhor (2,2s); Jesus é fiel a quem o
constituiu, como também o foi Moisés em toda a sua casa (3,2); sacerdócio
levítico... outro sacerdócio segundo a ordem de Melquisedec (7,11); Jesus se
tornou a garantia de uma aliança melhor (7,22); a Lei estabeleceu sumos
sacerdotes sujeitos à fraqueza, a palavra do juramento, posterior à Lei,
estabeleceu um Filho eternamente perfeito (7,28). Cristo possui um ministério
superior. Pois ele é o mediador de uma aliança bem melhor (8,6).
O
Autor não deixa de sublinhar que a palavra que o Deus único quer nos transmitir
pelo Filho diz respeito ao tempo do fim. Isto significa que, pela fé, já
estamos de posse do que é definitivo: o Reino inabalável que em breve há de se
manifestar e do qual participaremos se perseverarmos, na fé, até o fim. É a
palavra de quem nos fala "do alto dos céus" (12,25), que faz desaparecer
"tudo o que participa da instabilidade do mundo criado, a fim de que
subsista o que é inabalável" (12,27s).
(2) Conceitos bem precisos
(2) Conceitos bem precisos
A Carta aos hebreus, para ser entendida, deve ser abordada
tendo presente conceitos bem precisos.
1º) O sacerdócio de Jesus
“Se Jesus estivesse na terra não
seria nem mesmo sacerdote” (Hb 8,3).
O termo “sacerdote”, para o autor da carta, deve ser, por si, reservado
aos “que oferecem dádivas, de acordo com a Lei” (v. 4). Contudo, uma vez que
lemos: “Iahweh jurou e jamais desmentirá: ‘Tu és sacerdote para sempre, segundo
a ordem de Melquisedec’”, por atribuição e de forma analógica, todavia, por sublimação,
pode-se falar de um sacerdócio do homem Cristo Jesus. A sua natureza é
ilustrada por Hb 2,5-18. Em Jesus, a característica sacerdotal tem seu
fundamento na imolação que o glorifica e, ao mesmo tempo, salva os seus irmãos.
Isto nos permite estabelecer uma relação clara entre o sacerdócio dos
fiéis e o sacerdócio conferido pelo sacramento da ordem. Pelo caráter, todo e
cada fiel é configurado, pelo Espírito, a Cristo sacerdote. Enquanto a
configuração a Cristo, recebida no Batismo, torna o fiel capaz de tornar a sua
vida “um sacrifício espiritual agradável a Deus” (Rm 12,1), a configuração
recebida pelo sacramento da Ordem torna o fiel capaz de consagrar para que na
celebração da Eucaristia se realize o Memorial da Morte do Senhor. A
santificação dos fiéis e do sacerdote ocorre dentro das suas específicas
funções.
Todo e qualquer leitor da Carta aos Hebreus pode notar a sua forma
literária. Trata-se de uma exposição que ilustra de forma enfática os conceitos
que o autor apresenta. Por causa disso devemos descobrir quais são os conceitos
fundamentais que norteiam a própria exposição. Isto nos permitirá definir, de
forma clara, os blocos que a compõem e, em seguida, entender de que forma se
sucedem, enquanto o autor expõe a sua exortação.
O primeiro conceito fundamental, na
mente do autor, é a figura de Jesus Sumo-sacerdote (8,1). O autor a desenvolve
gradativamente, a partir da apresentação da condição divina de Jesus,
fundamento da natureza do seu sacerdócio, apresentando-o na condição do adão
que, único, chegou à perfeição pelo sofrimento. O segundo conceito fundamental
é a fé que o fiel deve cultivar (11,1). As considerações sobre Jesus,
gradativamente apresentadas são as suas motivações. Os dois conceitos se entrelaçam
ao longo de toda a carta até aparecer a figura de Jesus em toda a sua
irresistível grandeza (12,2), motivação conclusiva para o fiel viver o
testemunho da sua fé, disposto a desprezar a vida, convencido de possuir, desde
já, bens melhores.
A motivação da carta é, portanto,
exortar “companheiros da vocação celestial” à perseverança. As provações, quais
suscitadas pelos judeus da diáspora que se recusam reconhecer em Jesus o Cristo
e ameaçam de excomunhão da sinagoga todos os que a ele dão a sua adesão de fé,
não podem levá-los ao desânimo a ponto de apostatar.
A reflexão sobre Jesus, o Herdeiro,
Resplendor da Glória de Deus e Imagem do seu Ser, que entrou nos céus com o seu
sangue, na condição de nosso Sumo Sacerdote, realizada a purificação dos
pecados, é o conteúdo da motivação que o autor da carta quer propor com as suas
simples palavras de exortação. Ela será ouvida pelos fiéis reunidos em
assembleia “no dia do Senhor”, juntamente com a exortação e as admoestações dos
seus dirigentes (13,17), quando proclamada pelo leitor, para que seja guardada
nos corações.
A carta é uma exortação motivada por
uma condição de desânimo. Os fiéis aos quais o autor se
dirige precisam de perseverança. São cristãos que poderiam se tornar
desertores, não obstante já tenham dado testemunho de heroísmo, a ponto de
aceitar a perda dos seus bens, preferindo os bens melhores que conquistaram
abraçando a fé. Porão tudo a perder caso não perseverem.
O desânimo tem suas raízes na
ausência às assembleias dominicais, nas quais os fieis nutrem sua fé pela
Palavra, o que lhes dá condições de cultivar a virtude pela observância dos
mandamentos, praticar as boas obras, viver o amor fraterno, a partir do apoio
que dão aos irmãos pela exortação e admoestação. Tudo isso possibilita cultivar
a constância que leva a uma esperança inquebrantável diante das tribulações,
consideradas, então, como condições de viver em si a paixão de Cristo (cf. Rm
5,3-5).
3º) O autor é um pastor de almas, discípulo de Paulo, responsável, à semelhança de Timóteo, de uma
circunscrição de igrejas. Ele tem consciência de ser um homem de fé que
persevera na esperança, em vista da conquista da herança eterna. Está em
condições de ditar aos “santos irmãos, companheiros da vocação celeste” (3,1),
o que devem fazer para lançarem fora o fardo do desânimo e, dessa forma, não se
tornarem vítimas do pecado que os envolve (12,1). Pela perseverança, é possível
chegar a “degustar a doutrina da justiça” (5,13) e, dessa forma, se alimentar
com o alimento sólido dos perfeitos.
À semelhança do que Paulo fez quando
escreveu aos romanos, no intuito de colher algum fruto entre eles, ele
compartilha a sua reflexão, para, com eles, se edificar na fé (cf. Rm 16,15;
1,11s).
Em primeiro lugar, convida a contemplar Jesus na condição de Filho, que
realiza em si o que o Deus de Israel anunciou pelos profetas. Chegou a
plenitude dos tempos. Deus nos fala em Jesus, o Herdeiro, aquele que
estabeleceu o Reino na condição de Palavra criadora, Resplendor da Glória,
Imagem do Ser, que sustenta todas as coisas, Aquele que, realizada a
purificação dos pecados, sentou-se à direita da Majestade, acima das ordens
celestiais, em virtude do Nome que recebeu, que excede o delas.
A análise dos salmos 2; 45; 102; 110
o ajuda a apresentar a condição gloriosa de Jesus (Hb 1).
Em 2,1-4, temos
uma primeira inserção de exortação moral, fundamentada nos dois quadros
grandiosos da apresentação inicial: o Filho que nos fala, chegada a plenitude
dos tempos; Jesus glorificado acima dos anjos, constituído senhor de tudo.
Temos a obrigação moral de não negligenciar “tão grande salvação” (v.3). Se
Deus puniu as transgressões da Lei da antiga aliança, qual não será o nosso
castigo diante de uma Lei que nosso Senhor nos transmitiu, tendo-a recebido de
Deus e que os Apóstolos nos anunciaram, com sinais e prodígios, sob a moção do
Espírito?
2,5-3,6 O Filho que, “realizada a purificação dos pecados, se sentou nas alturas à direita da Majestade” é o nosso
Sumo-sacerdote, misericordioso e fiel que Deus
constituiu acima da sua casa, “que somos nós se mantivermos a confiança e o
motivo altaneiro da esperança” (3,6). Ele é o homem, criado um pouco inferior
aos anjos, que vemos “coroado de glória e honra”, porque “provou a morte em
favor de todos os homens”. Deus o levou à perfeição pelo sofrimento, Ele, que
Deus destinou para ser o Autor da nossa salvação, “é capaz de socorrer os que
são tentados”, “tendo ele mesmo sofrido pela provação” (2,18).
3,7-4,13
Segunda inserção de exortação moral
Se Deus nos falou no Filho, devemos escutar a voz de Deus.
Devemos
aprender por aquilo que aconteceu aos israelitas quando não escutaram a voz de
Deus no deserto. Por terem transgredido a Lei, não obstante tivessem visto as
obras de Deus, na sua ira, este os excluiu do repouso prometido. Para não
sofrermos a mesma sorte, devemos manter "firme até o fim a nossa confiança inicial em Jesus (3,14),
"o Apóstolo e Sumo- sacerdote da nossa profissão de fé" (v.1).
Seremos julgados pela Palavra de Deus, aquela que o Espírito anunciou pelos
profetas, por Jesus Cristo e pelos Apóstolos, "por meio de sinais, de
prodígios e de vários milagres, e pelos dons do Espírito Santo, distribuídos
segundo a sua vontade" (2,4). A relação com o Apocalipse é clara, porque a
Palavra "mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes que... julga
as disposições e as intenções do coração" é aquela que sai da boca do
Filho do Homem, Senhor da Igreja, Sumo Sacerdote e Rei-Pastor das ovelhas.
4,14-16
Primeira síntese da “palavra de exortação”: “Permaneçamos firmes na profissão de fé”, porque temos “Sumo-sacerdote
eminente, que atravessou os céus: Jesus o Filho de Deus”. Ele é capaz de se
compadecer das nossas fraquezas.
O autor é um pastor de
almas que se acha no dever de socorrer uma comunidade que foi fundada por
outros evangelizadores, dos quais devem imitar a fé (13,7)
e que já tem seus dirigentes. Trata-se de alguém da condição de Timóteo e Tito,
que Paulo constituiu bispos sobre as comunidades fundadas. Considera-se à
altura de aconselhar como quem "está convicto de possuir uma consciência
boa, com a vontade de se comportar bem em toda ocasião" (13,18). É um
escriba da classe sacerdotal que aceitou "com alegria a espoliação dos
seus bens" (10,34). Quer exortar à perseverança na fé, aceitando carregar
a humilhação, saindo fora do acampamento, para ir ao encontro de Jesus
crucificado que, por primeiro, desprezou a vergonha à qual o expunha a rejeição
do Sinédrio, porque foi assim que alcançou sentar-se à direita do Pai. Não
devemos nos apegar à Cidade terrena, que não é permanente. De fato, procuramos
a cidade do Céu.
Pelos dados do autor, entendemos
qual é o motivo da carta: o desânimo, que ele quer combater nos fiéis da
comunidade à qual se dirige. São as perseguições dos judeus que proscrevem da
Sinagoga todos os que se professam cristãos. Eles estão apegados à cidade
terrena, aos Sumos sacerdotes, ao templo, às tradições humanas. Os cristãos
procuram uma cidade que está para vir (13,14). Os que servem a Tenda não podem
se alimentar do altar dos cristãos, porque Jesus "para santificar o povo
por seu próprio sangue, sofreu do lado de fora da porta" (13,12), lugar
onde são queimadas as carnes dos sacrifícios.
Por isso, o autor da carta exorta os fiéis de cada
comunidade a imitar o testemunho dos seus dirigentes que coroaram a sua vida
dando testemunho da sua fé até o fim (13,7), resistindo até o sangue no combate
contra o pecado (12,4).
“Falou Deus aos Pais pelos profetas”
(1,1). Desde o início, esta frase nos indica que estamos diante de um hebreu
que escreve a hebreus.
“Nestes dias que são os últimos, que são os nossos,
falou-nos pelo Filho” (1,2). O Autor e os destinatários são hebreus que
reconheceram em Jesus o Messias, o Filho de Deus, realizador da Profecia. Sabem
que estamos no Tempo do Fim, pouco faltando para a manifestação do Reino
inabalável, pelo qual, os que devem herdar a salvação, reinarão com o Herdeiro
do mundo futuro.
(3) Os blocos da carta
(3) Os blocos da carta
Conforme o que já
pontuamos na Introdução, podemos agora definir os blocos da
carta: Enquanto o primeiro bloco trata da primeira apresentação do Filho que
Deus constituiu acima da sua casa, os outros blocos, enquanto aprofundarão a
compreensão da condição sacerdotal de Jesus, motivarão sempre mais os fiéis a
viver perseverando na sua fé.
Temos
que observar, todavia, que, além da figura do Filho de Deus, nosso Sumo Sacerdote,
há uma convicção ainda mais profunda que leva o autor a exortar os
“companheiros da vocação celestial": a veneração ao Deus de Israel.
Uma longa tradição de manifestações proféticas o torna presente à fé de cada
descendente de Abraão (Rm 16,25-27). Não é possível esquecer tudo o que o seu
Desígnio, que a reflexão sapiencial esteve paulatinamente descobrindo, sugere
da sua Santidade, Sabedoria e Poder que se manifestam na Misericórdia (4,16).
Primeiro bloco: Hb 1-4
O primeiro bloco da carta é a
primeira apresentação do Filho que Deus constituiu acima da sua casa: “Temos um
Sumo-sacerdote eminente, que atravessou os céus: Jesus, o Filho de Deus.
Permaneçamos, por isso, firmes na profissão de fé” (Hb 4, 14-15).
Segundo
bloco (5,1-10,19)
5,1-10 Ilustração da capacidade de
Jesus de se compadecer através
da comparação com o sumo sacerdote da religião judaica Feita exceção do pecado, Jesus, à
semelhança do sumo sacerdote, ofereceu o seu sacrifício para si e para o povo.
O seu sacerdócio tem como fundamento a vocação do próprio Deus, segundo o Sl
110.
5,11-6,20 Reflexão
pertinente do autor da carta para explicar de que forma a sua exortação,
fundamentada sobre os conceitos doutrinais que dizem respeito ao sacerdócio de
Cristo, pode nos motivar à perseverança em vista da conquista da herança. Uma vez que fomos iluminados, demos
testemunho, sofremos escárnios, aceitamos perder os nossos bens “guardemos o
mesmo ardor em levar até o fim o pleno desenvolvimento da esperança”. Isto
evitará que nos tornemos “lentos à compreensão”. Isto nos permitirá “degustar a
doutrina da justiça” (5,13) e sermos “imitadores daqueles que pela fé e pela
perseverança, recebem a herança das promessas” (6,12). A nossa esperança será
como uma âncora lançada no céu onde está o nosso mediador, que lá nos precedeu
[é pela esperança que alcançamos a posse daquilo que ainda não vemos (6,12;
11,1; cf. Rm 5,5)].
A vida
cristã ainda não é completa depois de termos sido iluminados, de termos
degustado o dom celeste, de termos recebido o Espírito Santo, de termos
experimentado a beleza da Palavra de Deus e as forças do mundo que há de vir. É
preciso perseverar na fé para sempre termos em nós o ardor inicial e “levarmos até o
fim o pleno desenvolvimento da esperança”. Nessas condições, nunca seremos
tomados pelo desânimo porque não seremos lentos na compreensão. Em condições de
“degustar a doutrina da justiça” (Hb 5,13), possuidores de um senso moral
exercitado, “faremos tudo sem murmuração e reclamação (Fl 2,14). Ao coroar a
caridade com uma esperança incapaz de esmorecer, teremos lançado, “além do
véu”, uma âncora de salvação, “onde Jesus entrou por nós, como precursor, feito
sumo sacerdote para a eternidade, segundo a ordem de Melquisedec” (6,20). Estamos
diante de uma palavra gancho que confirma a técnica literária segundo a qual o
autor conduz a sua exposição. Ele quer motivar a sua exortação desenvolvendo a
figura de Jesus, o Filho, no qual Deus nos fala na plenitude dos tempos,
apresentando-o na condição de Sumo-sacerdote. A apresentação é gradativa para
poder explorar todos os seus aspectos, importantes para reconfortar os
desanimados.
7,1-28 Os fundamentos do sacerdócio
de Jesus que a revelação oferece O Sl 110 que, na abertura da carta já
serviu, juntamente com o Sl 2 para ilustrar a condição gloriosa de Jesus,
“constituído abertamente Filho de Deus com poder, em Espírito de santidade,
pela sua ressurreição dos mortos” (Rm 1,4), lembrado em 5,5 para provar que
Jesus é sacerdote porque foi chamado a esta função por Deus, agora é citado
para que, interpretado à luz de Gn 14,17-20, nos dê a possibilidade de detectar
todas as prerrogativas do sacerdócio de Cristo Jesus. É um sacerdócio régio,
capaz de estabelecer a justiça e “guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da
paz” (Ef 4,3) de forma eficaz e numa condição de perpetuidade. Uma vez que
vemos Aarão oferecer o dízimo a Melquisedec, compreendemos que o sacerdócio de
Cristo lhe é superior. Melquisedec, sem genealogia e sem fim, é figura do
sacerdócio eterno de Cristo, superior a um sacerdócio participado por geração
carnal. É um sacerdócio eficaz, enquanto o sacerdócio segundo a Lei não leva nada à perfeição. Jesus, com a sua imolação se tornou garantia de uma aliança melhor
e, também, de uma esperança melhor. (Essa característica aqui é somente
lembrada. Já foi comentada em 2,10-18 e será ilustrada em 8-10).
8,1-10,18 Os fundamentos doutrinais da eficácia do sacerdócio de Cristo Jesus quando entrou nos céus,
entrou no verdadeiro santuário; entrou com o seu sangue e se tornou o nosso
intercessor. Com o seu sacrifício sancionou uma aliança melhor, fundada em
melhores promessas. Por ele se realiza a profecia de Jr 31,31-34. “Sacerdote
dos bens vindouros, oferecido o sacrifício, entrou, uma vez por todas no
Santuário do Céu. Tornamos-nos capazes de prestar culto ao Deus vivo (9,14). Os
que agiam no santuário da terra eram simples figuras, não levariam à perfeição
aqueles que se aproximam de Deus (10,1). Cristo Jesus substituiu-se às vítimas.
Deus se agrada com a sua obediência até a morte. O seu sacrifício nos santifica
uma vez por todas. Com um único sacrifício leva à perfeição, e para sempre, os
que ele santifica. O seu não é um sacerdócio
segundo a Lei que estabelece que sejam sacerdotes os que são da tribo de Levi e
ofereçam o que a Lei prescreve, num santuário que é figura do Santuário no céu,
onde se realiza “um culto que é cópia e sombra das realidades celestes” (8,5).
É um sacerdócio que estabelece melhores promessas, em relação à Aliança
sinaítica. Realiza-se uma Aliança inquebrantável, com a finalidade de
estabelecer, em virtude do sacrifício perfeito oferecido uma vez por todas, a
Lei de Deus no coração dos homens, que se tornarão capazes de conhecer a Deus.
O perdão das culpas será o início da ação misericordiosa de Deus.
10,19 Compromissos dos fiéis diante
de tão grande salvação: Promover a fé. Viver a purificação dos pecados. Exortar-nos.
Realizar boas obras. Frequentar as assembleias.
Terceiro
bloco
11 A fé ilustrada por figuras
Definição da fé. Uma condição de confiança em Deus que leva a cumprir com a sua
vontade na certeza de que ele é fiel às suas promessas. Por isso, é posse do
que se espera, fundamento do que ainda não se manifestou. Essa fé foi vivida pelos
antigos que a testemunharam com os seus gestos, com os quais Deus se agradou.
Enquanto nos faz compreender que tudo tem origem na palavra criadora de Deus,
constatamos que o seu princípio não está nas coisas criadas. A partir da
criação entendida pela fé, é fácil ver na figura de Abel a nobreza dos
sentimentos que tornam o seu sacrifício melhor que o de Caim. Essa é a fé que
justifica.Ela fala até depois dele estar morto. A figura de Henoc sugere o
mesmo ensinamento. Deus dá testemunho que se agrada com a sua vida e por isso o
arrebata. Noé é uma figura que ilustra ainda mais o conceito de fé. Ouvida a
palavra de Deus, constrói a arca diante da indiferença do mundo. A fé o
justifica e o sinal é a sua salvação. Abraão é a idealização do homem de fé.
Obedece diante da promessa da cidade “cujo arquiteto e construtor é o próprio
Deus”, que considera fiel. A nossa confiança é no Deus que suscitou de um homem
marcado pela morte uma multidão... (v.12).
(4) O esquema mental do autor
Ao escrever a sua carta, o autor
visava exortar e admoestar para edificar. Os Atos dos Apóstolos e as cartas apostólicas
nos indicam que as comunidades se reuniam “no dia do Senhor” e que, enquanto
celebravam o Memorial da sua Morte, se edificavam a partir da escuta da palavra
que o leitor proclamava, através da exortação e admoestação que a mesma Palavra
sugeria.
O autor da carta aos Hebreus, nisso
se assemelha a Paulo, quando escreve aos romanos, e a João que escreve o
Apocalipse. A sua contribuição é uma reflexão sobre a condição sacerdotal de
Jesus, o Sumo-sacerdote que entrou no céu com o seu Sangue e intercede por nós,
na condição de Sumo-sacerdote misericordioso e fiel, o Filho que Deus
constituiu acima da sua casa, “que somos nós se mantivermos a confiança e o
motivo altaneiro da nossa esperança” (3,6). O autor espera com isso colher
algum fruto, na condição de pastor de almas. Ele está confiante porque tem
consciência de servir a Deus na fidelidade. As suas palavras saem de um
espírito que chegou à perfeição, que se nutre de um alimento sólido, que é
capaz de discernir entre o bem e o mal. Trata-se de uma condição que todos os
fiéis que já foram iluminados, que conheceram a força do Espírito, degustaram
os bens celestiais, poderiam alcançar, jogando fora o fardo do desânimo que os
oprime e que os torna presas do pecado que os envolve, promovendo a fé pela Palavra,
que deve habitar neles abundantemente, juntando à fé a virtude, pela
purificação dos pecados, vivendo o amor fraterno, suportando-se mutuamente,
praticando as boas obras, até coroar a sua caridade com uma esperança que não
estremecerá diante de nenhuma provação.
O sacerdócio de Cristo é o tema
principal dentro de uma exortação que, de forma mais ampla, visa lembrar que
temos uma responsabilidade grave diante de Deus que fala, ainda mais que chegou
a plenitude dos tempos e que Deus nos fala, não mais nos profetas, mas no Filho,
realizando tudo aquilo que os profetas pré-evangelizaram “aos nossos pais”. Não
podemos negligenciar “tão grande salvação”, anunciada pelo Senhor, a nós
transmitida por aqueles que a testemunharam, assistidos pelo Espírito Santo, e
acompanhada por muitos sinais e prodígios. Recebemos um Reino inabalável.
Perseveremos na fé, coroando-a com a esperança, aguardando, na vigilância, o
Dia do Senhor.
O autor abre, então, a sua carta com o
quadro glorioso do Desígnio de Deus que se realiza em Jesus (Lc 1,68-79), o
Herdeiro (Mt 21). As suas prerrogativas divinas, Princípio da criação,
Resplendor da Glória, Imagem do Ser; o sentido do seu sacrifício sobre a Cruz e
a subsequente glorificação, são realidades conhecidas e celebradas por todas as
comunidades cristãs (Cl 1,12-20), juntamente com a sua exaltação (Fl 2,6-11).
Ilustra, então, a condição gloriosa de
Jesus, apelando ao sentido messiânico dos Sl 2; 45; 72; 110. Ele é superior aos
anjos. Aquilo que foi profeticamente anunciado se realizou pela sua morte em
favor de todos os homens. “Levado à perfeição pelo sofrimento, o vemos coroado
de honra e glória” (2,9). Esse é o processo que leva o autor a ver em Jesus,
tornado “em tudo semelhante aos irmãos, o Sumo-sacerdote misericordioso e fiel,
capaz de expiar os pecados do povo e de socorrer os que são tentados” (2,17-18),
uma vez que foi tentado por primeiro.
Quando o
autor retoma o tema no fim de Hb 4, em Hb 5 desenvolve o aspecto misericordioso
de Jesus. Temos então ilustrada, pelas palavras do autor, a figura de Nosso
Senhor. A ilustração procede por etapas, até aqui marcadas da seguinte forma:
Jesus deve
ser o nosso modelo de fé (Hb 12). 1º) É o nosso Sumo- Sacerdote, na condição de
Filho (Hb 1) e de Adão que chegou a perfeição, permitindo-nos reinar com Ele
(Hb 2): “Convinha, por isso, que em tudo se tornasse semelhante aos irmãos,
para ser, em relação a Deus, Sumo-sacerdote misericordioso
e fiel, para expiar assim os pecados do povo.18Pois, tendo ele
mesmo sofrido pela provação, é capaz de socorrer os que são provados”
(2,17-18). 2º) É o nosso Sumo-sacerdote na condição de quem Deus enviou para
nos falar (Hb 3) e... (Hb 4): “Temos, portanto, sumo sacerdote eminente, que
atravessou os céus: Jesus, o Filho de Deus. Permaneçamos, por isso, firmes na
profissão de fé. Com efeito, não temos sumo sacerdote incapaz de se compadecer
das nossas fraquezas, pois ele mesmo foi provado em tudo como nós, com exceção
do pecado. Aproximemo-nos, então, com segurança do trono da graça para
conseguirmos misericórdia e alcançaremos graça, como ajuda oportuna” (Hb
4,14-16). 3º) É nosso Sumo-sacerdote porque: “entrou por nós, como precursor,
penetrando além do véu, feito Sumo-sacerdote para o éon, segundo a ordem de
Melquisedec” (6,19-20).
Hb
7 ilustra o sacerdócio de Cristo à luz da figura de Melquisedec. A
superioridade do sacerdócio de Cristo nos faz entender porque o sacerdócio da
Lei está fadado a desaparecer. É o inferior diante do superior, é o ineficaz
quanto a levar à perfeição, enquanto o sacerdócio de Cristo é eficaz; depende
da geração carnal, enquanto o de Cristo é eterno.
Em
relação ao próprio santuário, enquanto a tenda que Moisés construiu era figura
do que lhe foi mostrado, o Santuário em que Cristo opera é a Tenda no céu. A
sua Aliança oferece graças melhores daquela estabelecida com a aspersão do
sangue dos bois e carneiros. É dada a remissão dos pecados. A Lei é impressa
nos corações. Os homens podem chegar ao conhecimento de Deus.
A
condição imperfeita do sacerdócio da Lei fica clara diante da primeira tenda,
onde são continuamente oferecidos sacrifícios sem eficácia. Cristo entrou no
Santuário do céu passando pelo véu do seu corpo, com o seu sangue e, diante de
Deus, intercede por nós. Ele é a vítima na qual o Pai se agrada e que Jesus oferece
ao entrar no mundo. Substitui as vítimas prescritas pela Lei.
Por
Ele, que nos mostrou o caminho da “alegria”, chegando a possuir a Glória da
Majestade (12,2) pela graça que Deus lhe concedeu de provar “a morte em favor
dos homens" (2,9), Deus nos revela a grande salvação que se realizou nos
“últimos tempos”. Temos que prestar ouvido Àquele que nos fala. Não permitamos
que os nossos corações fiquem endurecidos pela murmuração que o desânimo
poderia sugerir. Seríamos presa do pecado, perdendo qualquer condição de herdar
a “herança das promessas” que somente é alcançada pelos homens de fé que
perseveram no testemunho (6,12). O processo ascético é aquele de cultivar a fé,
viver a purificação dos pecados, viver o amor fraterno, nos estimulando à
caridade e às boas obras (10,22-25; cf. 13,21). Frequentemos as assembleias.
Estejamos atentos ao “dia que se aproxima” (ibid.).
(5) Conteúdo temático
O autor dessa carta escreve para ir
encontro de fiéis desanimados por causa de contínuas perseguições. Na condição de
quem tem consciência que chegou a agradar a Deus em tudo (13,18) e que,
portanto, é capaz de “degustar a doutrina da justiça” (5,13), quer participar a
sua reflexão pessoal às igrejas (13,22), para que sejam confortados. Dessa
forma, enquanto conseguem perseverar nas tribulações, serão capazes de se
nutrir de um alimento sólido que os levará a se libertar do fardo pesado do
desânimo e a escapar de cair no pecado da apostasia que os envolve (12,1). Já
foram iluminados, já sofreram tribulações, já socorreram os prisioneiros e os
despojados dos seus bens, aceitaram o despojamento dos bens sabendo que tinham
chegado a possuir bens melhores, o “reino inabalável” (6,10) . É para seguir
Jesus que diante da alegria que lhe era oferecida, desprezou a humilhação e entregou
a sua vida (12,2).
A forma válida para conseguir tudo
isso é a escuta de Deus que nos fala (12,25). Se o tivessem escutado os hebreus,
no deserto, teriam entrado no repouso prometido. Se o escutarmos, agora,
enquanto nos fala no Filho, continuaremos a ser a casa de Deus. Quando a sua
voz abalar terra e céu, nós permaneceremos porque teremos guardado a
“confiança e o motivo altaneiro da esperança” (3,6). Permaneceremos com aquilo
que é inabalável.
Edifiquemo-nos considerando a
importância do Filho, de condição divina, o adão que foi criado um pouco
inferior aos anjos e que, agora, vemos “coroado de honra e glória” por ter
chegado à perfeição pelo sofrimento. Realizou a nossa redenção, num supremo
gesto de amor.
Jesus é o nosso Sumo Sacerdote que
entrou no Templo do céu com o seu sangue e que, agora, sabe compadecer-se
conosco por ter sido tentado por primeiro. É o sacerdote de que precisávamos:
santo, puro e imaculado. O sacerdote da Antiga Aliança que oferece o sacrifício
de expiação por si e pelos outros é sua figura. “Nos dias de sua vida mortal,
ofereceu a Deus clamores e lágrimas para ser poupado da morte, e foi atendido
por causa da sua submissão” (5,7).
Não outorgou a si mesmo essa condição. Deus
o chamou como chamou Aarão, dizendo-lhe: “Tu és sacerdote para sempre, segundo a
ordem de Melquisedec” (Sl110). A sua condição sacerdotal se manifesta quando
entra no mundo (Sl 40). Substitui os sacrifícios de animais com a sua imolação,
aceita pelo Pai. É estabelecida uma Nova Aliança, que proporciona bens maiores:
o perdão das culpas e a condição de santificação pela observância dos
mandamentos de Cristo Jesus. A Lei não podia levar à perfeição a santificação
porque o sacerdócio que instituiu não era eficaz e nem o era o sangue das
vítimas. Cristo, na condição de sacerdote “santo, puro e imaculado”, se
ofereceu uma vez por todas e entrou no Templo do céu com o seu Sangue. O seu
sacerdócio supera o de Aarão e o sacerdócio levítico, porque é eficaz. Nele as
figuras se tornam realidade. A nossa vítima, agora, é aquela simbolizada pelas
carnes queimadas fora da cidade (13,11-12), as da vítima cujo sangue servia
para a aspersão. É Cristo que aceitou a vergonha . É ele que devemos seguir.
Não podemos deixar endurecer o nosso coração para evitar de sermos excluídos do
repouso prometido.
Temos muitas testemunhas que
inspiram a nossa fé. Elas foram perseverantes, embora não tenham chegado a ver
realizadas as promessas. Nós temos a visão de Cristo autor e realizador da fé.
Sejamos, portanto, perseverantes e testemunhemos até a efusão do sangue.
É Deus que nos educa enquanto
experimentamos as tribulações. Estamos vivendo a Aliança definitiva que nos
introduzirá na Cidade celeste, para vivermos a Liturgia dos anjos que adoram o
Deus dos espíritos, enquanto nós o celebraremos pelo culto a Cristo mediador da
Nova Aliança. Vivamos a purificação dos pecados até alcançarmos o amor
fraterno, cultivando a nossa fé pela Liturgia dominical, a castidade, o
espírito de pobreza, para nos enriquecermos com os valores eternos.
(6) A lógica da exposição
Jesus, “princípio e realizador da
nossa fé” (12,2), é a figura que o autor quer apresentar, ele que, diante da
glória que lhe era proposta, desprezou a vergonha. É o mais eloquente discurso
que Deus poderia fazer aos homens, porque ele é o Filho, o herdeiro, cuja
ressurreição revelou ser a Palavra criadora, o Resplendor da Glória e a Imagem
do Ser de Deus, Aquele que governa o universo. “Realizada a purificação dos
pecados, está sentado à direita da Majestade, tão superior aos anjos quanto o
nome que herdou excede o deles” (1,3).
O Sl 2 nos revela a
sua condição de Filho, gerado desde a eternidade. O Sl 45 proclama a sua
condição eterna. O Sl 102 no-lo mostra senhor do universo criado. O Sl 110 o
declara Sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedec.
Como negligenciar tão grande
salvação que Nosso Senhor Jesus começou a nos anunciar e que os Apóstolos
proclamaram no poder do Espírito Santo?
Jesus é o Filho porque nele se
realiza a profecia sobre o homem. Criado um pouco inferior aos anjos, pelo
sofrimento chega à perfeição. A sua imolação torna-se princípio da nossa
libertação da escravidão do Maligno. É dessa forma que, tendo-se em tudo
tornado igual a nós, exceto o pecado, por ter chegado à perfeição pelo
sofrimento, por ter-nos purificado dos nossos pecados, se tornou o nosso sumo
sacerdote que sabe compadecer-se com aqueles que sofrem a tentação, por ter ele
sofrido a tentação por primeiro.
Não podemos endurecer o nosso
coração, como fizeram os nossos ancestrais que saíram do Egito, porque não alcançaremos a pátria prometida.
O nosso Sumo Sacerdote é santo puro
e imaculado.
À semelhança do sumo sacerdote que
tem necessidade de orar para si, enquanto intercede pelo povo, Jesus, nos dias
da sua vida mortal, ofereceu clamores e súplicas para ser poupado da morte e
foi atendido por causa da sua piedade.
Torna-se necessária a perseverança
no testemunho para chegar a “degustar a doutrina da justiça” (5,13) e não cairmos na apostasia.
O sacerdócio de Cristo é superior ao
sacerdócio de Aarão, porque é segundo a ordem de Melquisedec. É eficaz
porque nos alcança a remissão dos pecados.
Temos, portanto, no céu, um Sumo
Sacerdote que lá entrou e intercede por nós.
Os sacerdotes oferecem muitas vezes
os mesmos sacrifícios. Mas eles somente alcançam a purificação legal.
Cristo entrou no santuário do céu
com o seu sangue, uma vez por todas e intercede por nós.
Sejamos, portanto, homens de fé que
alcançam, pela fidelidade e perseverança, a posse dos bens futuros, uma vez que
têm em si o argumento das coisas que ainda não veem. Temos exemplo disso nos
Patriarcas, em Abraão, em Moisés, nos Juízes, nos mártires.
Olhos fixos em Jesus, demos
testemunho da nossa fé até a efusão do sangue, caso se torne necessário.
Aspiremos à Cidade celeste, à Liturgia celeste, à comunhão com o Deus dos
espíritos, à vida em Cristo.
A nossa comunhão não é mais com as
vítimas do sacrifício do altar. A nossa vítima está fora da cidade. É da carne
de Jesus que lá foi morto que nos nutrimos (13,12).
(7) A forma da exposição
O Autor utiliza uma constante
comparação entre a figura e a sua atuação na pessoa de Jesus, fundamentado em
tudo aquilo que Deus revelou. Aos pais foi promulgada uma Lei por mãos de
anjos. Com eles, Deus selou uma Aliança pelo sangue de sacrifícios de animais
que Moisés mandou imolar. Constituiu Moisés como responsável do seu povo.
Chamou Aarão par ser sacerdote. Estabeleceu um culto no templo. A nós, Deus
falou diretamente pelo Filho que selou a definitiva aliança no seu sangue e se
tornou o Senhor da Igreja. Deus, por um juramento, o constituiu Sumo Sacerdote
segundo a ordem de Melquisedec, que entrou no Santuário do céu uma vez por
todas com o seu sangue. Todas essas verdades só são compreendidas por quem tem uma
fé adulta. Por isso é necessário, após a conversão, o batismo, a crisma e a
participação da Eucaristia não abandonar as assembleias dominicais para lá
ouvir a Palavra de Deus. É necessário se livrar de todo fardo e do pecado que
nos envolve, deixando de sermos faltosos, amargos, impuros, adúlteros e
apegados aos bens materiais; cultivando a fé, segundo os dons do Espírito;
perseverando nas tribulações até possuir uma esperança que não será confundida.
A quem pratica tudo isso é dado degustar a justiça de Deus e ser capaz de
discernir entre o bem e o mal.
Jesus é de condição divina. Pela sua
ressurreição foi constituído Filho de Deus com poder. É o Adão verdadeiro
levado à perfeição pelo sofrimento, que sabe socorrer os que são tentados. É o
nosso Sumo Sacerdote, misericordioso e fiel, constituído por Deus por um
juramento, e que entrou, uma vez por todas, no Santuário do céu.
Não podemos negligenciar tão grande
salvação. Somos chamados a sermos co-herdeiros com Cristo “se sofrermos com ele
para sermos glorificados com ele” (Rm 8,17). Olhos fixos em Jesus, autor e
realizador da fé, que desdenhou a vergonha, saiamos da Cidade terrena,
carregando a sua humilhação. A nossa herança são as carnes do Altar fora do
acampamento; o prêmio, o dos que chegaram à perfeição, será a Jerusalém celeste
situada no Alto Monte da Santidade de Deus.
(8)
Argumentação
O tema central contido na exortação a
perseverar no ardor inicial é assim anunciado: “temos tal sacerdote que se
assentou à direita do trono da Majestade nos céus. Ele é ministro do Santuário”
(8,1s). No prólogo se apresenta dessa forma: “A Sabedoria criadora que se fez
carne, depois de ter realizado a purificação dos pecados, sentou-se nas
alturas, à direita da Majestade” (1,2s). No fim da carta lemos: “O Deus da paz,
que fez subir dentre os mortos aquele que se tornou, pelo sangue de uma aliança
eterna, o grande Pastor das ovelhas, nosso Senhor Jesus, vos torne aptos a todo
bem” (13,20s). Encontramos o tema, também, quando o autor exorta a assumir
Cristo como Caminho vivo para entrar no Santuário (10,20), Jesus que sofreu a
Cruz e se assentou à direita da Majestade de Deus (12,2).
O Autor afirma que Deus nos fala por
ele, de forma definitiva, depois de ter falado muitas vezes aos pais pelos
profetas. Falou, outrora, chamando, propondo alianças, avançando promessas. Com
Jesus, o profeta de Nazaré, tudo volta a repetir-se de forma definitiva porque:
“Completou-se o tempo, o Reino de Deus está perto de se manifestar,
convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,14); com Jesus, Deus estabeleceu um
reino inabalável que nós somos chamados a herdar.
A salvação que “começou a ser
anunciada pelo Senhor e nos foi fielmente transmitida por aqueles que a
escutaram”, nos é anunciada do céu, nestes tempos que são os últimos, enquanto
contemplamos o filho sentado à direita da Majestade, na condição de nosso Sumo
Sacerdote, capaz de nos purificar dos nossos pecados com o seu sangue, com o
qual entrou, uma vez por todas, no Santuário que está no céu. Para que saibamos
responder com fé e perseverança até herdarmos com Cristo o Reino inabalável,
devemos “prestar atenção para não deixar de ouvir aquele que fala”,
particularmente nas celebrações dominicais quando participamos do altar da Cruz
de Jesus, onde está a verdadeira vítima, o autor e realizador da fé. Somente
então saberemos carregar a sua humilhação e sair da Cidade terrena, convencidos
de que procuramos a Cidade que está no céu. Aquele que pode nos confortar é
aquele que por primeiro foi tentado. Ele é até o Caminho vivo porque também ele
chegou à perfeição pelo sofrimento. Por ele podemos chegar à perfeição,
condição única para sermos herdeiros das promessas (12, 23; 6,12). A figura do
Filho eternamente perfeito que se tornou o nosso Sumo Sacerdote, capaz de
interceder por nós nas suas relações com Deus, além de apresentar a sua
perfeição como modelo e a sua função mediadora, é altamente motivadora para nos
determinarmos a correr ao combate que nos é proposto e para nos livrar de todo
fardo e do pecado que nos envolve. Chegamos a degustar a doutrina da justiça e
a experimentar em nós o testemunho do Espírito como aconteceu aos homens de fé.
Neles está o conhecimento das coisas que não se veem, porque as possuem por uma
esperança que não pode ser confundida e que argumenta neles o que ainda há de
manifestar-se.
O Sacerdócio de Cristo deve ser
contemplado a partir da Cruz, o altar da carne da vítima sacrificada, queimada
fora do acampamento. Pelo seu sacrifício, Cristo alcançou a purificação dos
pecados dos seus irmãos e entrou no Santuário do céu como precursor.
Glorificado pela ressurreição, foi abertamente manifestado Filho de Deus com
poder, porque Deus o fez sentar à sua direita. O seu Sangue é mais eloquente
que o de Abel.
(9) Resumo
Temos, no céu, um Sumo sacerdote,
Jesus que, realizada a redenção, entrou, uma vez por todas, no Santuário, com o
seu Sangue. Ele é o Adão verdadeiro, levado à perfeição pelo sofrimento, capaz
de consolar os que sofrem. É o Filho, o herdeiro, criador de tudo, Resplendor
da Glória e Imagem do seu ser.
O mesmo Deus que já falou aos pais,
nos profetas, nos últimos tempos, que são os nossos, nos falou nele.
Não negligenciemos tão grande
salvação que o Senhor nos anunciou por primeiro e que os Apóstolos nos
transmitiram, acompanhados por sinais, prodígios e milagres, que o Espírito
Santo por eles operava.
Devemos prestar atenção Àquele que
nos fala. Os que, no deserto não deram ouvidos à voz de Deus, não obstante as
obras que realizou, morreram sem ter visto a terra prometida. Nós seremos
consumidos por Deus, que é um fogo abrasador, se não escutarmos Aquele que nos
fala do céu, que vai fazer desaparecer o que não é eterno, enquanto fará
subsistir o Reino inabalável do Filho. Ele constituiu “nosso Senhor Jesus o
grande Pastor das ovelhas, capaz de nos tornar aptos a todo bem (13,20s).
Iluminados, batizados, crismados, nutridos pela Palavra, procuremos
degustar a justiça e ser capazes de discernir entre o bem e o mal. Se
decairmos, estamos arriscados a crucificar novamente a Jesus Cristo, nos
tornando merecedores da maldição. Quem já deu prova de caridade e
desprendimento procure segurar a recompensa que Deus, na sua justiça, quer dar.
Mas precisa perseverar na fé para ser herdeiro da promessa. Isto é possível
quando fixamos os nossos olhos em Jesus que suportou a cruz para entrar na
glória. Nos anima o testemunho de uma nuvem de santos que nos envolve.
Para entrar na Cidade, a nova
Jerusalém, devemos nos tornar homens de fé que chegam à perfeição pela
constância, até se abrir à esperança inabalável, a ponto de viver em contínua
ação de graças por saber que estamos entre o número dos eleitos. Para isso,
torna-se necessário, em primeiro lugar, frequentar as assembleias dominicais,
ao longo das quais, a Palavra nos nutre abundantemente, chegando a fazer-nos degustar
a doutrina da justiça, o alimento sólido dos que vivem a fé na esperança das
promessas que o Deus fiel nos faz.
Quando esmorecemos diante do Dia do
Senhor que tarda a chegar, nos tornamos lentos na compreensão, não sabemos mais
discernir entre o bem e o mal, a ponto de nos esquecermos que até chegamos a
renunciar com alegria a tudo o que possuíamos, certos de ter chegado a possuir bens
melhores. Esmorecendo, voltamos a desejar o que é
mal para nós, arriscados a calcar sob os pés o Filho de Deus e a profanar o Espírito
da graça.
Lembremos dos homens de fé que
perseveraram no testemunho, na esperança de entrar na cidade de Deus.
Envolvidos pelo seu testemunho, não titubeemos em seguir Jesus que assumiu a
Cruz. Vivamos a purificação dos pecados, animados pelo exemplo dos que
resistiram até o sangue.
Deus nos castiga da forma que um pai
castiga o filho para educá-lo. O faz na condição de quem educa à santidade,
como Pai dos espíritos chamados à perfeição.
Lutemos contra o pecado evitando sermos
faltosos, amargos, impuros, adúlteros e gananciosos, uma vez que nos aproximamos do Monte
Sião, da Cidade Jerusalém, de miríades de anjos, dos justos cujos nomes estão
inscritos no céu, de Jesus Mediador de uma Nova aliança. Tenhamos consciência
da nova realidade e abracemos o Reino inabalável que Deus nos oferece nestes
últimos tempos, pelo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo que o Pai ressuscitou e
fez sentar-se à sua direita.
(10) Chave de leitura
Pela própria declaração final do
Autor da Carta aos Hebreus, estamos diante de uma exortação dirigida a uma
comunidade cristã para que persevere no “primeiro ardor”. O argumento que o
autor utiliza é a figura de Jesus, o Senhor da Igreja, que está sentado à
direita da Majestade e que entrou no céu como Sumo-sacerdote, na condição de
nosso precursor. Porque Filho, que Deus glorificou, ele nos tornou herdeiros consigo
do mundo futuro, embora tenhamos que “sofrer com ele para sermos glorificados
com ele”. Contemplemos este “Filho eternamente perfeito” que “sentou-se à
direita da Majestade, feito superior aos anjos quanto o Nome que herdou excede
o deles. Nosso Senhor Jesus, de condição divina, porque é a Sabedoria criadora,
é o Filho que o Pai glorificou, o Rei-Sacerdote que Deus consagrou com um juramento,
a quem submeteu todos os reis da terra. Ele sabe socorrer os que são tentados
porque foi tentado por primeiro. Deus o levou à perfeição pelo sofrimento.
Constituído em nosso favor nas relações com Deus, sabe compadecer-se das nossas
fraquezas porque nos dias de sua vida mortal, entre clamores e lágrimas pediu a
Deus que fosse poupado da morte, e foi atendido por causa da sua piedade (5,5)
(Quando tivermos que resistir até o derramamento do sangue na luta contra o
pecado, lembremo-nos de que Deus ressuscitou dos mortos o Grande Pastor das
almas, nosso Senhor Jesus -13,20). Foi constituído nosso Sumo sacerdote quando
Deus o ressuscitou dos mortos: “Tu és meu Filho, eu Hoje te gerei” (Sl 2,7). Por
um juramento o tornou “sacerdote segundo a ordem de Melquesedec” (Sl 110,4),
Aquele que fez sentar à sua direita (ibid.). O seu sacerdócio é superior ao do
sumo sacerdote que a cada ano se purifica pelos ritos de purificação na tenda e
pelo sangue de carneiros, para depois entrar no santuário para purificar o que está
no santo dos santos. Jesus, não tendo necessidade de nenhuma purificação,
aboliu a tenda e, após ter realizado o sacrifício para a remissão dos pecados,
uma vez por todas, entrou no Santuário do Céu, com o seu sangue. Lá está como
nosso Mediador e, continuamente, nos purifica dos nossos pecados.
Mantenhamos o ardor da caridade
lutando até o sangue contra o pecado. Consideremos as provações como castigos
que o Pai dos espíritos nos envia para nos comunicar a sua santidade que, em
nós, se manifesta em frutos de paz e de justiça. Seja nosso modelo a nuvem de
testemunhas que nos envolvem.
Para evitar que nos tornemos lentos
na compreensão, escutemos a Palavra nas assembleias dominicais. Com os olhos
fixos em Jesus que abraçou a Cruz, sigamo-lo, carregando a sua humilhação,
saindo fora do acampamento, onde está o altar com as carnes da verdadeira
vítima. Dessa forma, o nosso coração não endurecerá, evitaremos decair e
abandonar tudo, com o risco de sermos amaldiçoados; nossa fé não esmorecerá e
herdaremos a salvação. A dignidade de Nosso Senhor Jesus Cristo e a grandeza da
recompensa que nos foi prometida devem ser a nossa motivação para não
esmorecer.
“Assim, meus santos irmãos e
companheiros da vocação celeste, considerai atentamente Jesus, o apóstolo e
sumo sacerdote da nossa profissão de fé” (3,1).Os irmãos e companheiros são os
“filhos de Abraão” pelos quais o Filho veio. Estamos diante de uma perspectiva
judaica. A “vocação celeste” é descrita em Hb 13,14 “estamos à procura da
cidade que está para vir”: “Vós vos aproximastes do monte Sião e da Cidade do
Deus vivo, a Jerusalém celeste e de milhões de anjos reunidos em festa, e da
assembléia dos primogênitos cujos nomes estão inscritos nos céus, e de Deus, o
Juiz de todos, e dos espíritos dos justos que chegaram à perfeição, e de
Jesus, mediador de nova aliança, e do sangue da aspersão mais eloqüente que o
de Abel” (12,22-24). “Jesus, o “apóstolo” é o Filho que depois de ter realizado
a purificação dos pecados, sentou-se nas alturas, à direita da Majestade”
(1,3), e que, na condição de Senhor, começou a nos anunciar “tão grande
salvação” (2,3).
Jesus, o “Sumo sacerdote”, é o mesmo Filho que tendo expiado os nossos
pecados “tendo ele mesmo sofrido pela provação, é capaz de socorrer os que são
provados” (2,18). No desânimo, tentados em desistir, “saiamos ao encontro de
Jesus, fora do acampamento, carregando a sua humilhação” (13,13), “olhos fixos
naquele que é o autor e realizador da fé, Jesus, que, em vez da alegria que lhe
foi proposta, sofreu a cruz, desprezando a vergonha, e se sentou à direita do
trono de Deus” (12,2).
O autor está preocupado com uma
comunidade que está para se entregar, tomada pelo desânimo. Por isso se
aproxima dela mediante uma carta para confortar os seus irmãos na fé (13,22).
Acha que uma comunidade de judeu-cristãos poderia se animar diante da figura de
Jesus que, realizada a redenção, entrou no céu com o seu Sangue, na condição de
Sumo Sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec (6,19). Aquele que
realiza a figura da Antiga Aliança é o Cristo de Deus, que realiza em si a
condição de Filho que o Pai gerou, “Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus
verdadeiro”. Ele é, também, o herdeiro por quem podemos participar do poder que
a ele o Pai entregou, a partir do poder pelo qual venceu o Maligno, até chegar
a sentar com ele no trono do Pai. É um caminho que necessita de constância,
virtude pela qual entendemos que os sofrimentos por causa da nossa fé são uma
condição de participar da Paixão de Cristo e experimentar, como ele, a alegria
do Espírito.
Para isso, é necessário que nos
alimentemos com a doutrina da justiça, que adquirimos somente pela reflexão
dominical. Esse foi o conselho que Paulo deu aos Romanos e que João dará no
início do Apocalipse: “Bem-aventurado aquele que lê, os que ouvem e guardam no
seu coração a palavra da Profecia” (1,3). Por ela o Espírito dá testemunho de
Jesus” (Ap 19,10).
A palavra de exortação do autor tem
como tema de maior importância o Filho que do Pai recebeu todo poder (é
evidente que o foi por ter abraçado a Cruz, desprezando a vergonha, enquanto
visava a “alegria” do Espírito). Por tudo aquilo que nos ensinou e os Apóstolos
nos transmitiram, pela fé que a pregação no Espírito suscitou em nós, nos
tornamos herdeiros do Reino inabalável, que será nosso se perseverarmos no
testemunho.
Não endureçamos os nossos corações
para não sermos excluídos do repouso prometido. Não se trata da terra que Josué
conquistou, mas da nossa participação no repouso de Deus.
No Dia do Senhor, reunida em assembléia,
uma comunidade composta eminentemente de judeu-cristãos, ouve a proclamação da
carta de um cooperador de Timóteo, que está na Itália, mas que deseja, quanto
antes voltar até eles. À semelhança daquilo que fez Paulo quando escreveu a sua
carta aos Romanos, enquanto esperava poder se encontrar com eles, o autor da
carta aos Hebreus declara que as suas são palavras de exortação, no intuito de
se edificar com os membros da comunidade. Ele o faz, contudo, com a consciência
de estar vivendo a sua fé, segundo todas as suas exigências. Isto possibilita
que, em espírito de discernimento, possa sugerir o caminho do bem, enquanto
está em condições de “degustar a doutrina da justiça”, condição que fica
perdida para aqueles que se deixam levar pelo desânimo. Preocupado com a
situação de desânimo em que se encontra a comunidade à qual escreve, movido
pela responsabilidade de quem foi chamado a dar continuidade ao trabalho dos
Apóstolos, sabe, à semelhança de Paulo,que, todavia, pode colher algum fruto
com a sua reflexão.
Convida os seus companheiros a se
porem diante do Deus de Israel, o Deus que falou aos patriarcas. Estes nele
creram e ele se revelou um Deus fiel e,
em Jesus Cristo, se revelou um Deus da Paz, ressuscitando-o e
constituindo-o Pastor das almas, glorificando-o e fazendo-o sentar à sua
direita; ele, que é o herdeiro, com quem, portanto, seremos co-herdeiros de um
Reino inabalável. A sua condição é divina, porque é o Criador de tudo,
Resplendor da Glória e Imagem do Ser de Deus.
Pelas Escrituras é possível ilustrar
a sua condição messiânico-divina: é a realização da figura do Rei, o filho de
Deus, que tudo cria e que permanece eternamente. É o Rei-Pastor, aquele que o
Pai fez sentar-se à sua direita e a quem declarou, por um juramento, Sumo sacerdote
para sempre, realizando nele a figura do Sumo sacerdote, que supera em tudo, porque
ele o é segundo a condição do rei Melquisedec.
Contra os perigos do desânimo, que
poderia levar à apostasia, temos que reagir fortalecendo a nossa fé pelo
alimento sólido que a “doutrina da justiça” pode nos oferecer. Quando fomos
iluminados, nos determinamos a viver a purificação dos pecados, a viver na
esperança do Dia do Senhor. Agora, diante das perseguições, devemos perseverar no
testemunho, para a salvação das nossas almas.
Isto deve ser feito considerando
Jesus, na condição de Filho: o homem que vemos coroado de honra e glória. Deus
lhe concedeu a graça de oferecer a sua vida em sacrifício, o que redundou em
glória para ele e em libertação do Maligno para nós. Nele temos o Filho, Sumo
Sacerdote que pode nos consolar na tentação, tendo-a ele sofrido, por primeiro.
Devem nos inspirar os homens de fé
dos quais falam as Escrituras. Sobretudo, deve nos inspirar Jesus que optou pela
ignomínia da cruz.
Lembremos que Deus castiga aqueles
que ama.
Corajosamente, saiamos da Tenda,
porque Aquele que entrou no Santuário do céu é aquele para o qual a carne do
sacrifício dos animais, cujo sangue serviu para a aspersão, aponta como
verdadeira vítima. É de um novo altar de que devemos participar. Não aspiramos
mais por uma cidade terrena. Procuramos o Santuário da Cidade celeste, onde
está Cristo, Mediador da Nova Aliança com o verdadeiro sangue da aspersão,
“mais eloquente que o de Abel” (12,24).
Momentos em que é lembrado o tema mais importante da carta:
“Depois de ter realizado a
purificação dos pecados, sentou-se nas alturas à direita da Majestade” (1,3b).
Trata-se do Filho, o Herdeiro, a Palavra criadora, Resplendor de sua Glória,
Imagem do seu Ser, Providência. O termo messiânico “Filho” é ilustrado pelo Sl
2; 97; 45; 102; 110. É o Herdeiro de um Reino inabalável. Cl 1,15 ilustra a sua
condição de Criador. Sb 7,22 fala dos títulos de Resplendor, Imagem da
Substância de Deus, a ele atribuídos.
“Convinha, por isso, que em tudo se
tornasse semelhante aos irmãos, para ser, em relação a Deus, sumo sacerdote
misericordioso e fiel, para expiar assim os pecados do povo” (2,17). Nele se
realiza a condição ideal do filho de homem (Sl 8), sublimada pelo sofrimento.
Por ele, os homens são libertados do Maligno e da Morte.
“Temos, portanto, sumo sacerdote
eminente, que atravessou os céus: Jesus, o Filho de Deus” (4,14). Excede em
dignidade o sumo sacerdote, porque é capaz de se compadecer. Por ele podemos
conseguir a graça de que precisamos no tempo oportuno. (v.16).
“Todo sumo sacerdote, tirado do meio
dos homens é constituído em favor dos homens em suas relações com Deus. Sua
função é oferecer dons e sacrifícios pelos pecados. É capaz de ter compreensão
por aqueles que ignoram e erram, porque ele mesmo está cercado de fraqueza.
Pelo que deve oferecer sacrifícios tanto pelos pecados do povo quanto pelos
seus próprios” (5, 1-3). O sumo sacerdote da Antiga Aliança é figura de Jesus,
sacerdote eminente.
“Cristo recebeu a glória de
tornar-se sumo sacerdote daquele que lhe disse: “Tu és meu Filho, hoje te
gerei”, conforme diz em outra passagem: “Tu és sacerdote para sempre, segundo a
ordem de Melquisedeque”. É Filho em virtude da sua submissão, no sofrimento.
Levado à perfeição se tornou princípio de salvação eterna, na condição de Sumo
Sacerdote (5,5-10).
Hb 7 ilustra a natureza do sacerdócio de Cristo.
É superior ao sacerdócio de Aarão
porque, como diz o Sl 2 é “segundo a ordem de Melquisedec”. A este, Abraão pagou
o tributo. Com a vinda do sacerdócio de Cristo, o de Aarão acaba superado. O de
Cristo é um sacerdócio eterno e eficaz. Pela sua morte, Jesus entra no
santuário do céu uma vez por todas. A aspersão do seu sangue purifica dos
pecados. Por isso é princípio de uma esperança melhor. Trata-se de uma Aliança superior
à de Moisés no Monte Sinai. “A palavra do juramento, posterior à Lei,
estabeleceu o Filho, tornado perfeito para sempre”.
“Temos tal sacerdote” (8,1): 1º) é o Rei-messias, o Filho, a quem Deus, por
juramento, chamou ao sacerdócio, segundo a ordem do rei Melquisedec; 2º) seu
sacerdócio é para sempre;3º) o glorifica; 4º) é eficaz. Investido com todo
poder divino, é ministro do Santuário do céu, onde intercede por nós.
Em Jesus se realiza a figura da
tenda com os seus sacerdotes que, segundo a Lei, oferecem o que é prescrito. É
superior a Moisés que estabeleceu uma aliança com a aspersão do sangue dos
animais. A aspersão, agora, dá-se com o seu Sangue. O efeito é de frutos
melhores, como profetizou Jeremias :Deus inscreve agora nos corações as suas
leis. Nos fiéis há um princípio de conhecimento, fruto da misericórdia divina.
(11) Intuito da Carta
O Autor quer
animar companheiros da vocação celestial para que perseverem. Devem
resistir até o sangue, na luta contra o pecado. A sua fé deve ser como a das
inúmeras testemunhas da História de Israel. Considerem as provações um castigo
corretivo de Deus que quer comunicar-lhes a santidade, tornando-os capazes de
frutos de paz e de justiça. Portanto, para se despojarem de todo fardo e do
apego ao pecado, evitem ser faltosos, serem amargos, impuros. Pratiquem a
hospitalidade, assistam os prisioneiros, vivam uma vida matrimonial casta,
evitem a idolatria do ouro. Isto os fará voltar ao ardor inicial, de forma que
não serão tomados pelo desânimo diante das perseguições da Sinagoga. Para isto,
é necessário frequentar pontualmente as assembleias, para se animar pela escuta
da Palavra, interpretada em espírito de sabedoria e revelação, e celebrada com
salmos, hinos e cânticos espirituais. Será possível entender, então, a grandeza
do chamado, qual é a riqueza da glória reservada aos santos, o poder que Deus
manifestou em Jesus Cristo ao ressuscitá-lo dos mortos e ao fazê-lo sentar à
sua direita nos mais alto dos céus e ao torná-lo Senhor da Igreja, enchendo
tudo com a sua Plenitude.
O autor escreve
para que os fiéis não caiam no desânimo, cansados de tantas tribulações
(escárnios, prisões, confisco de bens). Considerem os bens melhores nos quais
acreditaram e procurem conquistá-los pela perseverança (10,32-39). Para isso, o
autor propõe a contemplação do Desígnio que Deus realizou em Cristo. As
considerações morais estão entrelaçadas com as reflexões teológicas que as
motivam.
Jesus é o homem
que Deus, segundo determinação de sua vontade, quis levar à perfeição pelo
sofrimento. Quis, também, que, pela efusão do seu sangue, fôssemos libertados
da escravidão do Maligno e da morte eterna.
O Sumo
Sacerdote da Antiga Aliança é a sua figura. De fato, Jesus é um membro da
estirpe humana e oferece o sacrifício pelos pecados. Ofereceu-se, sem pecado,
para alcançar a sua glorificação e a liberdade definitiva da morte, superada
toda tentação.
O seu
sacerdócio é superior ao de Aarão. Podemos argumentar essa afirmação pela
figura de Melquisedec. Enquanto Abrão oferece o dízimo de tudo, revela que a
Lei é inferior àquele que, por um juramento, foi constituído Sacerdote para
sempre, segundo a ordem de Melquisedec. Enquanto Deus determina um novo
sacerdócio segundo uma nova Lei, devemos dizer que o sacerdócio de Aarão era
provisório.
De fato, Jesus
é superior ao Sumo Sacerdote porque não precisa oferecer sacrifícios para se
purificar e porque o seu sacerdócio dura eternamente.
Ele é o Sumo
Sacerdote de que precisávamos, santo, inocente, imaculado, separado dos
pecadores. Ofereceu-se uma vez por todas, “o Filho, tornado perfeito para
sempre” (7,28).
O Autor quis escrever uma exortação
no intuito de levar os fiéis a uma fé perfeita, pela perseverança: “Pelo que
importa observemos tanto mais cuidadosamente os ensinamentos que ouvimos para
que não nos transviemos” (2,1). Os ensinamentos que o Senhor nos anunciou por
primeiro dizem respeito “à purificação dos pecados” (1Jo 1; 2Pd 1.5-10; 1Jo 3).
Sem esse exercício poderíamos nos tornar lentos na compreensão, coisa que não
acontece aos que unem à fé a perseverança, tornando-se , dessa forma, herdeiros
da promessa. Isso acontece para aqueles que não abandonam as assembléias
dominicais, ao longo das quais os fiéis se alimentam de um alimento sólido,
porque não deixam de “degustar a doutrina da justiça” (5,13), que os torna
possuidores de um “senso moral exercitado para discernir o bem e o mal” (v.14).
Os que, vencidos pelo desânimo, não juntam à fé, à virtude, e ao autodomínio a
perseverança, e à perseverança a piedade, estão arriscados a voltar ao pecado,
voltando a dominar neles a iniquidade e, com isso, a não mais ver e conhecer a
Deus (1Jo 3). Para evitar esse perigo devemos continuamente motivar a nossa
confiança em Deus que é fiel, até tornar a nossa esperança inabalável. Temos
que pensar, também, que os nossos ancestrais, no deserto, eram prontamente
punidos quando transgrediam a Palavra promulgada por anjos. Qual não será a
nossa punição se “negligenciarmos tão grande salvação que começou a ser
anunciada pelo Senhor e que nos foi transmitida pelos Apóstolos”? Os nossos ancestrais,
ao longo da sua peregrinação nos deserto, deixaram endurecer o seu coração,
enquanto eram provados, para o seu bem (12,5-11). Murmuraram e se rebelaram, a
ponto de provocar a ira do Senhor que jurou que não entrariam na terra
prometida. Foram excluídos não obstante fossem membros do mesmo povo que Deus
libertara. Nós, também, seremos excluídos se mostrarmos a mesma indocilidade,
não obstante sejamos companheiros de Jesus Cristo, se não formos perseverantes
na fé.
A fé é nutrida pela palavra de Deus.
Temos que continuamente prestar ouvido à voz dele (Cl 3,16; Ap 1,3.10) que nos
fala, do céu, pelo Filho. Aos nossos pais falou um discurso terreno,
constituído somente de figuras.
No Apocalipse, o Filho fala
diretamente e mostra a sua condição gloriosa para que os fiéis vivam à altura
do primeiro amor ou se convertam, condição para serem reconhecidos por Ele
diante do Pai. Em Hb o discurso de Deus é Jesus Cristo com a sua obra,
sintetizada na figura do Sumo Sacerdote que, realizada a purificação dos
pecados, sentou-se à direita da Grandeza, feito tão superior aos anjos quanto o
nome que herdou excede o deles. Vemos que o discurso dos dois autores é similar
e que tem o mesmo intuito, qual é aquele de exortar para levar à perfeição a fé
de tal forma que ninguém renegue o nome de Cristo e, surpreendido pelo Dia do
Senhor, como por um ladrão, seja excluído do Reino.
Para o Autor de Hebreus, Jesus
Cristo é Aquele que para Paulo era o Mistério de Deus, isto é a Revelação pela
qual Deus fala aos homens. De início, o chama com o mesmo título que
encontramos em Cl 1,13: “o Filho”. Ao
comentar a sua condição divina, ambos apresentam dele as mesmas características:
Imagem de Deus e Criador. Em relação à sua ação messiânica enumeram as mesmas
obras: estabelece o Reino, opera a redenção. A originalidade de Hebreus é de
ver a Pessoa divino-messiânica de Jesus na condição de sacerdote. Toma a figura
do sumo sacerdote que exercia as suas funções no templo para definir a função
sacerdotal de Jesus, enquanto é Pessoa divina que, pela Encarnação, assume a
natureza humana. Pela comparação, apresenta a superioridade do sacerdócio de
Jesus que ilustra com a figura do rei Melquisedec.
A visão de Hebreus contribui para
compreender mais profundamente a ligação dos homens com Deus, por Jesus Cristo.
Aquele que, pela Encarnação, acaba sendo chamado de Filho e, segundo esse
título é comentado na sua relação com Deus Pai, na Vida Trinitária, na condição
de Filho do Homem é a Pessoa divina do Homem Cristo Jesus que se ofereceu em
resgate de todos nós, de forma eficaz. Tendo entrado no Santuário do Templo que
está no céu, com o seu Sangue, realizada a redenção pelo sacrifício da sua
vida, uma vez por todas, intercede por nós. A sua intercessão consiste na sua
ação como Princípio e Realizador da nossa salvação. Isto, porque foi levado à
perfeição pelo sofrimento e pela sua Morte destruiu o dominador da morte,
libertando-nos da morte eterna. Isto, porque, também, se tornou o Caminho, vivo
e novo que percorremos na caridade, nos renovando na piedade (10,20-24).
12) Destinatários
Os que já receberam o dom do
Espírito e, por ele “experimentaram a beleza da Palavra de Deus” (6,5), devem
avançar para uma perfeição adulta, para degustar a doutrina da justiça (5,13; cf.
1Jo 3). Quem decai se torna uma terra que produz “espinhos e abrolhos” (6,8),
perto da maldição. Devemos ser imitadores daqueles que pela fé e pela
perseverança, recebem a herança da promessa, demonstrando o mesmo ardor em
levar até o fim o pleno desenvolvimento da esperança, evitando ser lentos à
compreensão. Deixamos tudo para conseguir a esperança proposta. Nela devemos
nos agarrar, fundamentados sobre o juramento de Deus.
Pelo grande número de informações que
o autor da Carta nos oferece, podemos dizer que os destinatários são cristãos
de origem judaica: como o Autor da Carta, são também descendentes dos que
ouviram a Voz de Deus pelos profetas; sabem distinguir entre o tempo da espera
e o tempo da realização, os "últimos dias"; estão familiarizados com
as Escrituras; são capazes de captar a superioridade de Jesus em relação aos
profetas, porque Jesus é o Filho, enquanto os profetas são servos; capazes de
ver como a Aliança antiga anunciada por anjos, é inferior à nova Aliança
estabelecida por Jesus, pela sua Morte de Cruz. Basta dizer que os que servem à
Tenda, não podem participar do nosso altar, porque nós comemos das carnes da
vítima que saiu do acampamento, daquele que, desprezando a vergonha de ser rejeitado
pelo Sinédrio e ser crucificado, conquistou a glorificação à direita da
Majestade. Não devemos ter apego à Cidade terrena, com seus ritos legais, que
Jesus Cristo, na condição de verdadeiro Sumo Sacerdote que entrou no Céu com o
seu Sangue, tornou caducos. Jesus entrou no céu passando pelo véu da sua
humanidade. Por ter chegado à perfeição pelo sofrimento, Deus o fez ressurgir
dos mortos e sentar à sua Direita. Jesus é o Filho eternamente perfeito (Sl
2,7) constituído nosso Sumo Sacerdote por um juramento (Sl 110,4).
Os destinatários dessa Carta são,
principalmente, comunidades constituídas por judeus que se converteram.
Poderíamos até especificar que entre eles há membros da tribo de Levi e da
família sacerdotal de Aarão. Gente que tudo perdeu, ao perder a função de
servidores do templo, único sustento para a tribo que não tinha herdado nenhuma
terra ao longo da conquista. A esses santos, companheiros da vocação celestial,
o Autor, que também é sacerdote, explica que, agora, têm um Sumo Sacerdote que
entrou no céu, o Filho, o Herdeiro, com quem herdarão o Reino inabalável. Por
ele, o Deus de Israel que já falara aos pais, nos profetas, agora lhes fala,
contemplado na sua condição suprema de quem, Unigênito Deus, está sentado à
direita da Grandeza da Glória, superior aos anjos, que se tornaram meros
servidores seus, aguardando que tudo seja posto debaixo de seus pés.
13) Conteúdo das palavras de exortação
Na
Carta aos Hebreus, distinguimos entre o conteúdo das palavras de exortação e a argumentação
acerca da natureza do sacerdócio de Cristo. A ideia central da exortação é
incutir nos interlocutores que Deus, nos últimos tempos que são os nossos, está
nos falando pelo Filho, isto é, por Jesus, que se apresentou como servo,
profeta do Deus de Israel, mas que, a sua ressurreição revelou o Filho do Homem
que o Pai fez sentar à sua direita no trono da majestade. Por estarmos vivendo
o Tempo do Fim, aquilo que foi anunciado em figuras, por Cristo e em Cristo se
realizou. O fundamento da sua superioridade é a sua Condição Divina: Criador,
Sabedoria resplendor da Glória, Expressão do Ser. Na condição de Filho do Homem
glorificado é o Herdeiro com o qual, pela fé e pela perseverança, nos
tornaremos coerdeiros do mundo futuro. Jesus chegou a essa condição por ter
sido levado à perfeição pelo sofrimento (nele se realizou o verdadeiro Adão).
Pelo seu sangue derramado realizou a purificação dos pecados, estabelecendo uma
Aliança definitiva. No momento da sua ressurreição e entronização, foi chamado,
por um juramento, ao sacerdócio, como Aarão. Tendo entrado no céu com seu
próprio sangue, depois de ter oferecido o único sacrifício no qual o Pai se
agrada, intercede por nós no céu. Ele sabe, também, compadecer-se daqueles que
são tentados.
Não podemos negligenciar tão grande
salvação anunciada pelo Filho do Homem, seja antes de se manifestar na condição
de Senhor, seja depois, quando foi fielmente transmitida por aqueles que a
escutaram, acompanhando Deus a sua pregação com prodígios, milagres e dons do Espírito.
No deserto os nossos pais receberam o castigo por não ter ouvido a Voz de Deus.
Nós não entraremos no repouso de Deus se não cuidarmos ouvir Aquele que nos
fala.
De fato, escutamos a Palavra quando
nos convertemos, somos batizados, crismados e participamos das assembléias
dominicais, degustando então da Palavra. Mas é preciso perseverar até nos
desfazermos de todo fardo e do pecado que nos envolve: faltas, amargura,
impureza, adultério, idolatria do ouro. Se for necessário, devemos dar
testemunho até o sangue na luta contra o pecado. Já visitamos prisioneiros e
fomos aprisionados por causa da fé, aceitamos perder os nossos bens sabendo que,
desde já estamos de posse de bens maiores. Não percamos a segurança diante da
grande recompensa que nos foi prometida. Anima-nos a figura de Jesus
Crucificado que desprezou a vergonha. Ele nos propiciou as suas carnes imoladas
que somente os que saem da Cidade terrena podem comer, embora isto implique a
humilhação da Cruz. Jesus é o nosso caminho vivo (10,20).
Anima-nos
uma nuvem de testemunhas ao nosso redor. Eles nos mostram que é somente pela
perseverança que chegaremos a uma esperança inabalável das realidades futuras.
Quando o procuramos, então, Deus infunde em nós o seu testemunho, como fez com
Abel, Enoc, Noé, Abraão, Moisés que viram de longe o dia do Senhor e se
alegraram. Nós, pelo contrário, nos aproximamos do Monte de Sião, a Cidade
santa, a Nova Jerusalém, das miríades de anjos, do coro dos justos, de Jesus, o
Justo Juiz, o Mediador de uma Nova Aliança que glorifica os seus mártires (cf.
2Tm 4,8).
(14) O combate contra o pecado
O combate contra o pecado é o
exercício que a catequese apostólica propõe para que a vida possa sempre mais
se desenvolver. Depois de iluminados, os fiéis, além de viverem a caridade,
devem desenvolver no espírito de entendimento para que possam conhecer, em
espírito de discernimento, qual é a vontade de Deus. O cumprimento da vontade
de Deus deve ser marcado pela constância, até abrir-se a uma esperança que não
será confundida. Isto os tornará aptos para toda boa obra que realizarão no
Poder da Glória, vivendo a vida da Paixão de Cristo, quando surgirem as
tribulações, na mansidão e na longanimidade, o que lhes permitirá oferecer a
Deus o seu sacrifício de louvor.
A carta é dirigida a “santos irmãos
e companheiros da vocação celestial” (3,1), à procura da “cidade que está por
vir” (13,14), no Dia que se aproxima (10,25): o que revela o pensamento que
ditou a carta. Quer exortar a “saborear a doutrina da justiça” (5,13),
como homens de fé que, “pela perseverança, recebem a herança das promessas”
(6,12). Abraão e a sua descendência, pela fé, mereceram ver a cidade que Deus
prometera e que eles saudaram de longe (11,10.16). Israel celebrou a sua
aliança com Deus, no Monte Sinai, mas pediu a Moisés que fosse o intermediário
das palavras de Deus. Nós somos os que “se aproximaram do Monte Sião, onde está
a Cidade do grande Deus, a Jerusalém celestial, o Santuário onde é celebrada a
liturgia por milhões de anjos, estão os primogênitos marcados na fronte com o
sinal de Deus, porque lá está o Juiz de todos e dos espíritos dos justos que
chegaram à perfeição; onde está Jesus, o Mediador da Nova Aliança, no seu
sangue que fala mais alto que o de Abel” (12,22-24). Se grande foi a graça que
“os nossos pais receberam”, por terem ouvido a voz de Deus quando lhes falava
pelos profetas, muito maior é a nossa, porque Deus nos falou pelo Filho. O
autor da carta admoesta recordando o castigo que irá atingir os que, à
semelhança de Israel no deserto, não perseveram na escuta da voz de Deus. Tomados
pelo desânimo, abandonam a assembleia dominical, tão necessária para ser
nutridos pela Palavra de Deus (Cl 3,16), tornando-se, dessa forma, “lentos à
compreensão (5,11), a ponto de voltar ao pecado, abandonando a ‘purificação dos
pecados’ (2Pd 1,5-10), “profanando o sangue da aliança no qual foram
santificados, e ultrajando o Espírito da graça” (10,29). Serão consumidos, como
abrolhos e espinhos (6,8), pelo fogo abrasador de Deus (12,29). Por isso, o
autor da carta exorta a contemplar a dignidade de “nosso Senhor”, o
Filho, o herdeiro. Segundo a sua condição divina, é o Criador de tudo, o
Resplendor da Glória e a sua Expressão. Tendo assumido a nossa condição humana,
levado à perfeição pelo sofrimento, realizada a purificação dos pecados, está,
agora, sentado à direita da Majestade. Deus tudo submeteu aos seus pés. Até os
anjos o servem. No Santuário do Céu, é o nosso Sumo Sacerdote que sabe
compadecer-se por ter ele sofrido por primeiro e mediar a graça de que precisamos
no tempo oportuno.
Por esta análise inicial, podemos
chegar à constatação que os capítulos um e dois da Carta aos Hebreus são a
apresentação do tema que a Carta desenvolverá.
Para o autor, a
vida cristã é uma dura e longa provação. Há o risco de sucumbir. Por isso, é
necessário avançar em todas as etapas da justificação e depois de termos sido
nutridos, como criancinhas, com o leite espiritual, torna-se-nos necessário
“degustar a doutrina da justiça”, para sempre estarmos convencidos que vale a
pena seguir a Cristo que carrega a cruz até merecermos entrar na cidade
celeste.
Cristo, então, se torna a figura
central da reflexão do autor, na condição daquele que viveu a graça do
sofrimento que o levou à honra e à glória, daquele que realizou a purificação
dos pecados como Pessoa de condição divina, daquele que entrou no Santuário do
céu com o seu sangue, daquele que é capaz de consolar os que são tentados. Ele
é o nosso Sumo Sacerdote, superior a Aarão, que realizou a Nova Aliança, nos
merecendo a renovação das nossas mentes, a ponto de desejarmos viver segundo a
vontade de Deus (10,16).
(15) Divisão
1,1-2ª O Deus que
falou nos profetas, nos falou no Filho
1,2b-14 O Filho
está acima dos anjos
2,1-4 Exortação
2,5-3,6 Jesus,
coroado de honra e glória, nosso Sumo-sacerdote, preposto à casa de Deus
3,7-4,13 Exortação
4,14-5,10 Jesus,
Filho de Deus, capaz de nos socorrer nas nossas fraquezas, foi constituído por
Deus Sumo-sacerdote pelas palavras: “Tu és sacerdote eternamente segundo a
ordem de Melquisedec”.
5,11-6,20
Exortação. Consegue se aprofundar nessas verdades aquele que persevera no
testemunho. Alcança a herança das promessas aquele que une à fé a perseverança,
fundamentado na promessa selada pelo testemunho por parte de Deus.
7 O sacerdócio
levítico e o sacerdócio de Jesus
O sacerdócio é outorgado a Jesus
segundo as palavras do Sl 110,4. A figura se encontra em Gn 14,18ss. O Rei de
justiça e de paz, possuidor de vida eterna é revelado pela sua figura, um
sacerdote superior a Araão. A sua vinda abole o sacerdócio antigo. Isto é
comprovado pela condição de eternidade que possui, em relação a sacerdotes de
origem carnal que se sucedem no tempo. A Lei e o sacerdócio são abolidos porque
não levam à perfeição, nem purificam dos pecados
8 Jesus é o sacerdote
constituído por um juramento, tornado perfeito para sempre. O seu sacrifício
nos purificou duma vez dos pecados.
9,1-14Tal é o
sacerdote que se assentou à direita do trono da Majestade nos céus, na Tenda
verdadeira
Os rituais na primeira tenda e os sacrifícios repetidos para entrar na
segunda tenda, “tudo eram ritos humanos, sem eficácia para aperfeiçoar a
consciência” (vv. 9-10). “Cristo que, pelo Espírito eterno, se ofereceu a si
mesmo a Deus como vítima sem mancha, há de purificar a nossa consciência das
obras mortas para que prestemos culto ao Deus vivo” (v.14).
9,15-28 Aplicação
moral.
10 Eficácia do
sacrifício de Jesus, Filho de Deus: “Leva à perfeição, e para sempre, os que
ele santifica” (v.14).
10,19-39 Exortação
11 A fé
(16) Exegese
Hb 1-4
Estamos diante de uma exortação (13,22) de
um pastor de almas que experimentou em si a grandeza da vocação cristã (13,18)
e deseja que todos a vivam. Ele nota que falta perseverança na vida dos fiéis
(10,36), o que não lhes permite avançar na compreensão da grandeza dos
mistérios da sua fé (6,11) e firmar sua esperança, para se tornarem, dessa
forma, herdeiros das promessas, juntamente com aqueles que perseveraram na fé.
Estes, iluminados e santificados pelo Espírito, conheceram a beleza da Palavra
de Deus, a força das realidades futuras, praticaram as boas obras, deram
testemunho de Cristo e, pela perseverança, adquiriram a constância e se abriram
à esperança, fruto do Espírito. Lançaram, dessa forma, uma âncora que penetrou
além do véu de forma que esperam no Cristo, Sumo-sacerdote para a eternidade
(6,19s).
Reflexão
A
exposição do autor visa apresentar Jesus na condição de Sumo-sacerdote que
entrou no céu com o seu Sangue e intercede por nós, para animar os fiéis a perseverarem no testemunho, até o
derramamento do seu sangue. Não obstante as graças recebidas e as tribulações
suportadas, torna-se necessário que neles desponte a virtude da constância,
para que perseverem até alcançarem a esperança.
Hb 1-2 visa apresentar Jesus em toda
a sua dignidade divina e na condição de perfeição que alcançou pelo sofrimento.
O nosso Sumo-sacerdote é Jesus, o Filho, de condição divina porque é o
Resplendor da Glória de Deus e Imagem do seu Ser. Segundo a condição humana
assumida, pela sua imolação nos libertou da escravidão do diabo, destruindo o
Mal. Tendo entrado, na eternidade (éon), no mundo futuro, além de interceder
por nós, é capaz de compadecer-se e vir em socorro “dos que são provados”
(2,18).
Ele é o Filho, isto é o “Unigênito
Deus” (Jo 1,18) que se manifestou pela Encarnação, a Pessoa divina pela qual
Deus falou aos homens, de forma definitiva. Outrora, este já tinha falado pelos
profetas. O Filho é o herdeiro. Criador do mundo, que sustenta o universo com o
poder de sua palavra, é o Resplendor da Glória de Deus e a expressão do seu
ser. Este é o realizador da nossa redenção, chamando-nos à purificação dos
nossos pecados, da qual somos capazes em virtude da sua condição gloriosa (1Jo
2; 2Pe 1,5-10): um processo enobrecedor!
O Filho é Aquele que é de condição
divina e que, pela Encarnação, se tornou a Revelação do Pai. Autor da nossa
salvação, pela mesma obra da nossa redenção foi levado à perfeição pelos
sofrimentos. Ele é aquele que o Pai constitui Dia, ressuscitando-o dos mortos
(Sl 2,7), o Rei-Deus que cinge a espada em defesa da justiça e da verdade (Sl
45), Aquele que Deus faz sentar-se à sua direita (Sl 110,1). É o homem, “por um
pouco, feito menor que os anjos”, agora, coroado de honra e glória, por causa
dos sofrimentos e da morte. Nos céus, é o nosso sumo sacerdote capaz de expiar
os pecados do povo e de socorrer os que são tentados. É Sumo-sacerdote porque o
Pai o consagrou quando lhe disse “Tu és meu Filho, eu hoje te gerei” (Sl 2,7),
“Tu és sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedec” (Sl 110,4): Aquele
que foi salvo da morte por causa da sua submissão, que pela obediência no
sofrimento foi levado à perfeição e que “se tornou para todos os que lhe
obedecem princípio de salvação eterna”.
Jesus é superior a Moisés, porque
foi constituído administrador da casa de Deus na condição de Filho, enquanto
Moisés o foi na condição de servo. É superior ao sumo sacerdote porque dura
eternamente. O seu sacerdócio é segundo a ordem de Melquisedec. O seu
sacrifício foi oferecido uma vez por todas e expia os pecados dos homens.
Jesus, entrou, uma vez por todas, no Santuário que está no céu e intercede por
nós.
Fomos chamados a uma vocação
celestial, merecedora de consideração, sobretudo porque, em Jesus, temos o Apóstolo
e Sumo-sacerdote da nossa profissão de fé. Não podemos deixar endurecer o nosso
coração pela sedução do pecado e nos afastar do Deus vivo pela incredulidade.
Sabemos o que aconteceu a Israel no deserto, por causa da sua indocilidade (Sl
95). Teremos que prestar conta à Palavra de Cristo “espada de dois gumes”
(4,12; Ap 1,16).
Hb 1-2 A importância da escatologia
1-2. Para poder entender o peso da argumentação
do Autor da Carta aos Hebreus, que visa animar os fiéis da comunidade à qual se
dirige, para que continuem no ardor inicial, devemos advertir, primeiramente, a
importância que ele, juntamente com os que fielmente nos transmitiram a
salvação anunciada por Jesus, o Senhor da Igreja, deu ao Tempo do Fim
(escatologia). Trata-se de uma imagem que visa sublinhar que não haverá outra
condição de salvação melhor e maior daquela que Deus nos ofereceu em Cristo
Jesus. Dessa forma, devido à maneira superior que nos foi oferecida, temos que observar
que temos uma responsabilidade ainda maior em relação àqueles que lidaram com a
Lei, transmitidas por anjos. Se eles foram punidos por causa das suas
transgressões, quanto maior será a nossa punição em relação à Palavra que Deus
nos dirigiu em Jesus Cristo diante da qual desanimamos. De Jesus, devemos
considerar os atributos, primeiro dos quais, no nosso caso, em que estamos
lidando com a nossa salvação eterna, o autor lembra o “herdeiro”. Isto
significa que, antes, não havia condição de herdar o reino dos céus, enquanto,
agora, recebemos o anúncio da salvação daquele que é “princípio e realizador da
fé”. Jesus inaugurou esse tempo a partir do momento em que anunciou:
“Completou-se o tempo, o Reino dos céus está próximo de se revelar. A conversão
é uma questão de vida ou de morte. Deem a sua adesão de fé à Boa Nova que vos
prego” (Mc 1,14). Comentou o Reino com seu discurso escatológico e O proclamou
realizado com a sua Ressurreição. Falta somente sua manifestação gloriosa, que
devem esperar vigilantes todos aqueles que dele querem usufruir. São Paulo
reafirma o discurso de Jesus a partir da sua primeira Carta aos
Tessalonicenses. Nessa linha estão as Cartas de Pedro e o Apocalipse. Trata-se
de um tempo breve. Ao longo da sua duração, devemos ser perseverantes no
testemunho para não perdermos a “coroa da vida” (Ap 2,10). O Reino que já foi
conquistado e do qual participam os santos, ainda não se tornou manifesto
porque é preciso que se complete o número dos mártires. Essa explicação está em
Ap 6, e é uma interpretação da condição histórica da Igreja. De fato, o Reino
dos céus já está realizado. Os santos reinam com Cristo, enquanto os maus são
impedidos de entrar no céu. Tornaram-se presa do “fogo devorador de Deus” (Hb
12,).
A nós que estamos vivendo os últimos
tempos e que, por isso, estamos em condições de ver de que forma se realizam as
promessas, porque, por Jesus nos tornamos herdeiros do Reino inabalável, da
nossa salvação, sendo que somos chamados a ser coerdeiros com ele, se sofrermos
com ele para sermos glorificados com ele; mais do que os nossos pais, temos a
obrigação de prestar ouvido Àquele que nos fala pelo Filho. Deus nos fala por
Aquele que é o Criador, a Sabedoria, Resplendor da sua glória e Expressão da
sua substância; que é o nosso Redentor, e que é o nosso Sumo Sacerdote no
Santuário do céu.
A exortação do autor da carta visa,
portanto, em primeiro lugar, nos alertar sobre “Deus que nos fala”, sobretudo
porque, agora, se trata, não de profeta, e sim, de filho herdeiro, que nós,
Igreja, reconhecemos: “Palavra criadora, Resplendor, Imagem, Providência”.
Recebeu o reconhecimento de Deus, por ter realizado a nossa redenção. No céu, é
o nosso eminente Sumo Sacerdote, que Deus constituiu acima da sua casa. Ele é
capaz de interceder por nós, tendo sofrido a provação, por primeiro.
Jesus, no momento da sua
ressurreição, foi constituído Princípio de toda a criação: “Tu és meu Filho, a
ti constituo Luz” (Sl 2,7). Torna-se o Rei ungido por Deus, em virtude da sua
imolação (Sl 45,7-8); o Filho do Homem ao qual todos os reis estão submetidos
(Sl 110,1). Este é o Nome acima de todo nome que Jesus recebe, de forma que,
diante dele, todo joelho se dobra. Até os anjos de Deus o adoram porque ele é o
Criador (Cl 1,16) (1,1-2,1). Nós somos chamados a formar essa Jerusalém
celeste, para nos unirmos a milhões e miríades de anjos que prestam o seu culto
de adoração àquele que está sentado no Trono . É o Filho, a Glória de Iahweh,
que Deus Pai chamou para sentar à sua direita. Quando tudo lhe for submetido,
então, entregará o Reino ao Pai (trata-se de uma figura em vista da hierarquia que deve ser mantida presente).
Os
nossos pais foram punidos por causa das suas transgressões cometidas contra a
Palavra promulgada por anjos. Qual não será o nosso castigo se negligenciarmos
“tão grande salvação anunciada por nosso Senhor e fielmente transmitida por
aqueles que a testemunharam, enquanto era acompanhada por sinais, prodígios,
milagres e dons do Espírito” (2,2-4)?
Nossa
vocação é a de reinarmos no mundo futuro porque Jesus, “em favor de todos os
homens”, foi levado à perfeição pelo sofrimento e agora “está coroado de honra
e de glória”. Embora de condição divina, tornou-se um de nós ao assumir a
natureza humana de forma que, ao celebrarmos a sua glorificação, já celebramos
a nossa também. Pela sua morte, nos libertou do Maligno. Coroado de honra e de
glória, aquele que sofreu para entrar na glória e nos santificar, o Autor da
nossa salvação, entrou agora no Santuário do céu “para expiar os pecados do
povo”, na condição de Sumo Sacerdote, capaz de socorrer os que são tentados.
(2,5-18)
1,1-2a.O Deus que, outrora, muitas vezes e de
muitos modos falou aos pais nos profetas, nos últimos dias, que são os nossos,
nos falou num Filho. Podemos parafrasear dizendo: “O Senhor Deus de Israel
que falara aos nossos pais pelos profetas, desde os tempos mais antigos, na sua
misericórdia, chegada a plenitude dos tempos, nos falou pelo Filho”. O autor da
carta não podia abrir o seu escrito de uma forma mais grandiosa e encorajadora.
O cântico de Zacarias (Lc 1,68-79) é a sua digna interpretação: “Bendito seja o
Senhor Deus de Israel que a seu povo visitou e libertou. Fez surgir um poderoso
salvador, lembrado da promessa feita aos nossos pais, pelos profetas”. Chegou a plenitude dos tempos e nós somos
os privilegiados que podem usufruir da visita do Deus de Israel, para chegar a
possuir a herança “com aqueles que não obtiveram a realização da promessa”
(12,39). O Filho é Jesus, que Deus Pai constituiu herdeiro. Essa primeira
qualificação é apresentada pelo autor que está se dirigindo a fiéis que
precisavam ser animados para que, pela constância, cultivassem a esperança que
os tornasse capazes da herança. A sua condição de herdeiro encontra a sua
confirmação nos títulos divinos, com os quais a Igreja celebra o seu Senhor e
que se seguem imediatamente: “Resplendor da Glória do Pai, Imagem do Ser” (Cl
1,15-20), por quem foram feitos os séculos, que sustenta com o poder da sua
palavra.
Deus que
fala e que devemos escutar é a motivação fundamental que o Autor da Carta aos
Hebreus apresenta para permanecermos firmes na fé. O Deus que fala é o Deus
que, fiel a si mesmo, realiza o que anuncia. Pela contemplação das suas obras,
os homens deveriam ser levados a observar os seus mandamentos, a partir do
momento em que, pela sua criação, fica manifesto que a sua Palavra é criadora.
Acontece que o homem desobedece porque não procura Deus na criação. Os hebreus
desobedeceram porque esqueceram as obras que Deus tinha realizado em vista da
sua libertação. Nós não podemos deixar de observar os seus ensinamentos porque
estamos diante dos feitos realizados pelo Filho:
“Prestai
atenção para não deixar de ouvir aquele que vos fala! Porque se não escaparam
do castigo quando recusaram ouvir aquele que os advertia sobre a terra, com
maior razão ainda não escaparemos nós, se nos afastarmos de quem nos fala do
alto dos céus. Ele cuja voz um dia abalou a terra, agora proclama: “ainda uma
vez abalarei não apenas a terra, mas também o céu. As palavras ‘ainda uma vez’
anunciam o desaparecimento de tudo o que participa da instabilidade do mundo
criado, a fim de que subsista o que é inabalável. Visto que recebemos um reino
inabalável, guardemos bem esta graça. Por ela sirvamos a Deus de modo que lhe
seja agradável, com submissão e temor. Pois o nosso Deus é um fogo abrasador!”
(12,25-29).
Por si, esta citação contempla Deus na sua
condição de juiz do mundo. Reflete, contudo, o poder que exerce quando fala
pelo Filho. Com Jesus tornou-se manifesto o primeiro momento de uma
escatologia. É um momento precioso porque Deus, no seu poder misericordioso,
visa oferecer ao homem não somente todas as condições de salvação, como,
também, as condições da sua divinização, uma vez que o destina a ser coerdeiro com
Jesus Cristo, na condição de "filhos adotivos" (Ef 1,5). Esses bens não podem
andar perdidos por causa de uma desistência provocada pelo desânimo, por causa
de perseguições. É pela perseverança que os alcançamos, uma vez que demonstramos
considerá-los bens maiores daqueles aos quais abdicamos, quando abraçamos a fé.
1,2b...que estabeleceu herdeiro de tudo Estamos diante de uma especificação
sugerida pelo Sl 2,8: “Pede-me; dar-te-ei por herança todas as nações; tu
possuirás os confins do mundo”. O Filho, em quem Deus fala a nós que vivemos a
plenitude dos tempos (Gl 4,4), enquanto esperamos confiantes a manifestação do
“Reino inabalável”, é Jesus, o Herdeiro. Nosso Senhor Jesus (13,20),
especificará o autor, é o Filho eternamente perfeito (6,28). Levado à perfeição
pelo sofrimento que redundou em salvação nossa (2,10; 5,9), é o Filho, estabelecido
com poder por sua ressurreição dos mortos: “A promessa feita a nossos pais,
Deus a realizou plenamente para nós, seus filhos, ressuscitando Jesus, como
também está escrito nos Salmos: “Tu és o meu filho, eu hoje te gerei” (At 13,
32s),sentado "nas alturas à direita da Majestade" (13,20). Aliás, ele
mesmo, por ser de condição divina, porque Sabedoria, Princípio da criação de
Deus, Resplendor da sua Glória, Expressão do seu ser, "depois de ter
realizado a purificação dos pecados, sentou-se nas alturas à direita da
Majestade..." (Fl 2,6-11). Para entender toda a grandeza do Autor da
salvação (2,10), coroado de honra e glória (2,9), após ter sido levado à
perfeição pelo sofrimento, basta ler Ap 1-5. É o Senhor da Igreja que João
contempla Rei-Sacerdote, de condição divina, vitorioso sobre a morte, que está
sentado no trono de safira, acima da abobada celeste e que, com o Pai, recebe
dos anjos e de toda a corte celeste, a mesma adoração. É a ele que o Pai
entrega todo o poder de julgar, porque ele é o Filho.
Se
Hb 1,1-2a, tem seu digno comentário em Lc 1,68-75, o prólogo, a partir do
primeiro título atribuído ao Filho, encontra o seu comentário em Cl 1,12-16: “O
Pai nos fez capazes de participar da herança dos santos na luz. Ele nos
arrancou do poder das trevas e nos transportou para o Reino do seu Filho amado,
no qual temos a redenção, a remissão dos pecados. Ele é a imagem do Deus
invisível, o Primogênito de toda criatura, porque nele foram criadas todas as
coisas...”
Antes de
continuar na leitura da carta, diante daquilo que dela já sabemos, isto é, que
se trata de uma exortação, que se constitui somente de umas palavras postas em
comum para edificação recíproca, à semelhança de Paulo quando escreveu aos
Romanos, é bom ficarmos atentos à natureza da sua textura literária. A
perspectiva grandiosa apresentada por 1,1-2a é redigida com extrema precisão
quanto à colocação dos termos. Um leitor despreparado não repara que, enquanto,
segundo a redação original na língua grega, diante de “Deus” temos o artigo
determinativo, diante de “filho” não temos artigo. Pelas nuances captamos: 1º)
o autor quer apresentar o Deus de Israel, tão familiar aos seus interlocutores,
2º) para que observem a eminência do gesto quando fala em Jesus, 3º) porque
este é o Herdeiro, a Palavra criadora, o Resplendor da Glória, a Imagem do Ser,
a Providência, constituído Senhor (1,2b-4).
O autor dessa carta é um homem de fé que chegou a uma vida de plena
comunhão com Deus, aberto a uma esperança que não será confundida e que vive
numa contínua ação de graças por ter sido contado entre o número dos santos.
Quer escrever palavras de exortação a fiéis que estão para ser tomados pelo
desânimo, quando poderiam, pela perseverança, chegar a se abrir a uma esperança
que não pode ser confundida porque o Espírito Santo seria derramado nos seus
corações. Entenderiam que a tribulação os associa à vida que se manifestou em
Cristo, na sua Paixão; que esta vida seria princípio de vida nos irmãos e os
tornaria merecedores de uma glorificação com Cristo; que, enfim, eles estariam
trilhando o caminho novo que Cristo traçou, condição do pleno desenvolvimento
do adão justificado. Não podem desprezar “tão grande salvação que o Senhor nos
anunciou por primeiro e que os Apóstolos nos transmitiram” (2,3). Não deixem de
escutar aquele que nos fala: Deus, que outrora falou aos nossos pais nos
profetas, mas que nos últimos tempos nos falou no Filho. Estamos diante daquele
que já abalou a terra e que agora está para abalar os céus. Não haverá mais
outra advertência. Escutemos a voz de Deus para que entremos no “repouso
prometido”. Os que seguiram a Moisés, preposto por Deus sobre toda a sua casa,
não entraram no repouso, por causa da sua murmuração. Evitemos que nos aconteça
o mesmo, agora , que herdamos um “reino inabalável” por Jesus Cristo, o Filho
que, realizada a redenção, sentou-se à direita da Majestade.
Dessa forma, as situações e os temas
vão se apresentando: 1o) A fé dos fiéis, ameaçada pelo desânimo por
causa da continuada luta contra o pecado e consequentes tribulações; 2o)
A História de Israel figura da História do Novo Israel; 3o) A
dignidade de Jesus Cristo, o Filho, que se tornou nosso Sumo-sacerdote,
mediador de uma nova aliança.
A carta quer tratar, principalmente,
do sacerdócio de Cristo, que considera um alimento sólido para animar os fiéis antes
que decaiam do fervor inicial, para que perseverem, uma vez que chegaram a
considerar riqueza maior do que os bens materiais a fé que abraçaram, que
testemunharam, que promoveram pela caridade aos irmãos e pela qual optaram não
obstante o confisco dos seus bens.
1,3
Aquele que sendo o Resplendor da Glória,
e a Imagem da sua substância, que sustenta todas as coisas com a palavra do seu
Poder.... Como Pessoa divina, o Filho é o “Resplendor da Glória de Deus e
Imagem do seu Ser”.
Os
judeu-cristãos, acostumados a contemplar o Plano de Deus na sua atuação, sabiam
que o Deus de seus pais vinha se manifestando, ao longo dos tempos, pelos
profetas, e que o que tinha sido anunciado realizara-se pelo Filho, o herdeiro,
em virtude da redenção que realizara da sua humanidade que acabou glorificada e
se tornara Princípio da nossa redenção da escravidão do Maligno.Jesus é o
herdeiro porque viveu em tudo a obediência ao Pai. A sua Morte de cruz levou a
humanidade assumida à participação da Glória da Vida Trinitária. Uma vez,
todavia, que a Morte de Cruz foi um sacrifício de expiação do Servo, na
condição de Resplendor da Glória do Pai, Imagem do seu ser, nós, nele, nos
tornamos filhos adotivos, por graça, pela fé. Coerdeiros, teremos parte no
reino inabalável com Jesus se perseverarmos na tribulação, a partir da
celebração da Morte redentora, nas liturgias dominicais. Os que imitarem Jesus
na imolação, pelo serviço aos irmãos, efetuado por uma imolação em favor deles,
mostrando de amá-los como Jesus os amou, “terão parte com ele no reino” (Jo 13,9).
A Carta aos hebreus é, portanto, uma
exortação a viver a perseverança na tribulação, pelo seguimento de Jesus, que
aceitou a humilhação da cruz, para participar, com ele da Glória, depois de um
breve sofrimento. Anima-nos a constatação de que estamos nos últimos tempos,
com as máximas manifestações: o Filho, sentado
à direita do trono de Deus, na condição de Sumo e Eterno Sacerdote que
entrou no Céu, com o seu sangue e intercede por nós. No seu sangue podemos continuamente
nos purificar, até herdar, com ele o reino inabalável. Na verdade, a saudação
final (13,20), poderia estar no início, apresentando o tema principal (8,1) da
Carta. Teríamos, então, uma visão semelhante à do início do Apocalipse: o
Senhor da Igreja que nos lavou com o seu sangue, que é contemplado e celebrado,
na assembleia dominical, como “autor e realizador da fé” (12,2).
1,3
tendo realizado a purificação dos
pecados, sentou-se à direita da Majestade, nas alturas.
Temos aqui anunciada a reflexão que
o autor da carta quer compartilhar, confiante que saberá motivar os seus irmãos
e companheiros da vocação celeste (3,1). Devemos notar que ela é a explicação
das palavras iniciais: “Deus falou-nos pelo Filho”. O Filho é Jesus que,
“embora de condição divina”, ao entrar no mundo, “assumiu a condição de servo”.
Pela sua obediência até a morte de Cruz, “levado à perfeição pelo seu
sofrimento”, pelo qual, também, nos purificou dos nossos pecados, “Deus o
exaltou”. Ele é o nosso Sumo-sacerdote que entrou no céu com o seu sangue e
intercede por nós.
O
que pode motivar os leitores da sua carta, para o autor é: 1º) o Filho, de
condição divina; 2º) que realiza, pelo sacrifício de si mesmo, a redenção; 3º)
atuando em si o Desígnio do Pai de nos tornarmos “seus filhos adotivos em Jesus
Cristo”, o herdeiro.
1,4.
Tornado, dessa forma, melhor que os anjos
quanto superior, em relação a eles, é o nome que herdou. Começa a
apresentação das peculiaridades de Jesus, o Filho de Deus, nosso Sumo-sacerdote,
que atravessou os céus. Jesus, feito, por um pouco inferior aos anjos, “tendo
realizado a purificação dos pecados” (1,3), recebe um Nome que está acima de
todo nome. Diante dele, todo mundo proclama que ele é o Senhor (Fl 2,6-11).
1,5a.
Quando e a qual dos anjos disse: “Tu és meu Filho, eu hoje te gerei”? Através
de pós-figurações, interpretadas à luz da ressurreição, o autor ilustra a
condição de Jesus, o homem feito um pouco inferior aos anjos que vemos coroado
de honra e glória “por causa dos sofrimentos da morte” que o levaram à
perfeição (2,10). São as palavras do Sl 2,7, que Deus Pai dirige ao Filho no
momento da ressurreição (At 13,33). O homem feito por um pouco inferior aos
anjos, levado à perfeição pelo sofrimento, senta à direita de Deus, na condição
de Filho. Dentro da perspectiva da angelologia, Jesus se torna senhor das
ordens angelicais que governam o universo, Tronos, Dominações, Principados e
Potestades. Tudo foi colocado sob os seus pés (Cl 2,15).
1,5b.
E novamente: “Eu serei para ele um pai e
ele será para mim um filho” (2Sm 7,14) Em Jesus se realiza a figura do
rei, considerado filho de Deus.
1,6.
E quando, novamente, introduz o
primogênito no mundo, diz: “Adorem-no todos os anjos de Deus”. Palavras do
Sl 97,7 que somente se realizam com Cristo.
2ª
feira 1ª Semana TC Ano ímpar
Reflexão (Hb 1,1-6)
Gl 4,4 declara que o Filho, que,
como anuncia o próprio Jesus, “o Pai consagrou e enviou ao mundo” (Jo 10,36),
“nascido sob a Lei... para que recebêssemos a adoção filial”, é ele mesmo. Sua
condição é divina: “Resplendor da Glória de Deus, Imagem do seu Ser” (Sb 7,26).
Entra no mundo futuro como Sumo-sacerdote, com o seu sangue e intercede por
nós. Todos os anjos o adoram. Os capítulos 4 e 5 do Apocalipse ilustram esta
condição celestial do Senhor da Igreja
Este é o começo da nossa reflexão
sobre “Jesus que se revela”, sobre Aquele que a voz do Pai apresentou no
momento do seu batismo no Rio Jordão: “Este é o meu Filho, o amado”. É aquele
que a Profecia nos anunciou: o Emanuel, o Menino, o Rebento, o Servo de Iahweh
(Is 7,14; 9,5-6;11,1-3; Is 42; 53); a Descendência, Noé (Gn 3,15; 6,8). Ele, a
“A Palavra que se fez carne”, a Luz que é Vida, o Unigênito Deus.
1,7.
A respeito dos anjos, porém, ele declara:
“Torna em vendavais os seus anjos e em chamas de fogo os seus ministros”.
Tudo o que Deus envia é seu anjo, com
a função de cumprir uma missão para a qual é enviado. O anjo não é uma
categoria de seres criados e sim, de enviados (v.14), cuja função angelical
termina com o fim da sua missão.
1,8s.
Mas ao Filho diz: “O teu trono, ó Deus,
pelos séculos dos séculos, cetro de justiça é o cetro do teu reino. 9Amaste
a justiça e odiaste a iniquidade. Por isso, ó Deus, te ungiu o teu Deus com
óleo da alegria, preferindo-te aos teus companheiros”.
Jesus reina com Deus. O seu cetro
procura a justiça. Deus o ungiu com o óleo da alegria, preferindo-o aos seus
companheiros (Sl 45,7-8).
1,10-12.
E: “Tu, no princípio, ó Senhor,
fundamentaste a terra e, obras das tuas mãos são os céus. Eles perecerão, mas
tu permanecerás e todos como uma vestimenta envelhecerão. E como uma roupa os
mudarás, e serão mudados: mas tu permaneces o mesmo, e os teus anos não
terminarão”.
Palavras do Sl 102, 26ss que se
realizam em Jesus, a Palavra criadora, de condição eterna.
1,13.
A qual dos anjos já disse: “Senta-te à
minha direita até que ponha os teus inimigos como escabelo dos teus pés?”
Sl 110,1 que retrata a realeza messiânico-divina
de Cristo.
1,14.
Não são todos espíritos servidores,
enviados para servir em favor daqueles que são destinados à salvação?
Os espíritos estão a serviço de Deus. São
enviados para socorrer os homens. Os vemos nessa função quando Marcos os
apresenta servindo Jesus, no deserto.
Os espíritos estão a serviço de Deus.
São enviados para socorrer os homens. Os vemos nessa função quando Marcos os
apresenta servindo Jesus, no deserto, e quando Jesus declara que o Pai poderia
enviar em seu socorro “legiões de anjos”. A repetida utilização do termo acabou
constituindo uma categoria de seres criados por Deus. As suas diversas ordens
receberam até nomes adotados da angelologia assírio-babilonense ( tronos, dominações, principados,
potestades, querubins e serafins). Nada impede que Deus possa tê-los
criado, como, também, nada proíbe que sejam considerados segundo a terminologia
da linguagem figurativa que contempla Deus reunido com a sua corte celeste,
sentado no seu trono, assistido pelos seus ministros, prontos para executarem
as suas ordens.
2,1.
Pelo que importa observemos tanto mais
cuidadosamente os ensinamentos que ouvimos para que não nos transviemos.
Depois de ter apresentado o tema da
Redenção, que irá tratar na Carta, em toda a sua importância, o Autor lembra a
responsabilidade que temos diante de Deus que nos fala pelos seus fatos, no
Filho, realizador da Profecia. No fim voltará a lembrá-la dizendo: “Prestai atenção para não deixar de ouvir
Aquele que vos fala!” (12,25). Pela sua palavra que penetra como uma espada
de dois gumes, seremos julgados.
2,2-3a.Pois, se a palavra promulgada por anjos
entrou em vigor, e qualquer transgressão ou desobediência recebeu justa
retribuição,3 como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande
salvação?
O conceito é repetido no fim da
Carta (12,25b) e tem o seu comentário em 12,18-25.
A
superioridade da Nova Aliança sobre a antiga está no fato que herdamos um reino
inabalável (v.27) por meio de Jesus,
mediador, e do sangue da aspersão mais eloquente que o de Abel (v.24).
2,3b.
Esta Nova Aliança começou a ser anunciada
pelo Senhor. Depois, foi-nos fielmente transmitida pelos que a ouviram.
Deus nos fala pelo Filho que enviou
(Lc 4; 2Pd 3,2) e pelos Apóstolos (1Jo 1,3).
2,4.
Testemunhando Deus juntamente com eles,
por meio de sinais, de prodígios e de vários milagres, e pelos dons do Espírito
Santo, distribuídos segundo a sua vontade. At 1,8s.
2,5-18. Jesus, como Homem, embora
chamado a herdar o mundo futuro, esteve por um pouco inferior aos anjos porque
devia chegar à perfeição pelo sofrimento e à glória pela sua morte redentora.
3ª feira 1ª Semana TC Ano ímpar
Reflexão (Hb 2,5-12)
Desde a abertura, o autor da carta
está ilustrando a dignidade daquele que quer apresentar na condição de Sumo-sacerdote
que entrou no céu com o seu sangue e intercede por nós. Jesus, em primeiro
lugar, é o Filho Herdeiro, de condição divina: Resplendor da Glória de Deus,
Imagem do seu Ser. A sua condição de Filho que entrou no mundo futuro (Gr:
oikoumene) pode ser ilustrada pelos Sl 2; 45; 97; 102; 110). Isto, por si, já
bastaria para darmos importância “à grande salvação” que realizou. Ele,
contudo, deve ser considerado, segundo a condição humana assumida, como a
Cabeça dos seus irmãos, porque levou a termo o Plano de Deus. Alcançou a
perfeição pelo sofrimento. Dessa forma, também, “provou a morte em favor de
todos os homens” (2,9).
Agora, estando acima de tudo e de todos os
anjos, é o nosso Sumo- sacerdote que Deus constituiu sobre a sua casa,
"capaz de socorrer os que são tentados" (2,18).
Com o fim do segundo capítulo fica
clara qual será a teologia que o Autor exporá para motivar os interlocutores à
perseverança na fé. Os que são tentados devem contemplar a pessoa de nosso
Senhor Jesus que aceitou a provação para entrar na glória e confiar nele,
porque, nas suas relações com Deus, se tornou Sumo Sacerdote, capaz de socorrer
os que são tentados. Os sofrimentos da morte que o levaram à perfeição
redundaram em justificação para nós, porque ele quis se tornar nosso irmão.
Agora que entrou nos céus e está sentado à direita da Majestade, nos chama a
sermos coerdeiros.
4ª
feira 1ª Semana TC Ano ímpar
Reflexão
(Hb 2,14-18)
Com a especificação última relativa
ao Filho que “realizada a purificação dos pecados sentou-se à direita da
Majestade, que o declara nosso Sumo Sacerdote, estamos diante do tema da Carta.
“Levado à perfeição por meio de sofrimentos” (2,10), enquanto apresenta o seu
sangue que expia os nossos pecados (v.17: Cf 1Jo 2,2), misericordioso e fiel,
“é capaz de socorrer os que são provados” (v.18).
O tema começou a ser apresentado
desde 1,1-4: o Filho, constituído herdeiro, realizada a purificação dos
pecados, sentou-se à direita da Majestade. Aqui começa a ser explicitado: pelo
sofrimento foi levado à perfeição e, por vocação do Pai, se tornou Sumo
Sacerdote, capaz de expiar os nossos pecados.
Em
1,1-2 distinguimos quatro elementos: 1º - Deus que fala; 2º -aos pais pelos
profetas; 3º -a nós pelo Filho: 4º -a condição final da fala que se dá pelo
Filho. Ao Autor, mais que sublinhar os dois momentos, interessa advertir que
estamos diante de Deus que fala: "Prestai atenção para não deixar de ouvir
aquele que vos fala!" (12,25). Como Deus castigou aqueles que, no deserto,
endureceram o seu coração e não ouviram a sua voz (3,7-4,12), nos castigará se
não ouvirmos o Filho (12,25-29) que, por primeiro, nos anunciou a salvação que,
em seguida, os Apóstolos nos transmitiram fielmente(2,1-4), "testemunhando
Deus juntamente com eles, por meio de sinais, de prodígios e de vários
milagres, e pelos dons do Espírito Santo" (v.4). A condição final sugere
uma responsabilidade maior. Caso abdiquemos à posse da herança dos santos a que
fomos chamados seremos consumidos pelo fogo devorador de Deus, quando a sua
voz, ao sacudir terra e céus, deixará subsistir somente “aquilo que é
inabalável” (12,27).
A importância da Palavra
"Prestai atenção para não deixar
de ouvir Aquele que vos fala" (Hb 12,25). Prestar atenção à Palavra é a
mesma recomendação de Cl 3,16: "A Palavra habite em vós plenamente".
Ela é o instrumental da ascética cristã em todas as fases da evolução da fé que
teve o seu início pela iluminação, através da pregação apostólica: “Lembrai-vos
dos vossos dirigentes que vos anunciaram a Palavra de Deus" (13,7). Depois
de ter sido iluminados pelo Espírito, é nela que devemos encontrar as
motivações para resistir até o sangue no combate contra o pecado, “degustando a
doutrina da justiça” (5,13). O justo vive pela fé e pela fé conserva a sua alma
(10,38s). "Se esmorecer, nele não encontro mais nenhuma satisfação"
(ibid.).
Israel deixou de ouvir a Voz de
Deus. Por isso foi excluído do repouso prometido. Por ter deixado de considerar
as obras de Deus, escutou a voz do Maligno. No deserto, se queixou contra Deus.
Ao longo da sua história, se voltou para deuses estranhos. Nós devemos
frequentar as assembleias e nos admoestar com sabedoria, enquanto refletimos
sobre as obras que o mesmo Deus, que outrora falou aos nossos pais pelos
profetas, realizou, de forma única e insuperável, pelo Filho. Aliás, aquelas
eram figuras da Salvação que Jesus Cristo, "abertamente manifestado Filho
de Deus com poder, pela ressurreição, em Espírito de santidade" (Rm 1,4),
realizou, e da Aliança que estabeleceu com o seu Sangue, constituído Sumo-sacerdote
segundo a ordem de Melquisedec.
A Voz que abalou a terra quando da
Aliança sinaítica, pelo Filho voltou a abalar terra e céu. Estamos no tempo do
Fim. Jesus, constituído Filho, após ter realizado a purificação dos pecados,
que nos tornou reis e sacerdotes para Deus e que, tendo-se ele tornado
precursor nosso nos Céus e Sumo Sacerdote, nos abriu as portas do Santuário, em
condição de socorrer os que são tentados, é a graça do Reino inabalável que
Deus nos concedeu. Não podemos "negligenciar tão grande salvação"
(2,3).
A eficácia da ação de Jesus depende da sua condição divina
Em virtude da sua condição divina,
pela sua imolação, Jesus alcançou, primeiramente para si, a igualdade com Deus,
segundo a expressão de Cl 2,9: “Nele habita
corporalmente a plenitude da divindade”. Levado à perfeição pelo
sofrimento está coroado de honra e glória (Hb 2,9). Em segundo lugar, alcançou,
para nós, a purificação dos pecados, em virtude do seu Sangue, mais precioso do
que o sangue dos bois que Moisés mandou imolar para selar a aliança do Sinai
(Cl 1,14).
O
seu triunfo no-lo revela tão superior aos anjos quanto o nome que herdou excede
o deles. Os anjos são vendavais e fogo. Jesus é aquele a quem Deus diz: “Tu és
meu Filho, eu hoje te gerei” (Sl 2,7). Os anjos são espíritos servidores dos
que devem herdar a salvação. Por eles foi dada a Lei, mas é pelo Senhor Jesus
que nos foi anunciada a Salvação que os que a ouviram no-la transmitiram
fielmente, Deus tudo acompanhando com
sinais e prodígios e as manifestações do Espírito.
Jesus
é Filho porque chamado por Deus para sentar no seu trono, ele que é o Criador
que, na condição de Rei, desposou a humanidade. Os seus inimigos serão a ele
subjugados (Sl 110,1).
Foi
somente por um pouco de tempo que foi encontrado inferior aos anjos. Uma vez
levado à perfeição pelo sofrimento, ele é o nosso irmão que entrou no céu como
precursor.
A
exposição do autor está toda fundamentada num constante paralelismo das figuras
da Antiga Aliança com as figuras da Nova Aliança. Inicia-se com Moisés, chamado
a administrar a Casa de Deus. Ele é figura de Jesus que cuida de nós, sua Casa.
Moisés exerceu a sua função na condição de servo, enquanto Jesus a exerce na
condição de Filho.
Diante
do fato de que Deus nos fala pelo Filho, temos maior obrigação, do que os
nossos pais, de ouvir a sua voz, para não sermos excluídos do seu repouso.
Jesus,
de natureza divina, que estabeleceu a Nova Aliança pelo derramamento do seu
Sangue, e que, agora, está sentado no Trono da Majestade divina na condição de
Filho do Homem glorificado, é o nosso Sumo-sacerdote, estabelecido diante de
Deus em nosso favor, que sabe compadecer-se porque escolhido entre os homens,
que sabe socorrer os que são tentados. É um Sacerdote santo e imaculado.
Para
degustar esta doutrina da justiça, é preciso crescer na fé, porque aquele que
decai se torna lento no entendimento. Para crescer na fé temos que ser
perseverantes enquanto Deus nos prova. Pela constância podemos chegar a possuir
uma esperança que penetra além do véu, onde Cristo Jesus entrou como precursor.
O
homem de fé é capaz de ver em Jesus o verdadeiro Sumo-sacerdote constituído,
por um juramento, segundo a ordem de Melquisedec, superior, portanto, ao
próprio Aarão que, em Abraão, pagou o tributo ao Rei de Salém. Jesus é o Filho
eternamente perfeito, que entrou nos céu, está sentado à direita da Majestade e
intercede por nós. Aboliu a primeira tenda, porque não precisou de purificação
para entrar no Santo dos Santos no céu, onde entrou com o seu próprio Sangue.
Diante
de figura tão gloriosa, corramos para o combate que nos é proposto.
Despojemo-nos de todo fardo e do pecado que nos envolve. Olhos fixos em Jesus,
autor e realizador da fé, que desdenhou a vergonha e aceitou a cruz que os
pecadores lhe infligiram, professemos nossa fé nele. Inspirem-nos os santos, a
partir de Abel, que perseveraram contra toda esperança. Dessa forma, tiveram em
si o bom testemunho que Deus nele infundiu e que os tornou capazes de conhecer
o Princípio da criação e o que espera os que servem a Deus sem esmorecer.
A
importância da perseverança para o Autor
O
Autor tem consciência da grandeza do dom que recebemos em virtude da nossa fé
em Jesus Cristo. Chama-o "Reino inabalável" (12,28), "uma
fortuna melhor e mais durável pela qual vale a pena sofrer injúriase
tribulações, ser solidários daqueles que tais coisas sofrem e do sofrimento dos
prisioneiros' (10,33s).
Não podemos "negligenciar tão
grande salvação" (2,3), pelo contrário, "importa observemos cuidadosamente os ensinamentos que
ouvimos para que não nos transviemos" (2,1). Fomos iluminados: recebemos o
Espírito Santo, experimentamos a beleza da Palavra de Deus (6,4s), nos
aproximamos do Monte Sião e da Cidade do Deus vivo, da Igreja dos primogênitos,
de Deus, o Juiz de todos, de Jesus, mediador de uma Nova aliança e do sangue da
aspersão mais eloquente que o de Abel (12,22-24).
Alcançam
a "herança das promessas" (6,12) somente aqueles que vivem o fervor
da caridade, demonstrando "o mesmo ardor em levar até o fim o pleno
desenvolvimento da esperança" (6,11). Eles não desanimam na tribulação,
pelo contrário, confiam em Deus que se comprometeu com juramento. A imensa
recompensa que nos espera, superior a qualquer bem terreno, merece toda a nossa
perseverança. Essa graça pode ser alcançada de Cristo Jesus, que vive glorioso
no céu, porque ele a mereceu por nós superando a provação que o tornou capaz de
socorrer os que são tentados. Ele pode no-la merecer porque Deus o constituiu
sacerdote como Aarão, "em favor dos homens em suas relações com Deus"
(5,1), numa condição até superior a dele porque o seu sacerdócio é segundo a
ordem de Melquisedec.
Devemos
temer pela nossa salvação se desanimarmos diante da provação, porque estaremos
perto da maldição. De fato, se foram castigados os que não escutaram a Palavra
promulgada por anjos, como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande
salvação anunciada pelo Senhor? Ele estabeleceu uma nova aliança por ter
entrado no céu com o seu Sangue. Nosso Senhor é o Rei-Pastor, o Filho do Homem,
o Herdeiro do mundo futuro do qual seremos coerdeiros se dermos testemunho da
Palavra. Pela Palavra da Lei seremos julgados quando da vinda de Jesus Cristo.
A grandeza
da ação de Deus
Deus
operou a salvação em favor de Israel. Maior salvação ele operou em nosso favor
pelo Filho. A Israel deu o seu servo Moisés, deu os sacerdotes e o sumo
sacerdote para perpetuarem os frutos da aliança do Sinai. Mas o sumo sacerdote
que, a cada ano, oferece um sacrifício de expiação precisa oferecê-lo para si
também e renová-lo. Jesus não precisou oferecer sacrifício algum para si.
Entrou no Templo do céu com o seu sangue, tendo realizado a Redenção uma vez
por todas. As duas alianças, uma superior à outra, são formas pelas quais Deus
se revelou aos homens.
A revelação
de Deus pelo Filho
O
Filho é Aquele que ao entrar no mundo se ofereceu em sacrifício ao Pai. Segundo
a humanidade por ele assumida, Deus quis levar à perfeição o Autor da salvação
(2,10), para que ressuscitado, elevado ao céu, Aquele que se tornou, pelo
sangue de uma aliança eterna, o grande Pastor das ovelhas, nosso Senhor Jesus
(13,20), se tornasse, em relação a Deus, um sumo sacerdote misericordioso e
fiel, capaz de expiar os pecados do povo. Pois tendo ele mesmo sofrido pela
tentação, é capaz de socorrer os que são tentados (2,17s).
As figuras
que ilustram o sacerdócio de Cristo
O sacerdócio de Cristo é segundo a
ordem de Melquisedec (Sl 110,4). Levi, em Abraão, pagou o dízimo a Melquisedec.
Enquanto Cristo realiza em si a figura de Melquisedec, é superior a Aarão, que,
também, é figura de Cristo enquanto foi chamado para o sacerdócio. Jesus
realiza a figura de Melquisedec quando entra no céu e ouve a voz do Pai:
"Tu és sacerdote para sempre..." (Sl 110,4). A superioridade do
sacerdócio de Cristo resulta, também, do fato que ele é sacerdote do verdadeiro
Santuário, aquele que está no céu, onde ele entrou com o seu sangue, uma vez
por todas, tendo atravessado o véu da sua humanidade. A sua mediação é eficaz,
enquanto a ação do sumo sacerdote, aqui na terra é ineficaz. Os sacerdotes que,
na terra, "oferecem dádivas de acordo com a Lei" (8,4), são figura da
realidade celeste. A sua inferioridade tem origem na aliança temporária
estabelecida no Sinai, em vista de uma aliança definitiva. Seu culto e seu
templo são destinados a desaparecer uma vez que se realizou a Nova Aliança. O
sinal da sua precariedade é o serviço cultual na primeira parte da tenda: ritos
humanos "sem eficácia" para aperfeiçoar a consciência de quem presta
culto. Jesus Cristo ofereceu o seu corpo (10,5-7). Com isso substituiu os ritos
ineficazes com o sacrifício da sua vida: "atravessou uma tenda maior e
mais perfeita, que não é de mãos humanas'' (9,11). Passando pelo véu da sua
humanidade, entrou no santuário do céu, com o seu sangue, e se tornou Mediador
de uma redenção eterna. Estamos numa Nova Aliança. As transgressões são
perdoadas e a herança eterna prometida é concedida. "Temos um tal
Sacerdote que se assentou à direita do trono da Majestade nos céus". É de
natureza divina (1,3). É o adão, "em tudo semelhante aos irmãos"
(2,17), “levado à perfeição pelo sofrimento” (2,10). "Fiel em toda a sua
casa" (3,6). É o Sumo-sacerdote capaz de socorrer os que são tentados,
tendo sofrido, por primeiro, a tentação. É o Filho que o Pai consagrou
sacerdote (Sl 2,7; 110,1.4). Superior a Aarão (7,10). Ministro do Santuário que
está no céu. Mediador da Nova Aliança. Entrou no Santuário do céu, com seu
sangue, obtendo uma redenção eterna (9,12). "Cristo, por um Espírito
eterno, se ofereceu a si mesmo a Deus, como vítima sem mancha, purifica a nossa
consciência das obras mortas" (9,14; cf. 1Jo 2,2) para que prestemos a
Deus um culto vivo (Rm 12,1). O sacrifício de Cristo marca o tempo do fim
porque, agora, os pecados são perdoados, o homem é resgatado da morte e, em
Cristo, recebe a herança eterna (9,15).
A
vida cristã
A vida cristã, que tem o seu início na
conversão, no batismo, na crisma e é continuamente alimentada pela Palavra,
deve sempre se manter no ardor inicial para poder se tornar adulta, e nos
tornar capazes de nos comportarmos bem em qualquer ocasião. Por isso é
necessário perseverar quando Deus nos castiga como um Pai para nos comunicar a
sua santidade, para que possamos produzir frutos de paz e de justiça. Somente
quem cultiva a fé, e persevera nas tribulações até adquirir a virtude da
constância, pode chegar a uma esperança que não será confundida, porque o
Espírito Santo será derramado no seu coração. Estará nele o bom testemunho que
Deus concede àqueles que o procuram. A nossa fé terá em si a compreensão do que
nos espera, como aconteceu a todos os que deram testemunho da palavra e
chegaram a conhecer o Criador.
A
escatologia
Estamos
no tempo do fim (1,2; 9,26; 10,25; 12,27). É preciso viver na vigilância,
participando das assembleias, em contínua celebração da Palavra (10,24; Cl
3,16), "à medida que vemos o Dia se aproximar" (10,25). "Um
pouco, muito pouco tempo, e aquele que vem, lá estará. Ele não tarda"
(10,37). Quando da vinda do Senhor, seremos julgados pela Palavra. "Pois,
se a palavra promulgada por anjos entrou em vigor, e qualquer transgressão ou
desobediência recebeu justa retribuição, como escaparemos nós, se negligenciarmos
tão grande salvação?" (2,1-3).
A fé
O
Autor da Carta considera a fé a condição de vida que o fiel deve cultivar até a
sua plenitude. A fé é adesão incondicional a Deus que se revela. Começa pelo
reconhecimento dos seus atributos pela criação. Entendemos o que é fé quando olhamos
para Noé, para Abraão que abandona a terra, que oferece o filho, para Moisés
que resiste ao faraó "como se visse o Invisível". [U1] Enquanto os
que creram não viram a realização das promessas, nós que cremos em Cristo Jesus
vemo-las realizadas. Mas ele chegou à Glória pelo sofrimento. Para evitar o
desânimo, é bom considerar o que ele sofreu por parte dos pecadores (12,3).
A Palavra
Nas
assembléias, a reflexão sobre as Escrituras se torna necessária para renovar o
espírito. É possível contemplar a Palavra que é aquilo que Deus anuncia pelos
profetas e pelo Filho e que se realiza. O testemunho da Palavra será o nosso
juiz. Por ela valorizamos o nosso destino de vocacionados à Cidade celeste, de
companheiros dos santos, em virtude da nova Aliança que Cristo Jesus
estabeleceu. É por isso que a Carta termina com uma exortação "Prestai
ouvidos àquele que vos fala!", que explica porque a mesma começa dizendo
"Muitas vezes e de muitos modos falou Deus". As obras de Deus são a
sua palavra, isto é, o que ele anuncia e realiza, desde a criação. São elas que
devem nutrir a nossa fé da mesma forma que nutriram a fé de muitos homens
santos.
A motivação
Jesus
que "sofreu a cruz, desprezando a vergonha, assentou-se à direita do trono
de Deus" (12,2). O sofrimento leva à perfeição (2,10). Por ele Deus nos
educa (12,7). Conforta-nos termos um Sumo-sacerdote que "levado à
perfeição pelo sofrimento, se tornou para todos os que lhe obedecem princípio
de salvação eterna" (4,9), porque, tendo entrado no Templo do Céu com seu
próprio sangue, é capaz de expiar os pecados e, "tendo ele mesmo sofrido
pela tentação, é capaz de socorrer os que são tentados" (2,18).
Caminho a
seguir
Não
desertar as assembléias porque é nelas que é possível escutar a Palavra,
celebrar a Morte do Senhor e receber o Espírito, confortar e ser confortado na
fé, para viver na perseverança até alcançar uma esperança que não será
confundida. Para viver a santificação, os que foram iluminados e receberam o
Espírito devem continuamente meditar a palavra de Deus (12,25), ainda mais que,
pelo Filho entronizado, ela nos anuncia as realidades definitivas (12,27) das
quais somos chamados a ser herdeiros (vv. 22-24). Pela meditação chegamos à
implementação dos ensinamentos, motivados pela grandeza da recompensa (10,35).
Tudo o que Deus realizou nos julgará. Basta olhar para os pais que, apesar de
terem visto as obras de Deus, não deram a ele sua adesão de fé. Evitemos cair
no mesmo erro porque Deus está nos falando pelo Filho e vivemos uma Nova
Aliança que nos garante a remissão dos pecados pelo sangue daquele que entrou
no céu e é ministro do verdadeiro Santuário. Dele somos chamados a ser
coerdeiros. A única coisa exigida é a de perseverar. "Sem esmorecer,
continuemos a afirmar a nossa esperança, porque é fiel quem fez a
promessa" (10,23; 6,17s).
O prólogo
O prólogo
reflete a profunda convicção do Autor de que, com Jesus Cristo, estamos diante
de Deus que nos fala nos tempos escatológicos. É nossa obrigação prestar
atenção para não deixar de escutar Aquele que fala. É pela escuta atenta da
Palavra, no dia do Senhor, dia em que celebramos a sua Morte e participamos da
carne do seu sacrifício, que crescemos na fé, a ponto de saber resistir até a
morte ao pecado.
Exortação
(2,1-4)
A
salvação, anunciada aos antigos por anjos, negligenciada, mereceu o castigo.
Anunciada pelo Senhor e transmitida pelos Apóstolos implica uma observância
mais cuidadosa. Motivam-nos os sinais, os prodígios, os milagres, a
manifestação do Espírito com os seus dons distribuídos entre os fiéis.
A
exposição teológica e a exortação a não nos tornarmos lentos na compreensão,
com o perigo de nos transviarmos por não observar cuidadosamente os
ensinamentos ouvidos (2,1), se entrelaçam ao longo de toda a Carta. É preciso
viver sempre no fervor da caridade para levar a termo, na perseverança, a
virtude da esperança, a partir do cultivo da fé e, assim, sermos herdeiros das
promessas (6,12). Outra constante da exposição é o contínuo paralelismo entre a
antiga e a nova aliança para que desta última resulte toda a superioridade.
Se
a negligência diante da palavra administrada pelos anjos mereceu o castigo,
quão maior será o castigo se negligenciarmos a Palavra do Senhor e dos
Apóstolos, ainda mais que ela vem acompanhada por sinais, prodígios, milagres e
os carismas do Espírito. "Não endureçamos o nosso coração!". Vivamos
o hoje da nossa existência para não sermos excluídos da terra prometida.
Seremos associados à sorte do Herdeiro, caso vivamos a salvação. Para isso, é
necessário meditarmos sobre a dignidade do Senhor da Igreja.
Essa
exortação inicial nos diz que estamos diante de uma Carta pastoral que se
preocupa com o problema da defecção e que tenta motivar os fiéis a voltar ao
fervor da caridade, para que não se transviem.
3,1-6 Nosso Senhor Jesus Cristo é o
"Filho eternamente perfeito" (7,27b) pelo qual Deus nos fala dos
altos céus. Ele é o Apóstolo e o Sumo Sacerdote da nossa profissão de fé.
Realiza em si a figura de Moisés, superior a ele porque é o Filho, enquanto
Moisés era servo. É superior ao sumo sacerdote, porque é sacerdote segundo a
ordem de Melquisedec. Na condição de arquiteto da casa de Deus (Ex 39,43) está
nos edificando no seu templo pelo Espírito. Mas nós seremos esse templo “se
mantivermos a confiança e o motivo altaneiro da esperança” (3,6).
Segunda
exortação
3,7-18. A forma exortativa, que
começou a se apresentar em 2,1-4, volta a aflorar. Logo entendemos que, pela
palavra, é o Espírito Santo que fala (um claro paralelismo com Ap 2-3:
"quem tem ouvido ouça o que o Espírito diz às Igrejas"). Entendemos,
também, que, para o Autor, estamos nos últimos tempos, de forma que devemos
aprender por aquilo que aconteceu aos israelitas quando não escutaram a voz de
Deus no deserto. Por terem transgredido a Lei, não obstante tivessem visto as
obras de Deus, na sua ira, este os excluiu do repouso prometido. Para não
sofrermos a mesma sorte, devemos manter "firme até o fim a nossa confiança inicial em Jesus” (v.14),
"o Apóstolo e Sumo-sacerdote da nossa profissão de fé" (v.1).
5ª
feira 1ª Semana TC Ano ímpar
Reflexão (Hb 3,7-14)
Hb 3 é um apêndice que quer explicar
qual deve ser a nossa relação com Jesus, considerado na sua condição de Sumo
Sacerdote misericordioso
e fiel. Em relação a misericordioso, o autor acha ter sido bastante elucidativo. É
o termo fiel que sugere uma exortação. Diante do Filho, que Deus constituiu
Senhor da Igreja com poder, ao ressuscitá-lo dos mortos (Ef 1,20), devemos
corresponder com confiança (cf. Sl 31) e esperança. Caso nos entreguemos à murmuração
e à rebeldia, pereceremos, sem alcançar a pátria prometida (Sl 95,14).
4,1-11 Continua aberta a possibilidade
de “entrar no repouso prometido”. Temos que assumir todos os compromissos para
podermos merecê-la. Não podemos nos comportar como as virgens insensatas que
não levaram o óleo consigo (Mt 25,3). Vivamos a fé que abraçamos. A maneira de
argumentar do autor não consegue nos motivar. Tinha a sua validade para os
ouvintes do seu tempo que estavam em consonância com a sua forma de pensar,
especifica de um rabino.
4,12-16 Seremos julgados pela Palavra
de Deus, aquela que o Espírito anunciou pelos profetas e por Jesus Cristo,
"por meio de sinais, de prodígios e de vários milagres, e pelos dons o
Espírito Santo, distribuídos segundo a sua vontade" (2,4). A relação com o
Apocalipse volta a apresentar-se porque a Palavra "mais penetrante do que
qualquer espada de dois gumes que... julga as disposições e as intenções do
coração" é aquela que sai da boca do Filho do Homem, Senhor da Igreja (Ap
1,16), Sumo Sacerdote e Rei-Pastor das ovelhas (13,20).
Depois
da apresentação grandiosa do Filho, depois de ter-nos o autor recordado que
escutamos a mensagem de Jesus que os Apóstolos nos transmitiram com os sinais
do Espírito, de ter-nos lembrado a glorificação que Jesus experimentou pelos
sofrimentos da sua morte e os benefícios da libertação do diabo que ela
acarretou em nosso favor e, enfim, de ter-nos lembrado que, dessa forma, temos
um Sumo Sacerdote que intercede por nós nos céus e pode nos consolar por ter
ele, por primeiro, experimentado a provação, ao lembrar-nos que “se mantivermos
a confiança e o motivo altaneiro da esperança” (3,6), nos garante que
continuaremos a ser a morada de Jesus com o Pai, no Espírito (cf. Jo 14,23). É
a exortação que ocorre ao longo das assembleias dominicais, momento em que os
fiéis se admoestam reciprocamente no intuito de se precaver do desânimo.
Esmorece na sua confiança e se afasta do “Deus vivo”, enquanto o seu coração se
torna mau, o fiel que abdica do querer “degustar a doutrina da justiça” (5,13).
4,14-16 O autor chega à conclusão da
sua argumentação inicial. Os fiéis não devem ceder à tentação do desânimo (Ef
3,11-13). Animem-se diante da eminência do Sumo Sacerdote que entrou no céu:
“Jesus, o Filho de Deus”. Têm que perseverar, a ele recorrendo, porque “é capaz
de socorrer os que são tentados, tendo ele mesmo sofrido pela provação” (2,18).
Aproximem-se do trono da graça para alcançar graça no tempo oportuno.
Sábado
1ª Semana TC Ano ímpar
Reflexão (Hb 4,12-16)
A “Palavra de Deus” tem as seguintes
significações: 1º) É palavra profética (1,1), enquanto foi instrumento de
revelação em relação às coisas que deviam acontecer (1Pd 1,10-11). 2º) É
palavra de autoridade que deve ser executada quando o Filho nos transmite a mensagem
recebida do Pai (2,3-4). 3º) Será instrumento do nosso julgamento final
(4,12-14).
A condição de Filho eternamente
perfeito atua em Jesus enquanto se tornou, no céu, o nosso Sumo Sacerdote.
Enquanto permanecermos firmes no testemunho, poderemos, sempre, por meio da sua
mediação, alcançar do nosso Deus a “graça como ajuda oportuna”.
Hb 1-4 desenvolve dois temas. Trata-se de uma primeira tentativa do autor da carta para motivar os seus leitores a não desanimar diante da provação, pelo contrário, a perseverar, a fim de merecer partilhar da herança dos santos. Estamos diante de uma decisão definitiva, porque recebemos, por Cristo, um Reino, realidade inabalável. Devemos acatar a mensagem de Jesus que, os Apóstolos, por sua vez, nos transmitiram, acompanhada de sinais provocados pelo Espírito Santo. Quanto a sua dignidade, Jesus é o Filho, o herdeiro, Resplendor da Glória de Deus, imagem do seu Ser, o Criador de tudo. Foi glorificado por Deus, na sua humanidade assumida, a ponto de se tornar o nosso Sumo Sacerdote que entrou nos céus e pode interceder por nós, enquanto pode até compadecer-se conosco, por ter sofrido por primeiro. Admoestados por aquilo que aconteceu com Israel no deserto, que foi excluído da terra prometida porque desanimou e partiu para a murmuração, suscitando a ira de Deus, demos ouvido àquilo que este nos diz pelo Filho, por tudo aquilo que ele realizou e ensinou. Caso contrário, como uma espada que sai da sua boca, a sua palavra, mais penetrante que uma espada de dois gumes, nos transpassará, no dia do julgamento.
Hb 1-4 desenvolve dois temas. Trata-se de uma primeira tentativa do autor da carta para motivar os seus leitores a não desanimar diante da provação, pelo contrário, a perseverar, a fim de merecer partilhar da herança dos santos. Estamos diante de uma decisão definitiva, porque recebemos, por Cristo, um Reino, realidade inabalável. Devemos acatar a mensagem de Jesus que, os Apóstolos, por sua vez, nos transmitiram, acompanhada de sinais provocados pelo Espírito Santo. Quanto a sua dignidade, Jesus é o Filho, o herdeiro, Resplendor da Glória de Deus, imagem do seu Ser, o Criador de tudo. Foi glorificado por Deus, na sua humanidade assumida, a ponto de se tornar o nosso Sumo Sacerdote que entrou nos céus e pode interceder por nós, enquanto pode até compadecer-se conosco, por ter sofrido por primeiro. Admoestados por aquilo que aconteceu com Israel no deserto, que foi excluído da terra prometida porque desanimou e partiu para a murmuração, suscitando a ira de Deus, demos ouvido àquilo que este nos diz pelo Filho, por tudo aquilo que ele realizou e ensinou. Caso contrário, como uma espada que sai da sua boca, a sua palavra, mais penetrante que uma espada de dois gumes, nos transpassará, no dia do julgamento.
Explicação do sacerdócio de Cristo
Tema
Tema
4,14-15 Jesus é o nosso Sumo
Sacerdote, superior aos outros sumos sacerdotes, porque é o Filho que
atravessou os céus. A condição de Filho já foi explicada, como, também a
condição de sumo sacerdote. Ambas foram alcançadas em virtude dos sofrimentos.
Por essas duas prerrogativas ele é eminente e sabe "se compadecer das
nossas fraquezas, pois ele mesmo foi provado em tudo como nós, com exceção do
pecado".
4,16. É uma
exortação dirigida aos que são tentados (2,18).
5,1 O autor começa a ilustração do
sacerdócio de Cristo através da figura do sumo sacerdote do culto hebraico. 1º)
É tirado do meio dos homens (2,14: “participou da mesma condição”). 2º) Sua
função é oferecer dons e sacrifícios pelos pecados (2,17: “sacerdote
misericordioso e fiel, par expiar os pecados do povo”);
5,2 3º) é capaz de compreensão (2,18: “Pois tendo ele mesmo sofrido pela
provação, é capaz de socorrer os que são provados”).
5,3 4º) ele mesmo está cercado de
fraqueza (4,15: “Não temos um sumo sacerdote incapaz de se compadecer das
nossas fraquezas, pois ele mesmo foi provado em tudo como nós, com exceção do
pecado”).
5,4. Mas foi Cristo, de fato, chamado
ao sacerdócio, como o foi Aarão?
5,5. Ele o foi, no momento da sua
ressurreição que, não somente o exaltou, como, também, o tornou sacerdote,
quando o Pai proclamou "Tu és meu Filho, eu hoje te gerei" (Sl 2,7),
porque, ao mesmo Filho Deus diz, ao fazê-lo sentar à sua direita: "Tu és
sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec" (Sl 110,1.4). O
fundamento da ilustração está no fato que são citados salmos messiânicos.
5,7-10. Pela sua submissão, que
resgatou a rebeldia do adão, aprendeu a obediência. Tornado perfeito, conheceu
a glorificação. Para a sua glorificação, ofereceu o seu sacrifício pela sua
fraqueza, isto é para remir a sua humanidade da condição de morte, uma vez por
todas. Dessa forma, ele não morre mais. Pelo seu sofrimento, "levado à
perfeição", também, se tornou Sumo Sacerdote para a salvação eterna de
todos os que lhe obedecem. Aquele que está sentado no trono da Majestade é
Filho e Sumo Sacerdote também: "Jesus, o Filho de Deus" (4,14). A
ilustração será retomada com Hb 7,1.
2ª
feira 2ª Semana TC Ano ímpar
Reflexão (Hb 5,1-10)
O autor começa a análise daquele que
estava apresentando desde o início para que fiquem claras as condições do
sacerdócio de Jesus. É possível encontrar em Jesus as características do Sumo-sacerdote
da Antiga Aliança: tirado do povo para oferecer sacrifícios em favor dos
irmãos; compreensivo, porque ele mesmo cercado de fraqueza. Ninguém, contudo,
outorga a si mesmo a condição sacerdotal, porque Aarão foi chamado por Deus.
Jesus é sacerdote porque Filho que o
Sl 110 declara sacerdote segundo a ordem de Melquisedec. De fato, o é na
condição de verdadeiro adão, levado à perfeição pelos sofrimentos, que se
ofereceu como vítima de expiação em favor dos seus irmãos. Quando Deus o
glorifica com a ressurreição e a ascensão, então lhe outorga o título de
Sumo-sacerdote com as funções que a figura da Escritura indica. A Divindade se
aproxima tanto de nós que chega a se compadecer dos homens a partir da
experiência que teve pela encarnação, através da sua imolação. Pela sua humanidade
glorificada nos ensina o caminho da nossa glorificação, mediante o gesto do
reconhecimento da nossa dependência da Divindade, e o caminho da nossa
purificação pela celebração do seu sacrifício de expiação que nos leva à
prática de toda boa obra.
Os que lhe obedecem alcançam a
salvação eterna.
5,11-6,20
5,11-14
É
retomada a linha exortativa, iniciada de forma admoestativa.
A
vida cristã. Para o Autor da Carta, o início da vida de cada cristão se dá com
o anúncio do Senhor: "Completou-se o tempo, o Reino de Deus está perto,
convertei-vos e crede no evangelho" (Mc 1,14; Hb 2,3). Os Apóstolos que
estiveram com ele desde o início (1Jo,1,1; Hb 2,4), o transmitiram fielmente,
“testemunhando Deus juntamente com eles, por meio de sinais, de prodígios e de
vários milagres, e pelos dons do Espírito santo, distribuídos segundo a sua
vontade" (Hb 2,4). A pregação provocou a conversão que levou ao Batismo,
"iluminação, dom do Espírito" (6,4). A vida de fé foi, então, nutrida
pela Palavra da profecia e pelas forças do mundo que há de vir (Hb 6,5; 12,22s;
Ap 1,3.10-13). A perseverança que produz uma virtude comprovada (Rm 5,4) é a
condição para chegarmos à posse da herança das promessas (Hb 6,12). Somente
pela virtude comprovada é possível degustar a doutrina da justiça (5,13). É
necessário, portanto, nutrir a fé com as obras da caridade, quais sejam:
assistir os prisioneiros, aceitar a prisão, ser despojados dos bens (10,34).
Mantido o "mesmo ardor em levar até o fim o pleno desenvolvimento da
esperança" (6,11), a lançamos "para além do véu, onde Jesus entrou
por nós, como precursor" (v.20). Então não seremos confundidos porque o
Espírito Santo terá sido derramado nos nossos corações (Rm 5,5). Quando
iluminados pelos seus dons de sabedoria e revelação, sabemos qual é a esperança
que o seu chamado encerra (Ef 1,18; Hb 12,22s). Quem não cultiva a fé pelos
dons do Espírito, quem não persevera na tribulação até possuir uma virtude
comprovada, se torna "lento à compreensão" (6,12) e fica exposto ao
desânimo.
6,19 A esperança, com efeito, é para nós qual âncora da alma, segura e
firme, penetrando além do véu Quando nos abrimos a uma esperança incapaz de
esmorecer, porque sustentada pela alegria que a constância nas tribulações
provoca, temos em nós a garantia, a prova das realidades futuras. Nada nos
poderá separar do amor de Cristo.
6,20 Onde Jesus entrou por nós, como precursor, feito sumo sacerdote para o
éon, segundo a ordem de Melquisedec Volta a ser lembrado o tema da carta,
apresentado no prólogo e já repetido em 4,14. É o pensamento que o autor quer
participar para se edificar através da sua exortação quando for lida na
assembleia dominical.
3ª
feira 2ª Semana TC Ano ímpar
Reflexão (Hb 6,10-20)
Desde Hb 2,1-4 vemos o autor da
Carta relacionar o seu pensamento teológico a conselhos que visam levar os
fiéis a viver o seu compromisso moral. Diante da constatação de que Deus nos
fala pelo Filho, não podemos negligenciar tão grande salvação (2,3). Olhando
para o homem Jesus que nos mereceu a redenção pela sua imolação, abramo-nos à
esperança de podermos ser confortados por este nosso Sumo Sacerdote que “tendo
ele mesmo sofrido pela provação, é capaz de socorrer os que são provados”
(2,18). Sabendo que somos a casa de Deus à qual o Filho foi preposto e que continuaremos a sê-la “se mantivermos
a confiança e o motivo altaneiro da esperança” (3,6), não endureçamos o nosso
coração, para podermos entrar no repouso prometido. Quando acaba de fazer uma
apresentação comovente e grandiosa da Pessoa do Senhor que “nos dias da sua vida
terrestre, apresentou pedidos e súplicas, com veemente clamor e lágrimas,
àquele que o podia salvar da morte” (5,7), intensifica a sua exortação para que
os fieis não percam a graça que podem haurir ao contemplar Jesus em toda a sua
grandeza de Sumo Sacerdote, segundo a ordem de Melquisedec.
A vida cristã constitui-se de
conversão, cultivo da fé, vivência da nossa configuração a Cristo Jesus,
recebida do Espírito no nosso Batismo, senso moral exercitado para que possamos
“degustar a doutrina da justiça” (5,13). O fracasso na vida moral poria em
risco a própria salvação eterna. A estatura adulta, alcançada enquanto nos
nutrimos com a doutrina da justiça, é aquela que permite viver no ardor
inicial, condição indispensável para “levar até o fim o pleno desenvolvimento
da esperança” (6,11). Estamos diante do mesmo pensamento de Paulo seja quando
escreve a 2Cor como quando escreve Rm 5. A condição adulta é aquela que não nos
deixa “lentos à compreensão”: alcançaremos a herança prometida somente pela
perseverança.
O juramento que Deus fez a Abraão
que acabou sendo abençoado porque acreditou contra toda esperança e o juramento
que constituiu Jesus na condição de Sumo Sacerdote segundo a ordem de
Melquisedec, são o fundamento da nossa confiança. Na perseverança alcançaremos,
com certeza, a herança prometida.
O desânimo frustraria uma vida de
fé, caso faltasse a perseverança na provação. O autor da Carta sugere, então, que
encontremos alento em Jesus Cristo que Deus constituiu nosso Sumo-sacerdote Sacerdote[U1] .
7,1-25.
O sacerdócio de Cristo segundo a ordem de Melquisedec.
Introdução.
Após ter falado do sacerdócio de Jesus na condição de Filho, o adão que foi
coroado de honra e glória, que foi chamado a ser Sumo sacerdote como Aarão, e
ter ilustrado as suas condições, comparando-as às do Sumo- sacerdote da Antiga
Aliança, o Autor, agora, o ilustra através da figura de Melquisedec, rei de
justiça e de paz, como o indicam o seu nome (hbr.: Rei de Justiça) e a cidade
que governa (Salém). Dele não são lembrados os nomes do pai e da mãe, nem a
genealogia, nem o tempo da sua existência. É figura de Jesus Rei Sacerdote que
abençoa e permanece eternamente. É segundo o sacerdócio do Rei de Salém, sem
genealogia, que o Sl 110,4 fala do sacerdócio do Messias, constituído abertamente
Filho de Deus, no momento da sua ressurreição, segundo a interpretação
profética que Paulo faz do Sl 2,7, em At 13,33. Em Abraão, até os descendentes
de Levi pagaram o dízimo a Melquisedec. E, enquanto os sacerdotes pertencem à
ordem sacerdotal em virtude de uma descendência, Cristo se torna sacerdote em
virtude de um juramento: "O Senhor jurou e não se arrependerá" (Sl
110,4).
7,26-28. Jesus é o nosso Sumo-sacerdote,
superior aos sacerdotes da terra, que precisam oferecer sacrifícios a cada dia.
Ele o fez uma vez por todas para si e para nós. Mas, não mediante sacrifícios
de animais, e, sim, "oferecendo-se a si mesmo" (v.27), o que redundou
na sua perfeição e na nossa redenção. Jesus se tornou sacerdote, não por causa
de uma descendência, e sim, por um juramento. É no "Filho eternamente
perfeito" (v.28) que temos o nosso Sumo Sacerdote santo, inocente,
imaculado, elevado no mais alto dos céus" (v.26).
O
sacerdócio de Jesus, além de ser lembrado como prerrogativa do Filho, em
relação, portanto, à sua natureza humana que, por ele é glorificada, é lembrado
em relação à redenção que realiza e celebra (2,17-18). A celebração é
perpetuada entre os seus irmãos pelo Memorial que ele instituiu.
8-10. O tema central da Carta volta a
ser citado para ser desenvolvido segundo mais outras prerrogativas que o
sacerdócio de Cristo apresenta: ministro da verdadeira tenda (8), suprime o ‘santo’
e entra no Templo do céu com o seu sangue (9); é o Sacerdote da Nova Aliança
(10).
.
8,1 Tema Jesus é Mediador de uma Nova
Aliança que oferece melhores promessas (8,6), porque ele é o Filho que “depois
de ter realizado a purificação dos pecados” (1,3), “ se assentou a direita do trono da Majestade nos céus” .
8,2 Suas prerrogativas. Seu sacerdócio
é segundo a ordem de Melquisedec. O juramento do Pai, no momento da sua
ressurreição, no-lo revela exercido, agora, no céu (1-7). É ministro no
verdadeiro santuário.
8,3-5 A Tenda e o sacerdócio levítico,
com os seus sacrifícios e oferendas, eram figuras. O culto praticado no
santuário da terra era cópia daquilo que era praticado no céu. Figura,
portanto, profética do “Cordeiro imolado contemplado desde antes a criação do
mundo” (1Pd 1,19-20)
8,6 O Filho, constituído sacerdote por
juramento,estabelece uma Nova e Eterna Aliança, com melhores promessas.
5a feira 2ª Semana TC Ano ímpar
Reflexão (Hb 7,25-8,6)
O argumento, que o autor
da carta aduz para exortar os fieis a se precaverem do desânimo diante de
continuadas tribulações, é “Nosso Senhor Jesus” na sua condição gloriosa
(13,20), merecida, contudo,pela imolação de Cruz (12,2).
A condição peculiar de Jesus é
ilustrada através de constantes comparações com a figura do sumo sacerdote na Antiga
Aliança.
Ao mesmo tempo, o autor da carta,
enquanto oferece motivos de admiração pela pessoa de Jesus, apresenta
exortações morais para que os fieis cheguem a viver a sua vida de fé na sua
plenitude, única condição para usufruir da mediação que Jesus oferece em vista
da nossa conquista da herança reservada aos santos. Devemos chegar a promover em
nós a virtude da esperança porque ela é a âncora que podemos lançar além do véu
e nos ganchar à mediação que Jesus oferece na condição de nosso Sumo Sacerdote
(6,19-20).
A primeira grande responsabilidade
deriva do fato de que estamos no fim dos tempos, porque Deus, depois de ter
falado muitas vezes e de muitos modos pelos profetas, nos últimos tempos nos
falou pelo Filho. Esta condição de Jesus “que, em vez da alegria que lhe foi
proposta, sofreu a cruz, desprezando a vergonha, e se assentou à direita do
trono de Deus” (12,2) é ilustrada pelo Sl 2,7: “Tu és meu Filho, a ti eu
constituo Dia”. Ele é o nosso Sumo-sacerdote segundo a ordem de Melquisedec (Sl
110,4).
Eis a primeira exortação: “Não
podemos negligenciar tão grande salvação” (2,3). A segunda exortação segue-se à
apresentação de Jesus na condição de nosso modelo porque realizou em si os
ideais do verdadeiro adão e mostrou qual é o caminho da perfeição que leva à
gloria. Este é o nosso Sumo-sacerdote que revela ter em si os sentimentos do
Deus misericordioso e que mostrou a fidelidade da qual a Bondade é capaz
(2,17). Evitemos, portanto, a murmuração e o desânimo para não sermos excluídos
da terra prometida
Hb 5 intensifica a apresentação das
características do nosso Sumo-sacerdote para que cresça a nossa confiança e
vejamos nele o “motivo altaneiro da nossa esperança” (3,6). Foi tirado do meio
dos homens, oferece o sacrifício pelos pecados, sabe compadecer-se porque
circundado de fraqueza, intercede por si e pelos irmãos. Hb 5,5-10 descreve os
sentimentos de Jesus, enquanto vivia a sua imolação aqui na terra.
Hb 6
apresenta em todos os seus detalhes a vida dos fieis para que possam
usufruir da mediação de Jesus. É “pela fé e pela perseverança que receberemos a
herança das promessas” (6,12). Não basta a conversão, a graça do Batismo, a
imposição das mãos, crermos na ressurreição dos mortos e no julgamento eterno
(6,2; 9,27). Temos que crescer até “degustar a doutrina da justiça” (5,13).
Sabendo, então, discernir entre o bem e o mal, seremos constantes se perseverarmos
na tribulação.
Hb 7 fortalece a nossa compreensão
da grandeza de Jesus, enquanto mostra a
sua decisiva superioridade sobre o sacerdócio de Aarão e da tribo de
Levi. Um sacerdócio recebido por juramento e eficaz.
Hb 8 acrescenta mais outras
prerrogativas. Jesus se tornou ministro da tenda armada pelo Senhor. Os
sacerdotes da terra, enquanto oferecem suas dádivas, são cópias do culto que se
realiza no céu. Basta lembrar que Moisés construiu a tenda de acordo com a
“instituição divina recebida” (v.5) (Ex 25,40).
8,7-13 Jesus, mediador de uma Nova
Aliança. Realiza-se a profecia de Jr 31,31-34.
Deus, na sua
misericórdia, comprazido no Filho, o Amado, esquece todas as culpas praticadas
sob a antiga Lei. Por Cristo é dado ao homem receber, pela graça da
justificação, a adesão às palavras da pregação do Evangelho, segundo o
Espírito. Pelo testemunho do mesmo Espírito, que está nele, tem certeza de
possuir a verdade divina. Pelo processo de purificação e da observância dos
mandamentos, em comunhão com os Apóstolos que lhe transmitiram a fé, pode
chegar à condição de escolhido entre os chamados.
O ministério de Cristo é superior, medeia uma
aliança bem melhor, porque é dada uma Lei cujas prescrições, cumpridas, nos
alcançam a santificação; nos fornecem bens melhores.
8,8 O profeta Jeremias a anunciou,
enquanto denunciava o fracasso da Primeira Aliança.
8,10-12 Na sua misericórdia, Deus
perdoará os pecados, inscreverá a sua lei nos corações dos fiéis, que
“conhecerão o Senhor”. Deus amará tanto o mundo que entregará o seu Unigênito.
Pela sua humanidade este será o Modelo e Princípio de santificação. O seu
Espírito conduzirá o fiel à perfeição do conhecimento do Senhor.
Hb
9 Jesus purifica “a nossa consciência das obras mortas para que prestemos culto
ao Deus vivo” (v.14).
O autor da
carta, não se cansa de encontrar motivos para mostrar a superioridade, quanto à
condição de graça, que agora alcançamos em virtude do sacerdócio de Jesus.
Começou a prová-la, deste ilustrando, inicialmente, a condição divina e a
perfeição que alcançou pelo sofrimento (Hb 1-2). Aproximou Jesus à figura do sumo sacerdote para mostrar
como somente Jesus alcançou aquilo que os ritos que o sumo sacerdote pratica
significam, mas não alcançam: “Jesus foi atendido por causa da sua submissão”
(5,7)
A cada ano,
o sumo sacerdote, antes de entrar no Santo dos Santos, "oferece sangue por
suas falhas e pelas do povo" (9,7). Contudo, "tudo eram ritos
humanos" (v.10) "sem eficácia para aperfeiçoar a consciência de quem
presta o culto" (v.9). "Cristo, porém, veio como sumo sacerdote dos
bens futuros...Ele entrou uma vez por todas no Santuário... com seu próprio
sangue... para que prestemos culto ao Deus vivo" (v.11-14).
Em
relação a Moisés, é Mediador de uma nova aliança. Os que são chamados para ser
a assembléia de Deus “recebem a herança eterna que foi prometida" (9,15).
Hb
10 Por isso, Jesus é o Messias que quer realizar a vontade de Deus mediante o
sacrifício da sua vida, em lugar dos holocaustos da Lei que não agradam a Deus.
Pelo novo sacrifício substitui a Lei antiga com a Nova Lei, inscrita nos
corações (Jr 31,31-34).
"Pelo
sangue de Jesus temos plena garantia de entrar no Santuário" (10,19).
Celebrando o sacrifício de Cristo nas nossas assembleias, temos em Jesus
"um caminho novo e vivo que ele mesmo inaugurou através do véu, quer
dizer, através da sua humanidade”. A nossa celebração é presidida por um
sacerdote eminente constituído sobre a casa da Deus. Nossa esperança volta a
ser animada porque podemos nos estimular à caridade. Nossa vigilância será
renovada "à medida que vemos o Dia se aproximar".
Quem
se omite em cultivar a fé e a perseverança, "calca aos pés o Filho de
Deus, profana o sangue da Aliança, ultraja o Espírito da graça" (10,29).
Deus não encontra nele mais nenhuma satisfação (v.38).
Reflexão
(Quando começamos a ler Hb 9, apresenta-se clara a ideia que o autor
tinha do culto da A.A. Havia “um ritual para o culto e santuário terrestre”.
“Naquele regime, apresentavam-se oferendas e sacrifícios sem eficácia para aperfeiçoar
a consciência de quem presta o culto. Tudo eram ritos humanos referentes aos
alimentos, às bebidas, às abluções diversas, impostos somente até o tempo da
correção” (9, 9b-10).
“Cristo, porém, veio como sumo
sacerdote dos bens vindouros. Ele atravessou uma tenda maior e mais perfeita,
que não é obra de mãos humanas” (9,11). Trata-se da sua humanidade (9,20).
“Entrou, uma vez por todas, no Santuário... com o próprio sangue, obtendo
redenção eterna” (9,12).
“Eis porque ele é mediador de nova aliança.
Sua morte aconteceu para o resgate das transgressões cometidas no regime da
primeira aliança” (9,15). “Aqueles que são chamados recebem a herança eterna
que foi prometida” (9,15).
Os descendentes de
Abraão, isto é os que se tornam descendência do patriarca que acreditou e que
Deus pode suscitar até das pedras, pela fé em Cristo, que nos justifica por
graça, se tornam co-herdeiros. A justificação “aperfeiçoa a consciência de quem presta o culto” (9,9), “porque
todos me conhecerão, do menor até o maior. Porque terei misericórdia das suas
faltas e não me lembrarei mais dos seus pecados” (8,11b-12).
À semelhança da Antiga Aliança, a
Nova Aliança se fundamenta na Morte da vítima oferecida. É pelo seu Sangue que
tudo é purificado e há a remissão dos pecados. Cristo entrou no Santuário do
Céu uma vez por todas.
Os que promovem a sua esperança dele
receberão a salvação.
9,1 Na Antiga Aliança, o santuário e o
ritual para o culto eram terrestres. Havia uma primeira tenda chamada Santo e,
depois de um véu, uma segunda tenda chamada Santo dos Santos.
9,9 O fato de repetir sacrifícios na
primeira tenda e de entrar a cada ano na segunda tenda, significa, como nos
sugere o Espírito, que não se tratava de ritos definitivos.
9,10 Eram “ritos humanos referentes
aos alimentos, às bebidas,às abluções” (Gl ).
9,11-14 Cristo, com o seu sacrifício,
entrando, uma vez por todas no Santuário do céu, com o seu sangue, lá estando
como mediador, é ministro dos bens vindouros.
9,15 Pela sua morte somos resgatados
das transgressões que poderíamos cometer sob a Lei e postos em condição de
herdar a herança prometida (aquela que, na fé, os nossos ancestrais viram de
longe).
9,16-28 Moisés selou a Aliança com a
proclamação da Lei e a aspersão do sangue. Cristo aspergiu com o seu sangue a
realidade celeste e estabeleceu uma aliança eterna. Não repete mais o
sacrifício. Realizou a purificação dos pecados, uma vez por todas, tendo
alcançado a sua glorificação. Voltará para dar a salvação aos que o esperam.
9,24 Primeira prerrogativa do exercício
sacerdotal de Jesus: intercede “diante
da face de Deus em nosso favor”.
9,25 Segunda prerrogativa: o faz uma
vez por todas, a diferença do sacerdote da terra que entra a cada ano no Santo
dos Santos.
9,26 Terceira prerrogativa: abole o
pecado por meio do próprio sacrifício.
9,27 Quarta prerrogativa. Com a sua
segunda vinda dará a “salvação àqueles que o esperam”
2ª
feira 3ª Semana TC Ano ímpar
Reflexão (Hb 9,15.24-28)
O autor da carta, ao lembrar as
narrativas didáticas do Êxodo acerca da tenda, onde se encontram reproduzidas
as condições do templo de Salomão, consegue trasmitir a clara sensação de quão
transitória era a condição dos ritos de tradição humana e de como, de fato, não
conseguiam purificar as consciências dos homens. Chega até a sugerir um sinal
do Espírito Santo na sala em frente ao Santo dos santos. Dá-se a realidade
definitiva quando Jesus entra no Santo dos Santos, no Santuário do Céu, porque ocorre
a purificação pelo seu sangue e as realidades futuras nos são oferecidas:
“Disse o Senhor ao meu Senhor, senta-te à minha direita” (Sl110,1)... O Senhor
jurou e não se arrependerá, ‘Tu és sacerdote eternamente segundo a ordem do rei
Melquisedec’ (v.4).
Estamos diante de ensinamentos,
todos eles deduzidos como ensinamentos das Escrituras, interpretadas de forma
muito pessoal, visando ilustrar a grandiosa realidade que Jesus o Cristo
estabeleceu, na qual podemos colocar nossa confiança e pela qual podemos
alimentar nossa altaneira esperança. Em Jesus, podemos ver o verdadeiro adão. A
perfeição que ele alcançou pelo sofrimento e que lhe mereceu a glorificação nos
anima na luta contra o pecado e no testemunho. A sua condição divina inspira a
nossa confiança, porque ele é o Filho preposto sobre a casa de Deus que somos
nós. Nele podemos reconhecer os traços do Sumo sacerdote que sabe compadecer-se
e pode interceder por nós porque estabelecido na ordem sacerdotal por um
juramento divino.
Hb 10 Com o seu sacrifício,
Jesus estabelece o princípio da nossa glorificação (v.19)
10,1-10 Superioridade do sacrifício de Cristo
10,1Na Lei temos as figuras dos bens
futuros. Por isso, os sacrifícios provocam somente uma purificação legal. Não
tiram os pecados. Não conseguem dar a partida a um processo de santificação
naqueles que são chamados à perfeição.
10,2-3 Isto é comprovado pelo fato de
que os sacrifícios eram continuamente repetidos. Exatamente por que ficava nos
fiéis “uma consciência dos pecados”.
10,4 De fato, o sangue dos animais não
pode eliminar os pecados.
10,5-10 É o Filho, Jesus, que diz ao
Pai que veio, disposto a realizar o sacrifício de expiação, na submissão. Ab-rogado
o regime da Lei, pela oferenda do seu corpo, Jesus, realiza, uma vez por todas,
a redenção.
3ª
feira 3ª Semana TC Ano ímpar
Reflexão (Hb 10,1-10)
É desde Hb 5 que o autor da carta
ilustra o sacerdócio de Cristo, comparando-o ao sacerdócio da Antiga Aliança. A
aproximação com a figura do sumo sacerdote, tirado do meio dos pecadores, que
precisa oferecer sacrifícios também para si, consegue nos fazer entender quanto
Jesus é misericordioso. Em Hb 7, ao ilustrar a superioridade do sacerdócio de
Cristo evocando a figura de Melquisedec do Sl 110, nos faz ver quanto ele é
eficaz na sua mediação em nosso favor. Em Hb 9, ao detalhar os elementos que
estão na tenda, chega a nos dizer que tudo era figura, para enfim nos dizer,
com o texto de hoje, que o rito da purificação dos pecados era vão, porque o
sangue de bodes e carneiros não cancela os pecados.
Com a citação do Sl 40, hoje,
sintetiza tudo o que vem explicando desde o início: Jesus é o Filho. Em virtude
da sua condição divina que realiza a purificação dos pecados. A sua imolação
agrada a Deus porque Ele é o verdadeiro Adão que vive, no corpo que assume, o
reconhecimento da dependência da criatura do seu Criador até a imolação.
Este é o Modelo que deve nos
inspirar para nos aliviarmos de “todo fardo (desânimo) e do pecado que nos
envolve (tentação de apostatar)” (12,1) e viver na perseverança para chegar a
possuir “um senso moral exercitado”. Então nos teremos transformado na casa do
Filho, dela constituído por Deus ministro, porque estaremos mantendo “a
confiança e o motivo altaneiro da esperança” (3,6).
10, 11-18 Superioridade do sacerdócio
de Cristo
10,11 Realizada a redenção, Jesus,
entronizado, estabelece o princípio de santificação, pelo qual os fiéis podem
chegar a ser perfeitos como é perfeito o Pai que está no céu.
10,15- O atesta o Espírito Santo: com
a Nova Aliança, Deus inscreverá as suas leis nos corações dos fiéis, esquecido
dos pecados e iniquidades de outrora.
10,18. Perdoado o pecado, “já não se
faz mais a oferenda por ele”.
10,19-25 O Caminho novo
10,19-20. Na humanidade de Cristo, que
conheceu o caminho da glorificação, está o princípio da nossa santificação.
10,19
Sendo assim, irmãos, temos a plena garantia para entrar no Santuário.
10,21. Nós somos o novo templo que
Deus construiu. Cristo Jesus o preside, na condição de Filho, para levar à
herança os que guardam de forma altaneira o motivo da sua esperança (3,).
10,22. A purificação dos pecados é
aquilo que primeiramente devemos fazer.
10,22...o
coração purificado de toda má consciência.
10,23. Vivamos a perseverança nos
sofrimentos, segundo a virtude da constância. Creiamos na fidelidade de quem
fez a promessa.
10,23...
Afirmemos nossa esperança.
10,24-25.
Pelo cultivo da Palavra, exortemo-nos uns aos outros, quando celebrarmos a
Liturgia dominical; animemo-nos (Cl 3,16) enquanto, na vigilância esperamos nos
unir àquele por quem nos alegramos nos sofrimentos. Ele é capaz de nos socorrer,
tendo sido tentado por primeiro. Ele nos consolará (Ap 3,8), conhecendo a nossa
fraqueza.
10,24...
Estimulemo-nos às boas obras.
10,25...
Não deixemos as nossas assembléias.
10,26...
Aguardemos vigilantes o Dia do Senhor.
10,26-31 O castigo para os que apostatam, tomados pelo desânimo
Se, por
causa do desânimo, cairmos na apostasia, seremos devorados pelo fogo de Deus,
por termos crucificado novamente a Cristo e “ultrajado o Espírito da graça”.
10, 32-39 Motivos para levantar os ânimos
10, 32-39. Arenga. Lembrem quanto de
sofrimentos já viveram. Perseverem até o fim, sem esmorecer. Sejamos homens de
fé “para a conservação de nossa alma”. Pelo anúncio da Palavra, o Espírito os
levou à conversão. Experimentamos, então, pelo Batismo, a Luz-Vida, através dos
dons da fé, da esperança e da caridade. Chegamos ao ponto de nos tornarmos os
eleitos, em virtude do testemunho, “debaixo de injúrias e tribulações” e da
assistência que prestamos aos que estavam na prisão. Experimentamos, até, a alegria
do Espírito Santo quando, espoliados dos nossos bens, estávamos “certos de
possuir uma fortuna melhor e mais durável”. Por que perder a recompensa,
cedendo ao esmorecimento? Se o justificado esmorecer, Deus não encontrará nele
“mais nenhuma satisfação”. “Nós não somos desertores, para a perdição. Somos
homens da fé, para a conservação da nossa alma”.
10,32
Lembrai-vos, contudo,.. É como se o autor dissesse: “Esqueçam o que
falei dos castigos que acometeriam que abandonasse a fé, desiludido com ela. Lembrem
a consolação que experimentaram quando a abraçaram e de quanto foram capazes em
suportar dolorosos combates, as injurias, as perseguições e com que caridade
assististes os que estavam presos. Aceitastes até a espoliação dos seus bens,
na convicção que a fortuna adquirida era bem melhor e mais durável.
10,35 Não percais, pois, a vossa
segurança. “É de perseverança que tendes necessidade” (v.36), porque a vida
de fé se realiza, não enquanto sentimos satisfação porque ela nos dá o retorno,
segundo uma expectativa humana, mas enquanto cumprimos com a vontade de Deus. O
homem vive segundo esse tipo de fé. Se ele esmorece, Deus não encontrará nele
satisfação alguma.
Comentário.
– Por esse trecho, chegamos a definir os destinatários da Carta. Notamos, também,que
há um paralelismo com 1Ts. Há perseguições por parte dos judeus. Os
tessalonicenses as suportam com ânimo. Os instruiu Paulo que aprendeu o valor
da vida do Crucificado e que sabe que tal vida produz vida nos outros, é
princípio de glorificação e condição de perfeita evolução no adão redimido. A
comunidade de origem judaica não reage da mesma forma. É tomada pelo desânimo.
Trata-se de uma comunidade de famílias da tribo de Levi que serviam no templo e
que, agora sentem o peso da pobreza, das humilhações e das perseguições.
Tema O sacerdócio de Jesus
O
autor da carta, por duas vezes, afirma categoricamente que Jesus não pode ser
considerado sacerdote em relação à Lei hebraica. Somente os descendentes da
família de Aarão e a tribo de Levi serviam no templo. Jesus era da tribo de
Judá. A sua imolação é, sobretudo, expressão do culto que a criatura eleva ao
Criador. Por ela, Jesus chega à perfeição, o que permite ao Criador torná-lo
partícipe da sua Glória. Em virtude da sua condição divina, a participação na
Glória é de tal forma plena que Paulo diz: “Nele habita corporalmente a
plenitude da divindade” (Cl 2,9). Ascendido à Glória, Jesus é “estabelecido
Filho de Deus com poder, em Espírito de santidade” (Rm 1,4). É o momento em que
Deus Pai declara “Tu és meu Filho, eu hoje te gerei” (Sl 2,1), respondendo às
suas súplicas feitas ao longo da sua vida na terra. A condição definitiva de
Filho e Sacerdote tem seu fundamento naquilo que Jesus, ao entrar no mundo diz
ao Pai: “Não foram do teu agrado os sacrifícios da Lei, eis-me aqui, -no rolo
do livro está escrito a meu respeito- eu vim ó Deus, para fazer a tua vontade”
(10,7). O Filho que teve sua origem por obra do Espírito Santo, que oferece a
sua vida em sacrifício, vê sua condição divina e sacerdotal manifestada quando
chega à perfeição pela graça que Deus lhe concedeu de “provar a morte em favor
de todos os homens” (2,9). O autor da carta, todavia, lembra que Jesus foi
chamado ao sacerdócio por Deus, à semelhança de Aarão, o que lhe permitiu
assumir as mesmas funções do sumo sacerdote, em relação ao povo, porque assim
reconhecido por Deus ao entrar no Céu, “realizada a purificação dos pecados”
(1,_). Foi, então, que manifestou ser um sacerdote “misericordioso e
compassivo”, capaz de se compadecer com aqueles que são tentados, porque ele o
foi por primeiro.
O
sacerdócio que Jesus exerce no céu resulta ser superior ao sacerdócio que o
mesmo Deus instituiu ao chamar Aarão para a função de oferecer sacrifícios e
interceder pelo povo. É superior porque é “segundo a ordem de Melquisedec” e
extingue, por isso, o sacerdócio da Antiga Aliança; porque é eficaz, uma vez
que a purificação dos pecados acontece em virtude da aspersão do seu sangue, e
eterno, porque ele é aquele que “levado à perfeição” vive eternamente (Hb 7). A
profunda semelhança de Jesus com o sumo sacerdote quando oferece o sacrifício
de expiação (5,3), torna a figura, uma valiosa explicação do sacerdócio de
Cristo. Cercado ele mesmo de fraqueza, coisa que lhe permite compreender os
irmãos quando erram por ignorância, oferece o sacrifício tanto para si quanto
pelo povo. É aquilo que Jesus fez. Sabe, todavia, se compadecer dos pecadores
muito mais do que o sumo sacerdote ao oferecer os sacrifícios, porque ofereceu
a sua vida de forma eficaz, alcançando a redenção, ao mesmo tempo em que
alcançava para si a perfeição. Quem exerce o seu sacerdócio na Tenda do céu é
um Sumo-sacerdote “tornado perfeito”, que entrou no Santuário atravessando o
véu de uma vez por todas. Também, quando rezava para si, não era em vista da
remissão dos seus pecados. Embora cercado de fraqueza, ele não conheceu o
pecado. Precisava rezar para subtrair, de forma definitiva, a natureza humana
assumida da condição definitiva de poder ser tentada pelo diabo. Nisto foi
atendido. Ele é, agora, no céu, o Sumo-sacerdote eminente, o Filho de Deus, que
lá entrou pelo véu do seu corpo, com o seu Sangue e intercede por nós.
“Oferecido uma vez por todas para tirar os pecados da multidão... aparecerá uma
segunda vez, com exclusão do pecado, àqueles que o esperam, para lhes dar a
salvação” (9,28).
A
condição sacerdotal de Jesus é o tema no qual o autor mais se estende para
ilustrar a novidade dos últimos tempos. O Filho, pelo qual Deus nos fala e que
se revelou de condição divina pela sua glorificação, que explicitou o sentido
da sua Morte, pela ressurreição, encontra, na figura do sumo sacerdote, a mais
valiosa ilustração. Essa condição pode ser, inicialmente, apresentada através
do homem em que se tornou Jesus e que chegou à perfeição pela graça da sua
Morte redentora. Nesse caso, eis que Jesus aparece como o Sumo sacerdote
misericordioso e fiel, que sabe se compadecer daqueles que são tentados. Esse
aspecto é desenvolvido ao considerar o caminho que a humanidade de Cristo
percorreu para ser poupada da morte, enquanto realizava a purificação dos seus
irmãos: perfeição da caridade em todos os aspectos; manifestação da Glória no
Filho do Homem.
Através
das palavras do Sl 110, o autor viu que se podia explicar a superioridade do
sacerdócio de Cristo, a sua condição eficaz e eterna (Hb 7).
Hb
8 e 9 aponta para a superioridade do sacerdócio de Jesus ao lembrar que a tenda
na terra era figura da Tenda no céu, na qual Cristo entrou como Sumo Sacerdote
com o seu sangue, realizada a purificação dos pecados uma vez por todas.
Hb
10 mostra Jesus no exercício do seu sacerdócio, que se revela superior ao
sacerdócio da Lei, porque a oferta que faz de si agrada a Deus, em virtude da
sua obediência (o que nos faz remontar ao sacrifício criatural e vê-lo como
fundamento da ordem sacerdotal).
Temos
um eminente sacerdote que Deus constituiu acima da sua casa (10, ). “Esta casa
somos nós se mantivermos a confiança e o motivo altaneiro da nossa esperança”
(3,6). Reconhecemos que o fim de Hb 2 e o início de Hb 3 é a síntese do tema
sobre o sacerdócio que a carta desenvolve e pelo qual o autor quer ilustrar a
novidade do Filho que nos fala “nos últimos tempos que são os nossos” e a sua
eminente condição: sentou-se acima dos céus à direita da Majestade, tão
superior aos anjos quanto é o nome que herdou.
A
argumentação é o válido fundamento da exortação. Consegue até nos conscientizar
sobre a grave obrigação moral de prestar atenção a Deus que nos fala.
Tema: O nosso sacerdócio
Quando
Jesus entra no mundo se apresenta diante de Deus na condição de quem vai se
substituir às vítimas oferecidas pelos judeus sobre o altar do sacrifício no
templo. A sua imolação agrada a Deus enquanto vive a sua obediência e o
reconhecimento, na condição de verdadeiro adão, da sua dependência do Criador.
Quando, portanto, entra no santo dos santos, no céu, tendo vivido o seu
sacrifício pela morte cruenta na Cruz, porque consagrado pelo Pai por um
juramento que o torna Sumo Sacerdote, asperge com o seu Sangue as realidades do
céu. Pela sua intercessão eficaz, recebemos a justificação. O caráter com que o
Espírito nos configura a Cristo, além de nos tornar participantes da sua
realeza e do seu espírito profético, pelo qual estamos em condição de ouvir e
acolher a Lei de Deus, nos configura a Cristo sacerdote. Em virtude do
sacerdócio batismal, à semelhança do Novo Adão, pela obediência e reconhecimento
da nossa dependência que nos leva à prática dos mandamentos de Deus, podemos
oferecer “nossos corpos como vítima espiritual agradável a Deus” (Rm 12,1),
perpetuando o nosso sacrifício enquanto, procuramos realizar tudo o “que é bom,
agradável e perfeito” (ibid.).
Aos
que Jesus chama é dado, pela imposição das mãos do Presbitério, isto é,
enquanto é constituído membro da hierarquia sacerdotal, que, em primeiro lugar,
o leva a viver o compromisso do responso pela interpretação das Escrituras, consagrar
ao longo da celebração da Eucaristia, após ter exercido a sua função
mistagógica. A ordem sacerdotal o torna superior, em grau, quanto à
configuração de cada fiel a Cristo sacerdote, porém, somente naquilo que é
condição de poder consagrar. Sob este aspecto, o presbítero participa, da fato,
do sacerdócio de Cristo. Ela é, todavia, participação de quem é constituído ‘ministro”. Sua característica precípua,
portanto é aquela de ser um serviço de
quem foi chamado para administrar, depois
devida preparação, o que Jesus instituiu.
O
fiel é correto quando reconhece no padre esta condição sacerdotal. Deve,
contudo se preocupar, sobretudo, em viver o seu sacerdócio batismal para que a
função ministerial do padre não ande frustrada. De fato, ambos, fiel e padre,
devem lembrar que o que agrada a Deus é o respectivo sacrifício espiritual que
se realiza quando cada qual vive a sua específica vocação dentro da Igreja.
Exegese 11-13
A verdadeira fé
Hb
11 se abre com uma definição da fé que tem o seu comentário nas figuras que serão
posteriormente citadas. Estamos diante de uma forma de vida sugerida pela
reflexão apostólica. O mundo não tem essa concepção (v.7). Preocupa-se com a
conquista de bens que respondem às exigências da vida que conduzimos na terra:
as cidades (Caim); as artes (Jubel), as indústrias (Tubalcaim), os prazeres
(Noema), o poder (Lamec). A fé, pelo contrário, se preocupa com aquilo que Deus
revela, que deve ser conquistado com o exercício das virtudes que o Espírito promove,
a partir do culto àquele que se revela o Criador e da sua procura seja pelo
culto como pelo serviço. Isto nos é ensinado pelas figuras de Abel e Enoc, no
contexto das suas narrativas. Morrer injustiçado, por causa de atos que agradam
a Deus, significa superar a morte por parte de quem mostrou de estar em
comunhão com Deus. O sangue de Abel fala até o tempo presente. Nos garante que
no homem de Deus há um testemunho que não se esvai com a morte física. O justo
alcança a recompensa do Deus que procurou na terra. O mesmo nos é ensinado por
Enoc do qual até se canta que foi arrebatado ao céu para não conhecer a morte.
Ele é da descendência dos patriarcas que invocavam o nome de Iahweh. Com
palavras de exaltação a sua fé é proclamada e a recompensa por parte de Deus,
porque o procurou. Noé, é o justo que encontra graça diante dos olhos de Deus.
Prova, até, ser digno da predileção de Deus, porque crê. Nele podemos apreciar
quais benefícios traz a fé, uma vez que por ele a humanidade foi salva, e qual
a efetiva recompensa que Deus concede ao homem de fé: a vida, para si e para a
sua família. Quando pensamos que era figura de Cristo, podemos ainda mais
avaliar os benefícios da fé. Jesus, na fé, acreditou que o Pai podia salvá-lo
da morte. Superada a tentação, seu espírito se abriu a uma esperança que lhe dava,
antecipadamente, a posse dos bens futuros e a certeza deles. O Espírito nele
dava testemunho e a sua morte foi uma ação de graças até entrar na Glória.
A
fé, por uma vivência consagrada à procura de Deus para servi-lo, que chega à
certeza de uma recompensa para quem o serve com fidelidade, é o valor que as
Escrituras nos ensinam.
Para
explicar como devemos viver a fé e nela perseverar, o Autor nos diz que devemos
procurar o Deus da história. Chegamos então a entender que "o mundo foi
organizado pela Palavra de Deus... não tem sua origem em coisas
manifestas" (v.3). Ela provoca "um bom testemunho" (v. 39),
quando vivida na perseverança nas tribulações: "uma posse antecipada do
que se espera, um meio de demonstrar as realidades que não se vêem" (v.1).
11,1 A intricada definição do que é a
fé, que aqui encontramos, é explicitada pela apresentação da fé de homens
santos. Abraão e Moisés são os tipos que mais esclarecem o seu conceito.
Animados por uma confiança inabalável no Deus que lhes aparecera, superaram
todas as provações. Com isso a sua adesão incondicional se tornou sempre mais
inabalável. Paulo explica que, quando a justificação que ela vai promovendo,
enquanto supera as provações, transborda em manifestações de amor a Deus, até
ser coroada por uma esperança que nunca vacilará (Rm 5,5). Ter fé significa,
portanto, possuir, na expectativa que seja revelada, a verdade, à qual damos
uma adesão incondicional, por ser o argumento do que não se vê.
11,2 Os ancestrais dos hebreus
revelaram sua fé no seu Deus, que neles se agradou, pelo testemunho que deram
da mesma.
11,3 O primeiro testemunho da sua fé
foi acerca do seu Deus, que professaram criador de tudo.
11,4 Abel, que é o tipo da
descendência que Deus suscita, teve o seu sacrifício aceito a preferência do de
Caim, a descendência rebelde. O sangue dele ainda a proclama.
11,5 Pela mesma fé, Henoc, teve o
reconhecimento de Deus, que o exaltou. A fé que Deus concede é condição para
agradar a Deus.
11,6 Ela, contudo, deve testemunhar,
acerca do Deus de Israel, que ele é o Criador de tudo, e deve crescer mediante
a sua procura. A fé é um aspecto da vida divina, alcançada pela adesão à
Palavra anunciada. Diz respeito, mais diretamente às verdades que, procuradas,
promovem a posse de Deus quando testemunhadas.
11,7 No caso de Noé, a fé foi
confiante adesão àquele que se revela, até dele dar testemunho. Sua justicação ficou assim
promovida.
11,8 Abraão, Isaac e Jacó são os tipos
que nos mostram o sentido da nossa esperança. Foram chamados para possuir a
terra. A sua esperança, contudo era orientada a uma pátria que a terra
simbolizava. Na sua fé a viram de longe. “É por isso que Deus não se envergonha
de ser chamado o seu Deus. Pois, de fato, preparou-lhes uma cidade” (v.16).
11,17 O sacrifício de Isaac leva à
perfeição a fé de Abraão. Sabe que o seu Deus, que já lhe deu uma descendência
contra toda esperança, é capaz de lha dar de novo ressuscitada.
11,20 Foi segundo essa fé que viveram
Isaac e Jacó.
11,23 Moisés repete na sua vida a
atitude de Abraão. A sua fé já tem um precedente na fé dos pais que o escondem
do faraó. É figura de Jesus. Prefere abraçar a tribulação do seu povo, “olhos
fixos na recompensa”. Ele considerou a humilhação, à semelhança de Cristo,
condição de uma riqueza melhor. A fé o tornou destemido “como se visse o
Invisível”. Na fé, celebrou a páscoa, marcou as casas dos hebreus com o sangue,
atravessou o Mar Vermelho.
11,30 A história de Israel é toda ela
uma ilustração do que a fé pode. Por ela cremos no Criador e na recompensa que
nos dará. Dela falam as muralhas de Jericó, Juízes, reis e profetas.
11,35 Outros, embora mortos, chegaram
a uma ressurreição melhor. Os que sofreram hostilizados pelo mundo provaram que
o mundo não eram digno deles.
11,39 Mereceram, pela perseverança,
ter em si o testemunho da promessa, embora não vissem a sua realização.
11,40 Deus estabeleceu que lá
chegassem conosco, tendo-nos destinado para algo melhor. É a abertura da
exortação de Hb 12.
12,1-4
O
Autor da Carta, mais uma vez, exorta: “Considerai, pois...” (12,3). Os fiéis
devem se motivar a perseverar no testemunho diante do modelo de fé dos que,
pela perseverança, alcançaram a virtude da constância que, por sua vez, neles
promoveu a esperança, a ponto de verem coroada a sua caridade pela alegria que
os associou aos sentimentos de Jesus Cristo na sua Paixão (Rm 3-5). Motivação, também,
é o próprio exemplo de Cristo que não titubeou em abraçar a Cruz, considerando
vergonhoso acovardar-se. O que lhe mereceu sentar-se “à direita do trono de
Deus” (12,3). Vitorioso é aquele que supera o desânimo e, consequentemente,
supera a tentação da apostasia, tendo-se tornado imitador “daqueles que pela fé
e pela perseverança recebem a herança da promessa” (6,12). Em Jesus encontramos
aquele que pode compadecer-se porque sofreu por primeiro e, na condição de
“autor e realizador da fé” (12,2), nos alcançará “misericórdia e graça no tempo
oportuno” (4,16).
12,1... Tal nuvem de testemunhas ao
nosso redor. A fé dos Patriarcas, dos Juízes, dos Profetas, dos mártires,
dos confessores, projeta sobre nós a luz da Nuvem, que é o Espírito, que nos
ajuda a entender “o autor e realizador da fé, Jesus”.
12,1... Rejeitando todo fardo O
desânimo, deve ser superado, com o cumprimento dos mandamentos do Senhor, “que
não são pesados porque nos permitem vencer o mundo (1Jo 5,3-4).
12,1... e o pecado que nos envolve
A tentação da apostasia está sobre os que vivem desanimados, como o pecado
estava sobre Caim (Gn 4,7).
12,1...corramos com perseverança
para o certame É a figura do lutador que se lança no combate. A
perseverança torna vitoriosos.
12,2... Jesus deve ser o nosso modelo.
12,2... O autor e realizador da fé,
diante da alegria que lhe foi proposta, sofreu a cruz, desprezando a vergonha,
e se assentou à direita do trono de Deus. Essa frase é a síntese de Hb 2,
relacionado a Hb 1: o homem Jesus é o Filho glorificado porque levado à
perfeição pelo sofrimento.
12,3 Jesus suportou o ódio do mundo. A
sua atitude deve nos levar a superar o desânimo que as perseguições provocam.
12,4 Aquele que persevera até o fim,
esse será salvo.
Comentário
– Esse texto complementa Hb 10, 19-26. O desânimo, portanto, pode ser
combatido: 1o) contemplando a figura gloriosa do Nosso Sumo-sacerdote que entrou no céu com o seu Sangue. Deus quis
“levar à perfeição o Autor da nossa salvação pelo sofrimento”; 2o)
considerando o “reino inabalável que recebemos como herança” (12,28); 3o)
tomando consciência da necessária implementação dos mandamentos de Cristo e da
purificação; 4o) vigiando na expectativa do Dia do Senhor.
12,5-15. O sentido da provação.
À
purificação dos pecados (1Jo 1,7; 3,2-3) diz respeito a obrigação de “resistir
até o sangue no combate contra o pecado” (Hb 12,4).
No
sofrimento temos que reconhecer a ação de Deus que educa, como um pai, porque
ama. Age com sabedoria, para nos comunicar a sua santidade, porque ele é o Deus
dos espíritos que criou. Frutos finais é a caridade coroada pela esperança. A paz
e a justiça são os seus sinais.
O
Novo Adão é nosso modelo. O próprio autor e realizador da fé (12,2; 5,8) foi
levado à perfeição pelo sofrimento (2,10): entre clamores e lágrimas, o Filho
foi atendido, salvo da morte (5,7-8).
4ª
feira 4ª Semana TC Ano par
Reflexão
(Hb 12,5-15)
Olhos fixos em Jesus e lembrados do
exemplo de vida de muitas testemunhas, quais as lembradas em Hb 11, acatemos mais
uma motivação contra o desânimo: a tribulação é permitida pelo “Pai dos
espíritos a fim de vivermos” (12,9). De fato, chega à posse definitiva da
herança aquele que comunica com a santidade de Deus (v.10), que, por si, é
alcançada quando não amamos o mundo (1Jo 2,15). Precisamos cultivar a fé,
promovendo em nós os dons do Espírito, a partir do entendimento, para que, pelo
conselho, cheguemos, em espírito de fortaleza, a dar testemunho. Desabrocharão,
então, em nós, os frutos do Espírito, a partir da alegria que só experimentam
aqueles que, como Paulo, chegam a viver associados a Cristo na sua Paixão. O
fiel, por este caminho, alcança a paz, oferecida aos Apóstolos no dia da
Ressurreição, e a consequente condição de justiça.
Se temos a condição de tudo realizar
fora das tribulações graves de uma provação, apliquemo-nos na conquista da fé e
da esperança, até desfrutarmos de uma caridade plena para que, quando chegar o
momento do testemunho, não nos extraviemos (v.13).
12,18-24 Mais uma exortação. O Deus do
qual nos aproximamos, não é mais aquele descrito pela teofania do Monte Sinai
(vv. 18-21). É o Deus da Jerusalém celeste, cantado por milhões de anjos, aos
quais vão associar-se os perfeitos, os que Deus escolheu para si: “os espíritos
dos justos que chegaram à perfeição” (v.23), porque viveram a aliança que Jesus
estabeleceu com a sua imolação. Descreve-a a metáfora da purificação pelo
sangue que, na verdade, representa o que Jesus mereceu por nós, a purificação
dos pecados (vv. 22-24).
Objetivo
final da luta contra o pecado é a Paz e a Santificação.
12,25Prestai atenção para não
deixar de ouvir aquele que vos fala! É a exortação que acompanhou a carta
toda. A palavra de Deus continuamente meditada é altamente motivadora porque
relembra as obras de Deus que manifestam o seu poder, o que é motivo da nossa
confiança nele. Ela evitará que nos tornemos indóceis e pequemos pela nossa
incredulidade (3,19). Israel foi castigado porque não prestou atenção. Com
maior razão, o seremos nós, por recusarmos a “grande salvação” que Deus, pelo
Filho (1,2), no Espírito (2,4), nos propõe.
12,26a Ele, cuja voz um dia abalou
a terra. Aquele que nos fala, para a nossa salvação é Aquele que, pela sua
voz poderosa, já abalou o Monte Sinai (vv. 18-21).
12,26b-27 Agora proclama: Ainda uma vez abalarei não apenas a terra,
mas também o céu A terra e o céu serão abalados (linguagem
escatológica). Tudo desaparecerá, subsistindo somente “o que é inabalável”, o
Reino que somos chamados (9,15) a herdar com o Filho, “contanto que mantenhamos
firme até o fim a nossa confiança inicial” (3,14). “Não negligenciemos tão
grande salvação” (2,3). Do contrário, não escaparemos do fogo abrasador de
Deus.
12,28b Com submissão e temor, sirvamos
ao Pai dos espíritos (12,9), olhos fixos naquele que sofreu a cruz (v.2), sem
nos deixar fatigar pelo desânimo (v.3).
12,29 Pois o nosso Deus é um fogo
abrasador. O Deus que fez cair mortos os israelitas no deserto nos
consumirá pelo fogo, se nos desviarmos, cedendo à tentação do pecado que nos
envolve (v.1)
13,1 O autor especifica os compromissos
do caminho ascético da nossa purificação que deve ser conduzida para que os
fiéis mantenham o ardor inicial da caridade, pela posse de um “senso moral
exercitado para discernir o bem e o mal” (5,14), levados, dessa forma, em espírito
de discernimento “ao pleno conhecimento da vontade de Deus” (Cl 1,9). Para
isso, cita o último elemento para chegar à caridade, segundo 2Pd 1,5-10: o amor
fraternal.
13,2. O amor fraterno é vivido, de
forma prática, pela prática da hospitalidade,
13,3 pela atenção aos prisioneiros,
por causa da fé; eles são a nossa carne.
13,4 pela fidelidade no matrimônio,
figura das Núpcias de Cristo crucificado com a sua Igreja. A desordem moral,
pela fornicação e pelo adultério, desestrutura a relação de caridade com Deus.
13,5 A cupidez do ouro, que é uma
idolatria, também, deforma a vida de caridade. Uma vez garantida a segurança
material, temos que confiar no Senhor e nos preocupar com o Reino.
13,7 Os dirigentes que anunciaram a
palavra, na condição dos que deram continuação àquilo que o Senhor iniciou
(2,3), são merecedores de imitação, sobretudo se considerarmos “como terminou a
vida deles”. São Paulo é um exemplo, com Barnabé, Epafra, Timóteo e Tito. Paulo
era fabricante de tendas, mas sua verdadeira riqueza era a Palavra, o Mistério
de Cristo.
13,8 O patrimônio que eles nos
transmitiram é o Evangelho que deve permanecer inalterado. O Cristo de hoje
deve ser aquele que os Apóstolos pregaram e que deve permanecer para sempre.
13,9 As doutrinas dos que pregam
coisas estranhas à nossa fé, devem ser descartadas: “Todo o que avança e não
permanece na doutrina de Cristo não possui a Deus” (2Jo 9). O nosso coração
somente é fortificado pela Graça: “os alimentos nunca foram de proveito para
aqueles que disso fazem uma questão de observância”.
6ª
feira 4ª Semana Ano ímpar
Reflexão (Hb 13 1-9)
Temos que acrescentar ao texto da
liturgia o v.9, que explica o v.8. Dessa forma notamos um paralelismo do Autor
quanto ao conteúdo moral da sua exortação com Pedro, 1Jo cujos autores refletem
a doutrina de Paulo (1Ts; Gl).
A cupidez do ouro, que Paulo chama
de idolatria, merece uma atenção particular, uma vez que desvia a atenção do
fiel, quanto à sua preocupação com o Reino (Mt; Lc), o qual tem que ter a
ambição de pregar (Ef 6,14-17).
Em relação ao v. 8, ilustrado pelo
v. 9, devemos lembrar o ensinamento de 1Jo 2,18-28; 4,1-6; 5,11-13.
13,10 A verdadeira vida de fé, na
caridade. Nos nutrimos da Carne da vítima de um altar que difere do altar sobre
o qual é oferecida a vítima da qual se alimentam os que servem à Tenda.
13,11 A vítima da qual nos nutrimos é
aquela que oferece o sangue ao Sumo Sacerdote, cujas carnes são queimadas fora
do acampamento.
13,12 Jesus realizou essa figura ao
sofrer do lado de fora da porta. É a Vítima cujo Sangue santifica.
13,13 Os que reconhecem a verdadeira
vítima, qual Lv 19,27 indica: “Jesus que sofreu a Cruz, desprezando a vergonha”
(12,2) e o reconhecem como “Caminho novo e vivo” (10,20), “carregando a sua
humilhação”...
13,14 ...estão a caminho da “Cidade
permanente ... que está para vir”, porque temos, naquele que realizou as
figuras dos sacrifícios das vítimas e do sumo sacerdote que a cada ano oferecia
o sacrifício de expiação, nos proporcionando o Espírito da Graça, “a plena
garantia de entrar no Santuário, pelo seu Sangue” (10,19).
13,15 Ele é o sacrifício de louvor com
o qual Deus se agrada e pelo qual nos nutrimos de verdade.
Sábado 4ª Semana TC Ano ímpar
Reflexão (Hb 13, 10- )
Reflexão A mediação de Cristo Sumo Sacerdote,
Senhor da Igreja e o compromisso de fé do fiel, chamado a cultivar a confiança
e a esperança para se tornar merecedor da herança eterna
Para o autor da carta, Jesus era, na
condição de Sumo Sacerdote, qual ilustrado através da comparação com o sumo
sacerdote da religião judaica, uma motivação válida para reagir contra o
desânimo no qual os fieis estavam para cair, cansados de tantos sofrimentos
provocados por infindas tribulações. Vemos que, nisto, se esmera,
apresentando-o, logo de início na sua mais alta dignidade. Ele é o Filho. Para
isto cita as palavras do Sl 2, exclamando : “A qual dos anjos jamais disse:
“Teu és meu Filho eu hoje te gerei”? Junto cita, também, o Sl 110: “Jurou o
Senhor e não se arrependerá: “Tu és sacerdote para sempre segundo a ordem do
rei Melquisedec. Senta-te à minha direita para que ponha teus inimigos debaixo
dos teus pés”. Junto com estes dois salmos cita, também, mais outros para
lembrar a condição divina de Jesus.
Bastariam estas considerações para
não negligenciarmos a grande salvação que ele nos oferece.
O autor da carta, contudo, oferece a
consideração acerca da perfeição à qual Jesus chegou pelo sofrimento, segundo a
sua condição de verdadeiro adão.
À luz da condição divina e da
perfeição alcançada pelo sofrimento que nos mereceu a redenção, desde o fim de
Hb 2, pode nos apresentar Jesus como o Sumo Sacerdote, misericordioso e fiel,
que pode compadecer-se conosco por ter ele passado por primeiro pelos
sofrimentos, necessários para chegarmos à glorificação. Quando chega a esta
primeira conclusão, o autor da carta já pensa em Jesus como o realizador da
figura, portanto, possuidor de um sacerdócio verdadeiro capaz de purificar com
o sangue de uma vítima aceita por Deus em sacrifício. Apresenta-o, então, como
o Filho colocado por Deus como ministro da sua casa, que “somos nós, se
mantivermos a confiança e o motivo altaneiro da nossa esperança” (3,5). A
superioridade de Jesus, em relação ao sumo sacerdote da lei Judaica, vai sendo,
então ilustrada com a figura de Cristo que “na sua vida mortal, ofereceu
clamores e lágrimas a Deus Pai, e foi atendido por causa da sua submissão (Hb
5). Em relação ao sacerdócio de Aarão, também, Jesus é superior, embora ele
tinha chamado ao sacerdócio como ele (Hb 7). Tudo aquilo que se diz da tenda e
dos objetos que nela devia estar, não passa de figuras (Hb 8), como, também, os
sacrifícios de animais que não podiam purificar a ninguém com o seu sangue (Hb
9).
É o Filho que ao entrar no mundo,
realiza a redenção (Hb 10): passa, uma vez por todas, através do véu do seu
corpo e entra no Santuário do Céu com o seu Sangue e intercede por nós.
Jesus que desprezou a ignomínia para
entrar na glória deve ser o nosso Modelo e inspiração. É ele que nos torna
capazes de resistir até o derramamento do sangue.
O motivo para ver desfraldar esta
bandeira é a consciência que o autor da carta tem da seriedade do nosso
compromisso com a fé que abraçamos. Quando meditamos o Sl 95, somos admoestados
para não desanimarmos para evitar chegarmos atrasados para entrar no “repouso
prometido”. Os fiéis têm que se engajar e ser fiéis na frequência às
assembléias dominicais, para que, motivados pela Palavra, nutram a sua
confiança e promovam a sua esperança até lançá-la, qual âncora além do véu,
onde está Jesus na condição de Sumo Sacerdote que pode nos alcançar a graça da
perseverança no tempo oportuno.
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